Capítulo 5 – Noite de meninas

 

Lia se sentia frustrada na manhã após a festa. Acordou quase ao meio dia totalmente atordoada com o sonho confuso que tivera a noite toda e logo viu uma ligação perdida e uma mensagem de sua mãe dizendo que já estava na hora de voltar para casa nas férias. Um misto de raiva e desapontamento surgiram assim que viu que não era de Liz. Sua mãe as vezes era metida demais. Ficava extremamente aborrecida quando ela fazia aquilo, quando a ficava tratando feito uma criança que precisasse de ordem para tudo. Estava mais do que decidida a passar suas férias na capital, queria muito sair para lugares inusitados, fazer coisas diferentes, se divertir e se aventurar mais. Sabia que seria perda de tempo explicar aquilo para os pais e por isso estava tentando criar alguma desculpa convincente que os fizesse deixa-la em paz.

 

Depois que o aborrecimento passou, Lia resolveu tomar um bom banho para tentar esfriar o corpo e os pensamentos confusos. Depois foi até a cozinha se servir com algumas frutas até que ela conversasse com Cris sobre o almoço. Estava no sofá da sala comendo umas uvas e assistindo a TV quando seu telefone tocou. Dessa vez era uma mensagem de Liz. De repente seu estômago se revirou totalmente e sua respiração ficou presa no peito. Desde a hora que acordara só conseguia pensar na cena que presenciara de Liz agarrando aquela mulher e se sentia quente só de lembrar.

Hesitou um pouco antes de ao menos ler a mensagem. Por algum motivo suas mãos estavam geladas, suspirou e tentou recuperar o fôlego. Não entendia o que diabos estava acontecendo, nunca ficara tão atordoada para falar com alguém assim antes, precisava muito entender o que estava sentindo e se controlar, não conseguia se reconhecer daquele jeito.

 

Liz: "Te procurei depois do show e não te encontrei mais. "

Lia: "Fiquei meio tonta e enjoada e fiquei um tempo na praia para melhorar. Até vomitei. "

 

Liz: "Nossa! Mas está tudo bem? "

 

Lia: "Está sim."

 

Liz: "Você bebeu mais? "

 

Lia: "Bebi sim. Me empolguei um pouco. Mas foi bom, nunca bebi daquele jeito e nunca tive uma ressaca. Falta isso no meu currículo ainda. "

 

Liz: "Ah, entendo. Pois eu só não procurei você porque não queria atrapalhar. Achei que estava com seu namorado. "

 

Lia ergueu um pouco as sobrancelhas em surpresa. Todos achavam que ela tinha algo sério com Rodrigo. Aquilo a irritou um pouco.

Lia: "Ele não é meu namorado. Só ficamos algumas vezes, só isso!!! "

 

Liz: "Sério? Você não me parece do tipo que faz esse tipo de coisa. "

Lia: "Como assim? "

 

Liz: "Você está de ressaca? "

 

Lia: "Não, mas foi por pouco. Ainda vou chegar lá. Rrsrs. Não foge da minha pergunta. "

 

Liz: "Então você quer ficar bêbada? Posso ajudar você a conseguir a sua primeira grande ressaca. Sou ótima com bebidas. Se estiver a fim podemos sair hoje. Prefiro falar pessoalmente do que por mensagem, aí nós continuamos essa conversa. "

 

O coração de Lia recomeçou a bater acelerado no peito. Liz a estava convidando para sair e pelo que entendera seria só as duas. "Será que seria só elas mesmo? "

 

Lia: "Sério que você está me convidando para tomar um porre!? Só nós duas? "

 

Liz: "Sim. Vamos conversar direitinho, parece que nunca conseguimos ficar a sós. "

 

A cabeça de Lia estava a mil agora. Ao mesmo tempo que ficava feliz com o convite e com o "a sós" estava também extremamente assustada. Tudo bem que talvez Liz só quisesse mesmo conversar com ela, serem amigas. Não significava que só porque ela gostava de mulheres iria querer algo com ela, não é? Liz sabia que ela era hétero... Lia não poderia e nem iria ser preconceituosa. Não era isso mesmo que queria? Experiências novas? E Liz estava com a porta aberta apenas esperando por ela.

