Capítulo 28 - Dia dos Namorados
Segundas-feiras dificilmente são maravilhosas. Mas algumas delas dão prenúncio de semanas relativamente boas. Outras, são apenas surpreendentes – mas nem sempre de um jeito bom.
“Bom dia meninas!” Helena acorda cheia de vitalidade, e pega três laranjas para fazer um suco.
“Bom dia para quem?” Lívia reclama, com dor de cabeça.
“Mais ânimo, Liv! Logo está chegando o dia dos namorados e eu tenho grandes planos!” Helena se empolga.
“Essa felicidade nessa hora da manhã não combina com você, Helena. E ninguém liga para seus planos.” Lívia dá um belo gole de café para tentar acordar. “Fora que o mês de junho para mim representa só desgraça porque é fim de semestre. Aliás, você viu que amanhã o Dr. Moisés quer seu grupo e o meu juntos no caso que ele vai apresentar? Falaram que todo semestre ele faz isso, de juntar calouros e veteranos.”
“Não fiquei sabendo, quando ele mandou e-mail?”
“Mandou agora há pouco, esse é outro que deve acordar feliz.” Lívia suspira com certa frustração.
“E como funciona essa discussão de caso que vocês fazem?” Anna questiona enquanto passa geleia de morango na torrada.
“Ele apresenta um paciente para nós, a gente faz algumas perguntas, exame físico básico e depois a gente volta para discutir o caso e possíveis hipóteses diagnósticas.” Helena responde.
“Mas é paciente que está lá esperando para ser atendido?” Anna pega o pacote de torradas de Lívia e come com manteiga.
“Geralmente é paciente já internado que está aguardando exames e já passou por algum outro médico, ou realmente ainda não tem um diagnóstico definitivo. Só que nesse caso de apresentação que o Dr. Moisés faz com veteranos e calouros juntos vai ser só exposição da história mesmo, sem exames ou entrevista clínica. Pelo menos foi o que me falaram.” Lívia complementa.
“Bom dia minha rainha!” Isabel aparece de cabelo preso e livros em mãos.
“Bom dia, meu amor! Estou fazendo suco, não vai querer?” Helena pergunta, após receber um beijo de Isabel.
“Vou querer sim, muito obrigada! E vou ficar à tarde na Biblioteca, se não se importar.”
“Não vai voltar para casa? Justo hoje que temos a tarde livre?”
“Vai ver ela já quer estudar para o caso de amanhã, o Dr. Moisés mandou uns tópicos para a gente revisar.” Lívia comenta.
“Também, mas eu tenho muita matéria para pôr em dia.”
“Alerta de nerd.” Lívia continua com o mau humor matinal.
“A gente pode estudar o caso juntas, se quiser.” Helena propõe a namorada.
“Podemos estudar depois que eu voltar do trabalho à noite se quiser, amor.”
“Acho que isso é código para querer estudar sozinha sem que encham o saco, Helena.” Lívia se intromete mais uma vez.
“Lívia, o que o Dante está fazendo que não está enchendo seu saco aqui hoje?” Isabel se vira para a colega de apartamento da namorada.
“A prova dele é hoje, esqueceu? Ele está um porre de tão estressado.”
“Está explicada a sua frustração.” Isabel sorri ironicamente.
“Elas sempre foram assim?” Anna pergunta para Helena.
“Isabel adora trocar farpas com meio mundo.” Helena responde como se estivesse contando uma piada.
“Você deveria estar me defendendo Helena!” Isabel finge estar brava, mas não prossegue com a brincadeira e apenas aceita o suco oferecido pela namorada.
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Helena aproveitava a tarde para estudar no balcão da cozinha, lendo os artigos que seu preceptor enviara previamente.
“Quer achocolatado?” Lívia aparece e pega a caixa de leite da geladeira.
“Não, muito obrigada. E o Dante, como foi na prova?” Helena pergunta, sem desviar os olhos do artigo.
“Foi mal. Acho que foi a pior nota que ele já tirou na Medicina. Nunca o vi tão enfurecido, academicamente falando.”
