Pessoal, boa noite.
Esse capitulo é escrito na visão da Milena. Como em geral todo mundo fica bem feliz (SQN) com as visoes da Chris, imagino que vai acontecer o mesmo nesse capitulo. Para mim, como autora, é bem pesado escrever essas partes, mostrar que não existe só a porção boa ou o conto de fadas.
Enfim, não surtem. Provavelmente esse será o unico capitulo na visão da Milena
Ah, outro recado, a historia está chegando ao final, mais 4 ou no maximo 5 capitulos e estará concluida, então aproveitem esse finalzinho.
Adoro e aprecio cada comentario de voces, de verdade.
Beijos
CapÃtulo 53
Capítulo 53 - Milena (!!!)
Eu já estava extremamente impaciente de esperar a Fefa do lado de fora do ambulatório. Depois que eu entreguei os documentos do fim do embargo do hospital, ao invés dela querer comemorar, ela quis imediatamente falar com a Marcela. Vou te dizer que ultimamente a Marcela anda sendo uma pedra no meu sapato. Eu dou um passo para voltar com a Fernanda, a dra vai lá e puxa a Fernanda 3 passos para tras. O bom é que eu ganhei muitos pontos por conseguir negociar o embargo do hospital, isso a Marcela não vai ter como esconder.
Fiquei no carro tentando esperar calmamente por quase 40 minutos, mas essa cidadezinha, sem internet, sem telefone e sem nada, definitivamente não é pra mim. Quando finalmente eu desci do carro para dar uma volta, a Fernanda apareceu. Eu coloquei meu melhor sorriso no rosto, bem daqueles que eu sei que ela nunca esqueceu. Claro que ela estava com cara de desolada e morta, a Marcela sempre faz isso com ela. Nota mental: Me livrar da Marcela.
- Fefa, que carinha é essa? Acabamos de conseguir o hospital de volta! Sorriso!
- Ai Mi, só você para manter essa alegria toda. Como consegue?
- Quando você está por perto eu sempre fico alegre e feliz - não deixa de ser uma verdade, mas claro que forcei o pé.
- Vamos Mi, vou te levar pra casa. Nem tenho como te agradecer pela ajuda que me deu hoje. Sério.
- Fefa, faria isso por você independente de tudo, sou sua amiga não sou?!. E nada de me levar pra casa, precisamos comemorar. “Vais” poder inaugurar o hospital logo.
- Não Mi, vou te levar pra casa, tenho um montão de trabalho pra fazer.
- Não não Fernanda, vamos fazer assim? Vamos pra sua casa, a gente toma um vinho, come alguma coisa e depois você trabalha. É meu pagamento por te ajudar - fiz uma carinha bem de inocente, sem pretensão alguma, a Fefa sempre cai.
- Tudo bem Mi. Mas depois eu te levo para Maçores, pode ser?
- Claro Fefa. Só um vinho para comemorarmos. - Entramos no carro, posso dizer que ela não mudou nada. Sentou com o banco bem lá atrás, como se o mundo dela fosse aquele carro e que toda a brutalidade ela fosse capaz de colocar ali. Ela ligou o radio, na mesma música brasileira que estava mais cedo. Ela olhava longe, com o pensamento em outro lugar. Como não penso muito em geral e apenas executo, coloquei a minha mão na perna dela, fazendo um carinho. - Vai ficar tudo bem Fefa! Sempre fica.
A Fernanda segurou minha mão, fez um carinho, muito rápido e muito leve, depois colocou minha mão de volta na minha perna, sorriu levemente, como se mais uma vez falasse educadamente um não enorme. Sabe o que eu fico muito puta? É que a mulher que ela gosta nem está aqui. Tudo bem que eu tenho uma gigante parcela nisso, mas a Fernanda não precisa saber e se a Caroline realmente gostasse dela, estaria aqui, ajudando no hospital ou simplesmente segurando a mão dela.
- Você já veio aqui na minha casa? Eu não lembro. - puxou assunto, tentando de alguma maneira quebrar o clima incômodo.
- Já sim Fefa, mas faz anos, antes mesmo de você criar o ambulatório ou a ideia do hospital.
