Capítulo 26 - Mudança de hábito
2014 chegou trazendo um pouco de calmaria para Carolina, a cardiologista tentava manter o foco em seu trabalho para esquecer a ausência de Ângela, tinha dias que conseguia não pensar na residente o tempo todo, mas sempre vinham as lembranças, o perfume, situações do dia a dia que faziam com que ela sentisse a presença da outra perto de si.
Carolina estava trabalhando no hospital Universitário três dias na semana, apenas plantões de doze horas, Carlos tentou convencê-la a se mudar para Macaé, mas ela preferiu ficar em sua cidade, no pior dos cenários, ela podia contar com suas amigas.
Já estava em fevereiro e desde outubro do ano anterior ela não tinha notícias de Ângela, a dor aos poucos foi dando espaço para a solidão novamente. Carolina se fechou para as pessoas, não teve mais notícias de Samantha, Izabel contava sobre as novas diretrizes do hospital Matriz, Lucia deu carta branca para Vera assumir o programa de residência e a mãe de Ângela praticamente sucateou o programa, não renovou com algumas especialidades, inclusive retirou cardiologia da pauta, e estava investindo todos os recursos em cirurgia plástica, trocou metade do corpo de médicos do hospital e elitizou os atendimentos. Izabel já estava procurando outro lugar para trabalhar, sabia que seria a próxima vítima de Vera.
Raquel e Aline engataram em um namoro cheio de luxúria e brigas, a cardiologista era muito ciumenta e o passado de Raquel sempre batia à sua porta, em todos os lugares que elas iam, Raquel encontrava alguém com quem já teve um envolvimento, mas depois das brigas, sempre tinha sex* de reconciliação, e a paixão finalmente aconteceu para a neurologista que sempre achou que não seria atingida pelo cupido.
Carolina estava saindo do plantão, se despediu das enfermeiras e quando chegava na saída para o estacionamento, ouviu seu nome ao longe.
-- Carol!
Olhou e avistou Raquel e Aline entrando no pátio do hospital, sorriu ao ver a amiga, estava tão absorta em suas dores que estava evitando qualquer vida social que poderia ter.
-- Oi Raquel. – Abraçou a amiga – O que vocês estão fazendo aqui?
Abraçou Aline – Oi Aline, tudo bem?
-- Tudo bem, Carol. Como você está? – Afagou seu braço –
-- Eu estou bem, na medida do possível. – Deu de ombros –
-- Nós viemos te sequestrar. – Raquel disse animada –
-- Desde quando você precisa me sequestrar? – Cruzou os braços –
-- Desde que você voltou a usar hábito e se trancou no convento de novo.
Carolina revirou os olhos, sabia que estava evitando as amigas, estava tentando manter o pouco de sanidade que lhe restou e eventos sociais não estavam em seus planos.
-- Raquel, eu prefiro ir pra casa. Eu não estou a fim de sair. – Segurava as chaves do carro --
-- Nem pensar! Izabel está esperando a gente no mexicano lá no centro, e você vai comigo! Manda a Whoopi Goldberg cantar pra subir e vamos nos divertir!
Carolina por um momento riu da comparação de sua vida com o filme “Mudança de Hábito”, mas logo lembrou que o bar era o favorito de Ângela, não tinha jeito, tudo a remetia às lembranças do namoro com a residente, a felicidade que sentia quando estava junto dela, e agora só restavam lembranças que insistiam em voltar.
-- Logo no mexicano?
-- Você adora aquele bar!
-- Ângela também gostava. – Seus olhos marejaram –
-- Ah amiga, não faz isso! – Raquel a abraçou –
Aline sentia pena das duas, ela era a única que sabia como cada uma estava reagindo à separação, conversava com Ângela poucas vezes, a residente também estava arrasada, chorava em seu ombro toda vez que conversavam, mas ela não dizia nada sobre Carolina e também não falava nada sobre Ângela nem com Raquel, que por algumas vezes tentou saber algo sobre Ângela, mas depois que Aline explicou seu ponto de vista, resolveu aceitar e não interferiu mais, guardar isso para si estava muito difícil, sentia a dor das duas, mas não podia fazer nada a respeito.
-- Vamos em outro lugar, eu ligo pra Izabel.
