Capítulo 12 Carinho
Elisandra
Estava nervosa, ansiosa, completamente perdida nos meus pensamentos, dona Teresa também estava aflita com a filha, sabia que ela havia ido "aprontar" alguma, e por isso estava muito nervosa e isso acabava me contagiando. Temia por Carmen, pela sua integridade, temia por tudo afinal não sabia o porquê ela havia ficado daquela forma, e saído tão descontrolada de casa.
Dona Teresa estava na cozinha com meus irmãos, havia servido o almoço deles e estava tentando não contagiar eles com seu próprio nervosismo, enquanto eu fazia "buracos" na varanda, de tanto andar de um lado para o outro.
Para meu alívio, ou nem tanto, avistei a camionete de Carmen se aproximando do casarão, ela vinha em alta velocidade o que deixou meu coração "pequenininho". Quando ela parou, desci as escadas as pressas indo ao seu encontro, e no caminho congelei, fiquei apavorada ao ver Carmen descer da camionete, completamente suja de sangue.
--Meu Deus! Carmen...
Corri na sua direção, segurando-a em seus braços com todas as forças que possuía, com o coração apertado, e uma vontade insana de chorar por vê-la naquele estado.
--O que houve Carmen? Você está bem?
Ela não falava, tentava desvencilhar-se de minhas mãos e andar na direção do casarão, e nesse momento sua mãe apareceu tão aflita quanto eu.
--Por Deus minha filha! O que você foi fazer?
--Eu estou bem mãe.
--Bem? Olha pra você. Está ferida, melhor ir a um hospital...
--Não é preciso mãe...
--Dona Teresa tem razão Carmen, você esta sangrando...
No entanto, Carmen não nos deu ouvido, entrou em casa e como se todo aquele sangue não fosse nada, entrou no quarto e trancou-se no banheiro. Dona Teresa e eu ficamos ali a sua espera, Joaquim que estava na companhia dos meninos para que eles não vissem Carmen naquele estado, ligou para o médico da família, e pediu que viesse cuidar de Carmen.
Longos e angustiantes minutos se passaram, e então Carmen saiu do banheiro, havia tomado banho, estava vestindo apenas calça jeans e um sutiã, e segurava uma toalha na testa onde provavelmente estava o ferimento.
--Minha filha, o que você fez?
--Nada mamãe.
--Como nada? Se feriu sem fazer nada é isso?
--Foi um acidente mamãe, não era pra acontecer...
--Meu Deus Carmen! Como se sente minha menina?
--Estou bem mamãe. Não se preocupe. Só preciso falar com o Dr. Bonardi...
--Ele está no escritório Carmen, sua mãe pediu que o chamasse assim que você saiu.
--Obrigada, peça pra ele vir até aqui por favor Elisandra.
--Claro. Mas você precisa cuidar disso ai...
--Estou bem, já disse. Podem sair eu preciso falar com Bonardi a sós.
Dona Teresa e eu relutamos, mas atendemos ao pedido de Carmen, que passou cerca de meia hora trancada no quarto com o advogado, que só deixou a fazenda depois que o médico chegou para cuidar de dela.
* * * *
Carmen
Depois de ter contado ao advogado Cláudio Bonardi, nos mínimos detalhes o que aconteceu no escritório de Rogério, o médico que cuidava de Joan chegou, e com a insistência de mamãe e Elisandra, deixei que suturasse o corte no meu supercílio, e que desse-me uma medicação para dor, tanto do corte quanto da costela que doía bastante, mas aparentemente não havia sido fraturada.
Não quis comer nada no restante do dia, nem conversar com ninguém, mamãe me conhecia, sabia que eu havia feito alguma besteira, e acreditava que tudo se resolveria da melhor forma possível. No entanto, ela não imaginava a gravidade do que acontecera naquela tarde.
Eu não sentia muita dor, na verdade dor física era pouco ou quase nada, que eu sentia naquele momento, mas a consciência, o remorso que me tomava, esse sim estava me assombrando. Poderia ter deixado duas crianças órfãs.
Já durante a noite, eu estava deitada na cama, no escuro do meu quarto, quanto alguém bate na porta e perante o meu silêncio, entrou mesmo sem ser convidada, imaginava quem era.
Elisandra aproximou-se da cama com uma bandeja nas mãos, depositou sobre o criado mudo e acendeu o abajur, sentando em seguida ao meu lado na cama. Seus olhos cor de mel estavam marejados, senti um aperto imenso no peito ao vê-la naquele estado, sustentei o olhar enternecida com o que via nos seus olhos, via carinho, compaixão, e isso me aliviava a alma, pois tudo que eu mais queria naquele momento, era colo de Elisandra.
--Trouxe seu jantar... E não adianta dizer que está sem fome.
Sorri, ela estava linda naquele pijama de florzinha, super infantil. Segurei sua mão com carinho, e depositei um beijo terno sobre ela.
--Eu estou morrendo de fome.
Então mesmo sem vontade, mas para não decepcioná-la ou chateá-la, comi tudo que ela havia trazido para meu jantar.
--Carmen...?! Quer me contar o que aconteceu?
Não! Claro que eu não queria contar o que havia acontecido, não queria decepcionar Elisandra, não queria que pensasse que eu era uma louca desequilibrada, uma assassina fria ou qualquer outra coisa do gênero. No entanto, o carinho que via em seus olhos, era o apoio que eu precisava, então eu contei tudo que aconteceu, mas antes, contei tudo que se passou entre Joan e Rogério.
Ao terminar todo o relato, via angústia, espanto e medo em seus olhos, meu coração apertava ao imaginar que ela estava sentindo medo de mim.
--Carmen... Porque você fez isso?
--Não vou permitir que ninguém maltrate os que amo.
--Mas Carmen, em momento algum, Ernesto, Juanes, ou eu falamos que eram esses meninos, filhos do tal promotor que estavam cometendo bullying com eles...
Congelei, só agora que Elisandra falou, que eu lembrei que ela não dissera nomes, não citara ninguém especificamente.
--Eles só disseram que os meninos maiores zombavam de Ernesto quando Juanes ou você não estão por perto...
Fechei os olhos ao me dar conta da besteira que havia cometido, eu podia ter acabado não só com a vida de Rogério, mas com a minha também. Passei a mão nos cabelos ainda de olhos fechados, com uma vontade tremenda de chorar, estava emocionalmente exausta. Era muita pressão que eu estava passando nos últimos tempos.
De repente, senti Elisandra encostar o rosto sobre meu peito, e chorar copiosamente agarrada em meu corpo. Retribui o abraço, entendendo o dilema que ela devia estar passando, provavelmente eu seria presa e ela não conseguiria dar conta de tudo sozinha. Apertei-a mais e mais a mim, queria marcar seu cheiro em meu corpo, porque no meu coração ela já estava gravada.
Senti o toque suave de seus lábios sobre os meus, senti seu rosto molhado de lágrimas em contato com o meu, e ouvi sua voz manhosa quase que numa súplica me dizer.
--Tive tanto medo por você... Por favor, Carmen... Nunca mais faça nada... Que te afaste de mim...
Não respondi, não havia nada que u pudesse dizer naquele momento, apenas a abracei mais forte, e a aconcheguei em meu corpo e assim, dormimos juntas como não se repetiria por um longo tempo.
Fim do capítulo
Aguardo comentários. Beijos
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Marta Andrade dos Santos
Em: 19/03/2019
Eita tá esquentando.
Resposta do autor: Só um pouquinho.
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