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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 5346
Acessos: 2799   |  Postado em: 24/03/2019

Capítulo 50

Capitulo 50 – Fernanda


           Entrei na cozinha como se nada tivesse acontecido, mas eu queria mesmo era dar risada da cara de assustadas e nervosas que estavam. Entrei seria, deixei o computador na mesa, as duas me olhando, disfarçando.

           - Doutora Marcela, qual problema lhe tras a essa casa hoje?

          - Muitos Fernanda, muitos – eu tenho um carinho muito grande por ela, mesmo. Ela me deu um braço e me olhou com uma expressão que passava: como ela está ou como vai tudo, era única interpretação. Eu sou baixinha, confesso, mas ela não passa de 1,50, chego a me sentir alta.

           - Vem, vamos ver o que está acontecendo. Senta aqui na mesa. Antonia, vai rolar os biscoitinhos?

           - Está terminando de assar menina, não me avisastes que iria vir. Teria feito antes.

           - Fica tranquila meu amor, quando ficar pronto eu como.  - falei bem leve, e tasquei um beijo na bochecha dela, uma pessoa que considero como mãe, fez mais por mim que meus próprios pais. – Rola aquele suquinho bom de você faz.

           - Fernanda, para de incomodar ela, pega você mesmo o suco e senta logo aqui que o papo é serio – Eu não aguentei e dei risada, esse foi o jeito da Marcela me contestar e mandar eu crescer, adoro dar dessas com ela.  Eu sentei na mesa, fiquei seria e quietinha, olhando pra ela.

           - Tá bom chefe, tá bom. Só queria me hidratar, “mo viaje longa cara”

           - Ai garota, como você consegue fazer eu rir em uma situação dessas? Como?

         - Eu vou estar aqui em cima se vocês precisarem de mim, tudo bem? -  A Antônia repassou o recado e saiu da cozinha, meio seria, meio nervosa. A Marcela sorriu como uma adolescente apaixonada, enquanto ela saia da cozinha. Eu não pude deixar de acompanhar a cena, quando viu que eu estava prestando atenção, a Marcela soltou:

           - Que riso é este Fernanda? Tome tento garota?

          - Gostoso essa paixão toda no ar, eu adoro isso. É fofo – falei irônica, sorrindo e cutucando ela.

           - Do que estas a “falaire”?  Te concentras, tu es minha chefe na teoria, mas na pratica eu que cuido de tudo.

           - Que nada, eu só pago a brincadeira, o resto é seu. Mas não foge do assunto não. Desde quando estão juntas? “Boto mo fé”

           - Voce nem sabe do que tá falando, para com isso.

           - Má, eu vi, fica tranquila. Eu não fiz piada nem nada, sei como a Antonia é tímida e travada. Achei que vocês formam um casal lindo, eu já desconfiava, só confirmei.

           - O que você viu?

        - Eu acordei e ouvi sua voz, aí resolvi descer. Quando eu cheguei, você estava fazendo carinho nela, abraçada. Eu voltei quietinha pela escada. Tossi  e fiz uns barulhos pra alertar vocês. Eu respeito muito ela, não vou ficar fazendo piada. Mas é serio, fiquei feliz por voces.

- Eu sei que você considera ela como mãe, mas não deu mais para enrolar Fernanda.

- E vai enrolar porque? O amor não é pra ser vivido? Para de bobagem, aproveitem. Só não mexe com os meus biscoitos, e com os pasteis de nata da Carol.

- Como ela está?

- Já falo dela, não foge do assunto. Eu nem sabia que você  gosta de mulher.

- Eu sempre gostei, vivi em uma geração onde era proibido, errado, me aceitei agora de velha. E ela me encanta, sempre encantou na verdade. Quando soube de como ela cuidava de você, mesmo não sendo nada dela, nem parente, eu fui me apaixonando mais. Eu vinha aqui e ela cozinhava umas coisas boas, foi me ganhando pelo estômago, quando cai na real, eu ja estava apaixonada.

- E ela? Se soltou?

