Entraram na pista de dança no mesmo instante em que começou a tocar uma música sensual, se tivesse pedido esse favorzinho ao DJ isso não teria acontecido de forma tão casual, pensou Sophi.

A garota dançava colada ao corpo de Beatriz, ambas estavam bem envolvidas com a dança, Sophia sentia que nessa noite conseguiria o que queria sem precisar ser invasiva. A sequência de músicas que seguiu deixou as duas mulheres ainda mais próximas, e também ofegantes.

Meia hora depois lá estava Sophia enlaçando a cintura de Bia, para dar prosseguimento as músicas lentas. A advogada apoiou as mãos em seus ombros se deixando ser conduzida. O olhar de Sophia transbordava a vontade que sentia de tomar os lábios da mulher em seus braços em um beijo.

– Está tudo bem? – Bia perguntou olhando para sua acompanhante.

Sophia balançou a cabeça tentando entender o que a advogada dizia, mas não conseguiu, se aproximou perguntando:

– Desculpa, mas não consegui prestar atenção no que falou.

– Você está bem? Foi isso que perguntei. – sorriu tirando uma mecha de cabelos do rosto de Sophia: – Parece aérea.

– Me pegou no flagra. – encostou ainda mais os lábios no ouvido de Bia – Não estou tão bem assim, mas você pode me ajudar a melhorar!

– Posso?

– Claro que sim. – respondeu sem parar de olhar os lábios de Bia.

Ela que lhe perdoasse, poderia até levar um tapa, mas não conseguia mais conter a sua vontade. Segurou levemente o queixo de Beatriz e beijou seus lábios, esperou um tapa vindo depois do susto, mas não aconteceu. Apesar do susto momentâneo, Bia segurou seu pescoço intensificando o beijo, dando início ao bailar que suas línguas ávidas tanto queriam. Só pararam quando já estavam sem folego, sorriram uma para outra e continuaram abraçadas, estavam distraídas quando alguém falou quase gritando perto delas.

– Que beijo foi esse! Nossa senhora das sapas que te proteja moça, – gargalhou – a sapinha fisgou um verdadeiro peixão dessa vez!

– Eu vou matar você Romero. – só não avançou no amigo porque Beatriz conseguiu segurá-la a tempo.

– Calma, ele só está brincando.

– Me solta, eu vou matar ele e vai ser agora.

– Para! – Bia não sabia se ria de vergonha ou de nervosismo, apesar de magrinha, Sophia estava dando um bom trabalho a ela. – Se continuar se batendo assim em meus braços vou acabar tendo que te prender mais forte.

Sophia olhou para ela sorrindo:

– Promete?

Beatriz a encarou meio sem jeito respondendo:

– Se prometer que não vai fazer nada com ele, eu te solto.

– Solta ela, peixão. Isso é cão que ladra mais não morde!

– Rô, não força. – uma amiga deles falou enquanto se aproximavam mais de onde elas estavam.

Sophia olhou para Bia e disse sorrindo:

– Prometo que ele nem vai ver o que o atingiu.

– A noite está tão boa, – falava calmamente em seu ouvido com o queixo apoiado em seu ombro – preferia que terminássemos ela de outra forma, não em uma delegacia!

Aquelas palavras mexeram com Sophia, mesmo porque ao falar “outra forma”, Bia usou um tom um tanto quanto sensual. Sophia deu um sorrisinho de canto de boca e disse mais calma:

– Tudo bem! Ele vai sobreviver. – olhou para o amigo e disse divertida: – Mas não abusa da sorte neguinho!

– Você está me ameaçando, é isso mesmo? – perguntou afetado colocando a mão na cintura ficando frente a frente com Sophi. – Posso muito bem abrir um B.O. contra você, ameaça é algo muito grave.

– Bom, acho melhor vocês acalmarem os ânimos e pararem com essa loucura!

– Concordo, Manu! – beijou o rosto da amiga, perguntando: – Que cara feia é essa?

– Clea está com sono, e como pode ver, o humor do meu irmão está mega ácido hoje. Não estou podendo com nenhum dos dois, vim avisar que já estamos indo.

– Cedo assim?

– O Rô já fechou o tempo com Marco, – apontou o queixo na direção do rapaz que se mantinha quieto perto de uma pilastra – Clea já tentou fazer o mesmo comigo, cismou que eu estava olhando para uma garota, e você já sabe como essas histórias costumam terminar.

– Briga de novo amiga! Coisa chata, no final das contas nem dei atenção a vocês, desculpa. – Sophia disse sentida.

