Juh

Uma viajem de seis horas de ônibus acaba com qualquer pessoa. Quando ele parou que descemos agradeci a companhia de meu amigo e nos separamos, Vanessa veio buscá-lo, me ofereceram carona, mas agradeci dizendo que iria caminhando mesmo, estava uma final de tarde linda, peguei minha mochila que caiu no chão quando me espreguicei e coloquei nas costas seguindo para casa.

Layla não sabia que eu chegaria hoje, resolvi fazer uma surpresa a ela, esbocei um sorriso quando lembrei do seu rosto e o peito apertou de saudade da minha pequena. Pelo horário, ela ainda estaria trabalhando, segui para casa. No caminho parei para conversar com alguns conhecidos, dando risada com as crianças que ali no meu bairro ainda priorizavam as antigas brincadeiras, pulando cordas e amarelinhas, pique esconde e outras tantas brincadeira antigas.  

Quando cheguei em casa procurei por sobreviventes, mas ela estava vazia, nem minha mãe nem Jonas estavam, passei a mão no celular e liguei para Anny, que me atendeu no terceiro toque. Estava com um cliente e disse para aguardar, não demorou muito ela estava na linha novamente, conversamos e perguntei da mamãe, disse apenas que era para me preparar, abri os olhos perguntando:

– Me preparar para o que Anny? – estava sorrindo do outro lado e não gostei nada daquilo, não demorou muito ela disse:

– Mamãe está namorando!

– Ah, pensei que era algo grave sua doida... – parei para refletir sobre o que ela disse e levantei dizendo: – Mamãe está o que?

– Relaxa Juh, a mãe merece ser feliz! – fiquei emburrada e perguntei:

– Quem é o cara?

– Depois ela vai contar para você, agora fica calma e não vai dar “piti”.

– Não sou nenhuma criança para dar piti. – gargalhou do outro lado dizendo:

– Aposto que está com bico, conheço você.

Fechei a cara e ela se despediu dizendo que depois conversava comigo, fiquei por ali andando em volta da sala pensando no que minha irmã tinha acabado de falar, mas precisava de um banho. Quando retornei para a sala me joguei no sofá, liguei a tv e fiquei assistindo um filme, mas acabei adormecendo.

Acordei com risos vindo da cozinha, passei a mão no rosto me sentando, levantei e segui para lá, minha mãe estava conversando com uma moça, ela me olhou sorrindo e veio me dar um beijo dizendo:

– Acordou meu amor, como foi de viagem?

– Cansativa, mas produtiva. – olhei intrigada para a moça e ela fez as apresentações: – Filha, essa é a Gabriele. – cumprimentei a moça, ela sorriu e voltei para minha mãe, o que Anny havia dito veio na minha cabeça, perguntei:

– Que horas a senhora chegou?

– Cheguei quase agora, você estava dormindo no sofá e não quis te acordar. – sorri pegando um café, olhei pela janela e vi um homem jogar basquete com o Jonas, perguntei novamente:

– Quem é? – ela me olhou intrigada e ao mesmo tempo preocupada, pediu:

– Amor senta aqui por favor! – engoli em seco e sentei esperando pela bomba, me olhou preocupada e começou a dizer:

– Sei que deveria ter dito antes, mas Eduardo estava viajando e esperei ele voltar para contar a você.

Jonas entrou na cozinha todo sorridente e me abraçou dizendo um “oi” rápido, foi para a sala, a moça se aproximou do homem alto e ele a abraçou sorridente. Moreno e forte que me encarava com um sorriso curioso e ao mesmo tempo preocupado, minha mãe nos apresentou:  

– Amor, esse é Eduardo! – ela apontou para a moça abraçado ao homem dizendo: – E a filha dele você já conhece.

Os bons modos me fizeram esticar a mão e cumprimentar o tal do Eduardo, fiquei firme e não baixei a guarda, enquanto minha mãe ia dizendo:

– Edu, essa é a Júlia, minha filha. – me abraçou e beijou meu rosto sorrindo:

– Então é você a bombeira de quem meu pai tanto falava? – olhei intrigada para os dois, estava confusa no meio daquela confusão de informações toda, meus olhos buscaram os de minha mãe que sorria me incentivando e respondi a moça:

– Sou sim, desculpa, mas ao contrário de vocês eu não sei quem são! – não fui dura, na verdade estava tentando me encontrar ali, olhei para minha mãe que pediu a gentileza dos dois esperarem na sala que precisava conversar comigo, quando eles foram disse: – Anny disse que a senhora estava... – não consegui concluir a frase e ela mesma respondeu:

– Sua irmã fala demais e eu pedi para não dizer nada a você.