-- Não Raquel, eu não posso.
-- Pode sim, está na hora de virar a página, Carol, o que não tem remédio remediado está, não se fecha de novo. – Segurava seus braços e olhava dentro dos seus olhos –
-- Não é uma escolha, é quem eu sou.
-- Você é muito mais que isso, amiga, você sentiu que pode ser feliz, não se entrega, vai.
Carolina respirou fundo e depois de muita insistência ela aceitou ir com Raquel e Aline encontrar com Izabel, acabaram indo para o bar mexicano. Ao entrar várias memórias vinham à cabeça de Carolina, um aperto em seu peito quase a sufocou, engoliu o choro e enfrentou o ambiente que lembrava o amor de sua vida em cada canto daquele estabelecimento.
Abraçou Izabel que ficou feliz em encontrar a amiga, elas sentaram e pediram suas bebidas, começaram a conversar animadamente, mas Carolina estava em um estado automático, respondia sem estar prestando muita atenção na conversa, estava perdida em suas lembranças, quase pôde jurar que sentiu o perfume de Ângela entre as pessoas que estavam ali.
-- Carol, como está o trabalho lá no Universitário? – Izabel bebeu um gole de chope –
-- Oi? – Estava distraída –
-- Como está lá no Universitário? Está gostando?
-- Ah, sim, eu já conhecia o esquema de lá. Então foi fácil me readaptar.
-- Eu estou vendo com um amigo para começar a trabalhar no Hospital Icaraí, não aguento mais aquela doida mandando e desmandando lá no Matriz.
-- Ela nunca trabalhou na área da saúde, ela só investiu no Matriz pra me atormentar.
-- Mas quem está no comando é a Vera, Lucia nem pisa mais no hospital, nunca mais eu vi. Ela deixou a mãe de Ângela na direção interina e a doida só pensa em cirurgia plástica. Elitizou o hospital, só quem tem muito dinheiro pra fazer qualquer tipo de procedimento lá agora.
-- Então o objetivo dela era só me demitir mesmo. – Levantou uma sobrancelha – Que viagem!
-- Você teve notícias de Samantha? – Raquel perguntou –
-- Não, nunca mais. – Bebeu seu suco – E é melhor assim, eu não quero mais me envolver com essas duas, já deu. – Revirou os olhos – Eu gosto de Samantha, sinto falta dela, da verdadeira Sam, sabe.
-- Ih, nem vem, não chama essa loira falsa pelo apelido não, senão daqui a pouco ela aparece aí. – Raquel se benzia – Ela é danada pra surgir quando você está bem e só fode com sua vida.
-- Que isso, amiga? Samantha fez muitas escolhas erradas, mas ela é uma boa pessoa, ela tem um coração bom por trás daquela capa fria que ela usa, mas eu a conheci de verdade. – Deu de ombros –
-- Vamos combinar, Carol, Samantha não é confiável. – Izabel ponderou –
-- Eu sei. – Disse com tristeza – Mas não adianta, eu nunca vou conseguir ter raiva dela, de Lucia eu tenho, mas dela não.
-- Vamos mudar de assunto? – Raquel interferiu -- E você não pensa em pegar outros plantões? Por que não monta um consultório, Carol?
-- Agora não, Raquel, por enquanto vou ficar só com esses três dias. Não quero me esgotar como fiz quando mamãe morreu, eu já tenho problemas demais pra administrar.
-- Você tem que reagir Carol, não se deixa abater. – Izabel falou apreensiva –
Carolina já estava cansada de ouvir que tudo ia dar certo, que ela precisava reagir, tudo o que ela queria era que aquele pesadelo terminasse, que sua Ângela voltasse pra ela, mas essa esperança já havia se esvaído, naquela altura, ela só tinha vontade de ir pra casa e continuar chorando sua dor.
Aline observava a cardiologista e sentia pena da situação em que ela se encontrava, evitava o olhar curioso que ela depositava sobre si, sabia que Carolina queria perguntar sobre sua amiga, mas ela não diria nada.
Sem conseguir se concentrar por mais de dez minutos na conversa das amigas, Carolina resolveu ir para casa, estava cansada, queria apenas um banho e dormir.
