Capítulo 7 Conhecendo a fazenda
Carmen
Após o café da manhã, esperava Elisandra do lado de fora do casarão na companhia de Joaquim, que levaria Ernesto e Juanes para a escola onde passariam o dia todo.
--Então Carmen?! O que achou da gauchinha?
Sorri, sabia exatamente o que Joaquim queria saber com aquela pergunta, que Elisandra era absurdamente linda, todos ali já sabiam.
--O que você acha?
--kkkkkkkkkk já tá arrastando asas pra ela é?!
Calei-me por alguns instantes, sabia a resposta pra pergunta de Joaquim, não tentara e nem tentaria nada com ela, porque Elisandra era filha de Joan, e eu sentia que pensar nela de outra forma seria um desrespeito a memória do pai, homem que eu tanto respeitava.
--Na verdade não... confesso que ela é a mulher mais linda que já conheci mas, por ser filha de Joan eu não consigo pensar em nada desrespeitoso para com ela.
--E desde quando desejar uma mulher é desrespeito?
--Desde que ela é filha do cara que sempre ajudou sua família, que por ventura também é seu padrinho e lhe deixou boa parte do seu patrimônio, demonstrando o quanto confiava em você.
--Carmen, Sr. Romero amava você, e tudo que fez foi por amor, você sempre foi à pessoa que ele mais confiava mesmo, e é por isso que eu tenho certeza que não haveria ninguém que ele gostaria de ver ao lado de sua primogênita, do que você.
--Mas que diabos Joaquim. Até parece que estamos discutindo um relacionamento meu. Mal conheço essa menina, e outra, mesmo que não fosse filha de Joan, eu não a desejaria ok? Ela não faz meu tipo.
--kkkkkkkkkkk sério? Se ela não faz teu tipo, definitivamente eu não sei quais fazem.
--Pro inferno.
Estava a ponto de voar no pescoço de Joaquim, era óbvio que me sentia atraída por aquela garota, mas jamais admitiria, meu respeito por Joan não admitia tamanha ousadia. Porém, não tive tempo de falar ou fazer mais nada, pois os meninos chegaram para que Joaquim os levasse a escola, e com eles estava Elisandra.
Ok, sabe aquele papo de "não posso olhar pra ela de outra forma a não ser como a filhinha de Joan?!", pois é, eu esqueci completamente disso ao vê-la descer as escadas da varanda. Elisandra vestia uma blusa branca soltinha, um short jeans que deixava a mostra suas pernas ABSURDAMENTE LINDAS, e botas montaria, fiquei paralisada vendo-a se aproximar.
* * * *
Elisandra
Carmen disse que me levaria pra conhecer toda a propriedade, talvez não conseguisse fazer isso apenas pela manhã pois, certamente eu me entreteria com algumas coisas que ela me levaria pra conhecer, e nos atrasaria. Confesso que senti uma certa ironia na sua voz, mas não ligava pois realmente era distraída.
Acompanhei os meninos até a camionete, para que Joaquim os levasse até a cidade, Carmen me aguardava para o passeio encostada na mesma. Já disse que Carmen é extremamente linda e sexy, com aquele ar sério e aquele jeito bruto de ser? Já? Pois é, volto a repetir. Ela estava linda, havia posto outra camisa, dessa vez branca, e tinha as mangas dobradas, pois fazia muito calor mesmo que de manhã, de calça muito justas, botas country e chapéu, linda simplesmente.
Enquanto me aproximava, percebi que seus olhos, aqueles lindos olhos verdes me analisaram de cima a baixo, de uma forma nada comum para uma mulher, sorri intimamente, pois vi que ela mesmo que fosse hétero, assim como eu, não era indiferente a mim, e fiquei feliz por não ser a única a admirar uma mulher com "outros olhos".
Aquele breve momento de admiração, foi interrompido por Ernesto.
--Vai levar a gente Carmen?
--Hoje não garotão, Joaquim vai dessa vez.
--Dessa vez nada, depois que eles morreram você não ficou mais com a gente.
Não esperava que meu irmão falasse aquilo, Carmen ao que me pareceu também não esperava, Ernesto entrou na camionete sendo seguido por Juanes. Olhei para Carmen e percebi que ela realmente havia ficado incomodada com a atitude de Ernesto, mas agora que ele havia comentado que percebi que desde que chegara não havia visto em nenhum momento, ela se aproximar dos meus irmãos, e me lembro de meu pai ter dito na única vez que nos vimos e conversamos que ela cuidaria deles melhor que ele próprio, o que havia acontecido afinal? Fiquei intrigada.
Joaquim permaneceu no mesmo lugar que estava quando chegamos, olhava para Carmen como quem espera uma ordem que não demorou a vir.
