Capítulo 4 – A festa

 

O fim de semana demorou a chegar talvez porque todos estivessem muito ansiosos para a festa de despedida das aulas e boas-vindas das tão esperadas férias. Na sexta-feira Lia e Cris estavam em casa e tiraram a noite de beleza como era de costume. Entre esmaltes, depilação e taças de vinho as duas conversavam sobre o que fariam nas férias.

 

- Acho que vou ficar aqui na cidade mesmo, sabe? Quero passar mais tempo com o Alberto sem ser na correria do semestre. Praticamente vai ser as primeiras férias que vou passar com ele.

 

- Meus pais querem que eu vá para o interior, passar tempo com eles. – Lia suspirou ao falar.

 

- Você não parece nenhum pouco animada com isso.

 

- E eu não estou. Todo ano é a mesma coisa. Queria fazer algo diferente. Viajar, sei lá... vivenciar mais coisas. Conhecer gente nova. Minha vida está meio que em um tédio profundo.

 

- Puxa, estou vendo! – Cris falou admirada. – Por que você não fica aqui com a gente?

 

- E ficar de vela? – Lia deu de ombros. – Eu não quero atrapalhar vocês.

 

- Você não vai ficar de vela. E o Rodrigo? Podemos fazer passeios de casais.

 

- Ai, Cris! – Lia revirou os olhos irritada. – Esquece esse cara, eu nem tenho nada sério com ele.

 

- Mas pode virar um rolo sério. Ele parece estar super na sua. Eu ouvi risadinhas ontem meia noite quando passei pelo seu quarto. Estava falando com ele?

 

- Deixa de ser curiosa, Cris. – Lia falou tentando disfarçar. Na verdade, na noite passada ela estava falando com Liz por mensagem.

 

- Só estou empolgada amiga, nunca vi você com ninguém assim antes. Só com o Carlos, mas...

 

- Por que todo mundo sempre se impressiona com isso? – Lia se aborreceu. – Parece até que existe uma regra sagrada que determinada a idade a gente tem que ter alguém...

 

- Ai Lia, pelo amor de Deus. – Cris a abraçou, calando-a. – Deixa de ser ranzinza. Tem que namorar mesmo. Paquerar, trans*r...

 

As duas caíram na gargalhada e terminaram a sessão de beleza da noite.

 

Cris foi para o quarto dormir, pois disse que estava com muito sono. Lia ainda não estava com um pingo de sono. Ela pegou uma cadeira da sala e foi para a pequena varanda, atravessando a porta de vidro e sentou-se ali ainda bebendo do vinho e observando a cidade lá de cima. Estava perdida em pensamentos quando ouviu uma notificação do telefone. 

 

Era uma solicitação de amizade de Liz. Elas falaram bastante ontem depois que Lia comentou em um de seus vídeos, mas não haviam se "seguido". De alguma forma que Lia não conseguia explicar seu coração logo acelerou. Ela aceitou a solicitação e ficou parada olhando para a tela esperando que algo mais acontecesse, mas nada aconteceu. Frustrada por algo que nem ela mesma sabia, terminou o vinho e foi para o quarto dormir.

 

Deitou-se inquieta e virou de um lado para o outro até ouvir a alerta de uma nova notificação. Meio com sono pegou o telefone e viu que era uma mensagem de Liz. Seu coração acelerou novamente. Estava louca para falar com ela novamente e não sabia por quê. Elas mal haviam se falado desde que se conheceram, apenas agora no começo da semana quando Liz cantou para ela no pátio. Imaginou então que talvez aquele fosse o efeito que Liz tinha nas pessoas para que ficassem meio que "encantadas" por ela. Abrindo a mensagem, leu com expectativa:

 

Liz: "Obrigada por aceitar minha solicitação e me seguir de volta. "

 

Lia passou alguns minutos absurdos pensando no que responder e não sabia o quê. Aliás, não precisava mesmo responder nada, mas sentia uma necessidade de conversar mais com ela e não entendia o porquê. Contudo, sentia também que tinha uma forte ligação com Liz e talvez fosse o gosto musical, pois aquilo era um ponto forte em comum entre as duas. No entanto, depois de muito pensar e sem sucesso algum, digitou apenas duas palavras:

 

Lia: "Por nada"

 

Ficou ali feito um idiota olhando para o teto do quarto. Logo chegou uma nova mensagem.

