Júlia

Acordei passava um pouco das cinco, passei a mão no rosto e me sentei ainda preguiçosa, ouvi conversas vindo da cozinha e alguns gritos vindo da varanda. Fui em direção ao banheiro, joguei uma água no rosto e voltei em busca de um café, Eduardo e minha mãe conversavam animadamente na cozinha quando entrei dizendo:

– Boa tarde!

– Acordou amor! – minha mãe se aproximou e dei um beijo nela que continuou: – Achei que não iria conseguir dormir com aquela bagunça que sua irmã está fazendo lá fora.

– Estava cansada mamãe, apaguei assim que deitei no sofá. – sentei e ela me serviu uma xícara de café, sorri agradecendo e perguntando: – O que estão fazendo lá fora?

– Jogando cartas, aqueles dois não tomam jeito! Por isso se dão tão bem! – sorri com a revirada de olhos de minha mãe e me dirigi ao Eduardo perguntando:

– E você Edu, ganhou do Jonas?

– Que nada Júlia, aquele garoto é muito ativo, perdi três vezes para ele.

– Conseguiu jogar três vezes? Corajoso. – sorri e ele me acompanhou dizendo:

– O garoto é bom de lábia moça, difícil dizer não para ele. – sorri dizendo:

– Por quem será que ele puxou?

Dona Helena só sorriu e não se manifestou, ficamos conversando mais um pouco e logo fui dar uma olhada na bagunça na varanda, cartas, amendoins, latas de cervejas espalhadas para todos os lados, Anny me viu e sorriu dizendo:

– Quer jogar Juh?

– Não obrigada, eu sempre acabo mal nesses jogos.

– Para com isso cunhadinha, senta aí. Seu irmão desistiu e você faz par com a Gabi. – Júlio disse empolgado.

Olhei para a moça que ficou animada e depois para Anny que se manifestou:

– Não, eu faço par com a Gabi e vocês dois ficam juntos.

Tentei negar, mas foi impossível, eles me cataram pelo laço. Começamos a jogar e logo eu e o Júlio estávamos descendo a ladeira. As duas ousadas se empolgaram e Gabi já cheia de cerveja propôs strip poker. Me recusei a continuar a jogar se as regras mudassem e Anny vendo que a diversão estava acabando propôs:

– Quem perder entorna duas garrafas de vinho, cada um, o que acha?

– Como assim quem perder? Seu marido e eu estamos levando a pior aqui. – ela gargalhava e dava de ombro, me abaixei no ouvido de meu cunhado dizendo: – Alguma estratégia de jogo?

– Nenhum, ela conhece todas as minhas jogadas.

– Cara, você é muito mole mesmo. – dei dois tapinha nas costas dele e entramos na graça, olhei para minha irmã e aceitei: – Está bem, mas se eu perder tenho a noite toda para beber, sabe que sou fraca para vinho.

– Fechado maninha.

Duas horas depois lá estava eu e o Júlio bebendo o vinho, perdemos feio para aquelas duas, mas valeu, porque nos divertimos muito. Tomei um banho e escolhi uma roupa confortável para aquela noite, jeans, camiseta regata e um tênis, ótimo. Quando terminei de me arrumar Layla me ligou dizendo que ia passar em casa e logo estaria aqui. Nos despedimos e voltei para a sala, e de lá para fora.

O pessoal começou a chegar e nos reunimos bebendo e conversando, como sempre eles fazendo planos para me sequestrarem no final da festa, mas já levantei a mão acabando com a alegria deles dizendo:

– Dessa vez não pessoal, eu não vou com vocês hoje não.

– Pois é, eu também não vou dessa vez não. – Diego disse olhando para a namorada que estava do outro lado conversando com Eduardo e Anny, Júlio veio em minha direção com uma taça de vinho dizendo:

– Sua dose Júlia, falta pouco.

– Poxa, desse jeito não vou aguentar ir trabalhar amanhã.

– Tivesse pensado antes de aceitar fazer essa aposta.

– Eu tinha que ter pensado antes de aceitar você como meu par, só me deu azar cara.

Balançou a cabeça e todos começaram a rir de minhas implicâncias com ele, minutos depois Diego se aproximou dizendo:

– Sua gata chegou!

Olhei em volta e meus olhos pousaram nela, coração acelerou. Pedi licença para o pessoal e fui em direção a minha pequena, o vinho já tomando conta de minhas vistas, tive algumas visões, e nessas, ela não tinha roupa alguma no corpo. Balancei a cabeça e me aproximei, conversamos um pouco e ganhei presente. Contei sobre a aposta que havia perdido e ela pareceu não gostar muito.