 

Lia: "Por mim tudo bem. Pode ser. "

 

Liz: "Passo aí às oito, tudo bem? "

 

Lia: "Ok. Até mais. "

 

Liz: "Até... "

 

Lia não conseguiu evitar de sorrir, sentia-se uma verdadeira idiota. Será que ela devia comentar que a viu com a aquela garota na outra noite? Se por acaso a conversa viesse a se tornar mais pessoal falaria alguma coisa... não, jamais teria coragem de perguntar algo tão particular, não era nenhuma metida.

 

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Dormiu a tarde inteira e despertou por volta das seis da noite. Meio grogue e já ansiosa olhou a hora e decidiu que deveria se aprontar para o encontro com Liz. Encontro? Nunca usara essa palavra antes para sair com alguém. Ainda olhando para a hora perdida em pensamentos quase não viu a notificação de uma mensagem. Seu coração acelerou, mas viu que era uma mensagem de Rodrigo perguntando se queria sair com ele naquela noite. Lia digitou uma desculpa qualquer e disse que lhe ligaria no dia seguinte.

 

Tomou um banho demorado preocupando-se em passar na pele o sabonete mais cheiroso que tinha, o shampoo mais concentrado e um óleo pós banho muito refrescante que tinha. Secou os cabelos para que ficassem comportados e por último pensou em qual roupa usaria. No fundo, meio que no inconsciente e não querendo admitir para si mesma, montava um look que Liz aprovaria. Só queria causar uma boa impressão ou pelo menos era o que dizia para si mesma.

Estava usando um de seu jeans skinny rasgados, all star cano médio e uma camiseta cinza meio larga do Led Zeppelin que amava, colocou um cordão preto que tinha e quando se olhou no espelho gostou do que viu e por último passou seu perfume favorito. Por um momento pensou se não estaria meio óbvia as suas intenções. Estava vestida muito parecida com Liz. No entanto, ela se vestia assim muitas vezes e gostava, só queria dizer que os gostos eram parecidos. 

 

Seu celular começou a tocar, era Liz avisando que estava frente ao prédio. Apagou as luzes do apartamento e desceu ansiosa. Por sorte Cris havia saído com Alberto, assim pouparia explicações sobre a sua saída naquela noite e não estava a fim de dar nenhuma satisfação para ninguém, nem mesmo para ela. No espelho do elevador Lia olhava seu próprio reflexo e tentava encontrar algum sentimento que fizesse sentindo, estava muito nervosa e não gostou nada disso. Assim que as portas se abriram no térreo, suspirou profundamente.

 

Quando saiu no portão viu que Liz estava com a janela aberta de cabeça baixa e em um carro que nunca vira antes, nem sabia que ela tinha um. Liz sorriu para ela quando a viu e lhe cumprimentou com um boa noite e foi impossível para Lia não abrir um sorriso largo em resposta. Ainda se sentia nervosa, mas ao mesmo tempo estava muito feliz por estar ali com ela. Ela estava toda de preto e usava um boné.

 

- Eu pensei que você ia me encontrar aqui de táxi.

 

- Pois é, mas acabei resolvendo vir no meu. – Respondeu Liz com a voz doce. – Assim a gente não precisa se preocupar em voltar muito cedo.

 

Ela deu a partida no carro tranquilamente e assim que deram a curva e pegaram a pista principal Liz começou a puxar assunto.

 

- Você pode colocar alguma música? Tem um pen drive com muita coisa aí, escolhe algo.

 

- Ok. – Lia se aprumou no banco animada. Amava ser DJ em viagens. – Você tá a fim de escutar o quê?

 

- Me surpreenda. – Falou com aquele sorriso de lado lindo.

 

Lia sorriu de volta novamente, estava muito difícil não rir ao lado dela, ela passava uma estranha calmaria e leveza para Lia, realmente não conseguia explicar. Passando as pastas, percebeu que realmente tinha muita música boa ali, de Beatles a Nightwish, ficou encantada com a coleção dela, tinha muito rock, mas também muita música romântica. Ficou bastante indecisa, de alguma forma sentia que a escolha daquela música seria importante naquele momento. Por fim escolheu a música "You" do The pretty reckless uma balada de rock romântica. Quando a música começou a tocar percebeu que Liz abriu um sorriso.

 

- Eu amo essa música. – Declarou sem tirar os olhos da estrada.