- Fernanda, eu não vou te contar detalhes. Nem era para você saber disso, ela morre de medo de você.

- Medo de mim? Do que, eu não aceitar? Não gostar? Que besteira.

- Eu falei pra ela que você é tranquila, jamais iria ser contra ela ou qualquer coisa assim. MAs ela tem medo de você não aceitar, expulsar ela da casa. Toda hora fala que você é uma filha pra ela, mas sabe que ela trabalha pra você. Tem medo de você demitir e ela não ter pra onde ir.

- Meus Deus, que bobagem. Ela só sai daqui se ela quiser, por mim, ela é mae pra mim e vai ser vo dos meus filhos, simples assim. Que bobagem. Eu vou conversar com ela depois, eu e ela, tranquilamente. Ela me criou, tem mais é que ir curtir a vida. Eu hein?! Ah, e você Marcela, já fica o recado, eu apoio muito voces, mesmo, mas faz ela chorar uma vez que eu não apoio mais e tomo uma atitude pesada.

- Claro chefe, sem problemas.

- Af, não me chama de chefe não. Eu hein?!

- Fe, você tem ideia do quanto você amadurecei nesses anos? Olha sua postura hoje, de proteger a Antonia, de montar uma maternidade, de ser capaz de sorrir. Quando eu te conheci você estava quebrada, olha você hoje. Tenho muito orgulho de você e de quem se tornaste. Sério.

- Ai, precisei crescer Ma, não dava mais pra eu me machucar com tudo, eu precisava seguir em frente.

- Vou te dizer que esse tempo que a Carol ficou aqui, você se tornou outra pessoa. Acho que você nem reparou, mas agora a pouco falou de filhos. Você aparenta estar leve, feliz. Ela te fez muito bem, como eu realmente imaginava que iria ser. Como ela está depois do sequestro?

- Quebrada. Posso falar qualquer coisa pra você, mas a verdade é essa, está quebrada. Eu sei que é algo muito recente e que ela vai melhorar um pouco com o tempo, mas foi difícil ver. Eu acabei pegando um hotel lá, quando ela chegou, parecia um mendigo, roupa rasgada, suja. Ajudei ela a tomar um banho, eu chorei depois. Marcela, ela tava toda roxa. Deve ter tido alguma lesão renal, as costas toda roxa, tinha o desenho certinho de um pé. O rosto inchado, roxo. Nos primeiros dias não conseguia abrir o olho. Fez uma tomo, deu um fratura no ossinho do olho, ela vai fazer a fixação agora na terça feira.

- Ai que dó. E pra andar na rua, como tá?

- Já está bem melhor, as primeiras saidas foram criticas, completamente em panico. Ela tremia, chorava. Ela foi na casa da louca, a ex mulher dela. Acredita que a garota já estava morando com outra? Na mesma casa, mesma cama.

- Sério?! Eu não acredito  nisso. O foda é que a Carol é tão boazinha, ela só se ferra.

- Doeu deixar ela no Brasil, nossa e como doeu. Só voltei mesmo por causa da maternidade. Ela mandou eu voltar praticamente, falou que sem maternidade não tem emprego pra ela e não pode ficar em Portugal, foi uma brincadeira, mas pressiona. Sério Ma, tava feio. O olho era o que mais assustava, não dava pra abrir, ela tropeçava de falta de visão.

- E no final, apesar dessa porcaria toda, a louca da mulher dela assinou o divorcio?

           - Assinou ontem. Eu acompanhei. Assinou de boa, ate me assustei.

           - Fernanda, você não bateu na mulher não ne?! Sabe que isso da merd* pra você.

         - Claro que não fiz nada Marcela. Não que eu não quisesse, mas não fiz. Cheguei na casa dela e eu ia dar uma prensa para ela assinar, mas no final ela foi sem pressão alguma, de boa vontade. Eu até me assustei.

         - Perguntei porque vindo de você, poderia ser bem violento. Sei que você melhorou, mas vai que forçou a menina.