--Pode ir Joaquim.
--Sim Sra.
Com um leve manear de cabeça, ele entrou na camionete e saiu rumo a cidade. Carmen imediatamente deu-me as costas, e saiu andando em direção ao estábulo, fiquei ali parada sem entender nada, debaixo daquele sol de matar, até que ela parou de repente e falou impaciente.
--Afinal, a Sra. vem ou não?
Não queria brigar com ela, na verdade desde que a conheci tenho deixado que fale de forma ríspida comigo, pelo simples motivo de não querer brigar com ela, e definitivamente não sabia qual o motivo que me fazia ter essa atitude, pois nunca permitia que me humilhassem. Passei a andar em sua direção, na verdade passei a praticamente correr atrás dela, pois cada passo que ela dava, eu tinha que dar três, mal conseguia andar naquele terreno irregular.
Ao chegar no estábulo, encontrei Carmen fazendo carinho em um lindo cavalo negro, fiquei encantada com a cena, pois ela me parecia sempre tão séria, fria, e ali era completamente o contrário, demonstrando carinho e cumplicidade com um animal.
--Uau! … lindo.
Disse me aproximando deles, Carmen além de me deixar no vácuo, sequer olhou pra mim mesmo depois da aproximação.
--Posso tocá-lo?
--Sabe montar?
--Não, eu nunca nem cheguei perto de um cavalo, mesmo morando em um estado onde montar é tradição. Sempre tive medo, eles não me parecem muito amigáveis...
--O Tornado nasceu aqui, eu e seu pai o ajudamos a nascer, a mãe dele quebrou a pata e ele nasceu prematuro, depois que ele nasceu ela morreu eu tive que cuidá-lo pra que não morresse também... Tornado é um presente de seu pai.
--Ele gostava mesmo de você...
Carmen se calou, voltando a assumir a postura séria e calada de sempre. Logo em seguida o montou, com a maior facilidade do mundo, me olhando nos olhos, estendeu-me a mão em um convite mudo para montar junto a si. Confesso, a idéia de cavalgar junto a Carmen me despertava uma dualidade de sentimentos, nervosismo por ter de ficar muito próxima de seu corpo, e ansiosa para saber se ele realmente era definido como parecia ser, ri com meus próprios pensamentos.
--O que foi?
Só então percebi que ela já estava a algum tempo com a mão estendida a mim, e eu ali parada rindo de pensamentos idiotas que estava tendo.
--Não...nada...é que não sei se consigo subir...
--Apenas de me a mão e suba...
--Fácil assim?
--Exato.
--Eu não consigo...
--Vamos, suba...
--Carmen, eu não consigo ok?
Revirando os olhos em uma clara demonstração de impaciência, ela desceu com a mesma agilidade que havia subido. Posicionando-se atrás de mim, fazendo com que eu sentisse o calor do seu corpo mesmo que sem contato, arrepiei-me despudoradamente, ficando nervosa no mesmo instante.
--Coloque o pé esquerdo aqui, e segure firme aqui,ok?
--Ok, mas eu...
--Faça o que eu disse Sra. e deixe o resto comigo...
--Tá.
Assim que coloquei o pé onde Carmen havia me indicado, e segurei onde apontara, senti suas mãos firmes em minha cintura, e logo em seguida ela me ergueu fazendo com que eu montasse em questão de segundos, fiquei boba com a força que ela tinha, pois me erguera com tanta facilidade que um homem com dobro do seu peso faria.
Assim que ela soltou minha cintura, foi que percebi que havia prendido a respiração com o contato de suas mãos, porém, não tive tempo de respirar pois novamente ela tocou em mim, mas dessa vez foi nocaute.
* * * *
Carmen
Eu estava com o coração aos pulos, a proximidade com Elisandra me perturbara mais do que eu imaginei que perturbaria, sabia que estava apenas começando o dia na companhia dela, e queria que ele terminasse logo, pois cada minuto que passasse com ela, eu sabia que seria uma tortura.
Após colocá-la sobre Tornado, montei atrás dela para não correr o risco de derrubá-la do cavalo durante o passeio. No entanto, ao sentir seu corpo no meu me arrependi instantaneamente de não tê-la levado pra conhecer a fazenda a pé. Meu coração batia feito um louco dentro do peito, minha respiração começava a pesar, não só de nervosismo mas também de desejo, sim eu desejava a filha de Joan cada segundo mais.
Após abraçá-la para poder guiar Tornado, senti que seu corpo também reagia com o contato, e isso me preocupava muito mais do que alegrava. Logo coloquei Tornado em movimento, fazia com que galopasse devagar para não assustar Elisandra, e também para que aproveitasse o passeio.
