O dia de Sophia estava complicado, para completar ainda não tinha encontrado tempo para falar com Bia. Foi da faculdade direto para a academia e mesmo assim se atrasou. Tinha acabado de trocar de roupa e saiu correndo arrumando a gola da blusa do uniforme quando esbarrou em alguém no corredor.

– Desculpa, não vi... – as palavras morreram em seus lábios ao perceber que tinha esbarrado em seu chefe, pensou consigo, ótimo dia para o dono da academia estar ali. Disfarçou um sorriso amarelo ao dizer: – Boa tarde, seu Carlos! 

– Boa tarde, estava mesmo te procurando!

A garota gelou ainda mais no instante em que ele falou isso, arregalou os olhos diante do susto após as palavras dele e foi dizendo acelerada:

– Desculpa, o ônibus atrasou, só consegui chegar agora, não se preocupe, só sairei daqui hoje, depois que pagar todas as horas que devo.

O senhor a sua frente achou graça da forma acelerada de Sophia falar, apoiou a mão em seu ombro respondendo de forma gentil.

– Calma, não tem problema. Sei que seu atraso não foi proposital, sempre foi uma ótima funcionária. Também não é esse o motivo que me levou a te procurar.

Olhou dele para um relógio que tinha na parede a sua frente.

– Então, em que posso ajudá-lo?

– Não precisa ficar assustada assim. Não vim dar nenhuma bronca em você, se é isso que está pensando agora.

– Perdão, é que não é comum encontrá-lo por aqui em um dia tão atípico para mim.

– Tudo bem, deveria ter ido logo ao ponto. Bom, tem um rapaz na recepção querendo falar contigo, pelo que entendi, ele tem algo para lhe entregar.

Só então conseguiu respirar aliviada, encolheu os ombros respondendo:

– Estranho, não estou esperando nenhuma entrega. Obrigada, seu Carlos. E mais uma vez, desculpa o meu atraso.

– Ele está de camisa azul, o identificará facilmente quando chegar lá, fique tranquila, ninguém está livre dos atrasos, e você nunca fez disso um hábito, logo, está tudo bem. Com licença, preciso resolver algumas coisas no estoque.

– A vontade.

Ele seguiu pelo extenso corredor na direção contrária a que ela seguiu. Como seu chefe tinha dito, foi realmente fácil identificar o rapaz que a procurava. Se dirigiu até ele perguntando:

– Boa tarde, você queria falar comigo?

– Senhora Sophia Machado?

 – Sim!

Apenas nesse momento percebeu que ele segurava um lindo buquê. Voltou os olhos para o rosto do rapaz quando o mesmo voltou a falar.

– Isto aqui é para a senhora, tenha uma boa tarde, com licença.

– Obrigada, – sorriu – a vontade.

Assim que se afastou do entregador abriu o cartão que estava em meio ao lindo buquê de rosas brancas, suas preferidas por sinal.

Querida Sophia,

Desculpa ter saído sem me despedir, tive um compromisso de trabalho logo cedo, o que me fez sair correndo. Você estava dormindo de forma tão serena que preferi não te acordar. A nossa noite foi PERFEITA, você é maravilhosa, ainda sinto o teu gosto em meus lábios. Estou contando as horas para tê-la ao meu lado novamente.

TE ESPERO NA PRAIA.

Beijos!

Beatriz Queiroz

Ao terminar de ler o cartão a garota sorria bobamente sem nem se dar conta disso.

– Admiradora nova, Sophi? Outra cliente, imagino, bem ousada essa. E de muito bom gosto também, lindas flores!

Não tinha se dado conta de que não estava sozinha na recepção. Levou um pequeno susto, não sabia se deveria ou não dizer quem tinha enviado as flores, mas não tinha porque mentir.

– Cliente alguma, Dani, – sorriu – essas são da Bia

– Bia, Beatriz, a nossa amiga que você conheceu lá em casa? – perguntou surpresa.

– Exatamente. Beatriz Queiroz – ao colocar o bilhete mais perto do rosto sentiu o perfume de Bia exalar do papel e sentiu que seu sorriso ficou ainda mais largo.

– Huum, que interessante. Não sabia que estavam nesse nível de “amizade” já.

Sophia sentiu um certo desdém naquelas palavras, mas preferiu não rebater e mudou o foco da conversa.

– Beatriz é uma mulher incrível. Você e Douglas vão para a praia que dia?

– Como sabe que vamos a praia? – perguntou um tanto quanto assustada.

– Relaxa, não estou perseguindo vocês, se é o que está pensando. – gargalhou sacudindo o bilhete: – Fui convidada também, e no dia em que isso aconteceu seu marido estava presente, por isso a minha pergunta.

– Entendi! Não sei ainda se vou, Douglas está bem animado, mas eu não curto muito aquele mormaço do litoral.

– Segundo a meteorologia, serão dias de muito sol, porém frescos. Acho que será bacana. Além do mais, jurava que vocês eram bem amigos da Bia.

– Meu marido sim, já eu, nem tanto. – sorriu – Apesar de tê-la conhecido primeiro que a esposa, sempre fui e sou mais amiga da Marcella.

Esposa? Sophia se perguntou mentalmente. Beatriz tinha se referido a uma ex esposa. Aquilo estava muito estranho, inclusive a postura da mulher a sua frente, que sempre foi muito gentil, agora parecia outra pessoa, com uma forma um tanto agressiva de tratar. Escolheu bem as palavras antes de continuar, não queria criar um clima desconfortável no seu local de trabalho, ainda mais por algo que nem sabia direito.

– Afinidade é uma coisa bem interessante, não é mesmo. Foi muito bom conversar contigo, Dani. Caso decida ir, nos encontraremos por lá, tá bom!

Já estava se retirando quando ouviu a outra dizer:

– Então você vai, estão bem intimas mesmo, hein?

– Quanto a intimidade, não sei dizer. Mas como disse anteriormente, fui convidada, e não vi empecilhos para não aceitar o convite. – viu nos olhos de Daniela um brilho muito estranho, o melhor a fazer era encerrar aquela conversa: – Se me dá licença, preciso terminar de checar alguns cartões. – saiu quase correndo de perto da outra, sem lhe dar chances para continuar aquela conversa que já estava bem esquisita.

Sophia passou a tarde remoendo a conversa “atravessada” que teve com Daniela. Será que ela era uma daquelas apoiadoras natas de um casal que faziam de tudo para juntá-los novamente, e a estava achando uma ameaça? Não tinha gostado nada da forma que a mulher falou consigo, mas também não se deixaria intimidar por isso. Afinal, seu compromisso era com Beatriz, não com Daniela.

Assim que encontrasse um tempinho, ligaria para agradecer o buquê e saber como ela estava. Mas de uma coisa tinha certeza, não ia desistir de viajar para encontrá-la. Se ela quer voltar com a ex, terá que dizer isso pessoalmente e em sua frente.

Fim do capítulo