          - Jamais. Sei que fui meio que atrevida nisso, mas eu queria era ajudar a Carol e não arrumar mais briga. A carinha dela me contando que estava divorciada foi maravilhoso de ver. Me emocionei até.

         - Ai, eu imagino Fe. Ela deve estar precisando de muito amor e carinho mesmo. Mas fica tranquila que quando menos perceber ela já estará aqui com a gente.

           - Se essa droga de embargo passar. Me conta Marcela, qual a bomba? Estamos aqui conversando e tals, mas preciso mesmo é saber qual a bomba disso tudo - a Antônia entrou na cozinha para olhar os biscoitos. Enquanto a Marcela continuou falando.

           - Então Fe, começou assim. Um ou dois dias depois de você ir a trás-os-montes, eu recebi essa notificação que você precisava se apresentar ao chefe do condado para conversar sobre a construção do hospital. Eu achei estranho, mandei o engenheiro aqui da obra. Afinal, ninguém melhor que o engenheiro pra falar da obra. Quando o engenheiro apareceu, o chefe do condado nem quis atender, disse que apenas iria discutir com você pessoalmente. Eu vim pra cá então, peguei as cacetas de 8 horas de carro. Quando cheguei aqui, fui direto falar com o cara, não quis me atender. No dia seguinte fui de novo, já com aquela procuração que você me deu, aí ele me entregou esses papéis falando que a obra está embargada por falta de elevador, por falta do gerador da marca especificada e pela ausência física da solicitante da obra, vulgo você.

        - Esse cara tá louco, isso sim. Não tem como embargar uma obra por isso, que coisa absurda. E outra, eu pedi a obra, mas eu estou colada a cada um desses tijolos? Não to entendendo isso.

      - Eu falei tudo isso, falei que com a procuração eu tenho direitos legais de te representar e tudo mais, mas ele foi um grosso. Quase fui expulsa do gabinete dele.

         - Estou fazendo um hospital para população daqui. Que é no mínimo a obrigação dele como governante. Eu estou dando um hospital e ele atrapalha as obras? A função dele no mínimo é conseguir a internet que eu pedi, o que já passou até do prazo. Esse imbecil está hoje no gabinete?

      - Não mais. Essa hora ele já saiu. Ele quer te ver pessoalmente a todo modo Fernanda. Eu to achando isso bem estranho, estava tudo certo até o momento que você saiu pra ir para o Brasil. Não é estranho?

        - Ora pois, claramente que estas estranho. Para mim isso está a ser armaçao menina. Não achas Marcela? - começou a falar a Antônia, sentando na mesa para conversar conosco

         - Gente, é só um cara péssimo gestor e que deve estar querendo arrancar uma grana minha. Eu vou ameaçar ele isso sim, falar que tiro a produção do azeite daqui. O que vai ser desse condado sem a produção de azeite? Não vai ter emprego pra ninguém, vai virar uma cidade fantasma. Eu sei lidar com esse tipo de imbecil.

      - Não faça isso menina, as pessoas precisam do emprego que sua fazenda oferece.

- Eu sei Antonia, nem pretendo fazer isso, mas o cara lá não precisa saber disso. Essa é uma vantagem que tenho a depender do que ele me pedir amanhã. Esse imbecil não era aquele capacho do meu progenitor, o Eusébio?

- Não sei se ele trabalhava como seu pai Fe, mas o nome dele é Eusébio mesmo - A Marcela que comentou

- É ele mesmo, sem bem como negociar com ele. E se ele atrapalhar muito, eu peço ajuda do pai da Milena. Esse cara tem rabo preso com o pai dela, vai dar pra dobrar. Eu fico muito puta é de eu estar fazendo algo bom para a população e ele atrapalhar. Marcela, o que efetivamente está faltando na obra? O que eu preciso comprar para já adiantar o processo?

- Não está faltando nada Fe. O gerador não tinha marca especificada, você tem um da marca que achou mais vantajoso. O elevador já foi comprado e sera instalado na proxima semana, já temos a nota e tudo descriminado. A unica coisa que está faltando é a diretora clinica, que é a Caroline.

