Já se passava das 19:00 horas, quando Helena e seus filhos começaram a jantar. Diferente dos outros finais de semana, aquele estava terminando em um clima muito agradável. Helena estava muito feliz e seus filhos acabaram compartilhando dessa mesma felicidade.

- Mamãe, eu quero ver a senhora assim sempre -Gustavo disse animado, pois a sua mãe parecia até mais bonita.

 

- Filho, estou como nos outros dias.

 

- Claro que não, mãe, a senhora está mais leve – Ilara comentou e Helena sorriu, porque sabia o motivo para toda aquela felicidade.

 

Depois da noite que passara com Ester, Helena nem parecia a mesma. Andava cantarolando pela casa e a todo momento um sorriso surgia em seu rosto.

 

- Vejo que todos estão muito animados – Augusto passa pela porta da cozinha e todos ficam calados – Não estão felizes por me ver? – Parecia que tudo havia dado certo na viagem que fizera.

 

- Não é isso, Augusto, só não estávamos esperando- Helena não ficou contente com a volta de seu esposo, pois tinha medo do seu marido querer fazer algo antes de dormirem.

 

- Os negócios deram certo – Largou as malas na porta da cozinha mesmo e se sentou a mesa – Trouxe até um presente para cada um de vocês.

 

- Presente? – Gustavo estranhou, pois seu pai vivia viajando e nunca se lembrava deles.

 

- Sim! Eu trouxe algo especial para você, Helena- Augusto olhou para sua esposa que ficou sem jeito.

 

 

Se fosse uma família feliz, Helena e seus filhos estariam contentes naquele momento, no entanto, estavam com medo de seus dias voltarem a ser como antes da viagem de Augusto.

 

- Então, alguma novidade por aqui? – Augusto notou que a mesa estava farta demais para três pessoas – Vocês iam receber alguma visita?

 

- Não, Augusto, só quis fazer algo diferente para nossos filhos – Helena falou e se sentiu intimidada quando seu marido lhe encarou para saber se estava dizendo a verdade.

 

- Tá certo – Achou melhor não fazer mais nenhum questionamento, já que achava que Helena nunca seria capaz de ficar com alguém que não fosse ele.

 

Após o jantar, mesmo um pouco desconfiados, os três foram com Augusto até a sala.

 

- Espero que vocês gostem – Augusto se sentou no sofá e abriu sua mala – Isso é seu, filho – Entregou um pacote para Gustavo que ficou com receio de abri-lo. Seu pai estava sendo gentil demais – Não vai abrir?

 

Gustavo antes de dizer qualquer coisa, olha para sua mãe e a mesma incentiva o mesmo a abrir o embrulho.

- Um celular – Gustavo disse.

 

- Sim, já está na hora de você pegar os números das garotas. Tem que começar desde cedo – Augusto pensava que aquelas palavras iriam animar seu filho, mas Gustavo ficou sem graça com o comentário.

 

- Você não acha que está muito cedo para isso, Augusto? – Helena perguntou e Augusto não gostou.

 

- Você quer que nosso filho seja um marica, Helena? – Augusto falou alto e todos olharam para ele assustado – Melhor deixar isso para lá – tentou se recompor – Isso é para você, filha.

 

Ilara recebeu o embrulho e abriu na hora. Era um estojo de maquiagem. Augusto não sabia que a filha não era muito fã de maquiagens.

- Obrigada, pai! – Agradeceu um pouco sem jeito.

- De nada – Neste momento, Augusto olha para sua esposa – No quarto, eu te entrego o seu presente.

 

Helena não respondeu nada e também, Augusto não estava esperando por nenhuma resposta de sua esposa.

 

Quando todos se distraíram com os presentes, Helena foi para a cozinha, queria ficar o mais longe possível de seu marido e foi nesse momento que recebeu uma mensagem de Ester.

 

“Oi, vi que o Augusto chegou de viagem e estou morrendo de ciúmes aqui. Rsrs Espero que você não se esqueça da gente. Eu amo muito você. Se não puder me responder, não tem problema, só queria te lembrar da nossa noite para ver se você larga esse meu primo, pois sei que a noite de amor que lhe proporcionei sexta, ele nunca vai lhe dar.”

Após ler essa mensagem, Helena fica um tempo parada. O clima de sua casa estava horrível. Nem seus filhos estavam gostando mais da companhia do pai. Estava na hora de Helena achar uma forma de sair com seus filhos daquela casa.

“Oi, sei que nossa situação é um pouco complicada, mas eu te amo. Nunca vou me esquecer da nossa noite de amor.”

Helena respondeu e logo Ester deu retorno.

“Que tal vivenciarmos novamente aquele nosso momento?”

Após receber essa mensagem, Helena sorri e Augusto aparece na cozinha.

 

- Por que está rindo dessa forma? – Questionou ao perceber que sua esposa estava segurando o celular.