- Nossa, então o faz anos mesmo. Não dá pra entrar de carro até a porta de casa, eu acabo deixando um pouquinho antes e depois tem que ir andando. Tudo bem?
- Tudo, para passar um tempo com você faço qualquer coisa - e sorri mais uma vez encantadoramente. Eu sei bem ser direta quando eu quero. E adoro como ela fica sem graça com a situação. Ela estacionou do carro e eu desci, andamos por algumas vielas, até chegarmos a casinha de pedra que ela vive. Eu não consigo entender como ela vive em uma casa de pedra, sem luz, tendo o dinheiro que ela tem. A Fefa abriu a porta e abriu o espaço para eu entrar, acho um charme essa educação dela.
- Mi, sinta-se a vontade. Já vou ligar a lareira para esquentar um pouco ok?!
- Fefa, não se preocupa não.
- Não se preocupa, você está praticamente roxa. É melhor eu aquecer a casa. - Eu dei uma olhada rápida para o espaço, não era muito diferente da ultima vez que vim aqui, mas algumas coisas estão diferente. O primeiro ponto a considerar é como a casa está organizada, a Fefa nunca foi muito bagunceira, mas nada de organização. Os bichinhos da estante estão milimetricamente posicionados, não tem roupa espalhada, nada fora do lugar. A segunda consideração é o cheiro da casa, não é o cheiro da Fernanda, infelizmente posso dizer que é o cheiro enjoativo da Caroline.
- Cadê o cachorro?
- Eu ainda não peguei ele. Deixei na casa de uma moça aqui do projeto. Eu vou ir ao mercado pegar alguma coisa pra gente jantar e já trago ele. - ela falou agachada perto da lareira, mexendo na lenha
- Não tem nada aí que eu possa cozinhar pra você.?
- Você nem cozinha Mi. - sem olhar pra mim, concentrada no fogo que ela tentava fazer
- Como não?! Não lembra de quantas noites passamos juntas bebendo e cozinhando?
- Mi, isso faz anos, e eu que cozinhava, você mexia as panelas.
- Ah, mas não tira a lembrança gostosa que eu tenho, de estar cozinhando com você. - Posso dizer que ela ali toda firme e séria, mexendo na lenha, para esquentar a casa é o que eu quero. Mais ainda, que vou até onde eu precisar para ter isso de novo, não voltei da Inglaterra por pouca coisa. Levantei silenciosamente do sofá e abracei ela, sem que ela percebesse, por trás, agachada.
- Mi, estou mexendo com fogo, senta lá no sofá. - falou isso tirando meus braços do ombro dela, e já se mexendo para pegar mais lenha. É absurdo o efeito que a Fernanda causa em mim, nos milissegundos que fui capaz de estar com ela, meu corpo todo respondeu, contraindo, ao mesmo tempo que eu aspirei todo o cheiro dela. Me afastei como ela pediu e sentei de volta no sofá, fazendo uma expressão de poucos amigos, que não gostei do que ela fez. O bom da Fernanda é que ela não mudou muito com os anos, tudo bem que tem a Caroline que me atrapalha, mas se eu apertar o parafuso com ela, dá certo - Pronto, lareira pronta, casa aquecida.
- Huhum - respondi apenas isso
- O que foi Mi? Tá toda séria.
- Você foi super grossa Fefa. - ela me olhou perdida, sem entender - quando mandou eu te largar e sentar no sofá.
- Claro que não Mi. To mexendo com fogo, quer que espalhe em você?
- Não é isso, todas as vezes que encosto em você, você me afasta. Cara eu negociei como Eusébio e você nem olha na minha cara. Vim pra cá para conversarmos.
- Mi, desculpa, é que não me sinto a vontade em ficar abraçada com você.
- Tudo isso por causa da sua namoradinha? Já te falei que ela não vai voltar Fefa. Tá na hora de parar de desencanar dela.
- Não é isso, eu só não me sinto bem em namorar ela e ficar te abraçando, mesmo como amiga. Não gosto. Você sabe o quanto eu sou justa nas coisas que faço.
