Capítulo 23 A Cabana
Carmen
Entrei em casa e não encontrei mamãe na cozinha. Como estava muito molhada, resolvi tomar um banho e por roupas secas antes de avisá-la que já havia chegado. Meu banho foi rápido, pois estava estranhamente ansiosa, crente que devia isso as lembranças do acidente com Joan e Madalena.
Desci as escadas, e encontrei minha mãe e os meninos na sala.
--Boa noite!
Mamãe aparentemente surpresa respondeu.
--Graças a Deus vocês voltaram!
--Voltamos o mais depressa possível, assim que vimos a tempestade "chegando".
--Fiquei muito aflita minha filha, principalmente porque ela saiu sozinha contrariando minhas recomendações...
--Ela quem mãe?
--A menina Lisa...
Meu peito apertou, do que mamãe estava falando?
--Onde a Elisandra está?
--Não está aqui com vocês?
Nada mais precisava ser dito, desesperei-me, sai em disparada na direção do seu quarto, entrei sem bater ou pedir licença, olhei em todo canto e não encontrei minha menina. Já descendo novamente as escadas, encontrei mamãe subindo acompanhada pelos garotos.
--Onde ela está mãe?
--Ela foi atrás de você, à data do seu julgamento saiu e ela foi avisá-la, estava nervosa, saiu antes da chuva começar... Pensei que tivesse te encontrado e voltado com você.
--Não, não, não...
Desci as escadas completamente aflita, fui até a varanda na tentativa inútil de ver Elisandra chegando. Olhei para a estrada, pro bosque, mas nada vi. Passei as mãos nos cabelos, aquilo não podia estar acontecendo.
--Minha filha! Ela ainda está na mata...
Gritei, por raiva, por desespero, por medo. Era perigoso demais cavalgar na mata com o tempo ruim como estava, pior, Elisandra não tinha a menor experiência naquele tipo de situação, seria um milagre escapar intacta. Esmurrei a parede desesperada com o que ela podia estar passando, lembrei de Joan, e da morte de Madalena, não iria passar por aquilo de novo. Não iria perder Elisandra.
Vesti-me com um longo casaco de couro, botas de cano alto e um chapéu, ajudaria com a chuva.
--Vou atrás dela!
-- É perigoso minha filha...
--Não posso deixá-la sozinha por ai, já anoiteceu!
--Leve alguém contigo então...
--Não! Vou mais rápido sozinha, não quero pôr mais ninguém em perigo.
Estava saindo na varanda, mas me voltei em direção à minha mãe.
--Vou encontrá-la! Voltaremos pra casa bem mamãe. Fique calma e cuide dos meninos.
--Vá com Deus!
Dei as costas a eles, e sai em disparada na direção do estábulo, montei rapidamente em Tornado, e fui para as casas dos empregados da fazenda, que ficavam depois do estábulo. A chuva continuava forte, assim como os ventos. Cheguei rapidamente na casa de Joaquim, em um salto desmontei e corri para a porta da casa, acho que ele percebeu a movimentação e antes mesmo que batesse a porta, ele a abriu.
--Que houve?
--Elisandra! Saiu a nosso encontro antes da tempestade, estava sozinha, e ainda não voltou... Vou encontrá-la!
--Imaginei que fosse isso! Lúcio acabara de me contar que ela havia ido pra mata, estava agora mesmo indo até o casarão ver se ela havia retornado.
--Infelizmente não! Enfim, quero que vá até minha antiga casa e não saia de perto do rádio até que eu volte ou faça contato. Se encontrar Elisandra próximo daqui, voltamos pra casa e se estiver longe eu a levarei pra cabana e entro em contato pelo rádio.
--Se não encontrá-la?
--Essa hipótese não existe pra mim.
E assim parti em busca de Elisandra, com o coração nas mãos e os pensamentos em Deus, não podia perdê-la justo agora que a havia encontrado.
* * * *
Fiz o caminho em direção as cercas onde passamos o dia todo, o terreno estava extremamente escorregadio, galhos caíam próximos a mim a todo instante, tinha muita dificuldade pra controlar Tornado, que apesar de estar acostumado a essas situações, se mantinha em pé apenas por ser guerreiro. No entanto, não encontrei nem vestígios de Elisandra.
