“Meu primo faz algo com você?” essa pergunta ficou ecoando na cabeça de Helena várias vezes e em todas elas não soube o que dizer.

— Esse seu silêncio para eu quer dizer um sim, Helena – Ester havia cansado de esperar por uma resposta. Então tirou suas próprias conclusões — Você vai sair daqui hoje mesmo – Como estava decidida a não deixar Helena naquela casa se levantou do sofá e começou a andar em direção as escadas.

— Ester, pare! – Gritou e a morena parou – Não é assim como você pensa.

— Como não é assim, Helena, ele está te fazendo mal. Eu vou matar o meu primo, pode ter certeza disso.

Neste momento, Helena ficou sem ação e voltou para o sofá. Não havia planejado isso. E agora, Ester poderia piorar a sua situação, já que com certeza tiraria satisfações com Augusto.

— Por que você não havia me contado tudo isso antes, Helena? Não confia em mim? – Ester se voltou para Helena. Estava muito magoada por sua amada ter lhe escondido algo tão grave.

— Você acha que é fácil, Ester? – Começou a chorar, pois pareceu que estava sendo julgada pela outra mulher.

Ester ao ver Helena chorando fica sem ação. Estava tão revoltada que não havia parado para pensar que sua amada talvez estivesse sofrendo ao lhe confidenciar o que Augusto fazia com ela.

— Me perdoe, amor – Sentou ao lado de Helena e a abraçou – Eu te amo. Não fique assim. A partir de agora tudo será diferente.

— Ester, as coisas não são assim tão fáceis – Helena tinha medo do que Augusto ainda poderia fazer contra ela.

— Mas também não são assim tão difíceis. Vamos denunciar esse crápula. Ele nunca mais vai chegar perto de você e seus filhos – Disse de uma forma muito séria. A verdade é que queria fazer Augusto sofrer muito. Não iria se contentar em apenas vê-lo preso, queria que ele sentisse na pele tudo que sua amada havia passado.

— Ester, não quero que você faça nenhuma besteira – Helena olhou a morena nos olhos e não gostou do que viu.

— A prisão é pouco para ele, Helena, você nunca faz mal a ninguém. Não merece ter passado por tudo isso – Tocou a face da outra mulher e sofria por ver os olhos de Helena derramando tantas lágrimas – Por que não me contou nada, meu amor? – Agora não estava mais magoada com Helena.

—Eu sentia vergonha, Ester – Abaixou a sua cabeça, pois ainda não se sentia confortável por dizer tudo aquilo com a mulher que ela amava.

— Você não deve sentir vergonha por isso – Levantou o rosto de Helena – Meu primo que deveria estar sentindo vergonha por ter feito mal a você. Pode ter certeza que ele vai pagar por tudo que ele lhe fez.

— Ester, não quero que você haja de cabeça quente.

— Não vou agir de cabeça quente, mas não vou deixar as coisas como estão – Ester puxou o corpo da outra mulher para junto do seu e a abraçou.

— Me arrependo amargamente por ter deixado você por medo – Helena confessou ao afundar o seu rosto na curva do pescoço da outra mulher.

— Não pense nisso. Vamos deixar o passado para lá, e tentaremos pensar em nosso futuro a partir de agora. Vamos pegar as suas coisas e vamos sair daqui, Helena – Pediu, pois não queria que sua amada ficasse mais com Augusto. Sabia que as coisas não eram fáceis como pensava, que seu primo era um homem perigoso, mas não queria que sua amada nunca mais voltasse a sofrer.

— Não posso sair assim, Ester, eu tenho meus filhos. Augusto pode inventar alguma história, já que se eu sair, vai ser para ficar com você. Sua imagem pode ficar manchada se sairmos assim.

— Pouco me importo com minha imagem, eu quero é você. Nem ligo para o que pensam de mim. Sou julgada naquele hospital quase todo dia, mas me mantenho firme, pois estou suportando tudo isso para ficar mais perto de você.

Após Ester lhe falar isso, Helena fica surpresa, nunca havia imaginado que a outra mulher estivesse passando por tantas coisas para se aproximar dela.

— Você pode não acreditar, mas eu te amo muito, Helena. Eu quero você e seus filhos em minha vida. Não vou pedir para você escolher entre mim e eles – Ester começou a fazer carinho em sua amada, pois sabia que era isso que ela estava precisando no momento.

— Eu acredito em você, Ester, também lhe amo, mas não posso agir assim no calor do momento.

— Tudo bem – Ester tentou parecer conformada com a decisão da outra mulher, mas não estava, sem que Helena soubesse, ela iria tomar todas as providencias possíveis para que Augusto pudesse pagar pelo que havia feito com sua amada.

***

O sinal tocou e todos os alunos começaram a sair para o intervalo, como Milena e Ilara nem sempre merendavam, foram para o jardim. Se sentaram em um banco que ficava afastado de todos que estavam naquele lugar.

— Se encontrou com Michelle? – Milena indagou, pois na sexta haviam conversado sobre um possível encontro entre Ilara e sua amada.

— Sim – Ilara neste momento sorri, pois se lembrou do abraço que Michelle lhe dera, tinha sido tão especial.

— Rolou alguma coisa entre vocês? – Fez alguns gestos com as mãos e Ilara não pareceu entender o que a outra garota queria dizer com aquilo – Ah... Ilara, às vezes não sei o que fazer com você – Começou a rir.