-- Gente, eu vou pra casa. – Puxou algumas notas e deixou em cima da mesa –
-- Espera aí amiga, você não ficou quase nada. – Raquel reclamou –
-- Já deu pra mim. – Sorriu triste – Foi bom ver vocês.
Carolina levantou sem se despedir individualmente e saiu sob os protestos das amigas, alcançou a rua e foi como se tivessem retirado aquele tubo de sua garganta novamente, um grande alívio se fez. Voltou a respirar livremente, aquele lugar só lhe trazia memórias dos tempos felizes que não existiam mais e hoje só a torturavam.
Entrou no carro e se preparava para ir para casa quando seu celular tocou.
-- Alô, Roberta.
-- Carol, me ajuda, vovó está passando mal. Você está onde?
-- Eu estou no centro. Você está em casa?
-- Sim, a pressão dela está muito alta e ela está desmaiada.
-- Beta, coloca ela no carro e leva pro Universitário que é mais perto, eu estou voltando pra lá agora mesmo.
Carolina ligou o carro e voltou para o hospital Universitário, informou que estava chegando uma paciente idosa com quadro de pressão alta e precisava de uma sala de atendimento de urgência.
Roberta chegou com sua mãe e seu pai e Carolina já estava com uma maca preparada para receber dona Abigail que estava desacordada. Levaram a idosa para a sala de emergência e começaram os procedimentos, a pressão estava muito alta, Carolina administrou um remédio no soro, os batimentos cardíacos estavam quase parando e a idosa teve a primeira parada cardíaca, Carolina tentou reanima-la, usou as pás para tentar trazê-la de volta, mas não teve sucesso, tentou a segunda vez, não conseguiu, aumentou a dose de adrenalina e tentou a terceira vez. O som contínuo no monitor não teve modificação.
Carolina não queria perder aquela idosa que ela tanto amava, considerava dona Abigail sua avó, e sentia que ela estava se despedindo ali em suas mãos. Largou a pás do desfibrilador e começou uma massagem em seu peito tentando trazer aquela senhora de volta, não queria ser a portadora daquela notícia para dona Gloria e Roberta.
Infelizmente depois de todas a tentativas possíveis e até as impossíveis, Carolina finalmente se deu por vencida e declarou a hora da morte de dona Abigail. Lágrimas escorriam de seu rosto ao desligar os aparelhos cessando o som do monitor cardíaco. Precisava se recompor para falar com Roberta, sabia que seria uma tarefa dura, mas precisava ser forte pela amiga. Limpou o rosto e respirou fundo.
Carolina ganhou o corredor que a levaria para a recepção e encontrou a amiga chorando abraçada com a mãe, Roberta saltou quando a viu aparecer e percebeu pelo seu semblante vermelho que ela não conseguiu salvar sua avó. O choro veio mais intenso e Carolina pôs-se a falar.
-- Dona Glória, eu fiz de tudo. – Sua voz embargou – Mas ela não resistiu. – Balançou a cabeça negativamente --
-- Ah minha filha. – Segurou seu rosto – Eu tenho certeza que você cuidou dela como ela merecia. Ela agora vai descansar.
-- Desculpa, Beta, eu não consegui. – Chorava junto –
-- Não é culpa de ninguém, Carol, ela descansou. – Olhou para a amiga – Nós nunca estamos realmente preparados para a morte.
-- Verdade. – Limpou o rosto com as mãos – Eu vou liberar os documentos pra não demorar pra vocês resolverem as coisas.
-- Obrigada por tudo amiga. – Abraçou novamente –
Carolina saiu chorando e foi liberar o atestado de óbito da idosa, o enterro foi no dia seguinte, e mais um baque para acrescentar àqueles dias tão difíceis que a cardiologista estava enfrentando. Carlos estava embarcado e não pôde estar com Roberta naquele momento, mas sempre ligava e mandava mensagens.
*****************
Março chegou com as férias de Roberta no escritório, a advogada viajou para Macaé ao invés de Carlos vir para Niterói como estava fazendo durante o ultimo ano. Carolina trocou alguns plantões e resolveu passar uma semana com o irmão.