Transtornada, tentei várias outras direções sem sucesso. Já entrando em desespero, só restava-me uma alternativa, que era ir até a cabana e contatar Joaquim, mandando-o pedir ajuda aos bombeiros, a polícia, a marinha ou seja lá o que fosse preciso.
Tentei, insisti, mas devido as elevações das trilhas e as rochas que haviam pelo caminho, desisti de prosseguir com Tornado, pois aquilo só serviria para "sacrificá-lo", desmontei, deixando-o livre, pois sabia que a única coisa que ele faria longe de mim, era procurar abrigo, pois além de ser um cavalo muito bem treinado, ele era meu animal de estimação, ele me seguiria e me protegeria até mesmo diante da morte.
Corri, debaixo da chuva e dos ventos, estava como que no piloto automático, não sentia frio ou dor, diante das escoriações que sofria durante o caminho, apenas via um par de olhos cor de mel, que me davam forças pra insistir.
De repente, deparei-me com o cavalo que Elisandra costumava cavalgar, ele estava caído próximo a algumas rochas, estava inerte, morto.
Levantei os olhos e vi a cabana um pouco adiante, uma luz no fim do túnel, Elisandra conseguiu chegar até ela, ela tinha que ter chegado até lá. Corri fazendo força sobre-humana, encontrando a porta destrancada.
Entrei rapidamente e para meu alívio, ou nem tanto, encontrei meu amor ali, tão frágil, toda molhada, deitada no sofá, ou seria desmaiada?
--LISA?!
Corri ajoelhando-me no chão, tocando seu pescoço em busca de sinais vitais, e por Deus eles existiam. Elisandra estava toda suja, mas ainda assim eu podia ver um corte em sua cabeça, provavelmente acontecera durante a queda onde o cavalo morreu.
Corri e fechei a porta, pois o vento entrava forte ali onde Elisandra estava, em seguida revirei os balcões que ali haviam, em busca de remédios, esparadrapos, tudo que pudesse usar para cuidar dos ferimentos de Elisandra.
Certo que eu era formada em medicina veterinária, mais isso era melhor que nenhum conhecimento não é? Tirei as roupas molhadas de Elisandra, limpei-a com toalhas úmidas, mediquei-a e fiz um curativo. Então vi que seu tornozelo estava muito inchado, e um pouco arroxeado. Tratei de cuidar daquele ferimento também, com lágrimas nos olhos.
Meu amor estava naquela situação por minha causa, ela se preocupava comigo, havia feito aquela IMENSA besteira por mim, e isso comprimia meu coração. Peguei água limpa e levei para o quarto, tirei as roupas molhadas que estava usando, para em seguida vestir uma camisa velha e uma calça que encontrei no armário, roupas que havia deixado ali no tempo que caçava com papai.
Voltei para a sala, tomando Elisandra nos braços a levando para cama, sabia que ela ficaria bem, e aquele sono profundo que ela estava, se devia muito mais ao esforço físico do que aos ferimentos em si, a cobri com algumas "mantas" que ali havia.
Em seguida, após algumas tentativas falhas, consegui entrar em contato com Joaquim.
--Joaquim?! Está me ouvindo?
--Sim! Estou ouvindo!
--Pois bem! Avise mamãe e os demais, que encontrei Elisandra, ela está ferida e desacordada. No entanto, creio que os ferimentos não são graves e o fato dela estar descordada se deve ao cansaço e a pressão psicológica que passou.
--Graças a Deus! Estava enlouquecendo aqui.
--Eu também amigo!... Enfim, chame o médico e peça pra que passe a noite no casarão, vou esperar a tempestade passar pra voltar pra casa, não há como sair daqui com ela nesse estado.
--Ok! Tudo bem! Vou mandar Lúcio dar a notícia a sua família. Porque passarei a noite aqui caso precise fazer contato.
--Ótimo! Obrigada Joaquim.
--Não me agradeça. Fiquem bem ok?
--Ok?
Então, voltei até onde Elisandra estava, me deitando logo em seguida ao seu lado, a protegendo em meus braços.
Amava aquela garota, não sei o que faria se a perdesse. Beijei diversas vezes seus cabelos, rezando pra que tudo ficasse bem. E então, aqueles olhos que tanto amava se abriram, permitindo que meu coração batesse tranqüilo mais uma vez.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]