O silêncio se instaurou e tudo o que se ouvia era o barulho da lapiseira de Helena fazendo anotações em seu caderno conforme prosseguia a leitura. Lívia suspirou uma, duas vezes.
“Okay, desabafe.” Helena coloca o caderno em cima do balcão e fecha o notebook.
“Eu acho que ele está frustrado pela decisão que eu tomei. Ele queria algo sério mas e-”
“Mas você está com medo e blá blá blá. Você já disse isso mil vezes.”
“Obrigada pela gentileza, Helena.” Lívia dá mais um suspiro e se vira de costas para preparar o achocolatado.
“Está bem, desculpe.” Helena solta o ar pela boca lentamente para dar tempo de adquirir paciência. “Ele foi mal na prova e quis projetar todas as frustrações dele em cima de você, certo?”
“Exatamente!” Lívia se vira outra vez e deixa o copo cheio na pia. “Ele não entende que eu acabei de passar por um terremoto de emoções, sabe? Eu só queria que ele entendesse isso mas não importa o que eu diga, ele sempre entende tudo de modo radical!”
“Ele é só um cara como qualquer outro e a mentalidade dele não seria diferente, Lívia.” Helena tenta deixar as coisas em termos simples.
“Uma hora ele vai ter que entender.”
“Lívia, por que você se preocupa com isso agora? Você está indo bem na faculdade, tem pessoas ao seu redor que se importam com você, para quê ter esse tipo de preocupação?”
“Você fala isso porque está no relacionamento perfeito e não tem do que se preocupar.”
“Não é perfeito, Lívia, tem seus altos e baixos, acho que faz pouco tempo que aprendi a adquirir certa estabilidade. Mas o que eu digo é que no seu caso, você vem de uma série de relacionamentos conturbados, para quê ficar pensando nisso?”
“Pois é isso que eu estou tentando dizer ao Dante!!”
“E mesmo tentando dizer isso, parece que você continua repetindo o padrão! Você tem esse discurso, mas logo está cedendo para poder alguns bons momentos seguidos da tal tempestade emocional.”
“Mas...” Lívia pausa para analisar suas próprias ações. “Odeio quando você tem razão.” Ela desvia o olhar.
“O problema é que eu sempre tenho razão.” Helena dá de ombros e reabre seu notebook para continuar a leitura.
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Outra manhã. Helena acordou e não encontrou a namorada na cama. Quando pegou o celular, recebeu a seguinte mensagem:
‘Bom dia amor! Cheguei tarde do trabalho e acabei dormindo na moradia mesmo, já estavam pensando que eu tinha desistido da vaga aqui, hahahaha...beijos, vejo-lhe na aula, amo você!’
Helena apenas leu e colocou o celular em cima do travesseiro. Foi ao banheiro, lavou o rosto e quando chegou na cozinha, deparou-se com Dante fazendo o café da manhã.
“Ué, você aqui? Vocês voltaram?” Helena questiona, surpresa.
“Nós nunca terminamos. Ou nunca começamos. Sei lá.” Dante responde, fingindo não ligar.
“É complicado.” Lívia aparece e dá um beijo na bochecha do rapaz.
“É complicado porque tu deixas complicado.” Dante afirma.
“Acho que descomplicaríamos essa situação se você ficasse de boquinha fechada e terminasse essas panquecas, okay?” Lívia aperta a bochecha do garoto e se senta em frente ao balcão, ao lado de Helena. “Você e a Bel terminaram?”
“O quê?” A pergunta deixa Helena ressabiada. “Como assim?”
“Nunca vi a Isabel deixar de dormir uma noite sequer aqui. Exceto talvez nos primeiros dias que a gente se mudou, mas isso não conta. Só que para ela não ter vindo ontem suspeitei que tivessem terminado.”
“Lógico que não. Ela saiu tarde do trabalho.” Helena tenta justificar e defender a namorada.
“Isso é desculpa agora?” Dante também resolve palpitar.
“Termina as panquecas aí.” Helena ordena e Lívia acaba rindo.
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Sentindo a falta da namorada na aula, Helena ligou para Isabel perto da hora do almoço.
“Está tudo bem?” Ela pergunta, preocupada.
