Capítulo 11 Selvagem
Elisandra
Estava chateada com Carmen, crente que ela estava arrependida de ter ficado comigo, por causa da namoradinha, ou que não que tivesse gostado. Confesso que o ciúme, e o orgulho ferido me fizeram ficar temporariamente, tão ríspida quanto Carmen quando a conhecera.
--O que quer?
--Porque seus irmãos não foram a escola?
--Meus irmãos têm nome sabia?
--Sabia sim Senhora Porque não foram?
--Isso não é problema seu não é?
--Claro que é! Os meninos são importantes pra mim, tudo que se passa com eles é problema meu sim.
--Não parece, você virou as costas pra eles...
--Não é verdade. Jamais virarei as costas a eles.
--Então porque se afastou deles no momento em que mais precisam de você?
--Não me afastei...
--Ah não? Você permitiu que eles sofressem perseguições na escola, deixou eles se virarem sozinhos, ao menos tivesse me avisado o que se passava com Ernesto, que eu mesma o protegeria já que você não faz.
--Eu não posso levá-los todo dia a escola.
--Podia ter me dito que ele sofria bullying, por ter uma inteligência acima da média...
--Sra. não posso fazer tudo sozinha, você não me ajuda em nada, nem em relação a administração da fazenda ou em relação aos meninos...
--Mentira, eu pedi pra você mostra-me a fazenda ontem, pra que pudesse te ajudar e você não o fez.
--Como não? E o que fizemos pela manhã?
--Nos beijamos. Você me beijou na verdade.
--Isso não vem ao caso agora.
--E porque não? Tem medo que sua namoradinha descubra? Pois pensasse nela antes de me atacar.
--Eu não te agarrei.
--Agarrou sim.
--Deixa de ser criança Elisandra.
--Agora é Elisandra não é?
Ela revirou os olhos, eu amava vê-la irritadinha assim, me dava tesão, aliás, tudo em Carmen me causava tesão.
--Ok? Não vem ao caso quem agarrou quem. Quero saber dos meninos nada além disso me interessa nessa casa.
Doeu, era a confirmação que ela não ligava pra mim, que havia me usado como se eu fosse uma qualquer, certamente amava a tal Juliana. Respondi a altura.
--Ainda bem. Detestaria ter uma mulher correndo atrás de mim, meu negócio é homem sabe?
Pela primeira vez desde que conheci Carmen, vi os lindos e claros olhos verdes que tanto amava se tornarem turvos, escuros, foscos, assustadoramente frios.
--Vou perguntar pela última vez. Porque Ernesto e Jaunes não foram a escola?
--Porque Juanes acha que não é necessário freqüentar a escola integralmente, e também porque Ernesto tem sofrido bullying, desde que você parou de acompanhá-los até a escola. Juanes tem arrumado confusão pra defender o irmão. Não vou obrigá-los a voltar pra lá, não vou permitir que...
Tive minha frase interrompida por um murro de Carmen na mesa, ela estava irritada, nervosa, completamente irada, e confesso não saber se isso se devia apenas ao que se passava com meus irmãos.
--Eu avisei aquele miserável...
--Como? Avisou quem de que?
Não obtive resposta, Carmen deixou o escritório furiosa, pisando duro. Sai as pressas atrás dela, para tentar entender o que ela falara ou que tentara falar, mas apenas a vi entrar na camionete que estava parada em frente a varanda, e sair fazendo poeira pela estrada rumo a cidade. Juanes e dona Teresa vieram ao meu encontro, a mãe de Carmen se pronunciou.
--Onde Carmenzita está indo?
--Não sei.
--Brigou com ela?
--Não, não Juan, ela... ela ficou assim quando contei o que está se passando com vocês na escola, disse que avisou alguém de alguma coisa e saiu as pressas.
--Droga.
--Sabe o que é Juan?
--Imagino.
--Sabe menina, minha filha é muito brava, defende os que ama com a própria vida, não permite que ninguém maltrate um dos seus...
--Sem rodeios dona Teresa, por favor?!
--Ela está indo atrás de Rogério. Promotor Rogério Minardi.
--E quem é esse?
--Pai dos garotos que zombam do meu irmão. Carmen disse que se ele não desse um jeito nos filhos, era ele que acertaria as contas com ela.
--A meu Deus. Mas o que Carmen pode fazer contra um promotor?
--Minha filha é um amor de pessoa menina, mas tem o gênio do pai. Ela não teme nada nem ninguém, quando o assunto é sua família, tenho medo por ela, pelo que pode acontecer...
--Ele não vai machucá-la não é?
--Não mana, mas ela vai machucar o cara, e muito.
--Minha filha vai fazer besteira de novo.
--Como assim?
--Chame o advogado de Joan menina, minha filha vai precisar...