- E quem te garante que ela não está abraçada com ninguém lá no Brasil? Se ela começou a namorar você ainda casada, não mostra algo do caráter dela? - Bingo! A Fernanda me olhou com uma expressão de medo e preocupação, esse é o ponto que devo apertar. Sabia que ia ter um ponto frágil nesse romance patético.
- Ela não é assim Mi. Ela sempre me respeitou, sempre deixou claro a situação dela. Eu que forcei a barra para ficarmos.
- E mesmo assim ela deixou não foi? Você não obrigou ela a ficar com você.
- Não vou falar sobre isso com você Mi. Você quer sua amiga de volta não é?! Esse não é o jeito de ganhar. Vou pegar um vinho pra gente.
Ela saiu meio que brava para pegar a bebida. Eu percebo que a Fefa está cheia de inseguranças, cheia de medos, e que no fundo ainda gosta de mim. Preciso falar com o Cortes pra ver como a Caroline está no Brasil. Consegui trazer a Fernanda para cá com o embargo, agora só preciso segurar a gineco lá no Brasil. Nada que um bom dinheiro não resolva, a Caroline tem toda a pinta de boa moça, que não é comprada, mas se eu oferecer uma boa grana ela fica fácil no Brasil. A Fernanda voltou do fundo da casa com uma garrafa de vinho e duas taças, eu despi ela com os olhos, deu pra ver ela sem graça, adorei.
- Taça! - me entregou a taça e puxou a rolha já levantada com o dente. - Vinho! - Dei o primeiro gole e a bebida gelada desceu rasgando minha garganta, gelando o corpo todo.
- Que vinho é esse? Eu adorei, doce.
- Ah, é um vinho velho que está ai na fora. Foi um empresário de Lisboa que me deu quando fui lá negociar patrocínio para o hospital. Ele me deu de presente.
- Humm, bem gostoso mesmo. E me conta, o que vamos comer a final? Você é fraca para bebida, melhor comer alguma coisa. Vamos fazer a pizza? A gente monta rapidinho, duas pequenas.
- Pode ser, eu não lembro como faz a massa, mas posso arrumar o forno.
- Fechado, você forno, eu massa. Tem mais vinho gelado na casa?
- Sim, sim. Dá pra tombar um bode. - exatamente o que eu quero, tombar um bode. Enquanto a Fefa foi para o fundo da casa de pedra, eu fui direto para o armário para pegar os ingredientes. Encostei na mesa dela, a luz de lampião e comecei a delicadamente montar a massa. Depois de uns 10 minutos ou um pouquinho mais a Fernanda voltou do quintal, toda suja de carvão no rosto.
- Mi, tá pronto o forno lá fora, quando você quiser já pode usar.
- Você está toda suja de carvão. Está linda.
- Hahahaha. - ela deu uma risada leve, sem pressão e passou um dedo com carvão no meu rosto, brincando. - Quem está suja agora também? - gosto de ver a Fefa assim, leve, solta. Aproveitei que eu estava com a mão cheia de farinha, branca e passei nela tambem, para completar a brincadeira.
- Agora está com farinha junto, linda! - ela sacudiu o rosto tirando o excesso da farinha, mas sujando ainda mais com o carvão.
- Mi, você fica chateada se eu for tomar um banho rapidinho? Prometo que não demoro.
- Claro que não Fefa, posso ir junto? - Ela mais uma vez ficou super desconfortável, sorriu educadamente e entrou no quarto dela para pegar roupa e tudo mais. Eu estou indo com relativa calma com a Fernando porque eu não quero assustar muito ela e sei que ela está com uma barreira gigante no momento, chamada Caroline. Acredito que logo isso vai ficar muito mais simples e fácil. Se ela não voltar do Brasil, o espaço fica bem mais tranquilo, depois eu arrumo algum motivo para despachar a MArcela para Trás os montes e junto a Antônia, já que agora as duas velhas estão se pegando. Mato dois coelhos com uma foice só.
Quando a Fernanda saiu do banheiro, a casa já estava com cheiro de pizzas, eu já tinha aberto mais um vinho e tirei alguma das blusas que eu estava usando, na verdade fiquei só com a decotada. Já tinha tirado a bota também. Assim que ela saiu, foi direto para o quarto dela, mas eu bem percebi como ela olhou para o meu decote. Conheço a Fernanda, até nos detalhes que ela finge esconder. Quando ela voltou, parou na frente do vinho e automaticamente bebeu mais uma taça cheia, quase que em um gole. O fato dela estar bebendo assim significa no mínimo que ela está desconfortável com a situação e precisa beber para tentar se acalmar mais um pouco.