– Então quer dizer que é verdade?

– Sim! Desculpa não ter contado antes meu amor, mas era tudo tão novo para mim e você estava no seu mundinho com a Layla, resolvi esperar para ver no que dava e quando ele voltou, no dia que você foi viajar, me pediu em namoro.

Sorri admirada, na verdade estava assustada. Saber assim que sua mãe está namorando não era algo fácil, não estava chateada com ela de forma alguma, eu mais do que ninguém queria ver a felicidade estampada no semblante dela novamente, na verdade nos últimos dias ela estava sorrindo mais mesmo, que burra eu fui em não ter percebido, me recuperei do susto e a abracei perguntando:

– Está feliz? – era evidente que sim, mas precisava ouvir dela isso, me olhou com os olhos úmidos e concordou com a cabeça, sorri limpando uma lágrima que caiu dizendo: – Então é o que importa mamãe, se a senhora está feliz eu ficarei também.

– Não está chateada? – sorri fazendo careta:

– Só por ter sido a última a saber, de resto encaro numa boa! – sorriu e disse marota:

– Então, porque não vai lá conversar com ele! – passei a mão nos cabelos olhando de relance para a sala perguntando:

– Preciso mesmo? – sorriu pegando duas cerveja e dois refrigerante na geladeira me entregando e me empurrou em direção a sala dizendo:

– Quero sua opinião em tudo o que eu fizer meu amor, não é diferente agora. – sorri para ela que me incentivou: – Confio no seu julgamento!

– Poxa mãe, e o que eu digo pra ele? – sorriu dizendo apenas:

– Use a imaginação.

Lembram da minha timidez, então, ela era inconveniente as vezes, mas segui para a sala entregando as latinhas para eles e sentando no sofá da frente, ficamos nos encarando por alguns minutos, inspirei fundo perguntando:

– Senhor Eduardo néh?

– Sim, mas pode me chamar apenas pelo nome, por favor! – a filha dele sorria ao lado, a moça era bonita, mas não chamava a minha atenção como mulher, concordei dizendo:

– Eduardo. – tomei mais um gole da minha cerveja e olhei novamente para ele dessa vez sorrindo divertida perguntei: – Quais as suas intenções para com a minha mãe?

Ele me olhou espantado, mesmo assim foi firme nas respostas, embora eu estivesse sorrindo ele percebeu minha seriedade em toda a nossa conversa. Na ausência de meu pai, depois que Anny saiu de casa e pelo fato de Jonas ser de menor, tomei as rédeas da família, então para passar essa responsabilidade para o cara precisava saber quem era e quais eram suas intenções.

Passava um pouco das sete quando ouvimos uma conversa animada na cozinha, logo a minha irmã apareceu sorrindo me olhando intrigada cumprimentando o pessoal, numa rápida olhada vi Layla entrando também toda sorridente levantei e fui em sua direção, jogou os braços em volta de meu pescoço sorriu e me beijou carinhosa, quando se afastou perguntou:

– Porque não me disse que viria mais cedo? – me apertou em seus braços, sorri dizendo:

– Queria fazer uma surpresa!

– E fez mesmo, estava morrendo de saudades de você.

– Também estava! – enterrou seu rosto em meu pescoço sussurrando em meu ouvido, sorri com o que ouvia, logo ouvimos alguém fingir uma tossida chamando nossa atenção ali perto e minha irmã dizer sarcástica:

– Não quero estragar o momento “matar saudades” de vocês, mas temos visitas.

Nos afastamos e me dei conta de que todos estavam nos olhando, pra variar fiquei corada, mas peguei Layla pela mão e a levei apresentando:

– Eduardo, essa é minha namorada, Layla. – sorrindo ele esticou a mão cumprimentando ela e disse na sequência: – Amor, essa é a filha dele, Gabriele.

As duas se cumprimentaram, mas percebi a olhada que Layla deu na moça, me sentei no sofá e a puxei para meu colo e entramos em uma conversa bem animada sobre o meu trabalho. Descobri que o namorado de minha mãe era advogado assim como Anny, e pela conversa dos dois percebi também que se conheciam a mais tempo. Senti o afago em meus cabelos e os dedos de minha namorada percorrendo meu pescoço me fazendo arrepiar, olhei de relance para ela que sorriu beijando meu rosto.

Fim do capítulo