O peso que ela voltou a carregar estava lá, visível para quem quisesse enxergar, os meses passavam, mas a dor não, por mais que tentasse esconder debaixo do tapete, ela voltava, e se mostrava presente em cada hora do dia.
Carolina brincava com Manuela na sala da casa de Carlos, Roberta estava preparando o almoço enquanto Carlos consertava a bomba da casa no quintal.
-- Carol, a comida dela está pronta. – Trouxe um pratinho –
-- Obrigada, Beta. – Pegou a menina e a sentou – Vamos papar com a dinda?
A criança ria e bateu palminhas feliz, abriu a boca e recebeu a primeira colherada, aquele sorriso era capaz de iluminar a vida de Carolina, e ali pela primeira vez em muitos meses ela sentia um pouco de paz novamente.
Carlos entrou em casa todo suado e foi brincar com a filha, recebeu uma bronca da irmã e saiu para tomar banho. Roberta terminou de preparar a comida e veio para a sala, sentou e ficou observando Carolina com a afilhada.
-- Você seria uma ótima mãe, Carol.
-- Ah, fala sério! – Oferecia mais uma colherada à Manuela – Eu não tenho vocação pra isso.
-- Claro que tem, tem a maior paciência. Ela adora você.
-- Assim como ela adora você também. – Limpou a boca da menina – E além do mais ela é muito calminha, assim fica fácil cuidar dela.
-- Isso é verdade.
-- E como estão as coisas na sua casa, amiga? Sua mãe?
-- Ah, ela está bem, né. Essa semana nós fomos arrumar as coisas lá em casa, separar as roupinhas dela pra doar o que estava bom, os remédios, aí foi aquela choradeira, né. – Emocionou-se -- Mas no geral, mamãe está lidando bem.
-- E você? – Terminou de alimentar a afilhada –
-- Eu também estou levando, eu sinto muita falta dela, mas não tem jeito. – Seus olhos marejaram –
-- Verdade. Eu queria te dizer que vai ficar mais fácil com o tempo, mas eu estaria mentindo. A saudade ainda é enorme, o amor também, o que fica mais tolerável é o dia a dia. Chega uma hora que você se acostuma com a ausência, sabe. Acho que foi o que aconteceu comigo.
-- Acho que eu te entendo. – Encostou no sofá – Mudando um pouco de assunto. Você já falou com Claudia que está aqui?
-- Não, eu não sei se quero encontrar com ela, Roberta, eu estou vivendo meu inferno particular, sabe, não estou preparada para estar com outra mulher, não agora.
-- Carol, se Ângela não voltar, você não pode viver nesse luto a vida toda.
-- Eu sei, mas eu também não posso usar Claudia para os momentos que eu estiver livre, chegar aqui a hora que eu quiser e ir embora do mesmo jeito, ela não merece isso, eu seria muito cafajeste e eu não sou assim.
-- Isso você também tem razão. Mas ela gosta de você, e se ela quiser ter pelo menos esses momentos?
-- Melhor não, Beta, eu não quero magoar ninguém, e agora tudo o que eu quero é só encontrar um pouco de paz. Preciso estar sozinha pra isso.
Carlos voltou do banho e pegou a filha no colo, os três sentaram para almoçar e depois de lavar a louça, sentaram na varanda para conversar. Carolina embalava Manuela na rede enquanto a menina dormia, Carlos e Roberta estavam sentados na poltrona de vime quando Claudia apareceu no portão com Gabriela e Rodrigo.
-- Oi gente. Olha quem eu encontrei quando estava vindo pra cá. – Apontou para a surfista –
Roberta olhou para Carolina que não sabia o que fazer, não tinha planejado esse encontro, Carlos levantou e recebeu os três.
-- Entra aí, gente. Manu está apagada ali com Carol. – Apontou a rede –
-- Oi gente. – Claudia cumprimentou –
-- Oi. – Carol respondeu ainda deitada com Manuela –
-- Eu ia vir mais tarde, mas nós fomos no mercado e terminamos mais cedo do que esperávamos, aí resolvemos passar logo aqui pra pegar Manu.
-- Tranquilo, Gabi. Pega ela ali.
-- Ai, se ela acordar vai ficar mal humorada.