 

- Eu também. – Lia se virou para Liz, queria engatar uma conversa sobre música com ela. – Acredita que já fazia séculos que eu não escutava essa?

 

- Para falar a verdade eu também. Na verdade, eu amo esse CD todo.

 

- Ah, com certeza. É um rock atual muito bom. É uma pena que as pessoas não escutam muito. O Rock morreu muito nos últimos tempos.

 

- Isso é verdade. As pessoas não gostam de música boa como antigamente.

 

Elas foram o caminho todo escutando rock e conversando sobre as preferências musicais. A conversa estava tão boa que os vinte minutos passaram como mágica até chegar ao bar que Liz escolhera para aquela noite. De longe o letreiro do bar já chamava muita atenção, era luminoso em cor vermelha. O nome também era bem criativo e curioso "Rock'n'girls", talvez fosse um bar feminista para roqueiras ou algo do tipo.

 

Assim que o segurança abriu a porta para elas, Lia se sentiu particularmente acolhida ao entrar no local. O bar tinha um estilo bem rock'n'roll com as luzes amarelas e vermelhas deixando o ambiente meio na penumbra. Era como estar assistindo a um daqueles filmes americanos. O bar em si não era muito grande, mas não tinha importância, pois a clientela parecia ser bem selecionada para o ambiente e mesmo assim tudo estava tão organizado que os espaços eram bem divididos. O chão era todo xadrez e as paredes estavam pintadas em vermelho e branco e enfeitando-as tinham quadros de bandas antigas, discos de vinil e em uma das paredes, havia uma fileira de guitarras em vários modelos e bem organizados dispostos um ao lado do outro.

 

Havia uma mesa de sinuca no canto do bar e o banheiro feminino ficava nos fundos, mas Lia não viu a porta do banheiro masculino. Para completar o charme do bar uma Jukebox daquelas bem antigas estava encostado em uma parede aos fundos, que no momento tocava "Cherry bomb" do The Runaways. Lia abriu a boca automaticamente em surpresa enquanto analisava o espaço, parecia um sonho que um local daqueles existisse ali naquela cidade. Liz começou a rir dela ao seu lado achando engraçado a reação totalmente surpresa dela. Liz a puxou pelo braço levemente lhe chamando a atenção e lhe guiando até o balcão do bar. Sentaram-se naqueles bancos altos e Liz imediatamente pegou o cardápio das bebidas.

 

- E então, gostou do local? – Perguntou sorrindo. Parecia retórico, estava na cara que Lia havia amado.

 

- Se eu gostei? Eu amei. Nunca achei que um dia iria entrar em um lugar assim antes. Muito foda!

 

Liz riu dela mais uma vez. Ela tinha um sorriso grande de contentamento na face, como se tivesse sido muito importante a aprovação dela.

 

- Que bom! Eu imaginei que você iria gostar muito, mas mesmo assim fiquei apreensiva.

 

- Claro que eu amei, olha só esse lugar. Ainda bem que vim com uma roupa apropriada.

 

- Por falar nisso, seu look está incrível. Não pensei que tinha um estilo tão rock'n'roll. Quer dizer, hoje você está mais parecida com uma rock star.

 

- Fico feliz em ouvir isso. Mas olha só para você, também tem um estilo muito legal.

 

- Vamos começar os trabalhos por hoje? – Liz perguntou se referindo a bebida.

 

- Claro, vamos!

 

- Ok, Lia. Me diz então, você nunca tomou um porre e não costume beber muito, não é?

 

- Tipo isso mesmo.

 

- Hum. – Liz deu aquele sorriso de lado. – Então você é mesmo a típica garota certinha.

 

- Era isso que você estava querendo dizer na mensagem mais cedo?

 

- Era. Você parece ser muito certinha.

 

- Pode-se dizer que sim. Mas eu estou decidida a me aventurar mais. Beber, me aventurar, me divertir um pouco mais. Percebi que sou muito tensa as vezes.

 

- Então achou a pessoa certa, posso te ajudar com isso. O que você mais gosta de beber?

 

- Vinho.

 

- Vinho é ótimo, mas deixa eu te avisar logo, o pior porre é o de vinho. Eu me acordei no outro dia muito louca, uma dor de cabeça terrível. Passei mais de um ano até conseguir beber vinho de novo.

 

- Sério? – Lia arregalou os olhos e começou a rir.