- Está fazendo que sabor? Nem sei o que tinha largado por ai.
- Tinha um salame no armário e queijo fechado. Eu montei uma de cada. É simples, mas gostoso. Eu precisava desse tempo com você Fer, senti muito a sua falta esses anos todos.
- Mi, se fosse verdade o que está falando, teria voltado, ou no mínimo vindo me visitar. E você não fez isso. Eu gosto muito de você, tenho um carinho muito grande por tudo que vivemos, principalmente pela nossa infância juntas. Mas é apenas isso Mi, carinho.
- Sabe que eu não acredito em nenhuma palavra do que você fala?! Se sua namoradinha não existisse, você não estaria cheia de pudores comigo.
- Mas a questão é que ela existe. A Carol é muito boa pra mim Mi, eu gosto muito dela, sem contar que me surpreendi em como sai correndo daqui para ir para o Brasil quando ela precisou.
- Não escutei você falar que ama ela.
- Ah, precisa falar? Cara, eu levei ela no Douro, você sabe o significado que aquele lugar tem pra mim.
- Você falou do seu pai pra ela?
- Falei Mi, a Carol sabe tudo de mim. Eu não escondi nada.
- Ela não ficou com medo nem nada?
- Claro que não, meu pai morreu, ele era ruim, eu não. Eu não faço, nem nunca farei as cagadas que ele fazia. Ela me respeita, mesmo sabendo da minha história. Ela teve uma vida bem complicada também, acho que a gente se encaixa, só isso. Sem contar que ela é uma profissional difícil de achar, o comprometimento dela com tudo é alucinógeno.
- Ela não tem nenhuma proposta pra ficar no Brasil?
- Ela nem precisa, já tem uma carreira sólida lá. Tem clínica, casa, uma vida toda organizada. Mas ela quer começar algo novo, respirar novos ares. Ela gostou daqui. Porque está me fazendo esse inquérito todo Mi?
- Não é inquerito, quero conversar com você Fefa. Essa garota não é boa pra você. Ela não te conhece como eu conheço, não sabe lidar com o dinheiro que você tem, não é portuguesa. Só não vou com a cara dela, e como sua amiga tenho o direito de te falar isso.
- Mi, isso não cabe a você decidir. Eu gosto dela. Eu aceito seus toques como amiga, mas dai falar que a Carol não é a pessoa certa, já é passar dos limites. Vai ser otimo te ter por perto de novo, mas você vai precisar aprender a respeitar a Caroline. É com ela que estou agora.
- Eu já percebi - fui seca com a Fernanda. Cacete, como é trabalhoso isso. Se fosse a alguns anos atrás eu já estaria com ela, sem roupa, jogada no chão. Mas parece que ela amadureceu alguma coisa, deixou de ser aquela menina frágil, desprotegida, que chorava na minha casa. Agora a Fefa parece alguem realmente firme, decidida, mas sei que dá. Vai dar mais trabalho, mas dá.
Preciso dela comigo, apenas preciso. Agora que eu estou assumindo a fazenda e a produção, se juntar o azeite Almanço com o Ganate vai ser fácil dominar a produção nacional e ganhar dinheiro vai ser algo muito fácil, simples. Mas pra isso eu preciso da Fernanda em minhas mãos. Desde que ela inventou essa história de hospital social e tudo mais, a região de Urros e MAçores começou a ganhar repercussão nacional. Cada vez mais pessoas vem pra cá, mais empresas querem ajudar no projeto, é uma coisa que vai além do dinheiro, é poder. E se eu conseguir fazer a Fefa ficar comigo, sei que em pouco tempo ela dispensa aquele paspalho que cuida da fazenda e vai deixar tudo nas minhas mãos.