-- Puxou a madrinha. – Roberta falou –
Carolina fez uma careta e riu, Gabriela pegou a filha no colo e a embalou tentando não acordar a menina, a cardiologista levantou e foi até Claudia, já que a surfista estava ali, ela iria trata-la bem.
-- Oi Claudinha. – Abraçou –
-- Oi Carol, como você está? – Beijou seu rosto –
Claudia percebeu que Carolina estava diferente, mais magra, com o semblante entristecido, não parecia aquela mulher iluminada que encontrou quando ela se recuperou do acidente.
-- Estou bem, e você?
-- Tudo bem. E a namorada? Não veio com você?
Carolina sentiu o chão se abrir debaixo dos seus pés, parecia que nunca esqueceria o que estava passando, aquela simples pergunta trouxe todo aquele turbilhão de incertezas de volta, ela não sabia da namorada, nem era mais sua namorada.
-- Não, nós terminamos. – Desviou o olhar –
-- Ah, sinto muito, não sabia.
-- É, mas tá tudo bem. Tudo tranquilo. – Sorriu disfarçadamente –
Tranquilo pra quem? Em seu íntimo, Carolina estava em pedaços, e Claudia percebeu isso, não tinha nada tranquilo, o olhar de Carolina era novamente cheio de tristeza.
-- Você não quer dar uma volta? Caminhar um pouco na praia?
-- Claudia, acho melhor não.
Roberta resolveu sair e deixar as duas conversando, foi para dentro da casa onde estavam Carlos, Gabriela e Rodrigo. Carolina sentou na mesma poltrona em que quase enlouqueceu a surfista um ano atrás, mas estava tudo diferente, ela estava diferente.
-- Carol, nós vamos só conversar, eu estou te achando muito abatida. Prometo que não vou avançar o sinal.
-- Claudia, eu adoro sua companhia, mas não é justo com você eu chegar aqui e querer que você corra pros meus braços quando eu bem entender. Eu não posso te oferecer nada nesse momento. Eu não estou bem.
-- Carol, eu quero o seu bem, não faz mal se você não pode me oferecer nada, deixa eu te oferecer o que eu tenho de melhor, pra tentar amenizar essas rugas na sua testa. – Fez um carinho na testa --
-- Claudia, isso não é certo. – Balançou a cabeça negativamente – Eu amo outra pessoa, e estou sofrendo por isso, não é justo com você compartilhar minha dor de cotovelo. Eu nem ia te procurar dessa vez. – Foi sincera --
-- Gabriela que me disse que você estava aqui e eu quis vir te ver.
Claudia sentou à frente da cardiologista e a encarou, podia ver a confusão em seus olhos, sentia o pesar nas palavras de Carolina, queria confortá-la, mesmo como uma amiga, ela gostava de Carolina, até mais do que poderia, pois sabia que nunca teria seu amor, mas qualquer migalha da atenção da médica já era suficiente.
-- Claudia, eu não posso fazer isso com você. – Levantou – É melhor você ir embora.
-- Por que você não me dá a opção de escolher se eu quero ou não estar com você? – Foi até a médica – Carol, nem que seja pra ouvir você falar da sua ex namorada, eu aceito sua presença, tudo o que eu preciso é ter você ao menos por um tempo.
-- Você não merece isso. Você merece alguém que te ame e esteja com você por inteiro. Não pela metade.
-- Segurou seu rosto entre suas mãos – Carol, até pela metade você é especial pra mim. Deixa eu cuidar de você. Mesmo como uma amiga.
Claudia a puxou para um abraço e a cardiologista aceitou aquele carinho, evitou o máximo que pôde, mas estava frágil e carente e receber atenção da surfista foi como um abraço em seu coração que colou algumas partes que pareciam não se juntar nunca mais. Gostava de Claudia, mas sabia que não era amor, seu amor estava a quilômetros de distância e nem sabia se a veria novamente.
As duas saíram para caminhar pela orla, a noite começava a cair, Carolina contou a Claudia o que aconteceu nos últimos meses, foram tantas decepções ao mesmo tempo que ela não conseguiu superar como das outras vezes, e pela primeira vez que se abriu para um relacionamento, se decepcionou talvez sem possibilidade de se recuperar.
-- Carol, nada é eterno, tudo isso uma hora vai passar.
