Capítulo 16 Surpresas
Cap. 16: Surpresas
Elisandra
Acordar, estava se tornando um pesadelo no último mês, minhas noites eram agitadas, tensas, mas nada que se comparasse com a angústia que era viver a vida de um Romero naquela situação. Fabrício passara a forçar a barra comigo, insistia diariamente para que transássemos, para que voltássemos a ser o casal de antigamente. No entanto, já não havia desejo da minha parte, não havia vontade, muito menos "estômago" pra isso, até porque o domínio do meu corpo e da minha mente, era de uma única pessoa, de uma única mulher.
Passei a me inteirar com o trabalho na fazenda, até mesmo fiquei a par do andamento dos negócios das outras propriedades que nos pertenciam, tudo numa vã tentativa de esquecer, aqueles olhos, os olhos verdes cintilantes de Carmen.
Mamãe estava sendo extremamente importante pra mim naquele momento, ligava para ela diariamente, havia contado tudo que se passara desde que cheguei em Bonito, omitindo apenas o meu envolvimento com Carmen, no entanto, mamãe perguntou diversas vezes o "quanto" eu havia me apegado a bela morena com sotaque espanhol.
Logo depois do almoço, estava sentada na varanda com meus irmãos, quando um táxi se aproximou, com um tanto de dificuldade devido ao terreno desregular.
Poderia ser qualquer um, mas para meu alívio e minha alegria, era mamãe, com a família toda. Levantei logo que a vi, e desci rapidamente as escadas indo de seu encontro.
--Mamãe!
A abracei com toda saudade reprimida, e sem mais controlar a minha fragilidade emocional, chorei nos seus braços.
--Ow minha menina, não chore.
--Ah mamãe, que saudade...
--Também minha filha, eu também...
Soltei-me de mamãe, e abracei minha linda irmãzinha, que já estava se tornando uma linda mocinha.
--Minha princesa, vem cá... Esta tão linda.
Até mesmo vovó viera, toda alegre e distraída como sempre. Cumprimentei meu padrasto, pois também sentira saudades dele, e então entramos no casarão. Já na sala, mandei Ernesto chamar dona Teresa, pois a considerava parte da família, e queria que conhecesse a minha.
Após alguns minutos, já havia apresentado todos, um por um.
--Minha filha, eles são lindos, e extremamente educados.
Mamãe se referia aos meus irmãos.
--Verdade mãe! Eles são mesmo uns amores, vão se dar muito bem com minha princesa, não é Emília?
Emília era minha irmã de 11 anos, filha de mamãe com Moisés o atual marido dela.
Estava radiante, mamãe e dona Teresa logo pareciam amigas de infância, conversavam animadas com vovó a todo instante as interrompendo com alguma curiosidade um tanto infantil. Ernesto, Juanes e Emília, logo saíram pra brincar no gramado em frente à fazenda, enquanto Moisés conversava com Fabrício, o único ali que eu não amava, sorri com meu próprio pensamento, mas logo me entristeci, pois faltava uma pessoa entre nós, que eu amava muito, e queria ali.
Levantei-me, e andei em direção a janela, uma tristeza profunda bateu-me ao lembrar de Carmen. Mamãe aproximou-se.
--O que houve filha?
--Nada mamãe...
--Como nada? Não está feliz por ter sua família "toda" reunida?
--Claro que estou mãe, só que... Nem toda a família está aqui...
--Fala da moça espanhola?
--Chilena mamãe...
--Que seja. Gosta muito dela não é?
--Muito...
Mamãe calou-se, pois dona Teresa aproximou-se de nós, provavelmente havia ouvido nossa conversa, e ficara triste pois sua filha ainda estava presa.
--Minha menina, vou voltar para ajudar Maria, ela tem muito o que fazer...licença.
Assim que ela se afastou.
--Será que ela nos ouviu Lisa?
--Provavelmente, ela é quem mais tem sofrido com a prisão de Carmen.
--Você também não é?
Não respondi, aquela conversa já estava me emocionando, se continuássemos, desabaria na frente de todos, e não queria intrigar Fabrício, já estava insuportável aquela situação, imagina se ele desconfia do que se passou, e dos meus sentimentos por Carmen.
--Acho que está na hora de romper seu namoro com Fabrício...
Assustei-me com o que mamãe dissera, fixei meus olhos nos seus e não compreendi o que via neles, então mamãe deu-me as costas indo se juntar a Moisés e Fabrício.
* * * *
Carmen
Estava sentada na cama, as outras detentas conversavam do outro lado da cela enquanto eu viajava nos meus pensamentos. Tinha plena consciência da minha situação, provavelmente seria condenada e passaria longos anos ali, naquele lugar horrível, em companhia de pessoas completamente estranhas.
Meus pensamentos voavam, e iam ao encontro de mamãe, não conseguia sequer imaginar sua situação, deveria estar arrasada, pois eu jamais a deixara por tanto tempo desde a morte de papai, sentia saudades. E os meus meninos? Ah como me arrependia de ter me afastado deles desde que Joan falecera. Não tinha me afastado propositalmente, apenas não sabia como reagir perante aquela situação, Joan sempre fora meu amigo, meu protetor, cuidara de mim desde que papai faleceu, e devido a responsabilidade que me delegara, em cuidar de sua família, fiquei bastante assustada, pois não sabia ao certo como proceder.
Apertei as têmporas, estava cansada, me sentia exausta, sabia que não estava me alimentando direito, pois havia emagrecido bastante, mas devia esse cansaço também, a meu psicológico que estava bastante abalado. Pois, se não bastasse a minha situação deprimente, ainda tinha que engolir meu ego, e aceitar ser defendida pelo estúpido noivo de Elisandra, a minha linda Elisandra, linda e mentirosa, falsa, sínica. Não entendia como e porque, ela tinha omitido o fato de ser noiva, e muito menos entendia o seu egoísmo, me envolvera em uma teia, sem dar-me chances de resistir aos seus encantos, sem a menor intenção de ficar comigo, de verdade.
--Garcez? Você tem visita.
Meus devaneios foram interrompidos pela carcereira, não era dia de visitas, e na verdade eu não recebia nenhuma além do almofadinha, a segui mesmo intrigada.
Ao chegar na sala reservada para visitas, onde sempre me encontrava com Fabrício, deparei-me com alguém que eu definitivamente, não tinha o menor interesse em ver.
Fim do capítulo
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