“Está sim, mas eu tive que faltar porque surgiram alguns imprevistos, tive que ir ao banco, aos correios...” Isabel responde vagamente.
“Por que não me avisou? Eu levaria você, ué.”
“Não queria lhe fazer perder aula, amor... daí vou aproveitar e almoçar aqui no centro da cidade, já estou perto do hospital então fico por aqui mesmo, pode ser?”
“Okay, tudo bem...” Antes que Helena pudesse dizer qualquer outra coisa, a ligação é encerrada.
“O Dante fez aquela lasanha de berinjela, vai querer?” Lívia aparece na porta do quarto de Helena.
“Ele não fazia só em finais de semana?”
“Eu implorei do meu jeitinho e consegui convencê-lo.” Lívia pisca e chama a amiga mais uma vez para almoçar, e ela finalmente aceita.
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“Pessoal, boa tarde. Sei que estamos em um setor diferente do que costumamos ficar, e é um caso diferente da minha área, mas gosto de fazer isso para o pessoal da 3ª fase se acostumar com a ideia de hipóteses diagnósticas que lhes aguarda semestre que vem, enquanto a 4ª fase tem a oportunidade de ensinar o que aprendeu.” Dr. Moisés explica aos respectivos grupos de alunos de ambas as fases no qual ele é preceptor, em uma sala que geralmente é ocupada por residentes. Em alguns slides, ele começa a apresentar a identificação, queixa e história da doença atual, além de história mórbida pregressa. “Paciente relata dor em membro superior direito do tipo queimação, sem fator de alívio ou fator desencadeante, que limitava seu movimento e agravou-se até resultar na procura pelo Hospital. Queixa-se também de parestesia no mesmo membro relatado. Além disso, relata dispneia aos leves esforços. É hipertenso e nega morbidades na família. Histórico de quatro infartos agudos do miocárdio, sendo que o último foi há três anos e cinco meses, e dois acidentes vasculares encefálicos, sendo que um deles, ocorrido há aproximadamente seis anos e meio, resultou em história de hemianopsia homônima esquerda. Relata também história de trombose venosa profunda nos dois membros inferiores. Nega febre e alterações no sistema genito-urinário. Nega tabagismo e etilismo. Esse é só um resumo. As demais informações, além das medicações e atualização do prontuário estão nas fichas que vocês acabaram de receber. Reúnam-se e comecem a discutir sobre o caso enquanto eu procuro o Dr. Guimarães para ajudar a responder as questões, até porque o caso foi repassado para ele.” Dr. Moisés se retira, enquanto os alunos se reúnem em duplas e trios.
“Chega aí.” Helena, ao lado de Isabel, chama Lívia.
“Que bom que vocês me chamaram porque senão eu teria que sentar ao lado do bê-erre-u-ene-ó.”
“Faz bem em não querer falar com ele.” Helena apoia a amiga.
“Não falar com ele cem por cento do tempo é difícil até porque estudo com o garoto, mas evito ao máximo. Quero distância. Mas vamos lá para o caso. Vocês já leram a ficha?”
“Eu estou no começo ainda, mal deu tempo de ler a primeira linha. Bel?” Helena olha para a namorada, que parece estar distante.
“Isabel!” Lívia cutuca a garota.
“Oi?” A namorada de Helena responde apática.
“Isabel, o que está acontecendo com você?! Primeiro você falta à aula, depois nem presta atenção em uma de suas matérias favoritas...”
“Nada Helena, só tive que resolver uns problemas...” Isabel pega a cópia da ficha e dá uma rápida análise junto com as garotas. “Ele é cardiopata, hipertenso... deve ter sido algum coágulo no braço ou antebraço?”
“Sim, provavelmente, mas ele tem um histórico de outras morbidades que não parecem relacionadas entre si. Por exemplo, tem esses movimentos involuntários de membros superiores e cabeça aqui que o professor não citou na apresentação.” Lívia comenta.
“Ele não citou o interrogatório sobre os diversos sistemas, acho que ele deixou para nós lermos mesmo.” Helena também participa.
“Ele tem eventos vasculares cíclicos... está soando como uma doença autoimune, algum anticorpo relacionado a homeostasia da coagulação?” Lívia inicia o levantamento de hipóteses.