Mandar sequestrar a Caroline não foi algo fácil a ser feito, confesso que não, eu nem gosto desse tipo de ação, mas seria o jeito mais simples de assustar ela e fazer ela ficar no Brasil, mas a Fernanda não aguenta ficar longe de uma mulher e foi correndo para o Brasil. Com o embargo foi rápido trazer ela de volta a Portugal. Agora preciso me aproximar dela, mas essa expectativa que ela tem da Caroline voltar ou da Caroline assumir o hospital me incomoda absurdamente. Eu tenho mesmo é que aprender a fazer as coisas pessoalmente, sem mandar o Cortês fazer, ele é muito burro.
-Mi, não fica brava comigo. Volta pra cá. Vem, a pizza que você fez já está pronta. Vem.
- Ah Fernanda, é fácil pra você ser grossa assim comigo né?! Cara, eu te ajudei com o embargo do hospital, estou aqui tentando me redimir, sei que te machuquei, mas você pisa em mim. Tudo é a Carol pra lá, Caroline pra cá. Eu canso também. Vai chegar uma hora que sua amizade não vai ser mais importante, vai ser dolorosa.
- Mi, não me coloca nessa posição, por favor. Eu quero sua amizade, mas preciso desse respeito seu também.
- Vamos fazer o seguinte Fernanda, acho que você já foi bem grossa e mal agradecida por hoje, eu vou ir naquela venda que tem no final da rua e vou ligar para o Cortes vir me buscar. Ai você fica tranquila, sem eu te desrespeitar. Pode ser?
- Para com isso Mi, claro que não. Ou eu te levo ou você passa a noite aqui. Na verdade é melhor você ficar, está nevando lá fora. Dirigir nesse tempo vai ser bem perigoso, tanto pra mim como para o Cortes. Amanhã cedinho eu te levo embora, nem precisa falar comigo se não quiser, mas não precisa correr esse risco. Vem cá, para de bobagem, vem comer a pizza e a gente fica conversando de boa. Desculpa, as vezes eu acabo sendo grossa tentando impor minha opinião, sabe que não tenho jeito com as pessoas.
- Não tem mesmo, mas tudo bem, essa noite eu fico, amanhã cedo você me leva então.
O resto do tempo que eu fiquei na casa da Fefa, foi até que tranquilo. Como ela estava se sentindo culpada, acabou sendo muito mais gentil comigo. Primeiro comemos a tal pizza que eu fiz, não estava assim muito boa, mas dava para comer. Depois acabamos tomando mais vinho e assistindo um filme que ela tinha no computador dela, por sorte tinha bateria o suficiente para assistir tudo. Acabamos pegando no sono na sala mesmo, de frente para a lareira.
Quando neva em Urros é praticamente impossível acordar com a luz do sol, mas por sorte da Fefa e azar o meu, o celular dela acabou tocando, despertando nos duas. A lareira ainda tinha algumas brasas esquentando a casa, mas o frio era algo que predominava bem.
- Mi, eu vou tomar um banho rapido e me trocar, é o tempo de você se ajeitar e te deixo rapido em Maçores. Hoje eu volto a atender as crianças.
- Bom dia Fefa.
- Ah, bom dia. Desculpa. Estou tão ansiosa por isso. mi, eu não tenho nada pra te dar de café, posso parar na estrada para comermos algo.
- Tudo bem, como na fazenda. Não precisa se preocupar. - Enquanto ela se arrumava, eu coloquei toda minha roupa que espalhei ontem e a bota, depois fiquei no sofá esperando ela sair do banheiro e irmos para o carro.
No decorrer da viagem até Maçores, fomos conversando sobre a colheita das oliveiras e sobre a produção do Azeite, expliquei pra ela sobre uma nova linhagem de maquinário que comprei para a minha produção, que promete purificar o azeite a um nível extraordinário. Ficou muito claro como ela apenas me ouviu, mas que ela estava pouco se importando em como eu havia aprimorado minha produção. A Fernanda embicou o carro na porta da fazenda, quase que em silêncio desceu e abriu a porteira, depois voltou e colocou o carro pra dentro, me deixando na porta de casa.
- Está entregue Mi. Obrigada pela ajuda que me deu ontem com o líder do condado e mil desculpas por qualquer coisa de ontem ou de hoje.
