Dois anos se passaram desde que Ângela deixou o país e Carolina nunca mais soube dela, os dias já eram suportáveis, as lembranças não atormentavam mais, era quase um esquecimento daquela dor que teimou em ficar tanto tempo. A clínica das três amigas estava passando por uma nova obra para ampliar as instalações, um novo andar seria construído para instalação de salas de exames e novos consultórios para receber novos médicos.

            Carolina não dava mais plantões em hospitais, trabalhava apenas em sua clínica e no atendimento popular.

Nunca mais soube de Samantha e Lucia, até que um dia esse passado insistiu em reaparecer. Chegou para trabalhar na clínica e Raquel entrou no seu consultório com um jornal nas mãos.

-- Carol, olha isso aqui.

-- O que foi? – Colocava o jaleco –

-- Lucia está sendo investigada. – Abriu o jornal sobre a mesa –

-- Lucia? Pelo que? – Olhou a matéria –

-- Parece que ela pagou propina pro governador para ganhar algumas licitações de obras. Já prenderam mais de vinte pessoas.

-- Ih, rapaz, a casa caiu. Aquela pilantra... eu disse a ela que o mundo dá voltas, ela deu um tiro no próprio pé. – Balançou a cabeça –

-- Será que Samantha está envolvida? – Raquel sentou –

-- Não, Samantha nunca se meteu nos negócios de Lucia, a não ser que ela tenha usado o nome de Samantha em alguma coisa. Vai saber. – Deu de ombros – Raquel, Lucia está com mandado de prisão expedido, ela está foragida, diz aqui que bloquearam os bens dela e tudo mais.

-- Ela deve ter fugido. Ela devia ter dinheiro em casa, já deve estar longe!

-- Ela tem casa em Nova Iorque e em outros países, já deve estar escondida em algum lugar. – Segurou o jornal -- Olha aqui, o pai de Ângela faz parte do grupo de investimento que Lúcia usou para essas falcatruas.

-- Ih, vai afetar a família dela também. A mãe dela deve estar desesperada, já pensou se ela cai daquele pedestal?

-- Pois é, elas vão ter o que merecem, vão pagar por tudo que nos fizeram de mal.

-- Será que Ângela volta?

            Aquele nome, voltou a lhe rondar, ela queria, mas não acreditava que poderia rever seu grande amor. E mesmo se visse não sabia como reagiria, dois anos sem nenhuma notícia, Ângela era uma lembrança de uma vida que ela tanto desejou, mas que agora era apenas distante.

-- Não sei, e se voltar, que diferença faz depois de dois anos? Ela já deve estar casada e com filhos.

-- Nunca se sabe, amiga.

-- Deixa eu trabalhar que eu tenho paciente agora. – Tentou Desconversar --

-- Eu também. – Levantou – Mas pensa no assunto, se a mãe dela sair de cena, é bem capaz dela voltar pro Brasil.

-- Você sabe de alguma coisa que eu não sei? – Olhou desconfiada --

-- Não amiga, só estou tentando me colocar no lugar dela, se fosse eu, voltaria correndo. – Piscou e saiu --

            Raquel saiu e deixou Carolina pensativa, não sabia como seria ter Ângela novamente à sua frente, não queria nutrir esperanças, para não se decepcionar mais uma vez.

-- Se eu ganhasse um real a cada decepção que eu sofri, eu estaria decepcionada em Paris! – Disse para si mesma – Quem sabe um dia?

            Deixou o jornal de lado e começou seus atendimentos, o dia correu tranquilo, atendeu seus pacientes, almoçou com Raquel, a tarde atendeu até o início da noite e ficou até mais tarde para colocar em dia um pouco da burocracia que tinha que dividir com as amigas. Acabou ficando sozinha na clínica até tarde.

            Depois que terminou de preparar os pedidos de material e o orçamento para a compra de alguns itens para a obra que estava em andamento, resolveu ir pra casa. Trancou o consultório e verificou se tudo estava trancado e desligado.

            Chegou na entrada e olhou pelo vidro, não viu nada suspeito e abriu a porta para sair, quando estava fechando a tranca sentiu passos se aproximando, ela sentiu medo e olhou para trás, encontrou um olhar enfurecido sobre si, uma arma empunhada em uma das mãos apontando para Carolina e na outra uma garrafa de whisky pela metade.

-- Oi Doutora! Sentiu saudades?

Fim do capítulo