Capítulo 22 Tempestade
Carmen
As coisas na fazenda estavam em perfeita harmonia. Os negócios referentes a fazenda e as demais propriedades, estavam finalmente nos eixos, pois Elisandra e eu havíamos nos inteirado e tomado a frente do trabalho.
Não havia como negar que estava vivendo a melhor fase da minha vida, Elisandra era meu tudo, minha menina, minha mulher, minha vida. Nossas noites eram regadas de desejo e paixão, enquanto nossos dias eram de pura magia, e romantismo.
Desde que apresentei Tornado a Elisandra, que ela queria um cavalo pra chamar de "seu", pois todos ali tinham seus próprios animais. Então, como uma das águas que pertenceram a falecida Madalena Muñiz Romero estava prenha, no dia que dera a luz a uma linda égua branca, puro sangue Andaluz, veio-me a idéia de presentear Elisandra.
Após o parto do animal, deixei-os sobre os cuidados de Joaquim e voltei para a fazenda. Tomei banho, troquei de roupa, e fui ao encontro das duas mulheres da minha vida, que estavam na cozinha do casarão, certamente falando mal de mim.
--Boa tarde!
Cumprimentei-as, ambas com beijos no rosto, e logo fui tomando Elisandra pelas mãos.
--Tenho uma surpresa pra você...
--Que surpresa?
--Se eu contar deixará de ser surpresa mocinha!
Praticamente a arrastei até o estábulo, ao perceber minha presença, Joaquim já de saída menciona.
--Parabéns Dr. Carmen... É linda!
Sorri, sabia que ele se referia ao belo animal que havia ajudado a vir ao mundo a poucas horas. Elisandra claramente enciumada com JOAQUIM.
--Porque diabos Joaquim está te chamando de linda? Endoidou é?
--Kkkkk não meu amor... Ele disse que sua surpresa é linda.
--E o que é?
Então empurrei a porta para que Elisandra avistasse a égua amamentando sua cria.
--AI MEU DE-US...
Sorri, realmente o animal era lindo, mas o que realmente me encantava, era o brilho quase infantil que via nos olhos da minha menina.
-- É toda sua...
Elisandra jogou-se nos meus braços, me enchendo de beijos.
--Obrigada amor... Eu adorei, é muito fofo...
--Fofa... É fêmea.
--Aaiii...
Dando pulinhos de alegria ela menciona.
--Vou chamá-la de Asa Branca... Não! De Preciosa!
--Preciosa é nome de vaca sua bobinha...
A abracei pelas costas, beijando seu pescoço.
--Então será Asa Branca kkk
Passamos as próximas horas ali, Elisandra parecia uma criança vendo o animalzinho tentando dar alguns passos, ainda inseguros devido ao pouco tempo de vida que tinha.
* * * *
Elisandra
Definidamente, eu AMAVA Carmen, ela era incrivelmente linda, amável, carinhosa, tudo que eu sonhara viver com o "homem certo" estava vivendo com a mulher da minha vida, sem mencionar que ela era uma perfeita amante, o amor que fazíamos era surreal.
Certo dia, Carmen após descobrir que algumas cabeças de gado da fazenda, haviam sido abatidas ainda na propriedade, resolveu levantar as cercas mais distantes da fazenda, para impedir ou dificultar novos furtos. Então, havia saído logo cedo para passar o dia nos limites da propriedade, construindo novas cercas, Joaquim e outros empregados haviam ido com ela, alguns em camionetes levando materiais, e outros a cavalo como ela.
Já no fim da tarde, um oficial de justiça apareceu na fazenda, trazendo consigo uma carta com a data do julgamento do caso Rogério, onde Carmen era ré. Fiquei angustiada, pois graças a felicidade que estávamos vivendo na fazenda nos últimos tempos, havíamos nos esquecido completamente da audiência. E para o infortúnio ser ainda maior, já estava em cima da data, e Carmen não havia se preparado para isso.
Entrei na cozinha apressada, iria ao encontro de Carmen, para dar a notícia a ela, não conseguiria esperar até sua volta mais tarde.
--Dona Teresa?!
--Oi minha filha!... Com fome?
--Não!... Preocupada.
--Com Carmen? Não se preocupe com minha filha, ela é acostumada a sair pra esse tipo de trabalho, jájá ela está chegando.
--Não é isso!
--Saudade?
--Também! Mas acontece que acaba de chegar uma carta, com a data da audiência de Carmen...
Dona Teresa se calou, provavelmente também havia esquecido desse inconveniente.
--Preciso avisá-la, está em cima da data...
--Tudo bem! Já já ela chega, ai avisaremos.
--Não consigo esperar. Vou ir encontrá-la...
--É perigoso, ela está bem longe daqui.
--Eu sei, já estive lá com Carmen.
--Leve alguém contigo. Não vá sozinha...
--Levarei Lúcio.
--Certo!
Sai às pressas de casa, fui até o estábulo e peguei o cavalo que estava acostumada a cavalgar. Encontrei o garoto … Lúcio do lado de fora.
--Lúcio?! Venha comigo, temos que falar com Carmen.
--Agora?
--Sim.
--Mas Sra. uma tempestade está vindo aí...
Nesse instante olhei para o céu, e só então notei que o tempo estava realmente "feio" choveria logo.
--Onde meus irmãos estão?
