Capítulo 13 - Lembranças
A semana foi passando e por mais que Beatriz e Sophia tentassem, não tinham conseguido se ver ainda. Trocavam mensagens todos os dias, praticamente o dia todo.
A advogada estava mais alegre e radiante, sentia-se bem disposta para fazer tudo. Parecia que enfim as coisas estavam voltando a normalidade em sua vida. Quinta longa no escritório e só queria chegar em casa para descansar, seus pés estavam lhe matando, passou o dia fora do escritório visitando clientes, estava morta de cansaço. Quando estacionou o carro na porta de casa teve a certeza que seu dia ainda não havia chegado ao fim como tinha imaginado antes.
Não era possível que aquela mulher estivesse na sua porta, o que ela tinha ido fazer lá? Era a última pessoa do mundo que queria ver naquele momento. Só agora fora do carro conseguia ver que ela segurava um lindo buquê de rosas brancas, suas preferidas por sinal, e uma caixa de bombons. E por mais incrível que parecesse ela estava ainda mais linda do que conseguia se lembrar. Parou de frente para ela, que estava na frente da porta, empatando que Beatriz passasse sem ouvi-la:
– Boa noite amor, como vai? Que demora, estava cansada já! – tentou beijar Bia que evitou o contato.
– Boa noite Marcella, posso saber o que veio fazer aqui? – aproveitou a distração da outra com as coisas que segurava e conseguiu abrir a porta de casa.
– Você já foi bem mais educada, amorzinho! Já que esqueceu de me convidar para entrar. – passou pela porta antes de Bia, sem dar resposta à pergunta feita pela advogada.
Beatriz respirou fundo fechando a porta atrás de si, colocou o casaco e a bolsa sobre a mesa perguntando:
– Não me ouviu, o que veio fazer aqui?
– Estava com saudade de você, vim te ver! É proibido te visitar agora? – se aproximou entregando o buquê e os bombons.
– Não precisava se incomodar! – por mais que quisesse não tinha como recusar os presentes, fez uma careta colocando as coisas sobre a mesinha de centro.
Marcella rodava pela sala com total liberdade, depois de olhar tudo perguntou ofendida:
– Onde estão as nossas fotos?
– As suas estão na garagem. – tentou agir de forma natural ao falar: – Bem lembrado, tem algumas coisas suas lá para você levar. Ia mandar entregar no jornal, mas acabei esquecendo.
Mesmo não gostando do que tinha escutado, não ia desistir, tinha ido até ali com um propósito e faria o que fosse preciso para executá-lo.
– Amor, – abraçou Beatriz beijando seu pescoço, ao ver a advogada se arrepiar continuou: – Não precisa se fazer de difícil assim. – Deslizou os lábios pelo colo de Bia chegando ao seu decote – Ainda existe amor entre nós, todo casal tem suas crises, tá na hora de darmos fim na nossa, – mordeu os lábios sensualmente esfregando o corpo ao de Bia – vamos para a cama, vamos!
Beijou a advogada com tanto desejo que ouviu a outra gem*r em sua boca, era disso que ela precisava, ver Beatriz se entregando as suas carícias. Ela nunca resistiu a nada que pedia quando envolvia sex* na jogada. Ainda bem que tinha pensado em tudo antes de sair de casa, desfez rapidamente o laço que mantinha o sobretudo fechado em seu corpo, mostrando sua nudez, sem se afastar de Bia a empurrou para o sofá sentando em seu colo, rebol*ndo e abrindo sua blusa. Marcella já estava se deliciando em seus seios gem*ndo de tesão, quando Beatriz levantou violentamente passando as mãos nos lábios.
– Vai embora! – gritou jogando o sobretudo em Marcella. – Se veste, ou então te coloco para fora assim mesmo.
– Calma, amor – tentou se aproximar.
– Sai. Já falei, – os olhos de Beatriz estavam injetados de raiva – Se não sair por bem chamarei a polícia.
– Bia, – tentou segurar seu braço – não precisa disso. Vem cá, pensei que tínhamos resolvido isso. – grudou seu corpo ao dela novamente. – Vem fazer amor comigo, estou cheia de tesão, não me deixa assim.