- Fefa, tudo bem. Eu vou tentar entender o seu lado, prometo. Mas já te deixei claro uma vez e eu repito, eu estou aqui, quero você de volta, vou tentar com todas as armas que tenho. E você bem sabe que eu não brinco em serviço não é?! Agora vai atender suas crianças que eu tenho azeite para produzir. Ganho pelo menos um abraço? - olhei mais uma vez com aquela cara de cão sem dono, abandonado na estrada, ela sempre cai.
- Claro que ganha, vem cá - me puxou para um abraço, no carro mesmo, simples, descontraído. Antes de eu descer do carro, passei a mão no rosto dela, que claro, a Fernanda tirou. Sorri de volta e desci do carro. Enquanto ela manobrava para voltar a Urros, eu fiquei olhando, sorrindo e acenando. Apenas entrei em casa quando o carro já tinha sumido da porteira.
Primeira coisa que eu preciso é de um banho para tirar esse cheiro doce da casa dela e mais ainda essa fuligem toda de lenha. Segunda coisa é comer. Assim que eu entrei uma das empregadas da casa já perguntou:
- Senhorita, deseja algo para o pequeno café. - Não é óbvio? Se eu chegar essa hora é claro que eu estou com fome.
- Quero. E liga pra algum imbecil vir me buscar, preciso ir para o escritório.
- Claro senhorita, algo especifico para comer?
- Sabe bem o que eu gosto - ainda tive a mínima educação de responder, normalmente nem faço isso. A mulher trabalha a 20 anos em casa e não sabe ainda o que eu como pela manhã. - subi as escadas e fui direto para o meu quarto, onde tomei um banho rápido, coloquei uma roupa mais adequada e logo desci. A mulher havia preparado algumas panquecas e um suco de frutas, não é bem o que eu quero comer, mas incompetencia desse tipo me arranca a paciência, melhor nem discutir. - Pediu para alguém vir me buscar?
- Sim. Um dos motoristas estão vindo buscar a senhora. Não devem demorar.
- Ok. - depois que comi o que a mulher preparou, fui para o lado de fora da casa. Pelo menos o carro já estava me aguardando, detesto ter que esperar esses colonos. Só não é o Cortes a me levar pois dei outra função a ele, e é bom já ter respostas. O colono motorista dessa vez era um rapazote, esbelto, forte, estourando 25 ou 27 anos, de barba muito bem feita, com uma calça jeans colada no corpo e uma camisa xadrez bem vestida, ele estava do lado do carro, me aguardando. Dois foram meus pensamentos, primeiro: não deve estar trabalhando na colheita, está muito limpo pra isso. Dois: detesto esse tipo de cara que se acha gostoso e que pensa que pode pegar a herdeira da fazenda. Pra mim, a única função que ele pode ter é de dirigir esse carro até o escritório.
- Dia chefa! - sacodi a cabeça acenando pra ele, foi o máximo de educação que eu consegui expressar. - “ Pro escritori”?
- Sim e em silêncio. - Ele pelo retrovisor respondeu com um aceno. Andamos os 10 minutos entre as estradinhas de terra dentro da fazenda e quando chegamos ao escritório ele abriu a porta, sendo extremamente educado. Eu até pensei em agradecer, mas dispenso esse tipo de interação com os funcionários. Subi a escadinha direto para o meu escritório. A secretaria que fica na porta começou a falar assim que eu cheguei:
- Bom dia Senhorita, tenho alguns recados para repassar a senhora. Quando tiveres um tempo.
- Água com gás, gelo e limão. - entrei no escritório e bati a porta atrás de mim. Quando sentei na minha cadeira, senti o meu corpo finalmente relaxar e meu pulmão conseguir expandir totalmente. Esse é o lugar que nasci para estar. Com muito mais calma e paciência, liguei meu computador e fui olhar o meu celular, como fiquei em Urros ontem acabei nem olhando. Sempre começo o meu dia seguindo uma rotina bem específica, isso que dá fazer administração e economia com os ingleses.
- Senhorita, o senhor Cortes está aqui fora. - me falou a secretária pelo telefone
- Sim, manda entrar. - Assim que ele passou pela porta me acertei na cadeira, quero noticias. - Fala Cortes, me diz que as notícias são boas, por favor.