 

- Sim. Enfim, você não precisa tomar o porre de vinho. Porém o bom é que você comece bebendo algo que você realmente goste. Vamos começar devagar. Sua meta hoje vai ser tomar uma garrafa inteira.

- Uma garrafa inteira? – Espantou-se. – Pensei que você tivesse dito que eu iria começar devagar.

 

- Você não vai pirar bebendo uma garrafa inteira. Você costuma beber vinho, já está mais acostumada, não é? Não dá para ficar de porre só com uma garrafa. Eu precisei de umas três para ficar de porre. – Liz lhe mostrou no cardápio a parte de carta de vinhos. – Esse aqui é bem doce e não tem tanto álcool, é quase um suco você nem vai perceber, confia em mim!

 

Lia viu o preço do vinho e espantou-se. A mesada que seus pais lhe davam era bem generosa e ainda tinha um cartão de crédito para emergências, mas não queria abusar. Ficou com vergonha de falar, contudo teria que dizer.

 

- Liz, esse vinho é muito caro para mim. – Falou sem jeito, olhando-a.

 

- Não se preocupe com isso, Lia. Eu convidei você, pode ficar à vontade.

 

- Não posso aceitar Liz. Não quero abusar.

 

- Você não está abusando, eu estou oferecendo. – Ignorando-a, Liz chamou a bargirl loira e gostosona que parecia ser conhecida sua e fez o pedido do vinho e um chope para si mesma. – Você vai amar esse vinho, tenho certeza.

 

O vinho logo chegou e Liz imediatamente pediu um queijo para acompanhar a bebida e depois pediu uma porção de batata frita para a cerveja. O vinho era realmente muito delicioso e misturado ao queijo os sabores entravam em harmonia. Não sabia que Liz entendia tanto assim de bebidas. As duas continuaram uma conversa maravilhosa sobre assuntos que Lia amava falar. Música, filmes, livros... sobre cultura. Liz parecia ser uma menina muito culta apesar de seu jeito despojado e simples o que só fez com que Lia a admirasse ainda mais e ao julgar pelo jeito que falara de que iria pagar toda a conta, imaginava que tivesse boas condições financeiras, não que isso fosse importante.

 

No bar só tocava rock o tempo todo. Lia estava tão deslumbrada com o lugar, a bebida, a conversa e com a companhia de Liz que demorou a perceber que o bar estava lotado só por mulheres e muitas delas pareciam ser casais. E ao contrário do que pensou, não ficou nervosa ou agitada perto de Liz, muito pelo contrário, estava se divertindo muito e sem segundas intenções, mesmo que a cena da festa não saísse de sua mente.

 

- Liz, me diz. Como você achou esse local incrível? – Lia perguntou já mais solta. Estava na metade da garrafa e já sentia muita vontade de achar graça de tudo. Liz deu um gole generoso da sua segunda caneca de chope.

 

- Bem, na verdade esse bar é meu... bem, uma das propriedades da minha família. Eu ajudei a estilizar desse jeito. – Liz parecia sem jeito ao falar aquilo. – Não trago muitos dos meus amigos aqui, é uma versão minha que muita gente não compartilha. Muitos deles nem gostariam daqui.

 

- Entendi. – Respondeu surpresa. Então ela devia mesmo ser rica. Deu mais um gole no vinho. – Tenho que dizer que você se superou aqui. Agora entendi porque eu gostei tanto daqui e me senti tão à vontade.

 

- Por quê?

 

- Esse clima misterioso de rock. Tem a mesma vibe que a sua. Não sei, de certa forma pareceu acolhedor e familiar para mim. Sem falar nessas músicas incríveis. Dá até vontade de dançar.

 

- Pode dançar se você quiser.

 

- Ah, melhor não. Além de eu ter muita vergonha, não tenho muito jeito. Tem uma coisa que eu quero fazer. Que tal a gente jogar na sinuca, vi que desocupou agora, vamos!

 

- Vamos!

 

Liz pediu fichas a bargirl, pediu que levassem suas bebidas ali para perto, se encaminharam para cinuca e começaram a jogar.

 

- Você joga muito? – Lia perguntou.

 

- Na verdade não, só um pouco. E você?

 

- Joguei muito quando era mais nova, mas já faz muito tempo.

 

- Então já estou vendo que vou perder feio.