- Ah, mas isso ela volta em duas semanas, no maximo tres. Ela precisa estar aqui na inauguração, antes disso eu e você podemos responder por responsáveis.

- O problema todo é esse mesmo, o cara está arrumando pelo em ovo para atrapalhar. O que me intriga é como do dia pra noite tudo ficou errado. O que a Tonia falou é verdade, isso tem cheiro de proprina ou armação.

- Tonia? -  eu falei isso e dei uma risadinha e olhei para a Marcela, nunca vi ela mais vermelha.

- A Antonia. Para de arrumar problema.

- Marcela, se for armação ou algo assim, esse problema não vai parar por aqui, vai continuar mesmo com a inauguração, o que é de se preocupar.

- Sim, vamos precisar de uma assessoria jurídica de qualidade, para bater de frente com ele por meios legais.

- Eu vou tentar a conversa primeiro, às vezes dá certo. Se ele queria minha presença, eu estou aqui já. Daí se ele aumentar os problemas, não vou passar pano na cabeça de ninguém. Preciso de um hospital para Caroline trabalhar, imagina se fiz todo esse trabalho pra fazer ela ficar em portugal e não tem mais hospital, com que cara eu fico?

- Até parece que seu medo é falta de diretor clínico. Seu medo é ela não querer ficar e ir pro Brasil, mas Fê, o que eu conheço dela, quando dá uma certeza ela cumpre. Ela ficaria em Portugal mesmo que só para médica do ambulatório. Eu conheço bem a marmota.

- Marcela, como você conheceu a doutora? - falou a Antonia colocando na mesa, uma forma cheia de biscoitos com cheiros maravilhosos e um cafe fresco, que só ela sabe coar.

- Nossa, nem dá pra conversar com esses biscoitinhos aqui na minha frente -  deu uma risadinha, pegou alguns na mão e continuou a falar - Foi meio que uma coincidencia na verdade. Eu estudei com o pai dela, na faculdade.

- Com o Braga? - completei

- Isso com o Braga. Foi assim, pegue um desses congressos de 3 -4 dias,em São Paulo. Isso já faz uns 8 anos eu acho. Ai eu vi ela passando, pra lá e pra cá, com a mulher dela junto  - acho que eu automaticamente fiz uma cara feia, porque a Marcela riu da minha cara e fez um sinal de não com a cabeça, e continuou falando - Eu achei ela a cara do Braga, mas não queria perguntar do nada. Imagina, eu paro uma pessoa do nada e falo: Oi, você é a marmota, filha do Braga? Iria ficar bem estranho.

- Só um complemento, um dos caras que sequestrou ela, é um colega de faculdade, um tal de Puca. O cara chamou ela de Marmota o sequestro todo. Agora, quando ela escuta alguém chamando ela de Marmota, começa a tremer, chorar. Entra em pânico. Só pra te avisar, pra evitar chamar ela assim.

- Aí que pecado. Era o jeito como o pai dela chamava ela. Eu vi ela crescer, tive muito contato com o Braga e a esposa dele até quando a Carol tinha uns 4 ou 5 anos, depois disso perdi o contato. Ela tem a personalidade da mãe, mas a cara é cuspida e escarrada a do Braga, não tem como não pensar que são filhos.

- Você chegou a conhecer o Lucas, irmão dela? Eles são iguais, só muda o sex*.

- Jura? Ele deve ser a cara do Braga então. Enfim, ai eu a vi no congresso, mas nem incomodei, nem nada. Fui ver as palestras. Ai eu vi uma palestra que era sobre rastreamento de câncer feminino em áreas remotas. Super me interessei, nós já estávamos com o ambulatório aqui em Urros, quer área mais remota que aqui?  Entrei na palestra e vi que era ela, e que o nome era Caroline Braga. Na hora eu confirmei mesmo, cara do Braga, sobrenome dele e o mesmo nome que a filha tinha, deve ser a filha dele. Quando acabou a palestra eu fui falar com ela. Ah, detalhe, a mulher dela, toda ciumenta, colada na Carol. Quase que pedi licença pra conseguir falar com a menina, sério que garota chata a esposa dela.