Estávamos nos beijando quando os malucos de meus amigos vieram nos separar e me levaram para uma roda tentando me convencer a sairmos depois da festa. Fui categórica, nas outras vezes fui porque estava sozinha, mas dessa vez tinha uma mulher maravilhosa voltando para casa comigo, quando fiz meu discurso eles finalmente desistiram.

Deixei a Juh lá e segui para o hospital, a tarde foi meio agitada, um acidente na rodovia envolvendo alguns carros, apesar da seriedade não perdemos ninguém. Os bombeiros se juntaram a nós pouco tempo depois e conseguimos controlar a situação. Quando retornamos para o hospital passava das seis, fizemos nossos relatórios conversando sobre o perigo nas estradas.

Passava das sete quando liguei para a Juh, dizendo que ia em casa primeiro para tomar um banho e depois seguiria para a festa. Pelo barulho no telefone deu para ver que a coisa estava bem animada por lá. Entrei no carro e segui embora, felizmente não peguei muito trânsito naquela hora.

Quando cheguei, tomei um banho bem gostoso, me arrumei. Optei por uma calça social preta, uma camisa também social de alças finas, me senti super bem naquela roupa. Coloquei um saltinho básico, arrumei os cabelos e uma maquiagem leve, não gostava tanto, mas aquela noite a Juh merecia. Peguei o presente que comprei durante a semana e segui para a casa de minha sogra.  

Estacionei do outro lado da rua, tinha vários carros por ali, a música não tão alta, até porque era meio de semana e quase todos os vizinhos praticamente foram chamados, mas o som estava bem calmo para o horário. Atravessei a rua, no gramado as crianças corriam e o meu filhote também estava lá, latindo e correndo atrás dos pequenos.

Assim que apareci na calçada a vi de longe, calça jeans e nos pés, tênis, como sempre aquela regata branca e os cabelos bagunçados. Sorria juntamente com alguns dos meninos que trabalhavam com ela. Me aproximei e percebi que Diego tocou seu ombro falando alguma coisa em seu ouvido, em seguida ela olhou em minha direção, pediu licença, se aproximou colocando a mão no peito suspirando e dizendo apenas:

– Nossa!! – pegou em minha mão e fez com que eu rodasse, depois me puxou para seus braços dizendo em meu ouvido antes de me beijar: – Está linda meu amor.

– Obrigada, tudo para você meu bem. – sorri indicando meu corpo e ela olhou para os lados disfarçando e dizendo marota:

– Vamos ali então, quero desembrulhar logo o meu presente.

– Ousada! – se aproximou beijando meus lábios, senti o aroma, perguntei curiosa: – Bebeu vinho?

– Quase duas Garrafas.

– Sério amor?

– Tive que pagar uma dívida, era isso ou arrancar minha roupa!

– O que? – perguntei espantada e ela me puxou para seus braços dizendo ainda sorrindo: – Perdi no carteado para minha irmã e agora o Júlio e eu temos que beber vinho.

– E porque ela queria que você tirasse a roupa? – olhei para o pessoal tentando localizar minha cunhada e a achei próximo ao marido e mais duas pessoas, sorri dizendo: – Vou ter uma conversinha séria com Anny.

– Deixa para lá amor! – me abraçou sorrindo e perguntando: – Como foi seu dia?

– A tarde foi corrida, teve um acidente na rodovia, mas foi tudo bem.

– Está cansada?

– Estou bem amor! – peguei o presente dela entregando: – Isso é para você!

– Hei, obrigada, mas não precisava pequena!  

– Você merece meu amor! – pegou a caixinha sorrindo me dando um beijo e dizendo:

– O que é? – desembrulhou e me olhou sorrindo, uma caixinha de veludo e uma gargantilha com um pingente de duas meninas e um cachorrinho, havia mandado fazer especialmente para ela, sabia que iria adorar, o pegou na mão e disse: – Que lindo meu amor, eu adorei.

– Sabia que você ia gostar. – me deu um beijo demorado e pediu:

– Coloca para mim, por favor?

Se virou e se abaixou um pouco, passei a mão nos ombros dela e coloquei em volta do seu pescoço, se virou e toquei o pingentinho sorrindo:

– Ficou lindo.

– Igual a você!

Olhei nos olhos dela e vi seriedade neles, me puxou para seus braços me beijou delicadamente, me prendeu em seu abraço forte e me entreguei ao beijo delicioso que ela tinha. De repente uma gritaria a nossa volta e fomos separadas, Diego liderava o grupo dizendo:

– Hoje ela é nossa Dra. Layla. 