Mesmo sem entender nada, fiz exatamente o que dona Teresa me aconselhou.
* * * *
Carmen
Nunca aceitei e não seria agora que eu iria aceitar que alguém maltratasse os meninos. Não era a primeira vez que os filhos gêmeos de 17 anos do promotor Rogério Minardi cometiam bullying com Ernesto que tinha apenas 12, era covardia, e o pior é que sempre foram apoiados pelo pai. Rogério era inimigo mortal de Joan, pois quando mais jovem fora apaixonado por Madalena Muñiz, que preferira Romero para ser seu marido. Então, a partir do casamento de Joan e Madalena, Rogério tem atormentado a família Romero de todas as formas possíveis, e durante o ano passado quando soube o que estava se passando com Ernesto, eu tive uma conversa de "homem" com Rogério, e pedi educadamente que tomasse uma atitude e fizesse com que os seus filhos parassem de atormentar os meninos, ou eu tomaria uma atitude drástica, e ele é quem pagaria pelos erros dos filhos. No entanto, meu aviso parece não ter funcionado, e como não costumo quebrar minhas promessas, fui ao seu encontro.
Entrei no escritório de Rogério sem ser anunciada, o pegando de surpresa. Havia mais um rapaz na sala, deveria ser seu assistente.
--O que significa isso? Como ousa invadir meu escritório assim?
--Eu avisei você lembra? Avisei pra se manter e manter a sua família longe da minha, lembra?
--Sai do meu escritório agora ou...
--Ou o que? Vai chamar um bando de macho pra te defender de uma mulher? Isso seu covarde? Ou talvez vá pedir aos seus filhos que venham aqui?
--Chame os seguranças Ricardo!
--Não ouse obedecê-lo, ou vai se arrepender.
O rapaz que já estava com a mão no telefone, parou um tanto receoso com minha ameaça, mas Rogério que já havia saído de trás de sua mesa e estava perto do jovem, insistiu.
--CHAME AGORA!
E assim o rapaz o fez.
--Seu miserável, covarde! Eu vim até aqui apesar da minha raiva, para resolver isso sem precisar sujar as mãos, mas você parece ser masoquista não é?
--Cale-se sua sapatão! Vai se arrepender de ter invadido meu escritório...
Nesse momento, dois homens fortes vestidos de terno preto entraram na sala.
--Tirem essa louca daqui.
Não tive tempo de revidar com palavras, pois os homens se aproximaram de mim, cada um tentando segurar um dos meus braços. No entanto, quando o primeiro tocou em mim, rapidamente soquei seu abdômen com fazendo com que se curvasse, e assim atingi seu rosto com o joelho o nocauteando. O segundo já receoso, tentou acertar meu rosto com um soco, porém mais rápida desviei segurando-o pelo braço que falhou no golpe, girei meu corpo ficando atrás do homem, e com toda força que consegui, empurrei-o pelo pescoço fazendo com que batesse a testa na mesa de Rogério, deixando-o também inconsciente.
Porém, no momento que derrubei o segundo segurança, e estava voltando minha atenção e meu corpo na direção de Rogério, fui atingida por um porta canetas de vidro, que com o impacto no meu supercílio, deixou-me completamente zonza.
Senti o sangue quente descer por meu rosto, e em seguida outro golpe do rapaz que era assistente de Rogério, dessa vez já desarmado do porta canetas, atingiu-me com um soco no lado esquerdo do meu abdômen, próximo as costelas, me fazendo recuar em direção a mesa.
Firmei-me na mesma já me recuperando da tontura causada pelo golpe, e quando mais uma vez o jovem tentou me acertar, apoiei-me na mesa e o acertei com os dois pés, fazendo com que caísse de costas no chão, e rapidamente fui até ele chutando seu rosto.
--Filho da puta!
Procurei por Rogério e o vi saindo às pressas da sala, não permitiria que escapasse, então corri ao seu encalço. Já na rua prestes a alcançá-lo, fiquei pasma com a cena que vi, Rogério correu em direção ao seu carro que estava do outro lado da rua, mas ao por o pé na asfalto, foi atingido por um carro que passava em uma velocidade consideravelmente alta.
Fiquei ali parada por alguns minutos, vendo o corpo de Rogério caído no chão, e o motorista do carro que o atropelara, desesperado no celular chamando uma ambulância.
Não havia mais nada pra fazer ali, peguei minha camionete e voltei para a fazenda, com uma tremenda dor de cabeça e um verdadeiro caos na minha consciência. Talvez Rogério não sobrevivesse, talvez já estivesse morto, e a culpa seria minha, era minha na verdade.
--Inferno!
Eu havia ido longe demais.
Fim do capítulo
Mais um pra vocês. beijos
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