- Marcela, ex esposa. Ex.

- Hahaha, como tem gente com ciúmes aqui! Continuando, quando acabou a palestra fui conversar com ela, ela confirmou mesmo que era filha do Braga, aí eu perguntei dele. Ela fez uma carinha meio ruim e me chamou para tomar um café. Cara, a mulher lá quase botou um ovo, sério. Quase que neguei o café.Ela pegou a bolsa e tals, a mulher colada, fomos até a lanchonete. Ela que pediu os cafés e não deixou eu pagar a conta, falou que era o mínimo de gentileza com uma velha amiga do pai dela.

- Ela é super atenciosa nessas coisas, acho fofo isso nela.

- Sentamos pra conversar, aí que eu descobri que o pai dela tinha sumido no mato da Amazônia depois que a mão dela tinha morrido, sumir é modo de dizer, ele foi trabalhar em uma aldeia indígena no meio da floresta. Eu achei bem estranho, já que o Braga era colado na filha, mas ele deve ter dado pau na época, não sei. Conversamos sobre a palestra dela, ela me contou que na época da faculdade, foi trabalhar um tempo em uma aldeia também, diferente da aldeia do pai dela. E que lá, as mulheres tinham cancer simples de fácil tratamento, em estagios super avançados, sem chance de de cura. Aí foi onde eu contei sobre Urros e o projeto, no caso seu projeto. Ela ficou apaixonada, os olhos brilhavam. Fez um milhão de perguntas pra mim. A chata lá, deu um corte, falou que Portugal não podia ser um plano no momento, que elas tinham outras preocupações. Ela queria sair de lá de qualquer modo. A Carol deu um corte, que eu quase abracei ela em agradecimento, ela falou que o assunto era importante, do interesse dela, se a chata quisesse ir ver alguma palestra poderia ir indo, depois ligava pra Caroline. Sério, os olhos dela brilharam, ela se encantou pela carência de Urros, pela possibilidade de cirurgias complicadas. Foi a partir desse dia que ela começou a fazer parte do projeto, mesmo que não pessoalmente. Não sei se você mesmo lembra, mas ela ajudou na ideação do ambulatório de oncologia.

- Eu lembro do nome dela nos documentos, mas não associei o nome ao rosto. Não sabia que ela tinha ido pra amazônia na faculdade.

- Precisa conversar mais com ela, ela tem uma vida cheia de histórias legais quanto a essas coisas sociais.

- Cara, mais um motivo porque esse hospital não pode ser embargado. Não tem pessoa melhor pra essa cargo que a Caroline.

- Ah, não tem mesmo. Eu recebi várias ligações e emails de hospitais próximos perguntando sobre ela depois daquele parto de emergência que ela fez. Todos querendo saber de onde veio a médica que operou de madrugada, a luz de velas. Tem muita gente querendo oferecer um mundo pra ela trabalhar junto. Fica de olho Fernanda.

- Daqui ela não sai não, nem que eu tenha que efetivamente pagar o chefe do condado. O que eu bem acho que não será necessário. Acho que uma boa prensa nele, vai resolver os problemas.

- Enfim, você dá seus pulos amanhã cedo. Eu vou voltar a Urros, preciso arrumar algumas coisas.

- Marcela, para de bobagem, já está tarde, tem quarto aqui em casa, pode passar a noite aqui.

- Não Fe, preciso mesmo ir. Meia hora daqui até la. Ah, seu carro já está em Urros, amanha cedo peço um carro para te buscar aqui.

- Aí, mais um motivo. Amanha vou com você até Urros, no seu carro. Ninguem gasta com mais nada. A Antonia salva a gente com uma jantinha simples, ou vamos comer em algum lugar. Todas as respostas estão aqui, é só você querer -  falei isso olhando diretamente pra ela, séria, para ela entender mesmo minha proposta

- Te ensinei bem negociação. Caraca. Eu passo a noite aqui então. Só porque você negociou bem.