“Síndrome Antifosfolípide? Mas é raro aqui no Brasil.” Helena contesta.
“Não é por ser raro que simplesmente não existe, Helena.” Lívia responde. “Aliás, como você conhece essa doença?”
“Aquele professor que vai nos dar aula de reumato deu uma palestra na faculdade uma vez e eu fui assistir, e falavam sobre algumas doenças autoimunes.”
“Preciso frequentar mais essas palestras. Mas a maioria me dá sono, não sei como proceder!” Lívia acaba rindo, enquanto Dr. Moisés volta e traz consigo Dr. Guimarães.
Os alunos fizeram diversas perguntas, mas o diagnóstico final foi de Doença de Parkinson, e o paciente recebeu alta momentos antes da reunião começar. Helena e Lívia se entreolharam desconfiadas, enquanto Isabel permanecia distraída.
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Após voltar do trabalho , dessa vez no apartamento de Helena, Isabel pegou no sono rapidamente, sem ao menos jantar, deixando Helena na sala terminando um relatório com a ajuda de Lívia.
“Como pudemos errar aquele diagnóstico? Tudo bem que eu não entendo isso direito ainda, mas parecia tão certo.” Helena desabafa.
“Eu mandei um e-mail para o professor Moisés justificando nossa opinião, quero entender porque estávamos errada. O Dr. Guimarães enrolou, enrolou e não respondeu nada, e o Dr. Moisés parece que ficou desconfortável com as respostas do colega.”
“De verdade, não entendi nada daquela história. Mas espero que o nosso professor responda.”
“Também espero. Olha, você colocou duas vírgulas ali naquele parágrafo.” Lívia coloca uma mão no ombro da amiga e a outra usa para apontar o erro.
“Caramba, o corretor do notebook deixou essa passar.” Helena ri. “Finalmente acho que estou terminando. Pode ir dormir se quiser, Liv, não quero lhe incomodar.”
“Não é incômodo. E eu também estou esperando o Dante me ligar para ver se vai passar a noite aqui.”
“Essa hora? Por que ele não confirmou antes?”
“Ele também está nessa neura de terminar todos os trabalhos o mais rápido possível a fim de sobrar tempo para as provas do final do semestre.” Lívia suspira. “Ai, Helena, bota uma musiquinha aí, está muito silencioso.”
“Está silencioso porque já passa das duas da manhã, e tanto Isabel quanto Anna estão dormindo.”
“Então coloca em um volume baixo porque esse silêncio completo está me dando agonia.” Lívia insiste.
“Okay. Mas só até eu terminar meu relatório. Não vou ficar esperando o Dante com você. Quer ouvir o quê?”
“Provavelmente ele nem vem, já até perdi as esperanças. Mas eu vou falar o nome de um artista que eu aposto que nunca ouviu.”
“Mas ele canta o quê?”
“Basicamente rock mais pesado, mas ultimamente tem se voltado mais para o acústico.”
“Fala aí.”
“Corey Taylor.”
“Você está brincando com a minha cara, né?” Helena ri.
“Por quê?”
“Esse não é o vocalista do Slipknot?” Helena contrai ambos os supercílios.
“É sim, e também do Stone Sour. Eu falei, ele fez um show acústico e é simplesmente uma obra prima. Espera aí, foi o show que ele fez em Londres, deixa eu procurar.” Lívia utiliza a mão que apontou o erro ortográfico para procurar o vídeo.
“Até que a voz dele se adapta bem no acústico.” Helena comenta enquanto se distrai assistindo ao início do vídeo.
“A voz dele fica um pouco rouca porque esse foi o primeiro show que ele havia feito sem fumar.” Lívia explica enquanto as duas prestam atenção.
“Daí aumenta a produção de muco volta a acontecer, certo?” Helena vira o rosto enquanto Lívia se encontrava com o queixo encostado no ombro da amiga.
“É sim, tem alguém que aprendeu muito bem a fisiologia respiratória.” Lívia esboça um leve sorriso.