 

- Vi uma mensagem engraçada- mentiu e Augusto nem fez questão de averiguar. Não sim importava muito com sua mulher.

 

- Está bem! Vamos para o quarto. Quero te entregar o seu presente – Augusto foi na frente e Helena aproveitou para apagar as mensagens de Ester.

 

Ao chegar no quarto, Helena se deparou com seu presente que estava sobre a cama.

 

- Vi essa lingerie e me lembrei de você- Augusto mentiu descaradamente. A verdade é que uma de suas amantes havia usado uma igual e ele queria que Helena vestisse também para lhe satisfazer.

 

- Eu nunca usei algo assim – Helena estava um pouco constrangida. Era uma lingerie muito provocante.

 

- Talvez seja por isso que você não me dá mais tesão.

 Aquelas palavras acabaram machucando Helena. Ela não sentia nada pelo seu marido, mas ouvir que ela não era mais atraente não fazia bem para nenhuma mulher.

 

- Pegue, vá ao banheiro e use para mim. Quero ver como fica em você.

 

Helena ficou um tempo parada e sentiu vontade de chorar. Por que ela se sujeitava aquilo? Augusto não lhe amava. Só queria se satisfazer e mostrar para todos que ele tinham uma família perfeita, que de perfeita não tinha nada.

 

- Está bem! – Helena fez o que foi pedido. Vestiu a lingerie, no entanto, não estava nem um pouco disposta a ter relações com seu marido.

 

- Até que você ainda tem um corpo bonito – Augusto comentou e ao tentar se aproximar, Helena se esquiva.

 

- Já fiz o que você pediu. Agora quero dormi – Colocou um roupão sobre o seu corpo e se deitou na cama.

 

Augusto estranhou o comportamento de sua mulher, mas não fez nada, pois estava um pouco cansado da viagem.

 

Durante a noite, Helena se levantou da cama e se trocou. Não queria usar aquelas peças. Parecia que Augusto lhe via somente  como uma mulher para satisfazer seus desejos sexuais e ela já estava cansada disso.

 

Como sempre acordava primeiro naquela casa, Helena foi para o quarto de sua filha, pois não queria dividir a mesma cama que seu marido.

 

- O que houve, mamãe? – Ilara perguntou um pouco sonolenta.

 

- Estou cansada, minha filha, eu preciso acabar com isso, pois não aguento mais – Se deitou na cama com Ilara e adormeceu.

 

No outro dia, Helena acordou bem cedo. Não queria que Augusto percebesse que ela havia dormido em outro quarto.

Como todos voltariam para suas rotinas naquele dia, Helena foi para a cozinha preparar o café.

Diferente do dia anterior, ela estava fazendo tudo sem animação. Não aguentava mais conviver com seu marido, no entanto, não sabia como ela poderia se separar de Augusto sem o mesmo fazer um escândalo.

 

- Acho que preciso conversar com Michelle- Lembrou que a professora de sua filha havia dito que sempre estaria disponível nas quartas para conversar com ela, se caso precisasse.

 

Neste momento, Augusto chegou à cozinha com cara de poucos amigos e Helena achou estranho o marido acordado àquela hora, já que no dia anterior, ele havia chegado de uma viagem de “negócios”.

- Você acredita que a safada de minha prima me colocou para trabalhar hoje de manhã? – se sentou e Helena não gostou de ouvir o seu marido falando de Ester daquela forma – Só vou para o hospital, pois sei que ela acha que não vou. Se Ester acha que vai conseguir manchar a minha imagem, ela está muito enganada.

 

Helena não disse nada ao seu marido e também, Augusto não queria que Helena dissesse nada. Para ele, a opinião de sua esposa não valia muita coisa.

 

Como não queria se atrasar, Augusto partiu logo cedo para o trabalho. Isso deixou Helena mais aliviada, não queria ter que passar a manhã toda com ele.

Às 6:30, os seus filhos apareceram na cozinha para tomar o café da manhã.

- Mamãe, cadê o papai? Passei pelo quarto de vocês e não vi ninguém – Gustavo comentou.

 

- Foi trabalhar, filho- colocou sobre a mesa um bolo que havia feito no domingo.

 

- A senhora estava muito inspirada esse final de semana, mamãe- Ilara comentou e começou a olhar para sua mãe. Não sabia o porquê, mas aquela mulher estava diferente. Neste momento, surgiu em sua mente fleches da noite anterior – Mãe, a senhora dormiu comigo essa noite?

 

Ilara perguntou e Helena ficou um pouco sem jeito. Como tinha um sono pesado, sua filha nem se lembrava direito do que havia acontecido.

 

- Você e o papai brigaram, mamãe? – Gustavo perguntou temeroso e começou a procurar no corpo de sua mãe algum sinal de violência.

 

- Não. Seu pai estava muito cansado e como me mexo muito, resolvi dormi com sua irmã.

 

Ilara não acreditou muito naquelas palavras. Para ela, era outra coisa, no entanto tentava puxar pela memória e não se lembrava direito.