- Eu sei, sou boa no que eu faço. Voces duas fiquem aí, eu preciso dar uma arejada nos ares, e preciso conversar com a Milena, ver se ela me apoia nessa negociação, se coloca a fazenda dela em xeque tambem.  - a Antonia que estava em silencio sepulcral, abriu a boca e começou a falar:

- Não dá apenas para “ligaire” para a Milena, “tens” que ir pessoalmente?

- Ela tem razão Fernanda, precisa ir lá?

- Gente, eu vou pedir pra menina enfrentar o cara em nome da empresa dela, tem que no minimo ser pessoalmente.

- Menina - Antonia continuou - ela é ardilosa, você sabe disso. Lembra das coisas que ela falou para a doutora? Você vai arriscar?

- O que ela falou pra Caroline?

- Que queria você de volta, a todo custo. Que você só estava com a doutora porque ela tinha ido embora. Essas coisas. Não é melhor ficar afastada?

- A Antonia tem razão Fe. Fica em casa, tenta resolver primeiro com o tal do Euzébio, se não der certo, aí você procura a Milena. Pensa se fosse ao contrario, você iria querer a Carol procurando o passado dela?

- Mas é em nome do projeto.

- Eu sei que é em nome do projeto. Mas existem coisas que a gente nem sempre consegue separar, a ajuda da Milena e da fazenda dos Almaço é uma dessas coisas, ela vai te cobrar pela ajuda. Talvez você ainda não esteja pronta para lidar com isso Fe.

- Vocês duas me vêem ainda como uma criança perdida no mundo, eu já sou bem  mais madura, viu. Eu não bati na mulher da Caroline, e isso é efetivamente uma representação do quanto eu cresci e amadureci. Eu fiquei louca de vontade de usar qualquer droga, principalmente cocaína, quando eu soube do sequestro dela, mas eu não usei. Eu consegui deixar ela no Brasil e ser madura de voltar pra cá para ver isso do hospital. Vocês não veem o quanto eu cresci e sou outra pessoa, alguém bem melhor. Me veem como uma criança, assustada, sangrando. Está na hora de vocês duas verem que eu cresci e sei lidar com meus problemas. Que raiva. - eu praticamente gritei com elas, de raiva e ódio.

Sai da mesa quase que batendo o pé, caraca como eu queria a Caroline aqui neste momento. Ela iria olhar pra mim com aquela cara de “estressada porque?” ou iria me colocar no colo dela e me encher de cafuné, até eu acalmar. Subi rapidamente até o meu quarto, minha primeira reação foi pegar o celular e discar o numero dela, uma vez e ela não atendeu, duas, tres, quatro, sete vezes. Desisti de ligar. Abri o armário e peguei uma blusa de frio mais quentinha, com o cair da noite Maçores fica bem fria. Peguei meu documento, o celular e sai. Desci a escada quase que como um foguete,  sem brecha para que nenhuma das duas pudesse falar algo.

Ainda dentro da fazenda Ganate, andei mais de 5 minutos, até chegar ao Harras. Eu não sou fã de andar a cavalo, mas na falta de carro, ele de cavalo mesmo. Dei uma olhadas nos lindões que estavam lá e identifiquei facilmente o Pirata, o cavalo que eu costumava andar quando era um pouco mais jovem. Ele chama pirata porque quando era pequeno, fazia de tudo para tirar a proteção dos olhos, acabava sempre ficando só com um dos lados, parecendo um pirata. Cheguei perto dele, com bastante calma, para não assustá-lo. Depois que ele me reconheceu e ficou calmo, coloquei a cela nele, montei e sai. Eu até poderia ir ver a Milena, mas infelizmente o que a Marcela falou é verdade, qualquer favor que eu pedir, ela irá cobrar. Acho que a melhor coisa a fazer mesmo é procurar um lugar calmo e com boa bebida.