As duas estavam sentadas em um quiosque na beira da praia, bebiam um refrigerante e olhavam o mar ao longe.
-- O problema é que eu não sei como deixar isso pra trás. Eu tenho a tendência a internalizar essas dores e não deixar sair. E amor a gente não escolhe, Claudinha, ele acontece, sem pedir permissão.
-- Eu sei disso. – Baixou os olhos – Carolina, eu estou apaixonada por você.
Aquela confissão foi como um soco no estômago da cardiologista, ela não queria mais complicações, e ter que lidar com o sentimento de Claudia naquele momento seria mais do que ela poderia aguentar.
-- Claudia, eu não sei o que dizer.
-- Eu precisava falar, eu não aguentava mais guardar isso só pra mim. Desde que você foi embora, parece que um pedaço de mim foi junto. – A olhou nos olhos – Mas eu sei que você não sente o mesmo.
-- Claudia, eu sinto muito. Queria muito que fosse só apertar um botão e me apaixonar por você, mas não é assim que funciona.
-- Eu sei disso. Eu só queria uma chance de tentar te conquistar, de tentar te fazer feliz.
-- Eu não estou preparada pra isso agora. – Lágrimas surgiam em seus olhos – Eu não sei se posso assumir um compromisso com você com outra pessoa tão presente em mim ainda.
-- Nós podemos dar um jeito.
-- Eu não sei. – Balançou a cabeça negativamente – Eu não posso. – Começou a chorar –
-- Carol, eu só estou te pedindo uma chance. – Segurou a mão de Carolina --
-- Claudia eu te respeito muito, e por isso eu não posso fazer isso agora. – Puxou a mão, evitando o contato -- Eu não posso.
Carolina saiu e deixou Claudia sentada no quiosque, correu pela orla de volta pra casa, a surfista ficou apenas observando a médica se afastar, decidiu dar o tempo que Carolina precisava para tentar se recompor, não ia forçar uma situação que poderia fazer com que ela desmoronasse com uma pressão desse tipo.
Carolina entrou em casa e passou correndo para o quarto, Roberta deixou Carlos na sala e foi atrás da amiga que chorava jogada sobre a cama. A advogada a abraçou e apenas ficou ali com ela, sem dizer nenhuma palavra, não era preciso, ela só estava ali para apoiar e consolar quando ela precisasse.
No dia seguinte Carolina voltou para Niterói, não queria alimentar esperanças em Claudia, ela não podia dar o que ela merecia, não podia oferecer migalhas para aquela mulher que fazia tão bem a ela.
Tudo o que Carolina queria era esquecer essas dores, mas não sabia como fazer isso, e rezava, pedia para que o tempo realmente resolvesse o impossível.
*******************************
Os meses passavam devagar, quase parando, Carolina continuava em sua rotina torturante de trabalhar e se enclausurar em casa, mas uma colega de trabalho a convidou para atender em uma clínica popular em um bairro mais pobre da cidade, eles estavam precisando de mais médicos para atender a população carente daquela área, a oferta não era para receber muito pelo serviço, era mais para fazer caridade do que enriquecer.
Carolina aceitou prontamente, e passou a atender um dia na semana nessa clínica, como as instalações eram muito precárias, os materiais eram comprados com os valores que eram pagos simbolicamente pelos pacientes, Carolina resolveu recusar o pagamento pelo seu dia de trabalho, com o salário que iria receber, comprava remédios e materiais para doar aos pacientes que necessitavam de tratamento contínuo e não tinham condições de bancar sozinhos.
Aos poucos ela ia recobrando sua essência, ajudar ao próximo era sua meta, fazer o bem sem importar a quem era sua missão de vida.
A dor do amor perdido aos poucos ia dando lugar apenas a saudade que sentia, aquele amor ia sendo escondido debaixo do tapete, não sabia se algum dia iria levantar aquela poeira novamente, mas ela sabia que ele estava lá, só não estava mais incomodando tanto.
Izabel finalmente deixou o Hospital Matriz e junto com Raquel resolveram abrir uma clínica e convidaram Carolina para se unir a elas, depois de pensar no assunto, Carolina acabou aceitando. E as três amigas embarcaram em um projeto ambicioso, montar uma clínica que atendesse várias especialidades, e tivesse atendimento popular para pessoas mais carentes.
