Layla

Quando Juh estacionou, lembranças de minha adolescência tomaram minha cabeça, saí do carro me alongando e dizendo:

– Faz tempo que não vinha aqui. – disse admirando o lugar, Anny se aproximou agarrando meu braço dizendo:

– Quem mandou ir embora desse paraíso?

– Vai dizer que você nunca sonhou em sair daqui e ir para outro lugar?

– Quando era adolescente sim! Mas, comecei a faculdade, acabei conhecendo o Júlio e mudei de ideia quando soube que ele queria trabalhar junto do pai dele aqui.

– Olha só, o amor faz milagres.

– Pois é minha amiga, veja você por exemplo.

Estava fechando o carro depois que a Juh tirou as últimas sacolas seguindo atrás de meu pai, olhei para minha cunhada, sorri dizendo:

– Se está insinuando que eu mudei porque estou com sua irmã, pode apostar que sim minha amiga! – começamos a caminhar para onde o pessoal estava e concluí: – Ela tem um jeitinho todo especial de conquistar as pessoas, e me vi sendo desafiada a desvendar os segredos que escondia em seus olhos, como havia dito antes. – sorri olhando nos olhos de minha cunhada e disse: – O feitiço se voltou e agora eu não consigo me ver mais longe dela.

– Sério, daqui a pouco vocês vão casar, escute o que eu estou te falando. – me olhava admirada e deixei escapar:

– Isso pode acontecer antes do que se possa imaginar.

– Do que está falando?

– A Juh me chamou para morar com ela!

– Ah, então é por isso aquela agonia toda de ir ver o apto? – sorri.

– Acredite, eu nem sabia sobre esse apto! Foi uma surpresa saber dele.

– Foi presente de nosso pai, logo depois que ela entrou para a corporação, minha mãe pirou claro, ela ainda era nova e o “bebê” da família! – vi orgulho da irmã em seus olhos brilhantes, sorri e ela continuou: – A Juh morou sozinha por quase dois anos, mas quando nosso pai faleceu, voltou para a casa de nossa mãe com a desculpa que precisava reformar o lugar.

– Entendi, e ela adiou essa “reforma” até agora!

Olhamos para ela que estava correndo do Jonas e rindo de alguma coisa com o irmão bravo atrás dela, Anny disse abraçando o meu ombro:

– Se ela tomou essa decisão, é porque deve amar muito você, e com essa novidade do namoro de nossa mãe, está segura quanto ao fato de deixá-la. Sabe que ela ficará bem.

– Eu amo a sua irmã Anny, mais do que imaginei um dia poder amar alguém, entre nós é tudo tão intenso e aconteceu tão rápido, é como se fosse um sonho do qual eu não quero acordar nunca.

– Vocês são tão melosas, credo! – nos olhamos e sorrimos, a Juh veio em nossa direção tirando a camiseta e dizendo:

– Vamos cair na água amor, deve estar maravilhosa.

– Vamos sim, conversamos depois cunhadinha linda.

– Vão mesmo, antes que eu acabe contraindo diabetes aqui.

– Exagerada! – disse sorrindo, a Juh nos olhou intrigada perguntando:

– Do que estavam falando?

– Nada não maninha! – Anny desviou a atenção dando de ombros sorrindo e começamos a nos afastar quando perguntou: – Porque Jonas estava bravo com você?

– Descobri que está de namorico com uma menina que estuda com ele, por coincidência a garota está com os pais na clareira mais a frente, sem querer ouvi a conversa dos dois no celular.

– Olha só, nosso pequeno está crescendo e não nos demos conta disso!

Ela olhou para onde o Jonas estava conversando com o Eduardo e sorriu, nos despedimos e fomos em direção a cachoeira. Senti os braços da Juh sobre meus ombros cruzando nossos dedos e me puxando para ela beijando meus lábios sorrindo, nos aproximamos da água que respingava em nós gelada. A cachoeira deveria ter uns seis ou sete metros de altura, embaixo aquele lago grande, alguns poços onde o pessoal estavam conversando e rindo.

Fazia bem uns dez anos que eu não ia naquele lugar, me perdi em pensamento lembrando do colégio quando o pessoal fugia para vir se banhar em dias quentes depois das aulas. A Juh soltou de meus braços e correu em direção a água mergulhando, aparecendo quase ao centro do lago, balançando os cabelos e chamando:

– Vem amor, a água está maravilhosa!

Sorri tirando minha roupa, ficando apenas de biquíni e mergulhei também, mas ela mentiu para mim. A água estava gelada que quando surgi perto dela estava tremendo, sussurrei:

– Onde que essa água está maravilhosa?

Sorriu me puxando para seus braços, tomando meus lábios com os dela e dizendo quando se afastou:

– Você está tremendo amor?

– Sim, essa água está gelada.

– Daqui a pouco você se acostuma, vamos nadar um pouco!

