Juh

Depois que me acalmei, segui para a sala do meu Tenente-Coronel, bati e ele me mandou entrar, pedi licença e me coloquei ao lado da porta esperando eles terminarem a conversa. Quando ela se levantou e se dirigiu a saída sorriu ao me ver, o celular do pai tocou e ele foi atender, quando se aproximou sussurrou:

– Não esquece do nosso jantar hoje, ou irá me pagar caro por isso... – olhou em direção ao pai e viu que ele estava de costa, me deu um selinho demorado apertando a minha cintura me fazendo arrepiar com aquele toque, claro que fiquei nervosa e olhei para o meu Tenente-Coronel e depois para ela dizendo:

– Porque faz isso comigo? – perguntei quase suplicando, não tinha forças com ela por perto.

– Gosto de te provocar! – ousada segurava em minha camiseta, e na ponta dos pés sussurrava: – Não gosta de meus beijos? – baixei os olhos dizendo:

– Não é isso, por favor não me entenda mal... Eu adoro seus beijos, quero dizer... Gosto sim, gosto de você.

– Está nervosa? – me puxou pela camiseta e sorri apenas, concordando.

Sorrindo satisfeita, abriu a porta no momento em que o pai se aproximou, me deu um beijo no rosto dizendo:

– Dá um abraço na sua irmã, por favor! Diga que estou com saudades!

– Si... Sim eu falo com ela.

E ele a acompanhou até o carro pedindo para esperá-lo ali mesmo na sala. Concordei e saíram, soltei o ar e não demorou muito ele estava de volta, se dirigiu a sua mesa me indicando a cadeira a sua frente pedindo que eu me sentasse, pedi licença e ele sentou em seguida me olhando, logo disse:

– Júlia, essa manhã fui chamado pelo Coronel para uma conversa e nela falamos sobre a sua desenvoltura a frente de sua equipe.

– Obrigada senhor, é uma honra poder servir o Corpo de Bombeiro de nossa cidade!

– Tenho observado você há algum tempo e concordo com o Coronel em um quesito!

– Senhor? – me mexi na cadeira, estava inquieta e ele não estava me ajudando com aquela conversa, mas sorriu quando encostou na cadeira e continuou:

– Você está à frente da corporação como Capitã quanto tempo?

– Quase quatro anos senhor!

– É muito tempo! – sorri, me olhou avaliando, perguntando em seguida: – Desculpa perguntar, mas quantos anos você tem?

– Completarei trinta em dois meses!

– Como eu disse você é nova, no entanto tem o talento de seu pai.

– Agradeço o elogio senhor, é muito gratificante ser comparado ao meu pai, se me permite, ele é meu herói!

– Com certeza, ele era o meu também, acredite éramos muito amigos e foi uma perda muito dolorosa para a família dele e para nossa corporação quando nos deixou. – não disse nada e apenas consenti, falar de meu pai me deixava um pouco emotiva, por isso resolvi deixar que ele continuasse: – Enfim, chamei você aqui para lhe dizer que o Victor pediu transferência, e por conta disso iremos precisar que alguém o substitua, e nada mais justo que você tome seu lugar, por isso estamos pensando em mudar a sua insígnia.

Travei, minha voz não saía e vocês podem imaginar como fiquei, a única coisa que consegui dizer foi:

– Senhor, não sabia que o Major estava querendo sair?

– Conversamos há alguns meses, e na semana passada fomos a uma reunião e ele apresentou a carta, no mesmo instante indicou você e eu o apoiei. – sorriu e veio em minha direção, levantei e ele me abraçou dizendo:

– Você merece, e tenho certeza que será tão boa como Major quanto é atualmente como Capitã.

– Não sei o que dizer senhor, mas garanto que darei o meu melhor!

– Com certeza menina, mas vai demorar um pouco ainda. Nós a indicamos para o cargo, e precisamos receber respostas dos nossos superiores, sabe das burocracias.

– Sim senhor, e agradeço a confiança.

Sorri, estava feliz e ao mesmo tempo assustada, conversamos por mais meia hora e depois ele me dispensou, agradeci novamente e segui para minha sala. O coração a mil e a saudade de meu pai apertando, como queria que ele estivesse ali para ver mais uma conquista na minha vida. Felizmente Deus é maravilhoso e naquele momento meu peito se encheu de amor e senti que minha felicidade estava sendo comemorada por ele no lugar onde estava.

Recebemos outro chamado por volta da três da tarde, esse local era mais afastado da cidade, o mato seco pegou fogo e atingiu o galpão onde ficava uma antiga reciclagem, podem imaginar as labaredas quando o fogo o atingiu porque estava cheio de papéis e papelão. Conseguimos acalmar o incêndio, mas quando olhamos para o caminhão ABT (Auto Bomba Taque) e vimos toda aquela sujeira quase choramos.

Voltamos para a base depois das cinco e começamos a lavar os caminhões, o sol estava quente ainda e na brincadeira acabamos todos molhados. Como estava com aquela roupa pesada acabei tirando a parte de cima e fiquei apenas de top, minha camiseta rasgou quando eu estava entrando no galpão e arranhou a minha barriga, sangrou e a tirei para limpar. Não tinha problemas com isso na corporação, até porque muitas vezes passávamos por situações mais constrangedoras juntos.