- O pior é que não são boas notícias não.
- Cacete Cortes! Só tenho bucha. A Fernanda ontem me deu canseira fodida, a garota não amolece. Fala vai, qual a bomba
- A Caroline reservou voo para sábado a noite, deve chegar aqui domingo por volta das 12h.
- Puta que me pariu! Cacete. O que eu preciso fazer pra essa mulher sumir? E você, que palhaçada né?! Como manda sequestrar a garota e não ve que o cara era conhecido dela, que incompetente.
- Não chefe. Ia ficar muito foda achar uma outra equipe, já usei a nossa mesmo. Como eu ia imaginar que ela e o Puca eram conhecidos? Nunca.
- Ela vem pra tras os montes ou para Maçores?
- A fernanda reservou um voo pra ela, para vir para Maçores direto. O ponto bom é que ela reservou o voo ontem por volta das 19h, esse horário a Ganate estava em Urros, sem internet e sem celular não dá pra saber que a Caroline está vindo.
- Pelo menos isso é uma notícia boa. Temos que dar um fim no celular da Fernanda. Isso é com você. Ela sempre deixa o celular na casa de pedra, você tem que entrar lá e resolver isso. Dá um jeito no celular.
- Se eu roubar vai ficar muito estranho. Ali é uma vila de nem 500 pessoas.
- Se vira, te pago para ter soluções e não me pedir ajuda. Joga na água, quebra a tela, se vira, estraga o celular de um jeito que ela não perceba. E mais tarde eu vou lá na casa dela de novo, tentar descobrir se ela já sabe que a imbecil está voltando, porque se souber já era. Mas se ainda não souber, vou chamar ela para viajar ou qualquer coisa no final de semana. Se não dá pra dobrar a Fernanda, eu preciso fazer a Caroline ficar puta com ela. Isso não é difícil.
- Quer que eu monte uma festa pra sábado? Aqui na fazenda?
- Não, tem chance da Caroline aparecer. Melhor eu levar a Fefa pra longe, não sei, Lisboa ou até Londres, coisa rápida. Vou pensar e você pensa também, ela só não pode estar aqui quando a estrupício chegar. Cara, eu estou fazendo um favor pra ela, tentando me livrar sem machucar muito. Se fosse em outros tempos já teria mandado matar, mas isso detonaria muito a Fefa, aí complica as coisas, tem que ser só fim de namoro mesmo, coisa simples.
- Chefe, isso dá pra você fazer, é boa nisso. Fez com aquele paspalho em Londres, lembra? Tirou um dinheiro preto dele de bobagem, com a Ganate dá pra fazer, só não deixar o seus próprios sentimentos falarem.
- Sei bem o que faço Cortes. Faz sua parte, estraga o celular dela. Ela passa o dia naquele hospitalzinho de quinta em Urros. Dá pra entrar tranquilo, nem tem cachorro no momento, mais fácil.
- Pode deixar, trago notícias logo mais.
- Boas, por favor. Preciso de você a noite, umas 18h no máximo para me levar em Urros. Ah, quando meu pai volta?
- Acredito que no meio da próxima semana, ele comentou que iria ficar em Lisboa mais uns dias.
- Ótimo, o que menos preciso é dele em cima de mim, contando os meus passos. Pode ir, resolve isso pra mim.
- Pediu, tá feito.
O dia passou voando no escritório, eu me perco dos problemas mexendo nesses números e levando essa fazenda. Meu pai ainda não se aposentou, mas desde que voltei da Inglaterra, a administração está em minhas mãos. Quando deu 17h30, praticamente em ponto, o Cortes foi novamente anunciado pela secretaria, eu organizei rápido minhas coisas e sai. Passei em casa, tomei um banho e coloquei uma roupa bem justa no corpo, com uma camisa decotada e a bota de couro que gosto de usar. Passei um perfume leve e soltei meus cabelos, recém lavados. No caminho até a casa da Fefa pedi para o Cortes parar em uma lanchonete boa da região, comprei algumas coisinhas para comermos e 2 garrafas de vinho. Assim como o carro da Fernanda, o do Cortes não conseguiu entrar pela ruelas de Urros, então ele estacionou o mais próximo possível e eu fui andando até a casa de pedra, não estava nevando, mas fazia frio. Dei duas batidas fortes na porta e ouvi o latido do cachorro lá de dentro.