 

Liz: "Acabei de publicar um novo vídeo tocando. Acho que você também vai gostar dessa. "

 

Lia sorriu e correu até o perfil dela, abrindo o vídeo. Logo que Liz começou os primeiros acordes suavemente em seu violão ela soube de qual música se tratava e não poderia ter sido uma mais certeira que essa. Ela tocava a música 26 do Paramore. Lia arrepiou-se quando ela começou a tocar o refrão e ficou tão impactada com a voz de Liz que resolveu assistir uma segunda vez seguida. E só depois ela enviou uma resposta.

 

Lia: "Ficou maravilhoso você cantando. Amo demais essa música, demais mesmo. Você tem um dom. Toda música que você canta se torna ainda mais linda. "

 

Liz: "Nossa! Obrigada mesmo. É sempre bom ouvir esses elogios. "

 

Lia: "Tenho certeza que está habituada a sempre escutar isso. "

 

Liz: "Nem sempre. "

 

Lia: "Nem sempre? Tem certeza!?"

 

Liz: "Sempre dizem que eu devo me dedicar assim a outras coisas. "

 

Lia: "Queria entender isso. Você ama música e faz algo totalmente diferente disso. Por quê? "

 

Liz: "É uma longa história. Mas preciso tomar conta dos negócios da família. Um dia te conto pessoalmente tudo, se quiser mesmo saber. "

 

Lia: "Claro que eu gostaria de saber. Sou uma ótima ouvinte. "

 

Liz: "Ter uma amiga de verdade é sempre bom, mesmo apesar de não te conhecer muito, sinto que posso confiar.

 

Lia: "Também sinto isso de você. O que é estranho porque eu tenho uma dificuldade enorme de confiar e conversar com pessoas que acabo de conhecer. "

 

Liz: "Mas você teve que passar um semestre quase todo para conversar comigo. Pegou uma birra danada em mim. "

 

Lia: "Sobre isso, gostaria de pedir desculpas. Às vezes posso ser muito chata. "

 

Liz: "Está desculpada. Eu já sei como você pode ser chata. "

 

Lia: "Não era para você concordar... rsrsrs. "

 

Liz: "Rsrsrs. O papo está ótimo, mas o sono me pegou, Lia. Nos vemos amanhã na festa? "

 

Lia: "Sim, até amanhã. "

 

Lia ainda demorou muito para dormir. Se sentia eufórica de um jeito que nunca tinha se sentido na vida. Era tão bom conversar com Liz. Sentia que a conhecia mesmo não sabendo nada sobre ela, como quando você realmente tem convívio com alguém a muito tempo que se cria aquela cumplicidade e pelo que Liz falara ela sentia o mesmo. Parecia até idiotice pensar que ficou um semestre quase todo sem falar com ela.

 

Dormiu quase às duas da manhã e consequentemente acordou bastante tarde no dia seguinte, quase ao meio dia o que era um recorde, pois já se habituara a acordar bem cedo todos os dias. Quando pegou o telefone viu 2 chamadas perdidas do Rodrigo e 3 mensagens de Cris dizendo que tinha ido passar a manhã com Alberto e as outras duas perguntavam onde estava e a convidando para almoçar com eles.

 

Em seguida ela retornou a ligação de Rodrigo, que como sempre, a tratou com muita educação e atenção, se oferecendo inclusive a leva-la para o almoço com sua amiga. Lia relutou por alguns segundos em aceitar a oferta, não queria que ele pensasse que ela estava querendo algo sério, simplesmente não conseguia pensar em assumir uma relação com ele nem nada do tipo, só queria curtir um pouco. Sentia que precisava de um pouco mais de aventura e experiência em sua vida. Mas pensou bem e resolveu que iria aproveitar o que ele tivesse de bom a oferecer, talvez ele só estivesse sendo simpático daquele jeito apenas para leva-la para cama. Então que mal teria?