Beatriz a empurrou, se afastando enquanto dizia:
– Me esquece, não ache que vai ser como antes, que você me comprava com sex*. – abriu a porta dizendo aos gritos: – Vai embora daqui, some da minha vida!
Por mais que não quisesse sair, Marcella passou pela porta humilhada, mais uma vez Beatriz a tinha destratado. Estava sendo mais difícil do que ela tinha imaginado voltar para aquela casa. Não sabia por quanto tempo ainda aguentaria, Lavínia estava lhe tirando do sério, e pior, Beatriz não cedeu a tentação de lhe ter nua em seus braços.
– Inferno, droga de noite. – entrou no carro resmungando,
Filha da puta sem noção, pensava Beatriz enquanto se servia de um copo de água, ainda respirando fundo tentando se recuperar de tudo o que tinha acontecido. Estava de certa forma abismada com a atitude de Marcella, como pode se enganar tanto assim com ela. Amou aquela mulher loucamente. Dormiu por muitas vezes agarrada a uma foto dela, imaginando quando voltaria a dormir e acordar com ela ao seu lado. Perguntava-se em que momento Marcella tinha mudado tanto, onde estava aquela mulher meiga, doce e gentil por quem se apaixonou?
Tudo bem que ela se deixou levar pelas carícias no início, mas a jornalista estava com tudo planejado na mente, afinal, já estava nua por baixo daquele sobretudo.
Porque ela tinha mudado tanto, em meio a esses pensamentos lembrou de quando se conheceram e de como já tinham sido felizes.
Anos atrás...
Noite de sábado e Beatriz não queria sair, mas, Mari e Doug não a deixaram ficar em casa. Estavam na festa de um amigo de Douglas que era namorado de Marília. Achava o garoto insuportável, não sabia como a amiga conseguia ficar ao lado dele. Estava sentada na mesa brincando com o copo descartável quando sentiu algo gelado no ombro. Olhou para ver o que era e não acreditou que estava ensopada de cerveja, levantou irritada, pronta para encher seu “agressor” de desaforo, quando ouviu:
– Desculpa moça, meu amigo me empurrou e acabei me desequilibrando. Foi mal aê, deixa eu te ajudar!
– A não ser que você tenha outra blusa para eu vestir, não tem como me ajudar! – falava olhando o tamanho do estrago em sua blusa.
– Você poderia me acompanhar? – a garota a sua frente disse sem graça.
A seguiu entre irritada e desconfiada, não podia ficar com aquela blusa ensopada de cerveja o resto da noite. A festa estava acontecendo na beira da piscina. Neste momento estava sendo guiada para o interior da casa. Até que a garota era bem bonitinha, era ruiva, os olhos eram claros, cabelos longos, corpo bem definido. Vestia uma calça jeans bem justa e uma blusa quadriculada de manga, parecia ter dezenove ou vinte anos no máximo. Entraram num quarto e a garota lhe entregou uma blusa. Percebeu que ela estava bem envergonhada, se deu conta de que tinha sido grossa demais com a garota, também ela havia lhe sujado, estavam empatadas.
– Essa deve servir em você. Ali do lado fica o banheiro, pode se trocar lá, se quiser pode deixar sua blusa comigo que mando lavar e peço para entregarem depois.
– Não precisa ter esse trabalho, eu passo água, teria como você me conseguir uma sacolinha para colocá-la por favor? – enquanto a garota foi providenciar a sacola entrou no banheiro e trocou a blusa.
Quando elas voltaram para a festa. Mari e Doug não tinham retornado para a mesa ainda. Resolveu beber alguma coisa enquanto os esperava. O que queria mesmo era ir embora, os amigos tinham sumido, tinha tomado um banho de cerveja e não conhecia ninguém ali além das pessoas que a tinham levado. Depois de algum tempo encontrou novamente a garota que havia lhe sujado mais cedo, trocaram algumas palavras, apesar de ser meio estabanada, até que parecia ser legal. Quando Mari e Doug apareceram despediu-se da garota e disse a eles que já estava indo embora, eles a acompanharam já que a tinham deixado sozinha durante toda a noite.
Uma semana depois encontrou a garota da festa no shopping. E essa correu ao seu encontro cumprimentando-a com dois beijinhos no rosto.