 

-Acho que vocês já estão atrasados -Helena olhou para o relógio que estava pendurado na parede – Foi isso mesmo que aconteceu, filha – Disse quando ficou sozinha com sua filha na cozinha.

 

- Eu sei que não foi só isso, mamãe- Ilara disse e saiu.

Helena ficou um tempo parada, pesando se estava agindo errado por esconder de seus filhos que ela tentaria se separar do pai deles e acabou percebendo que era melhor assim, pois livraria as crianças de mais sofrimento, já que Helena achava que as crianças gostavam de viver na presença do pai.

Após a ida de seus filhos para a escola, Helena começou a arrumar a casa. Era tanta bagunça, com o dinheiro que seu marido recebia dava para eles pagarem uma empregada, contudo se fizessem isso, Helena iria ficar o dia todo em casa sem fazer nada. Desde que havia se casado com Augusto que ela não sabia o que era ter um emprego.

Antes, viver só cuidando da casa não lhe incomodava, mas agora percebeu que havia cometido um dos maiores erros de sua vida, pois agora dependia financeiramente de seu marido e não tinha dinheiro para pagar um advogado se caso precisasse.

 

 

 

 

 

Fazia meia hora que Helena estava arrumando sua casa e em todo esse tempo, não conseguia parar de pensar em Ester.

Estava com muita saudade de sua de sua amada, mas não sabia como iria voltar a encontra-la, já que Augusto havia voltado de viagem.

Nessa hora, a campainha começou a tocar.

- Será que Augusto esqueceu as chaves? – Perguntou, pois não costumava receber visitas.

Como estava varrendo a sala, Helena deixou a vassoura encostada no sofá e foi até a porta.

 

- Esqueceu as chaves Augusto? – inquiriu ao abrir a porta e antes que pudesse perguntar o que Ester estava fazendo ali, os seus lábios foram capturados pelos da morena.

 

O beijo foi intenso, o que fez Helena dar alguns passos para trás e acabou caindo sentada no sofá.

 

- Você está louca? – Havia gostado do beijo, mas não podia se arriscar tanto – E se alguém nos viu assim?

 

- Sim, eu estou louca por você  - Ester fechou a porta e voltou para se sentar ao lado de Helena – Ninguém nos viu, a rua está vazia.

 

- Ester, você não pode vim aqui dessa forma.

 

- Helena, estava morrendo de saudade de você e não estava me aguentando de tanto ciúmes. Augusto voltou de viagem e estou com medo de você desistir da gente.

 

- Não vou desistir da gente, mas com o Augusto aqui, as coisas vão ficar mais complicadas.

 

- Por que você não sai dessa casa comigo agora? – Ester já estava ficando sem paciência. Ainda mais, porque o clima daquele lugar não estava lhe agradando.

 

- Não é tão simples, tenho meus filhos. Não posso sair assim – Helena estava disposta a procurar uma maneira para sair daquele lugar, mas ela não podia ser inconsequente, pois se fizesse as coisas sem pensar poderia ficar sem seu filho, já que Augusto era um homem influente e poderia muito bem inventar alguma história a seu respeito.

 

Ester ficou um tempo em silêncio, pois parecia que Helena havia se esquecido do que ela havia dito antes – Amor, eu quero você e seus filhos. Vou cuidar deles como se fossem meus. Não vou pedir para você abandoná-los.

 

- Eu sei que não, mas a situação não é como você pensa – Helena disse e abaixou seu campo de visão.

 

- Helena, me fale o que está acontecendo? – Ester começou a sentir o seu peito apertado. Algo estava acontecendo ali, mas ela não fazia ideia do que era.

 

- Ester, eu não quero lhe envolver em meus problemas- Helena sentia vergonha do que acontecia com ela naquela casa.

 

- Como assim seus problemas? Helena, eu quero cuidar de você. Claro que vou me envolver em seus problemas- Olhou para o ambiente ao seu redor e percebeu não havia nenhuma foto da família reunida.

 

- Mas é melhor assim – Helena se levantou do sofá e Ester começou a suspeitar de algo.

 

- Meu primo faz algo com você? – Ester perguntou com um tom de voz um pouco sério, pois se fosse isso, ela era capaz de tirar Helena daquela casa mesmo sem ela querer.

 

Helena ouviu aquela pergunta e ficou pensando em tudo que já havia passado. Durante muitos anos havia sofrido nas mãos de Augusto, mas nunca havia conseguido sair daquela situação. Não porque não queria, mas porque sabia que ninguém iria ficar do seu lado.

No começo quando falava para pessoas próximas que Augusto lhe agredia, Helena não recebia apoio, pois para as pessoas, ela era a culpada... ela tinha feito algo de errado. Augusto sempre era visto como sendo a vítima, sempre.

 

Será que com Ester as coisas seriam diferentes? Será que poderia confiar?

 

 

 

 

 

Fim do capítulo