 

Uma meia hora depois ela desceu e se encontrou com ele na portaria do prédio. Ele estava esperando por ela encostado na porta do carro. Usava uma bermuda e blusa brancas e usava um óculos esporte estiloso e claro tinha a barba bem feita e impecável como sempre. Ele era realmente muito bonito. Talvez devesse mesmo seguir o conselho de Cris e tentar ter algo com ele, mas o simples pensamento era absurdo. Não conseguia se imaginar dando satisfação da sua vida para alguém. Ele abriu um largo sorriso quando a viu e lhe cumprimentou com um selinho e um abraço.

 

- Bom dia dorminhoca! – Brincou ele, abrindo a porta do carro para que ela entrasse. Gesto esse que foi recebido com admiração e surpresa por Lia. Não sabia que algum homem na face da terra ainda fazia essa pequena cortesia.

 

- Bom dia. – Respondeu ela com bom humor.

 

Depois de lhe passar o endereço do restaurante onde iam se encontrar os dois saíram tranquilamente e começaram um assunto leve. Por sorte ele era ótimo para puxar assunto porque se dependesse de Lia os dois estariam em um silêncio constrangedor. Não conseguia pensar em muito para falar com ele. Por fim fez um esforço e tentou fazer algumas perguntas de seu interesse. Como por exemplo que tipo de música mais ouvia, ou que tipo de filmes mais gostava e coisas do tipo.

 

Assim que desceram do carro e foram se encaminhando para a porta do restaurante ele pegou em sua mão e entrelaçou seus dedos. Lia arregalou os olhos em surpresa e ficou levemente tensa e Rodrigo percebeu isso.

 

- Se você quiser eu solto. – Falou baixinho, a observando.

 

- Desculpe. É que nunca fiz isso com alguém antes. Só falta de costume.

 

- Sério? – Perguntou admirado. – Você nunca namorou ou ficou sério com alguém?

 

- Seu eu disser não você vai se assustar?

 

- Vou sim. Como uma menina linda que nem você nunca teve um antes? Com certeza foi porque não quis, não é?

 

- E nem quero! – Saiu espontaneamente, mas se arrependeu depois. - Quer dizer... bem, eu agora estou mais preocupada em estudar direitinho.

 

- Tudo bem, Lia. Te entendo.

 

Eles entraram no restaurante e assim que os viu, Cris fez uma cara de surpresa e não disfarçou. Com certeza Rodrigo percebeu, ele até tinha um sorriso no canto dos lábios. Lia revirou os olhos e apensa tratou de disfarçar. Ao sentar na mesa ele cumprimentou Cris e Alberto com o aperto de mãos e um sorriso cativante. E logo Lia tratou de fazer as apresentações formais de primeiro encontro.

 

O almoço foi tomado por um clima leve e alegre. Aparentemente o Rodrigo era bom de conversa com todo mundo e contava histórias realmente engraçadas que já tinha vivido com os seus amigos bêbados. Alberto era o que mais sorria e se identificava com as histórias. Nunca o vira se divertir tanto, pois sempre que saia com os dois ele sempre tentava deixar as duas à vontade para conversar sobre "assuntos femininos" como ele mesmo dizia. Cris dava uma atenção exacerbada a ele, talvez fazendo com que ele se enturmasse e se sentisse à vontade entre eles.

 

Na hora da conta eles fez questão de pagar a parte de Lia, que de quebra ainda havia pedido um pudim, bem caro aliás, como sobremesa que mesmo assim ainda havia dividido um pouco com ele. Quem visse talvez poderia pensar que os dois eram o casal e aquilo estava assustando Lia mais do que tudo. Alberto os chamou para irem passear pela praia ir ficarem de bobeira na ponte que havia lá que era até um ponto turístico muito apreciado na cidade, principalmente pelos casais. Constantemente ouvia-se histórias românticas que ocorriam no local.