--Brincando com os filhos de Denis no bosque, próximo a estrada...
Denis era um dos empregados da fazenda, que havia acompanhado Carmen no trabalho.
--Vá buscá-los, diga que eu mandei que se recolham antes da chuva.
--Sim! Mas e a Sra.?
--Vou e volto antes da chuva.
--Mas...?
--Está tudo bem Lúcio, apenas preocupe-se com meus irmãos.
--Sim Sra.
Dito isso, sai a galopes na direção do bosque, não podia deixar que Carmen ficasse na mata com um tempo desses, e cabeça dura como era, seria bem provável que ficasse.
* * * *
Carmen
O dia havia sido produtivo, apesar do trabalho ser extremamente pesado e cansativo, havíamos tido um grande começo. Estava concentrada no trabalho quando Joaquim de aproximou.
--Já deu uma olhada no céu?
Não, era óbvio que não, estava concentrada demais no trabalho, e quando não estava, era em Elisandra que pensava. Antes de responder, olhei para o seu, entendendo logo a que Joaquim de referia. O céu estava escuro, completamente "carregado", uma tempestade estava a caminho. Nesse instante um arrepio assustador percorreu meu corpo e lembranças de um passado trágico assombraram meus pensamentos.
--Diga para que parem com o trabalho, recolham os materiais e ferramentas, mande que somente os que vieram nas camionetes, façam a volta pelas trilhas, o restante que estão a cavalo, que me sigam pela mata, para que possamos chegar em casa antes da tempestade.
Assim foi feito, rapidamente os materiais foram recolhidos, e todos se encaminharam de volta a fazenda. Joaquim, eu e mais Três homens voltamos pela mata. Quanto mais eu cavalgava e me aproximava da fazenda, mais o céu escurecia e o meu peito apertava. Estava crente de que eram as lembranças de Joan e Madalena que me assombravam, pois por onde estávamos cavalgando, havia várias colinas, várias rochas, diversas irregularidades no solo que tornavam a viagem perigosa, principalmente com a chuva que estava para cair.
Vinte minutos depois, a chuva fina acompanhada de ventos fortes começou a cair. Nessa hora avistei o casarão e suspirei, havíamos conseguido voltar antes da tempestade, todos em segurança. Levamos os cavalos para o estábulo, e ao sair corri para chegar até o casarão, pois a chuva estava forte e os ventos ainda mais.
* * * *
Elisandra
A chuva começava a engrossar, quando cheguei onde Carmen e os homens deveriam estar. Era claro pelas sobras de materiais e pelo solo remexido, que era ali que eles estavam, no entanto, não encontrei ninguém. Meu peito apertou, o medo bateu na porta, a insegurança deu sinal de vida. Será que Carmen havia voltado pra casa? Lógico que sim, onde mais ela estaria? E foi ai que o desespero bateu, e o arrependimento. Afinal, só minha cabeça loira mesmo pra pensar que Carmen ficaria ali com os homens, com o tempo que estava "se aprontando".
Tinha que voltar, e cavalgando a trote tentei fazer o caminho de volta, mas devido à chuva intensa e forte, acompanhada de rajadas de vento mais fortes ainda, acabei perdendo a direção, não sabia mais qual era o caminho de volta, não fazia idéia de onde estava, e quanto mais cavalgava mais desconhecido o lugar se tornava.
Galhos caíam, o cavalo estava cada vez mais assustado, difícil de controlar, o caminho era íngreme e escorregadio, quanto mais eu "avançava" mais rochas e colinas eu encontrava. Mudei de direção diversas vezes, e nenhuma delas me levou a lugar algum.
Já anoitecia, já devia estar próximo das sete horas da noite. E eu ali, molhada, com muito frio, e completamente perdida. Até que de repente, tentando subir uma colina, o cavalo simplesmente desabou, escorregou, não sei ao certo. Caí de cima dele, escorreguei pela lama entre as pedras que ali haviam, vi o cavalo se debater e ter a mesma queda que eu, no entanto, ele não teve a mesma sorte, se é que podia chamar isso de sorte.
Me levantei um pouco tonta, pois havia batido a cabeça não sei ao certo onde, meu tornozelo doía bastante. Ao procurar ao redor pelo cavalo, o avistei caído próximo a algumas pedras, não se movia, estava morto.
Não consegui segurar as lágrimas, sabia que estava completamente ferrada ali, pois a chuva apenas se fazia aumentar, e eu não tinha nem noção de como sair "viva" dali.
Andei, com a maior dificuldade do mundo, meu tornozelo doía muito, minha cabeça doía e rodava. Avistei no meio da mata, uma pequena cabana, parecia abandonada, com dificuldade subi os degraus da escada e forcei a porta qual não foi minha surpresa estar trancada. Desabei no chão da minúscula varanda que ali havia e a chuva ainda me alcançava. Olhei para o chão, e então notei que uma das tábuas da varanda, estava levemente acima das demais, toquei, levantei, e por Deus o alívio se fez em forma de uma chave.
Rezando para todos que pudessem me ouvir naquele instante, consegui abrir a porta da cabana, que por dentro, não era nada comparado ao lado de fora, só ai notei que se tratava de uma cabana de caça. Me aproximei do sofá, sentei, apoiei minha cabeça no encosto, estava fraca, tonta, e então, nada mais eu vi.
Fim do capítulo
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