– Tá tudo bem, você veio acompanhada. E que bom que alguém está terminando a noite feliz. Eu e Marco não estamos tendo essa sorte já faz um tempo.

– Não fica assim, – abraçou a amiga – deixe-me apresentar minha companhia a vocês antes de irem embora. – Sophia segurou a mão de Bia e a levou para perto dos amigos: – Beatriz, esses são meus amigos, – apontou um a um na sequência – Manu, Clea, Marco e o sem graça aqui você já conheceu mais cedo, não é Rô.

– Fico mais calma em saber que tudo não passou de uma brincadeira, – sorriu se referindo ao episódio de mais cedo. Depois de cumprimentar todos com um beijo no rosto, disse ainda sorrindo: – É um prazer conhecê-los.  

– Estava mesmo na hora de você sair com alguém a sua altura, Sophi. Beatriz é um baita mulherão.

– Rô! – Manu repreendeu o irmão.

– Que foi gente, falei alguma mentira?!

– É melhor irmos, Sophi tá muito bem acompanhada, e não precisa do seu humor ácido atrapalhando a noite dela, como já fez com a nossa.

– Epa, se quiser, pode ficar aí maninha. Agora se sua namorada vai deixar, já não sei.

– Já chega! – Marco segurou sua mão e saiu puxando ele pelo salão.

– Tchau meninas, boa noite!

As palavras de Manu saíram num tom de desculpa. Sophia percebeu que ela estava envergonhadíssima com tudo o que tinha acontecido ali, ainda mais por saber da vontade que Sophi estava de ter um momento menos formal com Beatriz.

– Desculpa, hoje não foi uma boa noite para eles.

– Não se preocupa, tá tudo bem. Quer ir embora também?

– Acho melhor, não tenho mais clima para continuar aqui, se é que me entende.

– Claro! Quer que te leve em casa?

– Até quero, mas agora não, – sorriu – quer dizer, você que vai dirigir. Então você decide.

Para Beatriz a noite estava sendo recheada de coisas boas e apesar de tudo divertidas, ouvir Sophia dizer para ela tomar a decisão de onde levá-la a deixou um tanto intrigada. Mas não podia negar que mesmo depois do beijo ainda se sentia inibida por ela. Estava pensando onde poderia ir àquela hora quando seu estomago lhe deu uma sugestão.

Estacionou o carro na garagem de casa, desceu para abrir a porta para Sophia com um pedido de desculpa muito bem ensaiado:

– Desculpa te trazer para minha casa, é que estou com fome e não encontraríamos lugar nenhum aberto a essa hora mais.

– Relaxa, eu também estou com fome! – prendeu os cabelos em um coque frouxo – Posso te ajudar ou vai ser surpresa o que vai fazer?

– Você é minha convidada. Claro que será surpresa, não costumo abusar dos meus convidados na primeira vez. – percebeu que a frase tinha duplo sentido somente quando disse a última palavra, olhou para traz e lá estava Sophia com aquele risinho de canto de boca. – Não me entenda mal, por favor!

Sophia não queria ir para casa por dois motivos, o primeiro era não “quebrar” aquele contato menos formal com Bia, e o segundo, era que sabia que seus amigos com certeza estavam no maior quebra pau em casa a essa hora.

– Nem pensei nada! – sorriu – Mas é melhor ter cuidado com o que fala. – puxou Bia para um beijo.

– Assim não vamos comer. – ouviu a barriga de Bia fazer um barulho.

– Acho que é melhor você ir preparar o nosso lanche, não quero ser culpada de te matar de fome em sua própria casa.

– Olha que isso pode acontecer mesmo! – foi se afastando.

– Beatriz?!

– Oi!

– Posso usar o banheiro?

– Pode sim. Mas com uma condição. – Sophia a olhou assustada e esperou que ela concluísse. – Não me chama de Beatriz, ainda mais com essa seriedade na voz, penso logo que fiz coisa errada. Quase enfartei aqui.

– Tudo bem, perdão, Bia. Não queria te deixar desconfortável – mordeu os lábios e se aproximou da advogada dando-lhe mais um beijo.

– Assim não vamos sair daqui.

– Fome! Tudo bem, – balançou a cabeça sorrindo – vai, ou então não te solto mais.

Beatriz foi se afastando e disse sorrindo: – Segunda porta a direita, não vai se perder.

– Caso isso aconteça você me acha... – teria beijado Bia novamente, mas essa foi mais rápida e saiu do seu alcance quase correndo.

Fim do capítulo