 

Sentaram no banco grande de madeira sob o telhado que cobria quase toda a ponte e ficaram ali. Lia estava parcialmente calma com a situação, o sorriso incentivador de Cris a relaxava um pouco e por um breve momento conseguiu pensar que talvez era aquilo que ela realmente quisesse. Rodrigo tinha tudo que uma moça séria como ela poderia querer, mas então por que não conseguia se sentir totalmente à vontade com a ideia?

 

Com Lia era sempre assim, ela reclamava que não existia um rapaz sério na face da terra, mas sempre que algum aparecia ela caia fora e ficava inventando um monte de desculpas. Lá pelas quatro da tarde, depois de muito papo e algumas cervejas tomadas, todos estavam mais leves. Lia sentiu seu telefone vibrar e quando olhou era uma mensagem de Liz. Com o coração acelerado, pediu licença e se afastou por um momento para responder a mensagem.

 

Liz: "Tenho certeza que você vai gostar do repertório de hoje. "

 

Lia: "Ah é? E posso saber o que a senhorita vai tocar? "

 

Liz: "Daqui a pouco na festa você vai saber. Mas não vou tocar a noite toda hoje. A galera só quer saber de funk e sertanejo. Vou ser a primeira a se apresentar, logo estarei livre. "

 

Lia: "Ok então. Até daqui a pouco. "

 

Ela tinha um enorme sorriso no rosto e nem ao menos havia reparado nisso. Quando levantou a vista, viu que Rodrigo a observava com um olhar curioso. Ela sorriu para ele tentando disfarçar e se reaproximou tocando os lábios dele em um selinho. Quando foi se afastar ele não deixou e a puxou pela cintura fazendo com que ela sentasse em seu colo e aprofundou o beijo. Lia correspondeu um pouco, mas logo tratou de diminuir a intensidade, afinal estavam na frente dos amigos e sentia-se constrangida em ficar se agarrando na frente de outras pessoas.

 

Em casa as duas se arrumaram rapidamente e ficaram à espera de Alberto. Lia confirmou de encontrar-se com Rodrigo lá, mas queria mesmo era bater um papo com Liz, esperava que tivessem a oportunidade de falarem à vontade como na noite passada, gostara muito de conversar com ela. Também estava ansiosa para ver qual repertorio ela tocaria naquela noite. Inspirada usou roupas pretas e rasgadas. Cris aprovou o visual e logo depois Alberto chegou.

 

Lia se surpreendeu quando chegaram a praia. Não sabia que a festa seria ali. Tinha uma tenda enorme armada. Era bem fechado lá e ao chegarem na entrada tiveram de pagar para receber as pulseiras e serem liberados para entrar. A tenda enorme estava já bem lotada. O jogo de luzes se mexia freneticamente e ao longe o ronco do mar se fazia presente. No fundo da tenda viu o palco baixo já armado onde Liz já ajeitava os instrumentos com sua banda.

 

Ela nem mesmo falou nada para Cris e Alberto de um impulso foi até onde Liz estava. Riu ao constatar que estavam com roupas parecidas, só que Liz usava uma T-shirt branca com várias caveirinhas na estampa. Com o coração batendo forte de expectativa Lia ficou olhando-a perto do palco, esperando que ela a percebesse. Ela estava de costas e dedilhava o violão enquanto testava o volume na caixa, depois de pouco tempo Liz se virou e logo a viu abrindo um lindo sorriso.

 

- Hey, chegou finalmente!

 

- É, finalmente. Estou ansiosa para ver a apresentação de hoje. O repertório.

 

- Acho que você vai gostar. – Liz tinha um sorriso misterioso nos lábios.

 

- Eu tenho certeza que vou. Não te vi tocando uma música ruim ainda.

 

- Ah, ainda. – Respondeu com bom humor. – Espero não decepcionar.

 

- Não vai.

 

A conversa das duas foi interrompida quando Cris e Alberto finalmente as alcançaram e começaram a puxar conversa com Liz também. Todos gostavam de estar perto e falar com ela. Liz era uma daquelas pessoas que tinham uma áurea iluminada, o tipo de pessoa que transmite paz pelo seu jeito quieto e simples, além do que ela tinha um sorriso lindo na face o tempo todo e era também muito engraçada e divertida.