As três tinham economias e investiram em comprar um imóvel, fizeram uma obra de revitalização e no final do ano a clínica estava abrindo suas portas.
Carolina agora parecia que tinha voltado à sua rotina normal, trabalhava na clínica com as amigas, atendia um dia na clínica popular, não abriu mão desse trabalho, e ainda tirava dois plantões que passaram a ser noturnos no hospital Universitário. Trabalhar voltou a ser sua prioridade, não conseguia se envolver com ninguém, conversou com Claudia algumas vezes ao telefone, mas não deixou que passasse de conversas amenas, sobre trivialidades.
Aline e Raquel continuavam juntas e mais apaixonadas do que nunca, a cardiologista também foi trabalhar na clínica da namorada, elas conseguiram reunir parte da equipe que trabalhou junta no hospital Matriz, já que a maioria foi dispensado pela nova direção. Daniele atendia na ortopedia, Aline e Carolina na cardiologia, Izabel clínica geral, Carolina convidou seu antigo colega de internato Eduardo para atender pediatria, e aos poucos a clínica ia crescendo. Assim como a distância que Carolina sentia de Ângela, a presença daquele amor já estava se perdendo, será que depois de tudo o que passou, Carolina estava mesmo fadada a viver infeliz? Essa era uma pergunta que ela sempre se fazia, mas nunca obteve resposta.
Fim do capítulo
Oi moças
Estou postando hoje um extra pra compensar, caso não consiga postar na quarta.
Farei o possível para não deixar vocês na mão, mas tem sido meio puxado.
Então, vamos lá.
Carol como sempre, focando no lado profissional, é o que ela faz de melhor, e com a companhia das amigas, está crescendo novamente.
Vocês não acham que esse silêncio de Lucia está um pouco suspeito? Hummmm
Claudia tentou, mas Carol não insistiu, e agora? Será que acabou mesmo para as duas?
Muitas perguntas, vocês têm mais alguma? Mandem no comentário.
Obrigada pelo carinho, patty-321, Mille, NovaAqui e Pollyan.
Boa semana a todas.
Abraços
Cris Lane
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HelOliveira
Em: 19/04/2019
Oi Cris mais um cap que felicidade, bom Carol sendo Carol pra suportadar a dor né....e a Ângela como está vivendo, não tá fazendo nada só acatando as decisões da mae louca....sim Lúcia tá muito quieta vem bomba por aí..... E Sam tb sumiu, tenho carinho por ela.
Aguardando o proximo
Bjos
Resposta do autor:
Oi HelOliveira
Pois é, Carol sendo a fortaleza que sempre precisou ser.
Ângela está sobrevivendo assim como Carol, na sua tentativa de proteger a mulher que ama.
Samantha e Lucia estão por aí, vem bomba sim, mais emoções.
Continua na torcida.
Obrigada pelo carinho.
Abraços
Cris Lane
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Pollyan
Em: 16/04/2019
Eu acho que Samantha fez alguma coisa e Lúcia tá procurando uma forma de sair de algum calabolço no qual foi presa kkkkkk Quem dera. Sempre achei que a dor de Lúcia era uma queda por Carol e que a questão é Carol nunca ter nem tentado nada com ela, preferindo ficar com Samantha mesmo ela tendo sido quem foi pra Carol.
Achei muito digno ela não usar a fofa da Claúdia de muleta e achei precipitado da parte de Claúdia falar aquilo, era melhor ter dito da última vez que elas furunfaram. u.u
Sinceramente, acho ótimo Carol estar se curando, mudar não é nada fácil, mas ela precisava de libertação, gente. É muito ruim sofrer e essa criatura só faz isso na vida, trabalhar e sofrer (é uma realidade da vida? sim, mas enfim).