– Oi Beatriz, como vai? Que bom te encontrar aqui!
– Oi, tudo bem? – tentou lembrar o nome dela, mas não conseguiu, sorriu sem graça. – Desculpa, mas eu não lembro o seu nome!
– Não o disse a você. – sorriu – Sei o seu porque sua amiga namora o meu primo, e outro dia encontrei com ela e perguntei.
– Não sabia que você era prima do Mateus, devia ter imaginado que vocês eram parentes, afinal, entrou na casa e me emprestou uma blusa, que já era para eu ter devolvido, acabei esquecendo. Mas então, qual o seu nome?
– Quanto a isso não se preocupe, oportunidades não irão faltar para você devolve-la. Me chamo Marcella!
Ali nascia uma bela amizade. Quando se conheceram, Marcella namorava com Janaína. Alguns meses depois ela descobriu que estava sendo traída, pegou a namorada na cama com outra, ficou totalmente arrasada. A única pessoa que a fazia sorrir e sair de casa era Beatriz. Com o término elas passaram a estar sempre juntas, onde uma estava era certo a outra estar também.
No dia do aniversário de vinte anos de Marcella, Bia se declarou para ela, achou até que a garota fosse surtar, afinal, eram muito amigas, do tipo confidentes, ela tinha acompanhado toda a dor e angustia do fim da relação de Marcella, mas ela disse que aquele era o melhor presente que podia ganhar, que sentia o mesmo por Bia, mas não sabia como contar, tinha medo de não ser correspondida, já que Bia era uma conquistadora nata, não se prendia por muito tempo a mulher alguma e tinha medo de estragar a amizade delas.
Começaram a namorar naquele mesmo dia, noivaram seis meses depois. Com dois anos de relacionamento resolveram casar. Todos gostavam de Marcella, os pais de Bia morriam de amores pela nora, a cunhada também gostava muito dela, quando receberam a notícia do casamento ficaram muito felizes, a família de Bia fez a maior festa, achavam que jamais fossem ver a caçulinha da família casar um dia.
Beatriz optou por contar pessoalmente a notícia a sua amiga, foram na casa de Mari num domingo à tarde contar a novidade, a reação dela não foi das melhores. Na frente de Marcella mesmo a amiga perguntou:
– A conhece tão bem assim a ponto de casar em tão pouco tempo?
– Claro! – segurou as mãos da noiva – Ela é o amor da minha vida, meu céu.
– O que lhe garante que depois de algum tempo ela não se torne seu inferno? Não cometa essa loucura, Bia. Não case com essa mulher.
– Marília, sei que você não gosta muito de mim, mas eu amo a Bia, e jamais faria nada que a fizesse sofrer. – disse magoada – Com licença, não sou obrigada a ficar ouvindo ofensas de quem não gosta de mim. – olhou para Bia limpando uma lágrima que correu em seu rosto dizendo: – Te espero lá fora.
– Não precisava ser tão rude. Se não gosta da minha futura esposa, não será bem-vinda em minha casa. Com licença.
– Faça como quiser, já lhe dei o meu aviso.
Beatriz saiu de lá tranquilizando Marcella, dizendo que ela não precisava ligar para a implicância tola de Mari. Que depois conversava com a amiga, e o que realmente importava naquele momento era apenas a felicidade delas, não deixaria ninguém no mundo atrapalhar isso.
Casaram numa cerimônia simples. Na presença de alguns amigos, Marília não compareceu por estar fora da cidade, e familiares. Passaram a lua de mel na Itália, era o sonho de Marcella conhecer Veneza, e esse foi um dos primeiros sonhos dela que a esposa fez questão de realizar.
Bia amava o mar e tinham planos de morar perto da praia. Quando retornaram da lua de mel os pais de Beatriz haviam comprado uma casa na Barra para elas, disseram que era o presente de casamento atrasado.