 

- Lia, o Rodrigo chegou? – Falou Cris.

 

- Sei lá. – Respondeu desinteressada.

 

- Quem é Rodrigo? – Perguntou Liz de forma espontânea.

 

- É o crush da Lia, aquele que estava com ela na festa passada.

 

- Ah! – Liz respondeu simplesmente e baixou o olhar. Começou a dedilhar as cordas do violão

 

Era a imaginação dela ou Liz havia ficado meio chateada quando ouviu o nome crush? De repente Lia ficou feliz com isso e inquieta ao mesmo tempo, ainda que não soubesse o que aquilo significava de verdade.

 

- Fala com ele. – Cris insistiu novamente e Lia se irritou.

 

- Para Cris! Eu não vou falar com ninguém, ele que me encontre se quiser.

 

Lia saiu com raiva e foi atrás de alguma bebida. Se sentia eufórica e ao mesmo tempo com medo. Ela não olhou para trás quando saiu, mas se o tivesse feito teria visto o olhar aprovador de Liz com suas palavras. Mais na lateral da tenda encontrou um balcão com vários barmans preparando todo o tipo de drinks. Uma música de dance começou a tocar alta e várias pessoas que já estavam na "pista" começaram a dançar no ritmo. Esperou na fila e quando chegou sua vez não tinha ideia do que pedir.

 

- O que vai ser moça? – Perguntou um dos barmans.

 

Lia deu uma olhada rápida no cardápio e sentiu quando alguém a cutucou na cintura, era Liz. As duas sorriram uma para a outra.

 

- Indecisa? – Liz perguntou em seu ouvido. Lia se arrepiou toda enquanto o cheiro do perfume dela lhe despertava os sentidos, mas tratou de disfarçar.

 

- Mais ou menos. Sou nova nisso de bebidas então...

 

- Hum... entendo! – Liz sorriu de lado. – Posso pedir para você então?

 

- Vai ser muito forte?

 

- Qualquer coisa a gente divide se você não conseguir.

 

- Ok, então. – Lia sorria. Iria cair na onda. Não era isso mesmo que queria? Se aventurar mais?

 

- Uma caipiroska de morango, por favor e bastante vodka. – Pediu Liz sem ao menos olhar o cardápio dos drinks.

 

Os olhos de Lia se arregalaram levemente. Sabia que caipiroskas eram bem fortes e Liz ainda havia reforçado isso. Começou a rir. Nunca bebera de verdade, não sabia como ficaria, mas não queria exagerar, morria de medo de dar vexame ou fazer coisas embaraçosas. Liz apenas sorria para ela enquanto o barman preparava a bebida.

 

- Você nunca bebeu um desses?

 

- Não.

 

- Você nunca tomou um porre não é? - Liz riu levemente e a encarou com uma expressão meio curiosa.

 

Lia maneou a cabeça confirmado e Liz sorriu, mas dessa vez foi um sorriso de canto que Lia considerou como "safado", ou era sua imaginação mais uma vez? Sentia seu coração pular na boca. Precisava parar de ter aqueles pensamentos com Liz.

 

- Vamos começar devagar. Você ainda tem muito que aprender.

 

Nesse momento o barman lhes entregou a bebida e as duas finalmente saíram da fila movimentada.

 

- Vai, toma aos poucos. Cuidado que está forte.

 

Perante o olhar atento da outra, Lia segurou o canudo entre os dentes e lábios e tomou um gole generoso. Imediatamente o gosto forte da bebida se espalhou em sua língua e quando engoliu parecia que uma coragem liquida havia esquentado o seu interior. Quando voltou a olhar Liz ela tinha os lábios levemente separados e um olhar sério.

 

- E então? – Perguntou Liz em um sobressalto.

 

- Está mesmo forte, mas é uma delícia. – Lia tinha certeza que sua face estava corada e Liz parecia sorrir disso.

 

- Você quer dividir?

 

- Sim, é melhor.