Vocês podem dizer "ah, mas Ângela não teve culpa." E daí? Carolina deixou de sofrer pq foi sem querer? Ela deveria sim seguir com a vida dela pq a mãe da Angel vai continuar sendo influente sempre. Depois que a Angela formar, que tiver a independência, que tinha ficado subentendido que ela já possuía, uma denúncia ainda pode ser feita contra as duas e elas vão viver de que, de amor? Pq se a mãe de patanha da Ângela vai continuar sendo influente e anti ética em tornar a vida delas no mínimo num inferno. Queria que essa distinta senhora se apaixonasse por uma sapa maravilhosa e que a única a apoiar de alguma forma fosse a Carol por até Ângela ser contra só pelo sofrimento que ela causou e que a sapa não quisesse ela.
Resposta do autor:
Oi Pollyan
KKKKK bom, você já prendeu a Lucia, não sei o que ela anda aprontando, mas vem chumbo grosso por aí.
Será que existe um amor escondido aí? Hum, não sei, talvez seja apenas inveja mesmo.
As vezes não expressamos nossos sentimentos, e quando resolvemos fazer, não é em uma boa hora, acho que Claudia tentou aproveitar o momento de fragilidade de Carol, achando que ela poderia ceder para tentar esquecer Ângela, mas Carol não lida com suas dores dessa maneira.
Depois vocês dizem que eu que capricho no drama, kkkkkkkkkkkkk, Você superou minhas ideias para a Vera, vou pensar no seu caso, ok.
Obrigada pelo carinho.
Abraços
Cris Lane
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Mille
Em: 16/04/2019
Ola Cris
Sabe que pensei a mesma coisa que a novaaqui Lucia tem é amor platônico pela Carol.
Gostei da atitude da Carol em não aceitar os sentimentos da Claudia. Por mais que a Claudia queira a situação não iria trazer alegria e paz para o coração dela e a Claudia sentiria mal por não ajudar. Só o amor dela não é suficiente para curar as feridas da Carol.
Sei que quando a Ângela enfrentar a mãe e procurar a Carol, ela estará de braços aberto mais acho que no primeiro momento a Carol dará um tempo de retornar com a ex noiva. Mais quando Ângela e Carol tiverem frente a frente os sentimentos de ambas falará mais alto.
Lucia sumida tenho ate medo, pois você capricha viu dona Cris, e acho que teremos mais uma maldade dessa cobra.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi Mille
Será, que Lucia ama Carol? Não sei, acho que é mais inveja mesmo. Será?
Você tem razão, tem pessoas que preferem esquecer as dores de um amor, entrando em outro, mas Carol não lida com as perdas assim, e ningupem sairia bem disso.
Você acha que Carol vai perdoar Ângela facilmente?
Hahaha, eu capricho, vocês pediram, eu incrementei. Mas segura o coração que ainda tem emoção por aí.
Obrigada pelo carinho.
Abraços
Cris Lane
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NeyK
Em: 16/04/2019
Eu acho que Carol precisa é assentar essa dor e achar uma morena nova pra chamar de sua. A Lúcia que se campe de uma vez por todas.
Resposta do autor:
Oi NeyK
Você quer que Carol largue esse celibato, né. Poderia mesmo. Quem sabe?
Lucia está quieta demais, não?
Obrigada pelo carinho.
Abraços
Cris Lane
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NovaAqui
Em: 15/04/2019
Você está destruindo Carol! Se não fosse o trabalho, ela já teria surtado
Cláudia, vai procurar sua turma. Parece urubu na carniça kkkkk
Nem um telefone de Angela? Nem um WhatsApp? Nadica de nada? Tá foda para Carol.
Essa Lucia deve estar arrumando mais algum plano diabólico para destruir Carol. Começo a achar que essa sapata duzinferno é apaixonada por Carolina.... Sei não
Você nem para colocar um gostosona para dar uns pegas na Carol. Pensei que o hábito tivesse ficado na primeira temporada kkkk
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Oi NovaAqui
Euuuu???? Nãoooo, quem sacaneou com ela foi Lucia e Vera, eu não tenho nada com isso. :)
Claudia tentou, não podemos culpá-la, né, mas a sensatez de Carol falou mais alto.
Nadinha mesmo, a mais pura ignorância.
Paixão platônica, será? Não sei, pode ser apenas inveja mesmo.
Kkkkkkk, Carol está esperando Ângela, no fundo ela ainda acha que seu amor vai voltar. Será?
Obrigada pelo carinho.
Abraço
Cris Lane
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