Helena sorriu de volta mas num ímpeto de desconforto, pigarreou e mexeu o ombro em que Lívia se encostava. A veterana da paulistana percebeu a sutilidade e logo se afastou. Anna Júlia então apareceu para fazer um chá de hibisco.
“Vocês também estão com a impressão de que essa semana está um caos? Já fiz três divórcios, e um deles ainda teve briga no meio da firma por causa das crianças. Eu deveria ter escolhido a área tributária.” Anna Júlia se senta ao lado de Helena enquanto a água esquenta na chaleira.
“Sim, não vejo a hora dessa semana acabar também.” Lívia joga as costas e a nuca no encosto do sofá.
“Eu não. Ainda tenho um monte de coisas para preparar até o fim da semana.” Helena comenta, ainda assistindo ao vídeo.
“Você está mesmo empolgada com essa história de Dia dos Namorados, hein.” Lívia comenta, pouco antes de bocejar.
“E está certa, temos que ser otimistas, senão vamos afundar dentro dessa sociedade moderna.” Anna responde e se levanta para buscar o chá.
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Os dias daquela semana agourada passaram relativamente rápido. O tão famigerado Dia Dos Namorados chegou e Helena conseguiu arrancar energias do além para produzir o melhor encontro para si e sua amada. Mas quando Helena acordou para preparar o café da manhã favorito de Isabel, esta já tinha levantado. Por um momento, Helena pensou que seria surpreendida por uma bandeja, mas tudo que encontrou foi um bilhete dizendo que a namorada necessitou acordar mais cedo e que não iria para a faculdade – novamente. Pelo menos tinha um ‘amo você’ com um pequeno coração desenhado no final.
Já no final da tarde, Helena tentou novamente conversar com sua namorada pelo celular:
“Oi sumida.” Helena brinca.
“Oi, amor, desculpa, é que eu estava lidando com algumas pendências, coisas de adulto. Mas sim, eu sei que é Dia dos Namorados, perdão por não estar passando essa data com você. Eu estou ajudando a preparar a festa no Pub agora a tarde, você poderia me buscar a noite e a gente faz alguma coisa, o que acha?”
“Tudo bem...” A voz de Helena escancara sua frustração.
“Não fica triste... prometo que faço valer a pena à noite, está bem?”
“Uh-hum.” Helena finalmente desliga.
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“Quer fazer algo hoje à noite?” Dante pergunta, enquanto ele e Lívia tomam um café no centro de conveniência próximo à faculdade.
“O quê? Algo tipo um encontro?” Lívia pergunta, temendo a resposta.
“Sei lá, algo no meu apartamento, pedir uns hambúrgueres artesanais, uma cerveja, maratonar alguma série...” Dante propõe casualmente.
“Lá no seu prédio?” Lívia faz cara de desgosto.
“Ah, achei que tu já estiveste melhor em relação à convivência com Bruno, e outra, dificilmente tu irás encontrá-lo, mas se quiseres eu pego o elevador contigo.”
“Bem... Helena provavelmente vai fazer alguma coisa com a Isabel e isso envolve gritos e gemidos que não vou querer ouvir... acho que vou aceitar seu convite.” Lívia sorri e, apesar de um pouco relutante, parece contente com a decisão.
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Helena apareceu em frente ao Pub com uma calça preta de couro e uma camisa jeans que comprara naquele mesmo dia. Seu perfume era exalado até o outro lado da rua. Ela aguardava de braços cruzados encostada em seu carro enquanto Isabel não chegava. Quem apareceu primeiro foi Anna Júlia, que saiu da festa um pouco mais alegre que o normal, acompanhada de uma garota. Ela sorriu e deu tchau para Helena, que acabou rindo da situação. Alguns minutos depois, Isabel surgiu.
“Amor! Como você está gata!” Isabel dá um selinho na namorada.
“Eu sei, bebê. Vamos?” Helena abre a porta do carro para Isabel.
“Aonde? Para sua casa mesmo, né?”
“Na verdade não, vamos para um lugar diferente.” Helena abre aquele famoso sorriso malicioso.
“Para onde?” Isabel mostra-se desconfiada.
“Você vai ver.” Helena também entra no carro e começa a dirigir.