 

As duas ficaram conversando e terminaram a bebida por mais uns dez minutos até que Rodrigo as encontrou e acabou com o momento divertido. Liz se retirou logo dizendo que começariam a apresentação e prometeu que se encontrariam para beber mais depois do show. Junto com a banda todas as músicas do repertório de Liz ficavam animadas, se juntando a Alberto e Cris, Rodrigo logo tratou de enlaçar Lia pela cintura e tentar fazê-la dançar com ele.

 

Lia se animou bastante com as músicas, Liz tinha um verdadeiro dom e uma energia que contagiava o público e animada comprou mais bebidas. Eles estavam mais distantes do pequeno palco, mas Liz não tirava os olhos de Lia e por sorte ninguém ainda havia percebido isso nem mesmo Lia que dançava e bebia com Rodrigo em seu encalço. Depois de mais uns quatro drinks já levemente alterada ela ouviu quando Liz começou a tocar Yellow do Coldplay a deixando subitamente emotiva, amava demais aquela música e naquele momento seus olhares de cruzaram e cantando Liz lhe presenteou com um sorriso leve e solto, Lia correspondeu o sorriso e cantava ao mesmo tempo.

 

Rodrigo a pegou pela cintura e a virou para ele beijando-a em seguida. Lia estava louca para se agarrar com alguém naquele momento e tonta com a bebida não recusou o beijo se pendurando no pescoço dele. De olhos fechados e ouvindo a voz envolvente de Liz por alguns segundos imaginou-se ali com ela aos beijos e esse pensamento a deixou super excitada e assustada, logo ela engatou um beijo ardente de língua tentando matar um pouco da excitação que sentia.

 

Sentindo sua entrega no beijo Rodrigo tentou puxá-la do meio da multidão para ficarem a sós o que a fez abrir os olhos e encará-lo. Ficou confusa quando o viu, por um breve momento realmente imaginou que fosse Liz ali com ela e isso a deixou completamente tonta e certamente apavorada. Os dois saíram da multidão e foram para fora da tenda.

 

- Você está bem? – Perguntou preocupado enquanto se sentavam na areia a beira da praia.

 

- Sim, obrigada. Eu só fiquei um pouco tonta eu não costumo beber tanto.

 

Rodrigo sorriu e passou a mão em sua face, ele parecia encantado.

 

- Você é uma caixinha de surpresas, Lia.

 

Ele deitou-se e a chamou para deitar perto dele. Aceitou um convite, deitar agora parecia uma boa ideia e aconchegou-se ao seu peito fechando os olhos. Passaram muito tempo assim, ele fazia um leve carinho em seu braço enquanto ela ouvia a música tocando ao longe. Era muito fraca para bebidas, depois de um tempo com os olhos fechados tudo ainda estava girando um pouco, estava realmente tonta. Percebendo seu desconforto Rodrigo disse:

 

- Eu vou comprar uma água para você e arranjar um remédio, ok? Cuidado, não sai daqui.

 

- Tudo bem!

 

Pouco tempo que ele saiu Lia prestou atenção que Lia já não tocava mais. Perdeu-se em um milhão de pensamentos ali sozinha. Não entendia porque havia pensado em Liz no momento do beijo. O simples pensamento de estar se sentindo atraída por ela a assustava para cacete, por um breve momento realmente desejou beijá-la e se sentiu excitada como nunca antes. Balançou a cabeça tentando tirar esses pensamentos da sua cabeça, não estava entendendo mais nada.

 

Com medo dos próprios pensamentos tentou se levantar aos poucos até a tontura passar. Sentindo-se estável encaminhou-se para próximo da tenda e quando estava chegando mais perto sentiu uma vontade enorme de vomitar. Correu para trás da tenda onde havia banheiros químicos. Com certeza Lia vomitou todo o álcool que havia ingerido mais cedo. Sentia-se horrível, sentia suas entranhas queimarem de dentro para fora enquanto um suor frio lhe tomava. Passou algum tempo dentro do banheiro até ter certeza de que não iria mais provocar.