 

- Não me superestime, afinal eu estou ficando bêbada. – Lia sorria para o vento e bebia mais de seu vinho. – Que tal se a gente fizer uma aposta?

 

- Aposta? – Liz apenas sorria do jeito sapeca de Lia. – Que aposta?

 

- Hum. – Ela parecia pensar enquanto pegava um dos tacos. – Se eu ganhar você vai ter que me responder qualquer coisa que eu perguntar e responder a verdade.

 

- Ah, mas eu posso mentir, como você vai saber?

 

- Você não vai mentir, confio em você. E outra, eu sei quando alguém mente para mim.

 

- Sabe mesmo? Como?

 

- Eu só sei.

 

- Ok. Aceito. Mas e se eu ganhar?

 

- Você que escolhe. – Liz abri um sorriso de lado e meio safado.

 

- Ok, se eu ganhar você vai ter que dançar.

 

- Não Liz, isso não. Tenho vergonha.

 

- Se vira. Aposta é aposta.

 

Em um clima de rivalidade e brincadeira as duas começaram a jogar. Lia deixou que Liz desse a primeira tacada. Para sua surpresa ela era muito boa ao contrário do que dissera. Lia se sentia leve, solta e meio zonza. Observava com atenção quando Liz se inclinava sobre a mesa com o taco, era uma visão bem sexy. Liz apenas sorria para ela a cada bola encaçapada, mas quando estava prestes a derrubar a penúltima bola errou por pouco e perdeu a vez.

 

Foi a vez de Lia sorrir. Não poderia perder nenhuma se não dançaria e não poderia passar essa vergonha, por sorte sentia que ainda sabia jogar muito bem e lembrava de todas as dicas e manhas que seu tio lhe dera quando a ensinara a jogar. Com paciência e cuidado encaçapou uma por uma até que chegou na última bola. 

 

Olhou para Liz que tinha um olhar misterioso. Sorrindo, Lia se inclinou bem sobre a mesa e percebeu que Liz inclinou um pouco a cabeça e tinha os lábios levemente separados a observando, nesse momento se sentiu em chamas e não sabia se era desejo ou a bebida, para variar isso a assustou. Enquadrou bem a bola no taco, Liz apenas riu e balançou levemente a cabeça bebendo mais cerveja, quando finalmente deu a tacada final deu pulinhos de vitória quando encaçapou a bola e ficou brincando com a cara da outra. Se aproximou dela e a olhou. Liz tinha sempre um olhar sério e misterioso que a deixava desconcertada e intrigada. Pensou bem no que iria perguntar, aproveitou que tomara coragem líquida e tentou ser discreta e sensível ao perguntar aquilo.

 

- Sabe Liz, vou confessar uma coisa para você. – Sentia-se ainda com vergonha.

 

- O quê? – Liz perguntou curiosa. Ela não tirava os olhos dela.

 

- Eu não sou nenhuma metida e já que agora somos amigas e parceiras de bebida, preciso dizer. Ontem na festa quando eu fui no banheiro vomitar acabei vendo você beijando uma outra garota atrás da tenda.

- Você viu a gente? – Liz parecia surpresa, mas não mostrou sinais de preocupação ou aborrecimento e vendo sua calma, decidiu prosseguir.

 

- Vi sim. E por mim tudo bem, tranquilo. Não sou uma preconceituosa.

 

Liz sorriu, estava muito engraçada vê-la se enrolando com as palavras, Lia com certeza já estava bêbada.

 

- Pergunte o que você quer saber! – Falou com bom humor e Lia suspirou.

 

- Você gosta de mulheres?

 

Liz não se aguentou mais e começou a rir da inocência da outra. Com certeza Lia era uma pessoa que valia a pena ter por perto, era despretensiosa e pura de certa forma. Lia não entendeu porque ela riu. Depois de rir por algum tempo, Liz se recompôs de continuou.

 

- Eu sou lésbica sim, Lia. Pode ter certeza.

 

- Por que você riu?

 

- Não sei. Você ainda teve que perguntar para ter certeza. Você não reparou que estamos em um bar lésbico?

 

Agora fazia todo sentido. Como era idiota! Por isso só via mulheres e não tinha encontrado a porta do banheiro masculino. Tinha vontade de se bater por isso. Mas Lia era conhecida por ser assim tão desligada desde sempre.

