Capítulo 9 - E então...
Apesar de quente, a noite foi bem agradável para Bia, enfim a dor passou. Acordou com uma vontade de mudar a aparência. Teve uma ideia e levantou animada, após um banho rápido vestiu qualquer coisa sem se importar se combinava ou não e saiu disparada de casa. Ao chegar na casa da amiga fez um “sambão” em sua campainha.
– Já vai, já vai! – Marilia gritava irritada. Quem era a pessoa que ousava acordá-la em pleno sábado as 7h da manhã, ia matar aquele ser. Pensou em bater à porta na cara quando viu que era Beatriz, mas para estar ali àquela hora deveria ser algo muito importante: – Quem morreu, Bia?
– Que eu saiba ninguém! Vim te buscar.
– Não lembro de ter marcado nenhum compromisso com você agora pela manhã?!
– Mas não marcou mesmo! – sorriu – Vai, prende a sua fera e me deixa entrar. – No mesmo momento o cachorro rosnou para ela, que deu um passo para trás.
– Lion! Não conhece mais as irmãs, – gargalhou fazendo um leve carinho na cabeça do animal – Que feio menino.
– Me comparando a um dog! Nossa, a que nível chegamos hein, Mari! Vai, abre aí, estou com fome.
– Não tem comida na sua casa?
– Até deve ter, sei lá, o importante é que vim tomar café com a minha amiga. Abre aí. – Encostou o rosto na fenda do portão dizendo em um sussurro: – Seus vizinhos estão aqui me olhando com umas caras não muito amigáveis.
– Talvez seja porque eles estejam achando que você é uma invasora, com esse boné e esses óculos aí. Falando nisso, que roupinha mais estranha é essa? Onde já se viu misturar listra com estampa, desaprendeu a se vestir foi?
Só agora a advogada se deu conta de que tinha saído com a camiseta que ia colocar para arrumar a garagem, tinha umas caixas por lá com coisas de Marcella que já tinha passado da hora dela se livrar. Colocaria isso em prática no dia seguinte sem falta, mas hoje daria vazão a súbita vontade que sentiu de “mudar”, sorriu dizendo:
– Não percebi que saí com ela, e o boné é por conta do sol. Os óculos estava jogado no carro mesmo, caso não tenha percebido, apesar de ser cedo, o sol já está tinindo. Vai abrir ou não?
– Querer, eu não queria. – jogou a chave para a amiga – Entra, vou prender o Lion lá no fundo.
– Que demora!
Beatriz bufou, sendo repreendida pelo olhar debochado de Marilia que respondeu enquanto puxava o cachorro pela coleira.
– Não me recordo de ter convidado ninguém para vir a minha casa a essa hora da manhã. – Depois de um banho sob protestos, Marilia enfim voltou para a cozinha, onde a amiga terminava de fazer o café. – Você reclama demais! Vai envelhecer cedo. – Olhou para a mesa dizendo animada: – Não sabia que estavam entregando pão agora.
– Sabe muito bem que fui a padaria, não tenho intimidade com o padeiro, como você!
– Tinha intimidade! Não tenho mais, sou uma mulher quase comprometida agora.
– Se não espantar o rapaz com a sua chatice, como fez com o padeiro, né!
– Nem vem, o padeiro queria casar. Só porque dormimos juntos algumas vezes achou que já estivéssemos namorando. Precisei colocar ele no devido lugar. Agora desenrola, o que veio fazer aqui tão cedo?
– Já falei, te buscar! Termina esse café, temos muitas coisas para fazer hoje!
– Do tipo?
– Que exige a melhor amiga por perto, para que eu não cometa erros como esse – apontou para as próprias roupas, fazendo Marilia gargalhar quase a sujando com o café.
– Que péssima escolha, viu. Sei que sou a sua salvação, mas hoje eu só quero dormir. Renato saiu daqui a pouco, estou exausta.
– Não posso ajudar! – Perguntou colocando a cadeira no lugar: – Vai vestida assim, ou prefere colocar algo com menos onça no corpo?