 

Saiu do banheiro e depois deu a volta para voltar a tenda. Assim que reparou ao seu redor ouviu uns ruídos e olhando para os lados viu que duas mulheres estavam se agarrando ali próximo da tenda, logo depois dos banheiros. Imediatamente chamou sua atenção e quando apurou um pouco mais sua vista viu que uma das mulheres era Liz. O queixo de Lia caiu e seus olhos se arregalaram enquanto uma sensação de inveja e desapontamento misturado com surpresa tomavam conta de seu peito deixando-a sem ar.

 

A outra menina de cabelo curto parecia atacar Liz. mesmo. Ela a empurrava  contra a grade de ferro e agarrava-se a ela com vontade. Lia queria sair correndo dali, mas não conseguia se mexer, sua curiosidade era maior que seu constrangimento. De repente Liz trocou de lugar com a menina agora prensando-a contra a barra de ferro e apertando sua coxa, entrelaçando suas pernas com as dela e enfiando a mão em seus cabelos, descendo os beijos pelo seu pescoço. A outra estava de olhos fechados e tinha a boca aberta demonstrando sentir muito prazer com o ato. "Puta que pariu, que pegada gostosa! " pensou Lia sem conseguir se controlar.

 

Por um momento desejou estar no lugar daquela fulana, sendo beijada daquela forma tão selvagem e sexy. Não tinha outras palavras para descrever aquele beijo. Ao longe Liz ouviu a voz de Cris que vinha aflita ao seu encontro. Logo saiu dali para que a amiga não visse a cena que presenciava.

 

- Onde você estava criatura? Faz tempo que a gente te procura.

 

- Eu precisei... ir no banheiro... para vomitar.

 

- Rodrigo ficou louco quando voltou e não te encontrou.

 

- Desculpa, ah... realmente não consegui evitar. Foi um enjoo muito forte. – Ela tentava se concentrar em formar uma frase decente, sentia-se quente, febril.

 

- Tudo bem, amiga. Você quer ir embora? – Perguntou Cris preocupada.

 

- Não, eu me aguento. Está cedo ainda, não quero atrapalhar a diversão. Eu não deveria ter bebido tanto assim.

 

- Não deveria mesmo. – Cris sorriu. – Que novidade é essa agora? Você nunca bebeu assim.

 

- Eu sei, mas hoje me deu vontade. Quero me aventurar mais.

 

As duas sorriram e voltaram para onde os meninos estavam. Rodrigo suspirou aliviado quando a viu e tratou de cuidar dela lhe dando bastante água e um remédio para enjoo. Depois de um tempinho voltaram para a tenda e curtiram por mais um tempo o som de uma nova banda.

 

Lia só viu Liz ao longe depois de muito tempo e sempre cercada por um monte de outras pessoas, incluindo aquela fulana com quem se agarrara atrás da tenda. As duas trocaram uns olhares e sorrisos, mas foi tudo. Depois das uma da manhã os quatro decidiram dar a noite por encerrada. Rodrigo ainda se ofereceu a deixar Lia em casa, mas dispensou. Agora só precisava de um momento sozinha com seus pensamentos no banco de trás do carro de Alberto. Estava se sentindo pesada e confusa. Precisava digerir tudo sozinha.

Se jogou na cama e até a hora de dormir Liz e seus beijos ardentes povoaram sua imaginação. Apesar do sentimento de culpa que sentia por pensar tantas coisas indecentes em uma noite só, não conseguia evitar, as imagens surgiam naturalmente e em todas as duas se beijavam ardentemente, quase conseguia sentir o cheiro dela se fechasse bem os olhos. Estava ferrada? Nunca desejara tanto assim uma pessoa ainda mais outra mulher e aquilo a estava assustando muito.

 

Lia não conseguia dormir, a sua imaginação estava solta sem deixa-la descansar. Desistindo de lutar contra seu impulso, pegou o celular e começou a fuçar a rede social de Liz novamente. Tinha uma foto dela vestida com a roupa que estava na festa e já vídeos com trechos de músicas da apresentação da noite. Tinha que admitir que Liz era uma garota incrivelmente linda, além de talentosa. "Oh Deus, isso não pode estar acontecendo comigo! ". Esse foi o seu último pensamento antes de finalmente conseguir pegar no sono.

 

 

Fim do capítulo