Capítulo 26 A audiência
Elisandra
Depois do acontecido do dia da tempestade, os dias correram intensamente até o dia da audiência de Carmen. Acordei bem cedo naquela manhã, aliás, acho que nem dormi aquela noite. Carmen havia pedido para dormir sozinha, estava nervosa e queria descansar, respeitei sua vontade mesmo contrariada.
Entrei no seu quarto devagar, não queria fazer barulho e acordá-la tão cedo, no entanto, não a encontrei na cama, aliás, essa parecia nem ter sido "tocada" durante a noite.
Andei até o banheiro, onde também não a encontrei, já receosa sai a sua procura pelo casarão.
A encontrei na varanda, sentada em uma cadeira tomando chimarrão, o chimarrão que eu a havia ensinado a apreciar. Sorri encostando-me no batente da porta, apesar da situação tensa, Carmen me encantava e me fazia feliz nos menores detalhes.
--Bom dia!
Só então ela notou minha presença, sorriu e fez sinal para que me sentasse em seu colo. Beijei delicadamente seus lábios assim que me envolveu nos seus braços.
--Está linda!
--Kkkkk e olha que eu nem me maquiei hoje...
Brinquei fazendo-a rir.
--Não é preciso... És linda naturalmente Srta. Romero.
--Já disse que eu amo esse seu sotaque? E esse seu jeito de falar?
--Não Sra. e eu já disse que amo tudo em você?
--Não, mas eu sei que sou amável... kkkkkkkk
Carmen sorriu, tomando-me em um beijo calmo, suave, carregado de amor, com sabor de despedida.
* * * *
Carmen
Entrei no tribunal acompanhada do Dr. Guedes, sentada no banco dos réus, logo no início do julgamento, tive o imenso desprazer de surpreender-me, com a presença de Fabrício e Juliana na platéia. A promotora se pronunciou.
--A acusada Carmen Montero Garcez comparece à Sessão de Juízo, para que, junto à figura do Juiz presidente, possa submeter-se ao julgamento, pelos crimes de tentativa de homicídio e lesão corporal grave, de Rogério Minardi, José Teixeira, Fernando Couto e Renato Araújo, crimes pelos quais é acusada.
O juiz presidente.
--A partir deste momento estão instalados os trabalhos do júri em que será submetido a julgamento o processo de número 1.022 que trata o crime de tentativa de homicídio.
Mantive-me calada no banco dos réus, minha atenção não era para o julgamento, e sim para os dois crápulas que estavam presentes.
Até que o primeiro oficial pediu que as vítimas entrassem.
* * * *
Elisandra
Eu estava quase tendo um ataque cardíaco, e olha que o julgamento mal havia começado, na verdade não havia começado porque as "vítimas" não estavam presentes.
Dado momento, algo me chamou atenção no fundo da platéia. Não podia acreditar no que meus olhos viam, Fabrício estava ali, ao lado daquela quenga refinada da Juliana. Afinal, que diabos ele estava fazendo em Bonito? Com aquela "zinha"? E o pior, no julgamento de Carmen? Coisa boa não podia ser. Recuperei minha atenção para o julgamento, apenas quando o juiz pediu que as vítimas entrassem, e assim que a porta lateral foi aberta para a passagem dos mesmos, ficamos na expectativa, todos os presentes olhavam para a mesma, e todos ficaram surpresos quando ninguém atravessou a tal porta. O Juiz insistiu, e então um dos guardas, policiais ou seja lá o que for, que faziam a segurança do tribunal, dirigiu-se até o juiz e informou-lhe de algo que ninguém pode ouvir.
O juiz com uma expressão indecifrável, pronunciou-se finalmente.
--As vítimas, Rogério Minardi, José Teixeira, Fernando Couto e Renato Araújo, renunciaram a representação contra a acusada, Carmen Montero Garcez, tornando a audiência desnecessária, e assim a ré está liberada das acusações contra a mesma. Declaro a sessão encerrada.
Não podia acreditar no que acabara de ouvir, Rogério desistiu de incriminar Carmen? Ela estava livre daquilo tudo sem a necessidade de um julgamento? Era bom demais pra ser verdade.
Então, Carmen atônita tanto quanto eu, levantou-se de onde estava, vindo em direção a mim, dona Teresa e Joaquim, que acompanhavam o julgamento. Abracei-a apertado, feliz com a surpresa, e intrigada com o que causara a mesma.