Naquela brincadeira acabei toda molhada e sabão em todo o meu corpo, quando terminamos com o caminhão ABT aproveitamos a mangueira e tomamos banho ali mesmo. Sempre que acontecia uma situação parecida, as meninas ali do bairro acabavam se reunindo para ver os exibidos que ficavam se mostrando.

Mas afastada com o Diego ficamos rindo do pessoal, normalmente ele costumava ser um dos exibidos, mas agora que estava namorando ficava só de longe observando. Me diverti com a cara que ele fazia quando eu falava alguma brincadeira. Quando olhei em volta e vi de longe um olhar familiar nos avaliando ele disse baixinho para me provocar:

– Olha lá quem está olhando os caras tomarem banho também? Agora eles vão ficar mais assanhados ainda.

Não gostei da brincadeira, e sabendo da ordem que eu tinha dado mais cedo, mesmo que isso fosse restrito ao interior da base, não era de uma moça qualquer que estávamos falando. Nosso Tenente-Coronel apareceu do nosso lado e começamos a conversar sobre aquela situação, brincando ele até disse que ia mandar colocar uma lona na frente da base para cobrir quando fossemos lavar o caminhão. Aos pouco os rapazes e moças foram diminuindo o exibicionismo e guardamos o material.

Bom, não sei o que aquela mulher fazia, mas quando percebia o olhar dela sobre mim ficava em pânico, não sei explicar, meu corpo todo reagia a ela e acabava em alguma situação constrangedora. Estava saindo da minha sala, e lá vinha ela sorridente em minha direção, quando parou perguntou faceira:

– Se divertiu muito hoje?

– O dia foi corrido, mas sempre me divirto quando a situação não sai do controle ou perdemos alguém. – sorri arrumando minha mochila nas costas, perguntei desviando os olhos: – Está passeando?

– Não, estou sem carro esses dias e peguei o de meu pai, passei aqui para irmos juntos pra casa. – desviou os olhos para minha camiseta perguntando: – Você se machucou?

Ela percebeu? Sorri levantando a camiseta e mostrando a ela dizendo: – Não foi nada, apenas um arranhão. – se aproximou passando a mão e involuntariamente retraí o corpo dizendo: – Cócegas, desculpa.

– Tudo bem! – deu um sorriso tão lindo e depois perguntou ainda preocupada: – Tem certeza que não foi nada grave?

– Tenho sim, nem está doendo! – sorri, os meninos passaram por nós nos cumprimentando, em seguida perguntou:

– Nosso jantar ainda está em cima?

– Sim, provavelmente minha mãe irá fazer alguma coisa mais especial para mim hoje, e você está convidada, depois podemos sair, se quiser claro! – sorri sem jeito com o olhar dela.

– Esse jantar é em comemoração a alguma coisa? – se aproximou e passou o dedo em meu rosto dizendo: – tinha uma mancha!

– Obrigada! – coloquei a mão na nuca em sinal de nervosismo e disse: – Respondendo a sua pergunta, tive uma boa notícia hoje, meus superiores me indicaram para um cargo acima do meu, por si só esse já é um grande motivo para minha mãe querer comemorar! 

– Nesse caso meus parabéns, e com certeza eu aceito jantar com vocês.

– Legal, vou ficar muito feliz com sua presença e... – vi quando o Tenente-Coronel desceu perguntei: – Quer que eu vá te buscar, já que está sem carro?

– Ah, não! Não se preocupe, eu vou de taxi, meus pais provavelmente vão sair hoje, mas você está cansada, não faria isso com você!

– Seria um prazer! Não estou tão cansada assim! – ajeitei minha mochila nas costas recebendo um afago dela no meu braço enquanto dizia:

– Você é uma fofa! – o pai a chamou e disse que já estava indo, me olhou perguntando: – Nesse caso você poderia me levar em casa, já que está se oferecendo! Pode ser?

– Claro! – sorri, definitivamente meu sorriso era frouxo diante dela que se aproximou beijando meu rosto e dizendo:

– Nos encontramos mais tarde então!

– Vou esperar ansiosa! Obrigada!

Deu uma piscadinha e correu em direção ao pai, os dois se despediram de longe. Ajeitei minha mochila novamente e segui para casa, lá contei para minha mãe tudo o que aconteceu no dia e a notícia que recebi, ela me abraçou e vibrou comigo, estava chorosa e feliz, mas a alertei que ainda estava em estudo. No entanto, comemorou como se eu já tivesse recebido uma nova insígnia, amava minha família.

Ela ligou para Anny, que quando apareci na sala, já estava lá com o marido, me abraçaram me parabenizando também. Avisei minha mãe de que viria alguns amigos e ela se animou ainda mais, adorava a casa cheia, correu para preparar o jantar. Fiquei conversando com Anny e Júlio na varanda, até um taxi parar na frente de casa e eu ir receber a linda morena que desceu dele vindo em minha direção toda sorridente.

Se aproximou me dando um abraço e um beijo no rosto, gostei muito daquela recepção. Ficamos conversando um pouco ali mesmo e depois voltamos para a varanda onde nos sentamos e interagimos conversando com o pessoal por lá, não demorou muito Diego apareceu com a namorada, fizemos as apresentações, conversamos sobre outros assuntos e a curiosidade dela sobre mim estava me deixando bem animada, meu amigo trouxe vinho o qual abrimos no jantar e nos deliciamos com a boa culinária de minha mãe.

Fim do capítulo