Nadamos por alguns minutos e atravessamos o lago indo atrás da cachoeira, tinha uma pequena caverna lá, ao lado algumas pedras aonde o sol batia forte, foi para lá que nós fomos. Todas as pessoas que passavam por nós conheciam a Juh, desde crianças a idosos, e sempre bem receptivos. Encontramos também a moça da qual ela havia salvado o cachorrinho quando nos conhecemos.

Sim, a tal moça que quase a beijou quando apareceu com o peludinho nos braços, segundo o Diego, sempre muito simpática com todos, me apresentava como sua namorada e demonstrava orgulho sempre que o fazia. A Juh era muito especial, vocês não imaginam o quanto. Subimos nas pedras aonde ela deitou de costa colocando o braço na altura dos olhos para se proteger e ficamos conversando.

Mas ela não parou por muito tempo e logo me arrastou para a água novamente. O dia estava passando tranquilamente, voltamos para junto do pessoal quando o churrasco começou a sair, Júlio e Paulo foram buscar mais cerveja e o pessoal começou a beber, rimos e nos descontraímos muito.

As horas foram passando e vi a ousada daquela garota que já estava bêbada flertando com a Juh, estava fazendo pouco comigo quando a minha namorada se distraia com os irmãos ou com meu pai e o Eduardo rindo de alguma coisa entre eles. Estava conversando com Anny quando a vi se aproximar de onde eles estavam toda cheia de dedos para cima da Juh, não percebi que minha cunhada estava falando comigo, desviei os olhos perguntando:

– O que você falou? Desculpa eu não ouvi!

– Acorda mulher, estou falando com você a quase dez minutos aqui!

– Desculpa Anny, estava distraída olhando para o outro lado!

– Mais especificamente para a minha irmã, para vai, depois você fica admirando a beleza dela e me dê um pouco de atenção aqui.

Olhei para minha cunhada sorrindo e acabei confessando a minha desconfiança:

– Estava olhando para sua irmã sim, mas estou de olho em outra pessoa no momento.

– Oi?

– Aquela garota ousada filha do Eduardo, não gosto do jeitinho sonso dela não.

– Hum! – Anny olhou em direção onde ela estava, forçando o sorriso para alguma coisa que disseram no grupo e perguntou: – O porquê da desconfiança?

– Ela não me inspira confiança, e não gosto daquele jeito provocador dela. – tomei um gole de minha cerveja e perguntei: – Você a conhece?

– Só de vista, meu contato maior é com o Eduardo, mas pelo que sei ela chegou a pouco tempo na cidade, terminou a faculdade no final do ano passado e ficou esses seis meses viajando.

– Filhinha de papai!

– Deve ser, ela é filha única, mas relaxa mulher. – me empurrou pelo ombro e olhei para ela sorrindo quando disse: – Vamos nos divertir.

– Certo! – sorri e tentei relaxar um pouco perguntando: – O que mesmo você estava dizendo?

– Nada de tão importante, vamos cair na água?

– Vamos, preciso mesmo refrescar o corpo!

– Isso está parecendo outra coisa! – disse me provocando e não deixei passar completando:

– Deve ser mesmo, mas a única pessoa que pode acabar com isso está lá atrás conversando com o pessoal e eu não posso simplesmente chegar nela e dizer: “Amor, vamos ali fazer amor! ”.

– Você é muito safada Layla, não sei como consegue ser assim tão cara de pau.

– Falou a beata, fala sério Anny, que em matéria de safadeza você ganha em disparada de mim!

Ela arqueou a sobrancelha e caímos na risada, seguimos para água e ficamos lá até os nossos respectivos pares se juntarem a nós, logo os dois se foram e fiquei deitada no colo da Juh, estávamos conversando e como já estava ficando tarde, combinamos de irmos embora antes de todos.

Mas tudo aconteceu tão de repente, a Juh levantou pulando na água. Quando eu levantei para ver o que estava acontecendo ela estava tirando aquela ousada da água. Pelo jeito parecia estar se afogando. A Juh parecia com dificuldade de trazer a moça para onde estávamos e nadou a favor da água, por isso parou na margem do outro lado, segui para lá no momento em que eu vi aquela vadia tomar os lábios dela beijando-a, me subiu uma raiva que avancei para onde elas estavam.

Vi quando a minha namorada a empurrou e ela quase caiu, ótimo, agora eu quebro a cara dela, mas quando avancei para cima dela a Juh me segurou e acalmei meu corpo nos braços dela, por ela eu não fiz uma loucura maior. Minha raiva aumentou quando vi que aquela lunática havia mordido os lábios da minha namorada, olhei com tanto ódio para ela que nem sei como chegamos até o carro.

A Juh me respeitou e só conversamos quando chegamos na casa de minha sogra, na verdade ela estava calada também, mas entendi quando falou sobre segurança, estava certa quanto a isso. Tomamos banho e ela estava mais animada, propôs de irmos para seu apto. dormirmos lá, aceitei na hora. Pegamos algumas roupas e seguimos para o centro da cidade, agora eu conheceria uma pequena parte dela que eu não sabia que existia.    

Fim do capítulo