- Já “estou a ire” - logo em seguida a fefa abriu porta, inicialmente apenas uma brechinha para ver quem era e depois que viu quem era abriu a porta toda - Mi?! Não imaginava que “virias” me visitar. Entre. Cuidado que o Pingo está em casa.
- Tudo bem Fefa? - abracei ela, dando um beijo na bochecha, de comprimento, na verdade foi quase no canto da boca, ela claro que deu aquela desviada de sempre.
- Tudo certo. Cheguei a pouco tempo, eu fiquei até tarde no ambulatório e depois fui pegar o Pingo. Se chegasse a uns 10 minutos atrás eu estaria no banho.
- Humm, ainda bem que demorei um pouquinho então, está muito frio lá fora para ficar esperando.
- Sim, assim que eu cheguei já acendi a lareira. Você veio sozinha? E trouxe comida? Isso é bom.
- Imaginei que ainda estava sem compras. Pelo visto ainda te conheço bem. Vim com o Cortes, ele ficou lá no carro.
- Não quer chamar ele para entrar, está frio para ficar lá fora.
- Claro que não, vim pra conversar com você, não quero ele ouvindo.
- Tudo bem, você quem sabe. Vou pegar prato e copo pra gente. Não quer tirar a blusa, vai ficar quente com a lareira acesa. - aproveitei o pedido dela e fiquei só com a camisa, decotada e com um botão aberto.
- Vim te fazer um convite na verdade.
- Convite? Quando e do que?
- Não quer ir comigo para Coimbra no final de semana? Vai ter uma feira agrícola lá. Dizem que as inovações para vinho e azeite estarão lá;
- Que passeio de grego Mi. Detesto essas feiras agrícolas.
- Ah, mas tem a cidade também. Vamos dar uma volta. Prometo me comportar e reservar quartos separados.
- Não to muito na vibe Mi. Quero ficar por aqui, pode ser que a Carol chegue esse final de semana.
- Ela já te confirmou alguma data?
- Ainda não e meu celular pra ajudar parou de funcionar. Que ódio, ele nem liga. Vou precisar comprar outro.
- Para com isso Fefa, vai perder o final de semana esperando ela? E se ela não vier por agora? Sem contar que em Coimbra dá para você comprar outro celular. Não fica presa por isso, vamos comigo. Não aceito não como resposta. Já até reservei nosso voo.
- Reservou o voo?
- Sim, sei que você vai aceitar o passeio, prometo me comportar, eu juro. Vamos sabado cedo, voltamos domingo no final do dia, nem vai atrapalhar seu serviço da segunda. Vai, fala que sim. Não quero ver você aqui sozinha, nesse lugar frio, esperando algo acontecer. A vida não para Fefa. Vamos?
- Ah, tudo bem, posso ir com você, mas precisa se comportar mesmo Mi. Não quero ir para passar raiva ou ficar ouvindo você reclamar da Carol.
- Claro que não, já entendi que tenho que respeitar a Caroline se eu quiser sua amizade, entendi Fefa. Já que voce aceitou ir comigo, vamos tomar vinho para comemorar. Deixa eu colocar mais um pouco pra você.
Fim do capítulo
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zilla
Em: 15/04/2019
Aaaahhh que ódio dessa Milena cara!
Então ela está por trás do sequestro da Carol, que desgraçada!
Meu ódio por ela aumentou bastante agora!
Mulherzinha escrota do crlh!!
Essa Fernanda é uma tapada, idota affz!!!!
Volta logo pfv autora, ansiosa pelo próximo capítulo rs
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preguicella
Em: 14/04/2019
Aff, como Fefa é mané. Não foi falta de eu avisei, se duvidar até Milena falou eu te avisei para ela. Merece passar bastante aperto com Carol pra se ligar.
Sim, consigo gostar menos de Milena que de Cris, aliás podia fazer o encontro das duas. Iam se dar extremamente bem, duas cobras se comendo, quem será que morreria envenenada antes?!
Até o próximo!
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