--Rogério só pode ter ficado louco pra abrir mão do processo...
Joaquim manifestava-se.
--Não entendo! Estava certa de que ele usaria de toda sua influência como promotor, pra acabar comigo...
--Por Deus ele não o fez, não importa o motivo, o importante é que tudo acabou bem no final... Podemos voltar pra casa sem se preocupar mais com esse assunto filha.
--Verdade.
Carmen sorriu beijando a testa da mãe, no entanto via nos seus olhos a mesma preocupação que havia em mim em relação a presença daqueles dois encostos. O advogado de Carmen se juntou a nós.
--E então Carmen?! Satisfeita com meu trabalho?
Sorriu, deixando a dúvida no ar.
--Como assim? Tens alguma coisa com isso?
Mais uma vez ele sorriu, porém "largamente" dessa vez.
--Digamos que tenho minhas cartas na manga.
--Mas isso... Não é errado?
--Carmen minha cara, errado é que ele fez e faz, eu apenas usei do meu poder de persuasão, para fazê-lo sucumbir a isto.
--Como? Como conseguiu?
--Kkk… Sigiloso. Bom, passar bem todos vocês, caso precises de um advogado, já sabe onde me encontrar.
Dando-nos as costas, ele saiu. Deixando todos nós, surpresos e intrigados. Na saída do tribunal, caminhávamos tranquilamente em direção da camionete, quando Fabrício entrou na minha frente.
--Olá meu amor! Sentiu saudades?
Carmen fez menção de aproximar-se dele, a contive com uma leve pressão em seu braço.
--O que faz aqui? O que quer?
--Nossa! Quanta indelicadeza meu bem, apenas vim ver minha noiva querida.
Dessa vez não consegui contê-la, Carmen juntou Fabrício pelo colarinho, usando apenas uma das mãos, fazendo com que ele ficasse a centímetros do seu rosto.
--Preste bem atenção no que eu vou te dizer. Não volte a chamar a MINHA MULHER, de meu amor, meu bem, ou seja lá a PORRA que for. Ou eu terei o prazer de fazê-lo engolir, um por um dos seus dentes.
--Carmen!
Tentei intervir, estávamos em público, na frente de um tribunal, onde havia diversas autoridades além da polícia. No entanto, era exatamente aquilo que Fabrício parecia querer, provocar Carmen até que ela perdesse o controle.
--Vai sapatão dos infernos! Encosta um dedo em mim, que eu providenciarei a cela mais imunda do presídio federal pra você. Lembre-se, eu não sou o covarde do Rogério.
--Para amor! É isso que ele quer, não dê ouvidos a ele ou vai prejudicar a si mesma.
--Amor? Kkkkkkkkk Não acredito que depois de ter um macho de verdade na sua cama, você está ai feito uma depravada chamando...
Joaquim o interrompeu, certamente porque assim como eu, sabia que Carmen não engoliria aqueles insultos, e bateria nele ali mesmo. Entrando no meio, entre Carmen e Fabrício, tomou o também pelo colarinho, empurrando-o alguns metros para longe de Carmen, com certa violência enquanto proferia.
--Ela não vai quebrar a sua cara. Mas eu não tenho nada a perder, e quebro não só a sua cara, mas você inteiro se não calar a boca e sumir da minha frente agora.
Fabrício aparentemente temeu a reação de Joaquim, que além de ser um brutamontes, ainda tinha uma cara de "mau" que só vendo.
--Isso não vai ficar assim, estejam certos disso.
Dando nos as costas, ele saiu. Joaquim bateu de leve nas costas de Carmen, num claro gesto de apoio, enquanto ela ainda calada assim como a mãe, apoiou-me pois eu ainda não conseguia caminhar direito devido ao tornozelo ferido , e assim nos dirigimos para a camionete.
E como a paz definitivamente não queria reinar em nossas vidas, ou simplesmente, como a maldade alheia parecia não querer nos deixar, quando Carmen terminou de ajudar-me a entrar na camionete ao lado de sua mãe, e se encaminhava para o banco da frente ao lado de Joaquim, ouviu-se um estampido. Mais uma vez, vi meu mundo desabar, do lado de dentro da camionete, vi a camisa branca de Carmen, lentamente ser tomada por sangue, e para desespero de todos nós, o amor da minha vida desabou com o impacto do tiro que a havia atingido. Não viu-se quem ou de onde o tiro fora disparado.
Fim do capítulo
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