Tem um bar, há uns 20 minutos da fazenda Ganate, onde eu costumava ir logo que voltei a Portugal. Como tudo aqui é feito de pedra e com mesas de madeira velha dentro. Espero que esse bar ainda esteja em pleno funcionamento, já que faz anos que não passo nem na porta. Peguei o Pirata, e fui calmamente cavalgando, primeiro pela estrada de terra, logo depois pela estrada de pedra. Quando encontrei ao final da rua a velha casinha de pedra, meu coração se acalentou e acalmou com a enxurrada de lembranças que me preencheram. Desci do cavalo e amarrei ele no suporte onde haviam outros cavalos, com água e comida para todos.

Empurrei a portinhola de madeira, com calma. Quando entrei no bar, o calor preencheu o meu corpo e a primeira ação que eu tive foi de tirar o casacão que eu vestia. O lugar continuava o mesmo, com as velhas mesas de madeira, as paredes de madeira, com prateleiras e prateleiras de álcool da melhor linhagem. Dei uma olhada rápida no espaço, graças a Deus eu não reconheci ninguém e se alguém me reconheceu, não me convidou para a mesa. Sendo assim, sentei em uma mesa no canto do bar, mas de fácil visualização de um dos garçons. A primeira coisa que pedi foi uma garrafa de Periquita, sim, não existe vinho melhor que esse para uma sapatão. Logo em seguida eu pedi umas porções de algumas coisas, para ir beliscando e não deixar o vinho subir muito, voltar pra casa bêbada já é difícil, em cima de um cavalo vai ser mais complicado ainda.

Quando vinho chegou geladinho, eu nem fui educada, enchi a taça e virei de uma só vez. O álcool associado ao gelado, bateram no meu estômago e fizeram rapidamente meus pelos levantarem, e uma sensação de plenitude me completou. Virei mais uma taça. Apenas na terceira houve uma  degustação, bebendo aos poucos, sentindo o sabor e o gosto.

A primeira garrafa acabou em menos de meia hora. As porções de comida ainda não tinham chegado e eu já estava com os sentidos bem mais lascivos e bem mais solta. Se esse era o objetivo, eu bem estava conseguindo. Chamei o garçom e questionei quanto a demora da comida. Enquanto fiquei observando ele ir buscar, ao lado a porta abriu, assim como fez várias vezes desde que estou aqui, mas dessa vez trazendo quem eu não queria encontrar, a Milena.

A primeira reação dela foi sorrir para mim, como se isso qui fosse coincidência,sendo que conhecendo bem ela, eu sei que não é. Eu fechei minha cara e virei mais uma taça, claramente com a mensagem de não sente comigo. Sério que eu imaginei a cara da Caroline se ela estivesse aqui, séria, fechada e dando altos cortes na Mi, nao resisti e acabei rindo, sem nem perceber.

- Se estar a rir de mim, quero saber qual a graça! - Falou sentando na cadeira ao lado, na mesma mesa.

- Estava pensando na Caroline aqui, exatamente nessa situação, como estaria te dando uns cortes, séria.

- Sua namorada não gostas de mim, eu não culpo ela. E essas piadas é a maneira dela demonstrar como sou uma ameaça.

- Mi, senta em outra mesa, eu vim pra beber e relaxar. De briga eu já estou cheia.

- Fefa, fiques tranquila, nem vou falar nada. Posso ficar aqui com você se eu ficar quieta?

- Só não fala nada da Caroline, por favor. Eu já estou cheia de saudades dela, você falar mal não ajuda em nada.

- Não vou falar nada. Já pedistes comida? Esse vinho já te fez subir.

- Eu pedi, o garçom foi buscar.

- Você perdestes um pouco daquele sotaque português que tinhas, está falando muito portugues do Brasil.

- É que a Carol fala assim e com esses dias que fiquei no Brasil, deu pra perder um pouco do puxado lusitano.

- Sim, acaba dando essa mudança, você veio montada no Pirata?

- Acabei vindo, meu carro está em Urros, não quis pedir carona para ninguem.