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“Fico feliz que tu tenhas vindo.” Dante cumprimenta Lívia com um beijo na testa, em frente ao portão de seu prédio. Ambos tomam o elevador até o andar que o garoto mora.
“Você está usando a camisa que ganhou do Cláudio de propósito, né?” Lívia brinca.
“Eu gostei dela, e seu cunhado tem bom gosto!” Dante responde enquanto abre a porta para que Lívia pudesse entrar. Quando ela pisa no apartamento, não consegue acreditar. Seus olhos se arregalam.
“Dante, é sério isso?” A garota, boquiaberta, se depara com uma cesta contendo duas garrafas de champanhe e três diferentes caixas de chocolate. Ao olhar para a mesa da cozinha, depara-se com dois pratos de macarrão Caprese, do jeito que ela mais adora. “Mas Dante...”
“Sem compromissos. Casualmente. Eu entendo, Liv.” Dante tenta manter a compostura. “Agora podemos jantar?”
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“Helena, sério, fala, aonde estamos indo?” Isabel, impaciente, abre a janela do carro para tentar identificar o caminho.
“Fecha a janela, o ar condicionado está ligado.” Helena ordena, enquanto usa os botões do lado do motorista para subir a janela.
“Helena, é junho, não tem necessidade de ligar o ar condicionado!” Isabel abre a janela novamente.
“E também não tem necessidade de abrir a janela!” Helena exclama. “Espera, você está bêbada?” Ela interroga, ao ver a namorada estranhamente agir como criança.
“Eu bebi um pouquinho, era open bar e os garotos estavam atirando vodka naquelas arminhas de plástico em todo mundo.” Isabel explica.
“Você nunca bebe no trabalho, o que está acontecendo?” Helena se aproxima do local que ela reservou.
“Nada, amor, nada. A gente veio para um hotel? Por quê?” Isabel muda de assunto ao ver a entrada.
“Na verdade é um motel sem ter cara de motel.” Helena explica enquanto estaciona o carro. “Reservei para nós um quarto com banheira de hidromassagem.”
“Sério? Quero!” Isabel desce rapidamente do carro.
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Após o jantar, Dante e Lívia sentaram no sofá e, a pedido dela, o garoto abriu uma das garrafas de champanhe.
“Você está perfeito demais para isso ser real. Diga-me, isso é compensação por alguma cagada que você cometeu?” Lívia toma um gole da taça contendo a bebida espumante.
“Eu percebi que fui um idiota contigo, essa semana. Fui mal na prova, irritei-me sem necessidade. E no fim das contas percebi que no final do dia tudo que eu queria era te ver.” Dante também toma um gole e coloca a taça sobre a mesinha de centro.
“Você sabe que no fundo eu não consigo ficar chateada, ainda mais quando você faz essa carinha de cachorro sem dono.” Lívia também se livra da taça e acaricia a bochecha do menino.
“Sabes de uma coisa?” Dante inclina levemente a cabeça e fita seu olhar no rosto da garota, que piscava terna e lentamente.
“O quê?” Ela umedece os lábios, enquanto sua mão passa a se apoiar no pescoço dele.
“Lembrei do dia que tu estavas falando que queria congelar o tempo... acho que tenho a mesma sensação.”
“Dante, você vai me fazer chorar...” Lívia sorri timidamente, até que o garoto finalmente a beija. Ela segura o rosto dele enquanto o beijo é apreciado lentamente. E então, os beijos seguintes vão se tornando mais curtos, mais rápidos, mais intensos. Lívia não perde tempo e se posiciona no colo do garoto, com suas coxas abertas. Com uma breve pausa, ela tira sua própria blusa. Depois, enquanto ela o beija, vai desabotoando a camisa do garoto. Seus lábios passam para o pescoço, e então para o peitoral. Ela encontra as cicatrizes da mastectomia e as acaricia, antes de voltar a beijar os lábios do garoto, que finalmente consegue segurá-la e deitá-la no sofá. Eles continuam a troca de beijos e carícias.
“Tu colocaste esse sutiã lilás de propósito, né?” Dante sorri maliciosamente enquanto abre a peça íntima da garota, que se desabotoa pela frente.
