Capítulo 15 Tempo
Elisandra
Fabrício fora visitar Carmen na companhia de Bonardi, que passou o caso para ele. Na volta para a fazenda, ele estava calado, pensativo e isso só acontecia quando algo o incomodava, e isso me deixara intrigada.
A vida na fazenda perdera a graça pra mim, não voltei a sair pelas terras da propriedade depois do passeio na cachoeira com Carmen. Ernesto e Juanes andavam cabisbaixos, apesar de tê-los trocado de escola como haviam pedido. E dona Teresa? O que falar dela, estava muito abatida coma a situação da filha, então a esposa de Joaquim passou a ajudá-la no trabalho da casa, enquanto o marido tentava a todo custo, suprir a falta de Carmen na administração prática da fazenda, mas não estava dando conta.
Um mês já havia se passado, estava sentada na varanda em uma tarde qualquer, quando Joaquim aproximou-se receoso.
--Sra. podemos falar um minuto?
--Claro. Sente-se.
--Obrigado. Mas estou bem em pé.
--Pois bem. Diga o que precisa.
--Então Sra. Romero, não se Carmen mencionara antes disso tudo acontecer, que antigamente quem tomava conta da administração financeira e burocrática da fazenda, era o Sr. Romero.
--Sim, ela mencionou.
--Então, com Carmen no comando, por mais complicado que fosse ela sempre dava um jeito de manter as coisas nos eixos, mas agora, não consigo sequer suprir sua ausência no trabalho prático, imagina então no burocrático.
--Não se preocupe, ela vai voltar.
--Sim Sra. mas acontece que está um caos, não só na fazenda mas também nas outras propriedades...
--Ela vai voltar Joaquim.
--Mas Sra. essas coisas demoram...e não temos tempo pra esperar, precisa fazer alguma coisa.
Sabia que ele tinha razão, mas não queria nem imaginar viver mais tempo longe de Carmen, pior, imaginá-la em uma cela qualquer de um presídio imundo.
--Diga-me do que precisa, e eu o ajudarei.
E assim o fizemos, Joaquim fez um relatório completo de tudo que era preciso pra que as coisas voltassem a correr normalmente por ali.
* * * *
Durante a noite já no jantar, Ernesto e Juanes finalmente manifestaram-se em relação ao que os incomodava.
--Lisa?! Ernesto e eu queremos pedir algo...
--Diga Juan.
--Queremos ver a Carmen.
--Não dá, não podemos meus queridos, também gostaria muito de vê-la, dona Teresa também. Mas a justiça só permite que Fabrício a visite.
--Por quê?
--Porque ele é advogado dela.
--Mesmo assim...
Fabrício, estupidamente preconceituoso e inconveniente.
--Sinceramente não sei o que aquela sapatão tem, que todos a veneram...
--FABRÍCIO!
Não podia acreditar no que acabara de ouvir, não acreditava na audácia e na coragem que ele teve, de fazer tal comentário na frente de dona Teresa, que apenas baixou a cabeça contendo as lágrimas antes de deixar a sala de jantar.
--Meu amor, é sério, não consigo entender esse apego que todos...
--Cale-se! Não admito que abra a boca pra falar tais coisas novamente, debaixo do meu teto. Se ousar ofender a Carmen ou qualquer outra pessoa dessa família novamente, você sairá por aquela porta pra não voltar mais. Pois não pense que é o único advogado do mundo.
--Está questionando minha competência?
--Estou apenas lhe dando um aviso, pois já estou arrependida de ter aceitado suas condições para defender Carmen, até porque não conseguiu SEQUER um habeas corpus.
--Pois bem meu amor farei tudo que desejas, mas vou lhe avisar de uma coisa. Se sou bom como aliado, como inimigo sou melhor ainda.
Com o sorriso mais cínico possível, Fabrício deixou a sala de jantar.
Afinal, o que fora aquilo? Uma ameaça?
* * * *
Carmen
Os dias iam se passando, no quarto dia desde que estava presa, fui transferida para o presídio, onde passei a dividir a cela com mais três detentas, ambas condenadas por homicídio.
Estava abatida, mais magra que quando ali chegara, com saudade de mamãe, de casa, dos meus meninos, da minha Elisandra, ou seria a Elisandra de Fabrício? Na verdade eu nem sabia mais quem ela era e de quem era. O seu suposto "namorado", passou a visitar-me quase que diariamente, me fazendo sempre uma série de perguntas, as quais metade não eram relacionadas ao que me mantinha ali, perguntas essas que eu fazia questão de ignorar, o deixando impaciente.
Estava sentada mais uma vez, diante do jovem exibido de terno e gravata, e de sorriso esnobe.
--Entrei com um pedido de Habeas Corpus.
--Demorou...
--Somente o necessário...
--Necessário pra quê?
--Não importa, se o juiz aceitar, até amanhã estará fora daqui, para que responda o processo em liberdade.
Suspirei, era o que eu mais queria, estar livre daquele tormento, estar perto da minha mãe de novo, dos meus meninos, da minha Elisandra...da minha ou da Elisandra de Fabrício, pois já não sabia quem e de quem ela era.
-- Ótimo.
--Precisamos deixar algumas coisas claras aqui, algumas coisas que ainda não foram mencionadas...
--Quais?
--Bom, acho que já sabe que vim do sul, mais precisamente da mesma cidade que Elisandra vive com a família...
--Vivia...
--E que voltará a viver...
Senti o sarcasmo em sua voz.
--Ao se casar comigo.
Não podia acreditar no que ouvia, casar? Ela iria se casar com ele? Com aquele imbecil? Aquele banana que estava ali me defendendo? A pedido dela? Sim ela havia mandado o namorado, noivo, o raio que o parta para me defender? Mas porquê? Pelos irmãos, lógico, pra não sujar o nome da família talvez, ou pelo carinho que tinha para com minha mãe.
Fiquei ali sentada, encarando os mais cínicos olhos que já havia visto, ele estava orgulhoso, prepotente, como se soubesse do amor que eu sentia por aquela usurpadora, e tivesse vindo tripudiar sobre minha derrota. Fechei a cara involuntariamente, não daria o gosto a ele de me ver chorando, mais que isso, não choraria por ela, não me permitiria derramar uma sequer lágrima por ela.
--Meus parabéns.
Seu sorriso se abriu ainda mais, levantou-se e antes de sair completou.
--Ela quer que esteja livre o quanto antes, pois terá muito gosto que seja madrinha de nosso casamento, que acontecerá o mais breve possível. Sabe como é, já não podemos esperar...
O vi sorrir mais uma vez antes de sair.
Fim do capítulo
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