Os seis primeiros anos de casamento foram perfeitos para elas, Marcella era a mulher dos sonhos, sempre muito atenciosa, carinhosa, viajavam sempre que podiam, fazia questão de estar sempre com Bia, pretendiam ter filhos logo, mas ambas estavam nos melhores momentos de suas carreiras, esperariam um pouco mais para aumentar a família, afinal, o trabalho de ambas exigia muito delas. Marcella era jornalista, trabalhava em um dos maiores jornais da cidade, e Beatriz advogada, estava se tornando sócia do escritório onde trabalhava com o pai, batalhou muito para poder ganhar essa credibilidade profissional dele.
Nos dois últimos anos as coisas entre elas começaram a mudar, as brigas se tornaram constantes. Marcella não fazia mais questão de acompanhar a esposa aos eventos, nem na casa dos sogros ia mais com ela. Passou a sair sempre sozinha. Beatriz tentava de todas as formas agradar a esposa, mas a cada tentativa parecia que a afastava mais. Um belo dia chegou do trabalho e a encontrou sentada no sofá. Achou ela séria demais, deveria ter tido um dia muito agitado.
– Beatriz, precisamos conversar! – foi o que ouviu ao cumprimenta-la com um beijo.
– Posso tomar um banho antes linda? Tive um dia cansativo, estou exausta.
– O que tenho para lhe falar é rápido. Seu banho pode esperar um pouquinho.
– Está bem. – sentou ao lado da esposa e segurou suas mãos. – Pode falar meu amor.
– Quero o divórcio. Nossa relação está desgastada, estamos brigando demais, moramos na mesma casa, mas estamos nos vendo muito pouco. É melhor para ambas se terminarmos a relação aqui, não está sendo bom para nenhuma das duas continuar investindo nesse casamento fadado ao fim.
Beatriz não entendeu muito bem como Marcella havia chegado àquela decisão, mas de uma coisa ela tinha razão, a relação delas estava realmente se desgastando. Só não havia pensado em separar-se. Achava aquela atitude extrema demais. Será que o amor que sentiam uma pela outra não era suficiente para conseguirem resolver aquela situação de uma forma menos drástica? Tentou de todas as formas convencer a esposa a mudar de decisão.
Marcella estava irredutível, disse que não ia mais contribuir com o comodismo que a relação delas havia adquirido. Bia não tinha outra saída a não ser ceder à decisão da esposa, mas tinha a esperança dela mudar de ideia em algum momento.
Marcella passou a dormir no quarto de hospedes. O convívio dentro de casa se tornou insuportável, o humor dela estava cada dia pior. Bia se perguntava todos os dias o que tinha feito para deixá-la tão irritada daquele jeito.
Uma semana após a conversa sobre a separação entrou na sala de Beatriz um senhor dizendo ser advogado de Marcella, e que estava lá para informar que sua cliente estava dando entrada no processo de separação, e que a partir daquele momento Beatriz deveria resolver tudo com ele. Ficou sem reação diante dele. Quando o homem saiu, tentou falar com Marcella, mas ela não atendeu sua ligação e nem retornou. Saiu do escritório mais cedo para conversar com a esposa, queria entender melhor o que estava acontecendo. Quando chegou em casa não encontrou nem a esposa e nem as coisas dela.
Dias atuais...
Beatriz ouviu o toque do celular e nem olhou quem era antes de atender.
– Alô! – disse séria.
– Atrapalho? Acho melhor ligar depois. – Sophia disse do outro lado preocupada.
– Desculpa, não atrapalha! Como vai?
– Cansada, e você? – sorriu divertida.
– Que nem você, – sorriu olhando para o relógio no pulso. – Onde está?
– No ponto, esperando o ônibus para ir pra casa! Dia de chuva deixa a capital baiana um pouco bagunçada.
– Tive uma ideia, e não aceito não como resposta. Me manda sua localização no whats, estou indo te buscar, já estou saindo. – pegou as chaves e fechou a blusa rapidamente – Comemos alguma coisa e te levo pra casa, ou então você pode dormir aqui!
– Ah Bia, muito tentadora a sua proposta. Mas não vou te fazer cruzar a cidade sem necessidade.
– Falei que não aceitava não como resposta. Manda a localização, já saí de casa.
– Sério? – perguntou incrédula.
– Seríssimo. Em meia hora estarei aí, beijo.
– Você é maluca demais, – gargalhou – beijo.
Fim do capítulo
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