“Quis facilitar seu serviço...” Lívia mostra a língua e dá risada, mas logo é interrompida por um arrepio de prazer advindo da ponta da língua de Dante no bico de seu peito.
“Quer ir para o quarto?” A mão de Dante se arrasta para a calça de Lívia, abrindo zíper com uma velocidade impressionável.
“Não sei, fazer amor aqui no sofá parece tão aconchegante...” Lívia, ainda embaixo de Dante, morde o lábio inferior e dá uma piscadinha.
“Bom, tu que mandas.” Os dedos de Dante já conseguem sentir o umedecimento de Lívia.
“Eu que mando?” Lívia sorri maliciosamente e puxa Dante pela gola da camisa aberta. Eles se beijam lentamente mais uma vez enquanto Dante, com uma só mão, abre o cinto da calça. Ele interrompe o beijo e abaixa a cueca, aparecendo a prótese de silicone. O garoto retira cuidadosamente a calça e a calcinha da garota. Ela expande as pernas e primeiramente ele massageia a vulva dela, introduzindo um dedo. Sentindo Lívia já completamente lubrificada, ele posiciona a prótese e introduz nela. O tronco e o tórax de Dante, a mais ou menos 60 graus do corpo de Lívia, permite um contato visual entre ambos enquanto ele penetra a menina.
“Mais forte!” Em meio a gemidos e respirações aceleradas, Lívia coloca os dois braços ao redor do pescoço dele.
Por um breve segundo, os dois pares de olhos se encontraram no momento perfeito. Sorrisos discretos foram trocados. Palavras não precisaram ser ditas. Ambos entenderam o que aquilo significava.
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Helena pediu serviço de quarto e, enquanto aguardava, sentou-se ao lado da namorada, na cama.
“Eu sei que a gente namora há alguns meses, e eu sei que existe essa lenda de que garotas acabam levando as coisas a sério muito rápido...” Helena então tira duas alianças de compromisso do bolso da camisa. “E eu sei que isso não é um gesto muito grande mas é uma maneira legal de oficializar o namoro e...”
“Espera, você comprou esse par de alianças para nós?” Isabel reage com surpresa.
“Sim, era algo que eu planejava há algumas semanas.” Helena parece constrangida.
“Por que você fez isso agora?”
“Porque por um acaso eu amo você...?” Helena não entende a súbita irritação da namorada.
“Não, Helena... digo... eu também amo você.” Isabel respira profundamente. “É que... eu não esperava que você quisesse deixar isso mais sério justo agora.”
“Como assim justo agora?” Helena engole a seco, completamente confusa.
“Helena...” Isabel mais uma vez puxa o ar até encher completamente os pulmões e o solta lentamente pela boca. “Precisamos conversar.”
Fim do capítulo
No capítulo, há uma conversa entre Lívia e Helena na qual se faz menção sobre um vídeo de um show. Para quem tiver curiosidade, o show relatado é esse: https://www.youtube.com/watch?v=uetFO7y8WPA
Beijos!
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Kelle Souza
Em: 19/04/2019
Obsesionario En La Mayor. A letra dessa música é linda!!
"Un Poco Perdido" também é massa. (;
Resposta do autor:
Amo demais! Tem bom gosto então ahhahahhahaah ;p
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Kelle Souza
Em: 19/04/2019
Isabel como sempre volúvel. Depois dessa deu até vontade de convidar, Helena pra uma rodada de tequila Rs...
Nossa.. Consegui me conectar completamente com essa entrega de Lívia e Dante!! No momento em que estava lendo, lembrei de olhos nos olhos de, Chico Buarque. Lindo!!
Bjuss..
Resposta do autor:
Ah, Anaiis, fico tão contente que tenha gostado! Objetivo alcançado com sucesso! hehehe
E creio que a personagem Helena curtiria uma rodada de tequila numa hora dessas, coitada. Hahahahahaha
E já que estamos falando de música, quando eu escrevi a cena estava escutando Obsesionario En La Mayor, da banda Tan Bionica. Não sei dizer ao certo se combina, mas me inspirou...
Beijão!
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