— Não aconteceu nada do que você está pensando – Falou após entender o que a outra garota queria dizer com aquilo – Conversamos e nos beijamos.

— Se eu tivesse uma mulher como a Michelle, eu não iria perder tempo somente com beijos – Milena comentou e percebeu que sua amiga ficou um pouco séria – Você tem medo, Ilara?

— Medo?

— Sim, esse é seu primeiro envolvimento com alguém. Quer dizer que você é virgem – Milena deixa Ilara envergonhada por ter tocado naquele assunto – Então para você ainda não ter feito algo com Michelle, você só pode ter medo.

Ilara começou a pensar no que sua amiga acabara de falar. Seu envolvimento com Michelle era algo muito recente, então a garota achava que tudo estava acontecendo no seu devido tempo.

Milena disse que se caso fosse ela em seu lugar, não iria perder tempo, mas o que Ilara poderia fazer? Mesmo se não tivesse medo, elas costumavam se encontrar somente na escola ou no percurso de volta para casa. Não tinha como elas fazerem algo a mais.

— Eu tenho medo... Medo por não saber como é... por não saber o que fazer no momento – Ilara disse um pouco sem graça.

— Não nascemos sabendo, Ilara. Você acha que na minha primeira vez eu sabia o que estava fazendo? Não, eu não sabia, mas por a outra pessoa ser muito especial para mim tudo acabou acontecendo de uma forma muito natural. Não teve isso de sentir medo – Começou a se lembrar de Mia e Ilara percebeu.

— Foi com Mia a sua primeira vez, né?

— Foi, Ilara. Foi na casa dela quando os seus pais estavam na igreja – Começou a rir, pois se lembrou de tudo que havia passado naquele dia para ficar com Mia.

— Você gosta tanto dela. Às vezes me pergunto o porquê de ainda estarem afastadas.

— Eu não consigo aceitar isso, dela namorar um menino para fingir não gostar de meninas e ficar comigo ao mesmo tempo, Ilara – Comentou sentida.

— Pensando bem, acho que também não aceitaria – Ilara percebeu que nunca aceitaria dividir Michelle com outra mulher.

— Então... Se Mia quiser ficar comigo, ela tem que parar de ficar procurando namorados. Eu não estou pedindo para ela se assumir para a família, sei o quanto é complicado não ser aceita por quem mais amamos, mas eu não quero dividi-la.

Após acabar essa conversa, as duas garotas voltaram para a sala. Ilara estava muito ansiosa, pois a última aula seria de Michelle.

Quando o sinal tocou dando fim para a quarta aula, Michelle entrou na sala do 3º ano, como sempre evitou olhar muito para Ilara, já que naquele lugar elas eram somente professora e aluna, no entanto, a garota não fez o mesmo.

Ela não conseguia parar de olhar para sua professora. Ilara estava prestando mais atenção nos gestos de Michelle do que no conteúdo estava explicando.

A aula acabou e antes de sair, Ilara olhou para Michelle como se estivesse despedindo.

Michelle sorriu discretamente e Ilara ficou toda sem jeito, pois o sorriso da outra mulher era lindo demais. Quando sua professora sorria parecia que os seus olhos brilhavam de uma forma diferente, talvez fosse como dizem por aí, tem algumas pessoas que tem a incrível habilidade de sorrir com os olhos.

— Meu Deus! Você fica muito boba depois de vê-la – Milena comentou em meio a risos após as duas atravessarem o portão do colégio. Ilara nem ligou para o comentário da amiga, já que como Milena dissera, ela estava muito boba.

Após se despedir de Milena, Ilara foi buscar o irmão. Gustavo naquele dia voltou muito animado do colégio, pois agora podia ligar para a sua amiga. Ilara pensou em brincar com seu irmão sobre ele estar namorando a Manu, mas achou melhor não irritar seu irmão, já que sua mãe agora já tinha muitos problemas em casa.

Quando chegaram em casa. Ilara foi para a cozinha e se deparou com sua mãe que estava do lado da janela muito pensativa, enquanto olhava para a casa em frente, a casa de Ester.

— Chegamos, mamãe – Avisou para Helena notar a sua presença.

— Oi, filha, como foi na escola? – Helena começou a colocar os pratos sobre a mesa.

— Foi tudo bem, mãe, e aqui, como foi? – Ilara perguntou e sua mãe parou o que estava fazendo. Algo parecia estar deixando a sua mãe preocupada.

— Foi bem também – Respondeu, mas o seu coração estava muito apertado. Estava com muito medo de Ester fazer alguma besteira, conhecia a sua amada, tinha a cabeça muito quente.

Ilara não acreditou nas palavras de sua mãe, pois notou que ela estava muito tensa. Como não quis voltar a desafiar Helena, a garota seguiu para o seu quarto e tentou agir como se não tivesse percebido nada.

Ao anoitecer, Augusto não voltou para casa depois do plantão, todos ficaram mais aliviados por isso, tanto que Ilara conversou com Michelle por mensagem, Gustavo passou à noite jogando e Helena pôde dormir ouvindo a voz de Ester pelo celular.

O clima naquela casa estava muito agradável, parecia que a presença de Augusto não fazia falta naquele lugar, mas a verdade é que não fazia mesmo, Gustavo e Ilara amavam seu pai, mas não podia negar que ele não fazia bem nem para sua mãe e nem para eles.

Fim do capítulo