E foram levando-a para longe de mim, sorriu me mandando um beijo estavam quase do outro lado da festa conversando e rindo animada com os meninos, segui para onde meus pais, dona Helena, Eduardo e Anny estavam. Cumprimentei a todos, e foi a minha sogra quem comentou:

– Tiraram ela de você não foi?

– Sim, não me deram opções! – ela gargalhou e me entregou uma taça com vinho dizendo:

– Vai se acostumando, nos outros aniversários dela, assim que cortamos o bolo eles a colocam em um carro e só voltam no dia seguinte.

Olhei para onde a Juh estava, quando me viu, sorriu. Me prendi naquele sorriso lindo, mas senti as mãos de dona Helena tocarem meu ombro dizendo:

– Tenho certeza que dessa vez, eles não vão conseguir levá-la.

– Porque a senhora acha isso? – olhei para minha sogra, mas foi Anny quem respondeu:

– Essa até eu sei a resposta. – sorri e ela disse revirando os olhos: – Por sua causa.

Abri um sorriso ainda maior, olhei discretamente em direção aonde a Juh estava gostando e muito do que minha cunhada havia dito, e todos sorriram a minha volta. Ficamos conversando, dona Helena nos contando histórias ainda de quando a Juh era pequena, e assim as horas foram passando.

Estava conversando animadamente com meus pais e minha sogra, Anny foi buscar alguns salgados, aproveitei e fui com ela, quando nos afastamos perguntei:

– Que história é essa de querer tirar a roupa de sua irmã?

– Ela te contou foi? – deu risada e se serviu de um salgado falando em seguida: – A ideia não foi minha, e sim da Gabi.

– O que? – olhei para aquela sonsa que estava do outro lado conversando com o Paulo, senti a mão de Anny sobre meu braço dizendo:

– Relaxa Layla, foi no calor do momento que ela sugeriu que jogássemos Strip Poker, mas a Juh se recusou e seguimos com o jogo normal.

Inspirei fundo tentando não me abalar, mas foi quase impossível. Entrei na onda boa de minha cunhada e do Júlio que estava todo alegre devido a quantidade de vinho que havia tomado e acabei tirando aquilo da cabeça e relaxando. Logo em seguida o Rafa apareceu com a namorada nos apresentando e nos descontraímos.

Alessandra era o nome dela, estudavam Veterinária juntos, embora ele estivesse alguns semestres na frente, ambos faziam estágio no Canil. Ela era nova e muito gentil, nossos pais ficaram encantados. O assunto seguiu e logo estávamos falando sobre a feira de adoção, ela se colocou à disposição para ajudar, fiquei feliz, apesar de muita gente ter se voluntariado, nunca era demais uma ajuda extra. E o assunto girou em torno disso.

Com o passar do tempo, os casais foram se aventurando a dançar. E ficou Anny e eu conversando animadamente na mesa, até a Juh aparecer me convidando para dançar também. Hoje ela estava mais solta e um tanto ousada, demonstrava enquanto dançávamos, deslizando seus dedos em meu corpo me deixando totalmente entregue. Não que eu já não fosse néh? Bastava as mãos dela encostar no meu corpo para acender...

Enfim... Dançamos duas músicas praticamente em silêncio, apenas nos olhando e sentindo nossos corpos. Quando a terceira música começou, ela sussurrou em meu ouvido:

– Nós podíamos ir embora, néh?

– Antes de cortar o bolo? – olhei para ela sorrindo: – Sua mãe nos mataria!

– Ela está tão entretida com o Eduardo que nem vai perceber se sairmos agora.

Indicou com a cabeça onde os dois estavam e sorri vendo a cumplicidade deles, voltei meus olhos para ela perguntando:

– Como você está com relação a eles?

– Acho que estou tranquila, ele faz bem a ela. – inspirou fundo tocando meu rosto, pensou um pouco e disse em seguida: – Minha mãe está feliz, e isso me deixa feliz também.

Deu um sorriso tão lindo que meu coração se acelerou, beijei seus lábios e continuamos a dançar. Nem vimos o tempo passar quando dona Helena anunciou que iria cortar o bolo, a Juh foi até o banheiro, resolvi fazer uma surpresa para ela. Caminhei até minha sogra que perguntou assim que me viu:

– Onde está a Juh?

– Foi até o banheiro, podemos cantar os parabéns assim que ela sair?

– Boa ideia minha filha, vamos organizar rapidinho as coisas aqui então.

Fim do capítulo