--Há muitas coisas pra se conhecer aqui na fazenda Sra. Romero, mas tomarei a liberdade de levá-la os lugares mais bonitos daqui, depois mostrarei o restante pode ser?
--Cla...claro.
-- Ótimo...viu o bosque por onde passamos pra chegar até aqui?
--Sim...
--Pois bem, vou mostrar o que há do outro lado dele, próximo as rochas...tenho certeza que vai adorar...todos daqui amam aquele lugar...
--O que tem lá?
--Surpresa Srta.
Não adiantava tentar ser indiferente a Elisandra, não seria assim que conseguiria me manter longe "fisicamente" dela, então resolvi abrir a guarda, e nos permitir uma relação mais amistosa, quem sabe deixando que ela falasse tanto quanto gostava de falar, eu não pegasse antipatia por ela não é? Ri com meus próprios pensamentos, e Elisandra percebeu.
--O que foi?
--Nada Sra.
--Porque não me chama pelo meu nome como lhe pedi?
--Já disse que é costume...
--Já disse pra se acostumar com Lisa ou Elisandra...
--Tentarei acostumar-me Srta... Lisa...
Elisandra calou-se diante da minha provocação, não que tivesse ficado brava, na verdade não sei porque interrompeu nosso diálogo, apenas senti seu corpo descansar por inteiro em meus braços, causando um arrepio gostoso em todo meu corpo. Sabia que seria uma tortura conviver com ela.
* * * *
Elisandra
Carmen após torturar-me com sua bipolaridade, torturou-me ainda mais com seu corpo quente em contato com o meu, estava cansada de me esforçar para manter a maior distância possível do seu corpo, então encostei-me nela para meu deleite, pois ela realmente era como os olhos diziam ser, forte, definida, gostosa.
Cavalgamos por entre as árvores no bosque, o lugar era encantador, uma legítima floresta, o sol penetrava por entre os galhos das árvores tornando tudo magnífico. Conforme nos afastávamos da fazenda, Carmen dizia que nos aproximávamos do que ela tanto queria me mostrar, e foi aí que passei a ouvir um barulho, que quanto mais nos aproximávamos, mais me parecia de água, queda d’água.
--… o que estou pensando?
--E o que está pensando Srta.?
--… uma cachoeira?
--Sim é uma cachoeira...
--Aiii eu adoro cachoeiras... Em Canela, uma cidade vizinha da que eu moro, tem uma magnífica que visitei algumas vezes com mamãe...é bonita?
--Kkkkkkkkkk por acaso já viu alguma cachoeira feia?
S-E-N-H-O-R ela estava gargalhando? Sim ela estava gargalhando, e era a coisa mais fofa do mundo, tão amistosa que eu até tinha vontade de...
Engoli o riso que tomava meu rosto, que diabos estava acontecendo comigo? Eu estava pensando em beijar outra mulher, outra MULHER, Deus eu era hétero, achá-la bonita, sexy, gostosa, querer tocar seu corpo, arrancar olhares, suspiros, risos e desejos dela era normal, agora querer beijá-la já era demais, não era? Sim porque toda mulher acha outra mulher gostosa né? … eu sei que não, só estou confusa. Voltei a realidade ao ouvir Carmen falar.
--Chegamos.
Só então me dei conta de onde estávamos, e se aquilo não era o paraíso, então eu não sabia o que era. Havia uma queda d'água, uma cachoeira, ela não era muito grande, na verdade deveria ter uns cinco metros, mas era magnífica. A água caía sobre pedras que ficavam dentro do lago, rio, sei lá o que era aquilo, só sei que era lindo, a água clara, transparente, as rochas contornado, as árvores um pouco mais afastadas, a pequena colina que se formava atrás de onde a água caía, aquilo ali era o magnífico.
Carmen desceu do cavalo, levando-me em cima dele até uma árvore onde o prendeu.
--E então?
--Meu Deus Carmen! Isso aqui é estupidamente lindo.
--Sabia que iria gostar...
--Gostar? Eu amei...
--Vem...
Carmem estendeu-me os braços, oferecendo ajuda pra que eu descesse de Tornado. Aceitei-os de bom grado, e quando ela me pôs no chão, nossos corpos ficaram praticamente colados um no outro.
Ah aqueles olhos, me fitando como quem tenta desvendar a alma de alguém, seu sorriso de canto me deixando boba, e a voz rouca com o sotaque que eu tanto amava falando quase num sussurro.
--Quer nadar?
Fim do capítulo
Dois capítulos pra me desculpar pelo atraso. Espero que gostem. Beijos
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