- Achei que não andavas mais a cavalo. Eu estava cavalgando pela região, apenas dando uma volta, quando vi o pirata acabei entrando, no final acho que foi o destino me trazendo pra cá.

- Destino Milena?

- Sim. Claro. Estou a cavalgar por aí e esbarro com seu cavalo na porta de um bar, só pode ser o destino isso.- Por sorte o garçom interrompeu nossa grande conversa trazendo as porções, eu sem nem pensar muito, pedi mais uma garrafa de vinho. - “Vais” tomar mais vinho, não já estas alta?

- Se veio aqui para me dar bronca pode ir embora. Eu vim aqui beber para relaxar e não estourar com ninguém.

- Fefa, porque estás assim comigo? Não somos amigas? Estas arredia, com medo.

- Não é isso Mi. Eu estou pilhada, cheia de problemas. A Carol está no Brasil sozinha, você aqui em cima de mim, ela não gosta de eu andando com você.

- E desde quando você deixa alguém mandar em você?

- Não é mandar em mim, é uma questão de lealdade, fidelidade.

- Mas estás a trair ela só por falar comigo?

- É uma fidelidade de princípios. Não quero machucar ou chatear ela.

- Mas e você, será que ela se preocupa em não te machucar? Cadê ela? Porque não estás aqui com você? Vejo uma mulher linda, bêbada e sozinha em uma mesa de bar. Não vejo problema algum em eu conversar com você, estamos apenas conversando.

- Ela ficou no Brasil para  fazer uma cirurgia, vem para cá depois.

- E você não ficastes com ela porque? Se amas tanto a garota. Não é no mínimo estranho?

- Eu estou com um problema na construção do hospital, tive que vir resolver. Ela não podia vir, eu vim. Em duas ou tres semanas ela estará aqui. Não vai demorar. Não podemos por favor falar de outra coisa? Não quero mesmo falar da  Carol com você. É capaz de respeitar?

- Tudo bem, então deixa eu te falar. Meu pai quer se aposentar e cuidar da vida dele, ele me propôs assumir a fazenda e a produção do Azeite Almanço.

- Mas isso não iria acontecer de todo modo?

- Sim, mas não agora. Era para acontecer daqui 10 ou 20 anos, ele antecipou tudo. Vou assumir a empresa antes mesmo de completar 30 anos, isso não é fantástico? Fica feliz por mim Fefa, pelo menos uma vez.

- Eu até estou feliz Mi, mas eu te acho tão jovem pra fazer isso.

- E você é super madura para gerenciar um hospital, criar uma rede de atendimento toda?

- Eu tenho pessoas de ótima qualidade me ajudando, e nem sou eu que gerencio isso tudo, eu meio que só rabisco os papéis no final. Isso dá trabalho.

- Cacete, não tem como eu não falar da sua mulher. Desde que ela apareceu na sua vida você mudou, tempos atrás me daria uma força gigante, agora fica ai falando que sou frágil, jovem de mais. Quem é você Fernanda? Cada mulher que passa por você te muda assim? Ou está tão de quatro que nem sabe mais quem você é? Começa a pensar nessas coisas e em tudo que vai perder ficando com essa brasileira. Ela não é pra você Fefa, um exemplo simples, cade ela? Você com todos esses problemas? Cade? E você se poupando de viver, esperando ela, e se no Brasil ela estiver vivendo, sendo feliz. Se ela não veio com você, ela não vai vir mais. Ela não veio junto porque quer viver sem você, quer viver livre. Se te amasse de verdade não iria estar lá e sim estar aqui, ao seu lado, nesse bar, como eu estou. Apaixonada como eu estou.

Eu levantei da mesa, abri minha carteira, joguei 100 euros na mesa e sem olhar para trás sai do bar, montei no Pirata e comecei a cavalgar, não para casa, mas sim para encosta do Douro.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 50 - Capítulo 50:
Elizaross
Elizaross

Em: 25/03/2019

Porrrrarara .... Lá vem drama de novo... 

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