– Eu vou te matar, Bia! – a advogada saiu correndo pela casa, enquanto Marilia jogava as almofadas que achava pela frente nela. Depois de correrem de um canto a outro da casa, várias vezes, se jogaram cansadas no sofá. – Cansei, perdi totalmente a forma, nossa!
– Talvez seja a hora de voltar a praticar uma atividade física.
– Estou fora, cansa demais. – disse enquanto ia para o quarto. – O que devo vestir?
– Escolhe aí, vamos ao salão, cansei desse cabelo! Dependendo da hora que sairmos de lá, damos uma passadinha no shopping. Preciso reaprender a comprar minhas coisas.
– Estávamos no shopping ontem! – protestou.
– E eu só fiz pagar minhas contas e comprar acessórios para o notebook e a TV, lembra?
– Você é muito lerda. Vamos lá, vou logo avisando que tudo o que eu gastar hoje será por sua conta.
– Não sou eu que durmo com você!
Marilia lançou um olhar mortal para amiga, quando Bia entrou no carro ela respondeu debochada.
– Arruma alguém para dormir com você também! E só para a senhorita saber, não é com ele que eu estou saindo, portanto, você vai pagar tudo o que eu quiser sim.
– Quando foi que você ficou assim?!
Marilia respondeu com um leve aceno de cabeça e ligou o som do carro. Apesar de ter sido tirada de casa tão cedo, estava feliz. Pouco a pouco a amiga estava voltando a viver, e o melhor, longe da peste da Marcella.
Bia entrou em casa correndo, o dia na companhia da amiga rendeu mais do que esperava, rodaram os quatro cantos da cidade, mas conseguiu fazer tudo o que precisava, não queria se atrasar, o que Sophia pensaria?! Optou por usar um vestido preto justo e com um decote um tanto quanto avantajado, sandálias de salto alto, maquiagem caprichada e mandou mensagem para Mari avisando que já estava a caminho.
– Anda, assim vamos nos atrasar!
– Calma, estava consertando o feixe da sandália. – balançava a bolsa tentando chamar a atenção da advogada. – Espera, vou acabar machucando o pé. Tinha que estacionar tão longe assim – segurou o braço da amiga para se apoiar.
– Se não tivesse vindo com esse salto de um metro, teria percebido que não andamos nem cinquenta metros.
– Falou a santinha, que tá de burca. – quando Marilia abriu a porta, Bia segurou seu braço.
– Espera!
– O que houve com você? Está pálida!
– Estou nervosa. E se essa não foi uma boa ideia. Vai que ela tem alguém, melhor irmos para outro lugar. Avisa ao Renato, ele nos encontra lá!
– Nem pensar! – puxou a amiga pela mão e entraram juntas, rapidamente avistou Sophia em uma mesa próximo ao palco e acenou com a mão. – Pronto, ela já nos viu, agora muda essa cara de nada aí. Sentaram e Marilia foi conduzindo as coisas, pediu dois chopps e puxou a amiga para uma selfie.
– Boa noite meninas, que maravilha ter vocês aqui! – deu um beijinho no rosto de Marilia e ao cumprimentar Bia, que ainda estava nervosa, quase beijou sua boca. – Desculpa, é que você foi para um lado e eu fui para o mesmo.
– Sem problemas! Não se preocupa. Ansiosa para a apresentação?
– Um pouco, hoje o público tá maior que das outras vezes! Sem falar que você também está aqui, né. E isso me deixa um pouco mais nervosa – sorriu.
– Tenho certeza que será uma ótima apresentação! Confesso que estou curiosa e também ansiosa.
– Os meninos não vieram com vocês? Falei com a Dani ontem, e ela disse que não sabia se daria para vir. – Sophia estava em dúvida sobre a orientação sexual de Bia, tinha visto umas fotos dela com outra mulher um tanto quanto comprometedoras em seu Facebook. Aproveitou a deixa e perguntou: – Seu esposo não vem Bia?
Marilia gargalhou gostosamente, como estava com o celular nas mãos disse rapidamente: – Desculpa, vi um post super engraçado aqui.
Beatriz sabia que o motivo daquela gargalhada não tinha sido esse. Preferiu deixar passar a pergunta da garota, ao menos por hora.
Fim do capítulo
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