Capítulo 5 O funeral
Carmen
Acordei no dia seguinte a chegada de Elisandra, com mamãe aos prantos em meu quarto (quarto de hóspedes do casarão).
--Carmen?! Filha?!...
--O que ouve mamãe?!
Perguntei mesmo temendo a resposta, e a confirmação veio logo em seguida, Joan não havia resistido aos maus que lhe afligiam e falecera durante a noite, a enfermeira encontrou-o morto logo cedo.
Não sei explicar exatamente o que senti com a perda de Joan, óbvio que ficara triste mas havia algo mais, era um misto de angústia, melancolia e alívio. Alívio não pela morte de Joan, mas por ter realizado o seu último desejo, por ter lhe proporcionado ao menos uma alegria depois de tanta dor, esperava que sua alma tivesse partido um pouco mais leve.
Após me recuperar do choque inicial, precisava dar a triste notícia aos meninos e a Elisandra, não sabia como contar mas era necessário. Juanes apesar de ficar muito abalado, fez um verdadeiro papel de homem da casa, de irmão mais velho, consolando Ernesto que era mais novo. Então me dirigi até o quarto onde Elisandra estava, bati na porta e esperei que autorizasse minha entrada.
--Entre.
Entrei no quarto e apesar da situação triste que não só eu passava, mas todos os residentes da fazenda, não pude deixar de reparar na beleza de Elisandra, ainda que cedo da manhã. Ela estava sentada sobre a cama, com o edredom cobrindo o corpo e mesmo assim, estava linda. Me pronunciei logo, tentando focar na situação triste que enfrentávamos, e não no corpo da bela jovem.
--Bom dia Elisandra.
--Bom dia Carmen.
--Desculpe por invadir sua privacidade, mas tenho uma notícia não muito agradável pra te dar, que não pode esperar.
--Odeio cerimônias, vá direto ao assunto sem rodeios, por favor.
--Infelizmente, o Sr. Romero seu pai, veio a falecer durante a madrugada. … uma situação difícil pra mim, pois eu tinha um imenso carinho pelo seu pai, mas creio que será mais difícil ainda para os meninos que são apenas crianças. Então estou aqui não só para te dar a notícia, mas também para pedir que me ajude a dar suporte a eles pois...
--Ei?!...chega...
Me calei diante da interferência de Elisandra, estava nervosa, realmente estava nervosa e abalada, não estava sabendo lidar com aquele situação, era meu segundo pai que teria que enterrar. Elisandra parecia que tinha ficado um pouco atordoada, com a notícia, já em pé andava de um lado para o outro passando aos mãos nervosamente nos cabelos.
--Eu...eu mau conheço eles...não tenho afinidade pra apoiá-los, você é mais irmã deles do que eu pelo que me parece...eu...eu não sei nem o que to sentindo agora.
Continuei calada, estávamos as duas perdidas e sabíamos disso, fixamos os olhos uma na outra e assim ficamos por longos instantes, até que eu quebrei o silêncio.
--Só me ajude...ok?
--Me ajude a te ajudar ok?
Assim selamos um acordo, um acordo que funcionou muito bem. O funeral foi triste para todo mundo, dei folga para todos os funcionários da fazenda com a concordância de Elisandra, sabia que ela passaria a ser dona de tudo aquilo, e devia me acostumar logo. Elisandra fora muito melhor do que eu imaginava, ficou ao lado de Juanes e Ernesto durante todo o tempo, deu a eles o apoio necessário para segurar a barra naquela situação. Mais que isso, Elisandra deu a mim o apoio que eu precisava pra me manter forte naquele momento, enquanto nada havia sido "resolvido" e só seria dali sete dias na leitura do testamento, a fazenda estava em minha responsabilidade no momento, e assim, eu vi que poderia contar com ela pra tudo.
* * * *
Elisandra
Como esquecer a mágoa que eu guardava de meu pai, simplesmente porque ele já não estava entre nós? Eu não sabia. Confesso ter me sentido mal por não estar necessariamente triste com sua morte, sim era uma pessoa que falecia precocemente, deixando dois filhos pequenos já órfãos de mãe desamparados, mas ainda assim, não havia aquela tristeza normal diante da morte de um pai. Mesmo que confusa, consegui consolar meus irmãos, afinal, eram meus irmãos e estavam sofrendo muito, assim como Carmen. Carmen tentava ser durona, mas eu podia ver o quanto estava abalada com a situação, e por isso me esforcei tremendamente para que as responsabilidades não pesassem muito sobre ela naquele momento.
Já tarde da noite, Juanes e Ernesto finalmente conseguiram dormir, então andei pelos cômodos do casarão em busca de Carmen, não havia estado a sós com ela desde a manhã, e queria ver como ela estava, mas não a encontrei dentro de casa.
Já havia desistido de encontrá-la, quando andei até a varanda, precisava respirar um pouco de ar puro, aliviar a grande tensão que havia pesado naquele ambiente durante todo o dia. Carmen parece ter tido a mesma idéia que eu, estava ali encostada na proteção da varanda, com os olhos fixos no céu. Andei até lá, parando ao seu lado passei a olhar o céu assim como ela.
--Você está bem?
Depois de alguns minutos de silêncio, Carmen deu um longo suspiro e virando seu rosto para o meu, finalmente respondeu.
--Estou.
--Sinto muito. Sei que você era muito mais filha dele do que eu mesma. Imagino como deve estar se sentindo.
--Eu estou bem Elisandra.
--…, os meninos finalmente conseguiram dormir, deveria fazer o mesmo, descansar um pouco.
--Daqui a pouco eu vou.
--Tudo bem.
Estava dando as costas a ela, saindo dali, pois parecia que ela não queria minha companhia, ou talvez apenas queria ficar sozinha.
--E você?! Como está se sentindo com tudo isso?
--Estou...bem, apesar da pressão. … muita novidade, estou confusa, me sentindo perdida, mas, ainda assim estou bem.
--Fico feliz.
--Olha, eu sei que estou sendo um pouco chata, evasiva mas, você jantou? Não vi você comer o dia todo.
--Eu estou bem, obrigada por perguntar.
--Sua mãe sabe que você não comeu o dia todo?
Ela sorriu finalmente pra mim, um sorriso tímido, sem muita vontade, mas ainda assim era um sorriso, o primeiro que ela dera a mim, e ele era lindo apesar das circunstâncias, encantador. Eu sabia que Carmen estava sem comer o dia todo, sua mãe também sabia, mas queria cuidar dela naquele momento, então apelei.
--Sabia que tinha dedo da minha mãe nessa preocupação toda. Ela sabe sim Srta. Romero, mas estou sem fome.
--Seu psicológico está sem fome, seu físico não. Venha. Vou preparar alguma coisa pra você comer.
--Srta. Eu realmente...
--Sem Srta. Venha comigo sem reclamar.
Praticamente a arrastei pra dentro, como é que ela agüentava ficar o dia todo sem se alimentar e estar tão bem aparentemente?
Fim do capítulo
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