Atravessei lentamente a rua, a cara de espanto dela denunciava que ela nem imaginava que eu trabalhasse tão próxima dela, de certo Ademir tinha cumprido a promessa de não dar noticias minhas a ela.

Cheguei ao ponto de ônibus imaginando o por que ela estaria ali, será que foi uma coincidência ou será que mais vezes eu ficaria novamente grudada a ela e ao mesmo tempo distante.

Ela recuperou se do susto de me ver e ignorou minha presença como bem ela sabia fazer.

Eu ficava sempre triste com a atitude dela, uma vez que contar a ela meu sentimento se devia ao fato de não querer aproveitar de nossa nascente amizade, para tirar uma casquinha dela, será que era tão difícil assim dela entender?

Mas também por que eu ficava especulando isso, eu devia era fazer o mesmo ignora-la.

O ônibus dela passou e eu finalmente descobri ali era o ponto do bus de sua facul.

Obrigada viu Deus! Lá vai eu novamente penar com os olhos violetas dela.

Lorena

Primeiro dia na nova empresa, estava empolgada com a oportunidade na área que eu estava formando, Gestão de Pessoas.

Estava precisando de novos desafios, de coisas que me empolgassem, pois me encontrava vazia.

Eu era sempre uma pessoa alto astral, que vivia a vida no limite da felicidade, e de uns tempos para cá eu havia murchado.

A verdade que internamente as perguntas se acumulavam dentro de mim, eu não me entendia mais, a falta que o sorriso Dela me fazia era absurda, eu sentia falta de tudo que tínhamos antes dela contar a outros que gostava de mim.

Por que coelhinho você não me procurou para falar? Teríamos encontrado uma solução! Por que você me fez afastar de você?

Os primeiros momentos na empresa foram chatos de apresentação e aquelas frescuras, conheci a galera do meu setor e o dia passou acelerado, ainda tinha o segundo tempo, bora para a Facul.

Desci até meu ponto, naquele tédio e cansaço de fim de dia, estava bem distraída quando sinto uma energia em cima de mim, levantei o olhar para o outro lado da rua, e os cabelos negros cintilaram, meu coração disparou e foi a boca.

Será possível que o destino sempre me colocaria confrontando o que sinto e não entendo?

Ela atravessou a rua olhando em meus olhos e eu não tinha mais estrutura para aquilo e desta forma o que podia fazer era continuar a ignorar a ela e meu coração que gritava de saudades e de felicidade por tê-la por perto.

Aline

Os dias seguintes foram uma repetição do primeiro, sempre esbarrava com ela no fim do dia e da mesma forma ela me ignorava.

Mas sempre flagrava os olhares de esguelha para mim. Sempre fui uma pessoa fácil de fazer novos amigos e em relação aos homens apesar de eu não ser bonita, atraia, foi assim que um dia o Cláudio puxou assunto e como ele pegava o mesmo ônibus que eu, sempre entabulávamos longas conversas, eu via seu interesse mas para mim ele era só um amigo.

Cada dia que ele chegava ao ponto com os olhares de Don Juan, observava a cara atravessada da Lorena, eu achava graça do esforço dela em me ignorar, parecíamos duas crianças birrentas.

Lorena

Os dias se sucederam entre as novidades do meu novo emprego, os preparativos do casamento que agora se aproximava e a dor de estômago cada fim de tarde que eu sabia veria a Aline.

Eu continuava a ignorar sua presença e a observar cada reação dela, um carinha se aproximou e dia após dia ele ficava lá jogando charme e me matando de ódio com ela dando corda.

Que porr* era aquela, uma melação danada, e por que isso me incomoda tanto?

Eu queria mesmo que aquele semestre acabasse, já que era o ultimo e eu estaria formada e não iria mais trombar com Aline todo dia!

Inferno de garota!

Aline

Aquilo beirava o ridículo, as investidas do Cláudio eram cada dia mais intensas e Lorena cada dia ficava mais desconfortável, achei que seria um bom momento para tentar uma reaproximação para quebrar o gelo e parar com aquela criancice, um destes dias o ponto lotado de sexta feira e pensei que já era hora daquilo ter fim.

Ela encontrava-se meio de lado, me aproximei e coloquei a mão em seu ombro, o toque novamente naquela pele, me deixava trêmula.

- Anjo, disse para ela, você não acha que já é hora da gente parar com este jogo de cão e gato? Somos adultas.

Ela virou-se para mim, me olhando com os olhos furiosos, dei um passo para trás chocada com a fúria que via em seus olhos.

As palavras que ela proferiu depois, ecoaram por muito tempo em minha mente, aos berros na frente de uma plateia ela disse:

- Me larga, eu já te disse, eu não gosto de mulher, sua sapatão.

O gosto amargo do desgosto ,subiu minha garganta e mesmo com uma vontade louca de chorar peguei o braço da mulher que eu amava com força e disse sibilando baixinho.

- Você não sabe o que é amor, você não merece o que sintia por você. E hoje sabe o que sinto por você Lorena? Pena, dó, você é seca, fria e a partir de hoje, a única coisa que terá de mim é o meu desprezo, nunca mais o amor.

Larguei o braço dela em um solavanco a marca de meus dedos no seu braço branco, ainda mirei os olhos violetas que outrora olhei com amor e admiração e agora so conseguia mirar com o desprezo de um amor magoado e rechaçado. Virei-me para deparar com muitos olhares estranhos mirando-me, uns com admiração, outros com pena, outros com indiferença, ergui minha cabeça e voltei para onde nunca deveria ter saído, ainda pude ver Lorena pegar seu ônibus e seu olhar ainda cruzar com o meu, no dia seguinte e os depois não mais a vi, pensei que era o fim de nossa história, mas o destino ainda queria que o fim não fosse aquele e assim 20 anos após aquele dia, os olhos violetas e inesquecíveis dela cruzaram novamente meu caminho.

Fim do capítulo