 

- Na verdade eu vi várias mulheres sim, mas não imaginei que fosse um bar lésbico. Nem vi ninguém se agarrando por aqui.

 

- É que as clientes por aqui são discretas, até porque o ambiente não é propício para agarra-agarra. É só um lugar diferente e estiloso para vir se divertir com uma amiga ou namorada. Foi esse meu pensamento.

 

- E você disse que nunca trouxe seus amigos aqui.

 

- Os da faculdade não. Só os antigos mais próximos que já me conhecem.

 

- Alguém da faculdade sabe que você é....?

 

- Não é nenhum segredo, ok? Eu sou assumida e tudo, eu só não acho que preciso sair anunciando para todo mundo, entende? Por isso nem todos lá sabem, mas eu não nego. Bem, só quem sabe são as meninas que eu fiquei até agora.

 

- Já foram muitas?

 

- Ok, você ganhou apenas uma pergunta, lembra?

 

Lia sorriu e se sentiu tímida de repente. Já fora longe com as perguntas por uma noite, mas além da curiosidade culpava a bebida a estar lhe impulsionando a falar mais do que deveria. Quando Lia finalmente esvaziou a garrafa, Liz fez questão de tirar uma foto dela com a garrafa vazia próxima a parede que tinha as guitarras, depois contou a ela mais um pouco sobre o bar. Lia finalmente se sentiu zonza além da conta e um sono repentino se apoderou dela. Liz percebeu seu estado e resolveram encerrar a noite.

 

Elas chegaram ao prédio de Lia já era meia noite e Liz fez questão de ajudá-la a chegar até seu apartamento em segurança. Assim que chegaram até a porta do apartamento Lia virou-se para ela e falou:

 

- Se não fosse tão tarde e eu não estivesse tão tonta te convidaria para conhecer o nosso apartamento. Você sabe que moro com a Cris, não é?

 

- Sei sim e não se preocupe com isso eu sei, não vai faltar oportunidade, eu vim até aqui só para garantir que você estava bem.

 

- Liz, eu amei a noite e me diverti muito. Obrigada!

 

- Por nada, é sempre bom fazer novas amizades.

 

- Claro! – Se sentiu estranha quando ouviu o nome amizade.

 

- A gente se fala depois então. Até mais.

 

- Até mais Liz e obrigada de novo.

 

- Por nada. Precisando...

 

Elas se olharam por um tempo. Uma vontade de se aproximar de Liz se apoderou dela, mas o medo era muito maior. Liz a olhava intensamente como se esperasse algo que sabia que não aconteceria. Estava quase cedendo ao desejo de beijá-la quando Liz falou:

 

- Bem, melhor eu ir já está tarde.

 

- É, está. – Concordou rapidamente se afastando e tentando disfarçar a frustração. – Cuidado e manda mensagem quando chegar em casa, ok?

 

- Ok! – Liz sorriu e se afastou até o elevador.

 

As duas não desviaram o olhar até que o elevador chegou e Liz finalmente se foi. Assim que entrou no apartamento se escorou na porta e suspirou. Estava confusa e com medo. Mas o que estava fazendo? Um clima muito forte rolou entre elas ou foi impressão sua gerada pelo desejo e pela bebida? Com a cabeça a mil e se sentindo tonta ouviu passos no corredor.

 

- Lia? – Era Cris. Ela tinha a expressão preocupada. – Criatura, onde você estava? Não sabia que você ia sair e nem atendeu minhas ligações.

- Você me ligou? – Falou pegando seu celular do bolso, estava no silencioso e lá tinha cinco ligações perdidas da amiga. – Cris, foi mal eu nem vi, desculpas.

 

- Tudo bem, eu só fiquei preocupada. Você nunca some assim sem me avisar nada. Eu estranhei. O importante é que você está bem.

 

- Eu estou bem não se preocupe!

 

Cris se aproximou mais de Lia que não se desgrudava da porta, pois se sentia tonta.

 

- Lia, você estava bebendo? – Cris sorriu ao perguntar.

 

- Bebi sim. – Respondeu explodindo em risos. – Me ajuda a chegar até meu quarto por favor, eu estou tonta.

 

Cris riu dela mais ainda e a ajudou a chegar até o quarto, assim que deitou na cama praticamente desmaiou de sono com a roupa e tudo e apagou totalmente.

Fim do capítulo