POV Luna

Mal amanheceu e eu já estava na casa da Alex, precisava conversar com minha amiga, falar sobre a decisão da Carol em morar comigo, sobre o encontro com a Helô mais tarde, sobre a insistência das palavras da cigana ecoadas em minha mente. Eu precisava desabafar ou iria enlouquecer.  

_ Calma Luna, uma coisa de cada vez, porque eu não consegui entender nada do que você disse.

Respirei fundo, tomei um gole do meu café, confirmei a hora em meu celular e tentei falar novamente.

_ Eu vou me encontrar com a Helô daqui a pouco, a Carol quer morar comigo e eu não vou mais abrir mão da minha filha.

_ Uau, que rabuda em loira, não queria estar no seu lugar. Você acha que a Heloísa vai aceitar de boa?

_ Espero sinceramente que sim, caso contrário iremos para um tribunal. Já abri mão da minha filha uma vez, não vou abrir de novo.

_ Eu ainda acho que você vai se surpreender. Você viu como ela ficou incomodada com a presença da Carina ontem na festa? Mais.... você reparou que a ruiva não veio com ela?

_ Claro que reparei e sinceramente não sei o que pensar.

_ Mulher deixa de ser lesada, lembra o que a Madame Berta te falou: a pessoa que habita seu coração irá voltar. Não foi isso que ela disse?

_ Tô vendo a merd* que estou me metendo, isso sim. Fico deixando você me iludir com essas crendices de cartomante e depois quem quebra a cara sou eu.

_ Para de ser cética Lu, paga pra ver. Vocês já estão separadas mesmo, o que de pior pode acontecer? Agora me diz uma coisa, se ela voltar o que você vai fazer?

_ Não sei, por hora nada.

_ Porr* Luna, se a Heloísa voltar é comprovação que a cigana estava certa, você vai ser obrigada a acreditar e se reinventar, a não ser que queira perder a morena de vez.

_ Eu já perdi mulher, é tão complicado assim você entender?

_ Segundo a cigana não, você ainda está no jogo, basta escolher a melhor estratégia e voltar a jogar. Sério Lu, fica ligada no que ela falou, eu sei que ela é quente, nunca te poria em uma furada.

_ Tá certo. Agora deixa eu ir que combinei com ela as 16h e ainda quero passar no Shopping para comprar uma blusa.

Me despedi da minha amiga e fui embora. Enquanto dirigia a caminho do shopping pensava na melhor maneira de falar com a Helô um assunto tão delicado. Inevitavelmente pensava em tudo o que a cartomante tinha me dito e na conversa com a Alex. Não queria me apegar a vãs esperanças, tinha medo de me iludir e sofrer ainda mais. Mas no fundo sonhava com a volta da Helô e a oportunidade do reconquistá-la.

As 16h em ponto toquei a campainha do apartamento do Rafael. Ao entrar reparei que o local estava todo limpo, organizado e com cara de habitável. Meio constrangida com a situação sentei na sala e comecei a falar.

_ Cadê a Carol?

_ Ela foi ao parque com a Juliana, achei que seria melhor conversarmos a sós. Ela já está uma mocinha e entende absolutamente tudo o que dizemos.

_ Entendi, você está certa, até mesmo porque o assunto que me traz aqui não será muito agradável, mas eu espero sinceramente que a gente consiga se acertar.

_ Então deixa eu falar primeiro, minha notícia é boa e não quero discutir com você agora.

_ Tudo bem, o que tem a me dizer?   

_ Estou voltando. Depois de uma conversa com a Carol, percebi que o melhor pra ela é estar aqui, perto de você e das pessoas que ela ama. Por isso precisei que ela viesse para cá nas férias, eu agilizei nossa transferência para cá. Amanhã mesmo volto para o hospital e a Carol volta para a escola.

Ao ouvir aquela informação meu coração parou, fiquei completamente sem fala, minha cabeça girava e a todo momento as frases da cigana emanavam em minha cabeça. “ela vai voltar”, “ela vai voltar”...

_ Lu, Lu..., Luna, você está bem? Ela me sacudiu como se tentasse me tirar da letargia em que me encontrava. Tentei demostrar uma naturalidade que não possuía mais.

_ Sim, mas e a Roberta, ela aceitou voltar para cá antes da conclusão da residência?

_ Não estamos mais juntas.

Novamente meu mundo parou, me enfiei no meu universo paralelo tentando ajeitar as coisas na minha cabeça. Comecei a sentir falta de ar, suava frio e minha mente falhava. A Helô me olhava sem entender o porquê do meu súbito mal estar.

_ Helô não estou me sentindo muito bem, eu preciso ir embora, podemos continuar essa conversa outro dia?   

_ O que está acontecendo Lu? Quer um copo d’água? Eu pensei que você fosse dar pulos de alegria, afinal a Carol vai ficar pertinho de você.

_ Eu estou pode acreditar, mas eu realmente preciso ir embora, minha pressão caiu e estou com a sensação que vou desmaiar.

_ Agora mesmo que você vai ficar, tá louca sair assim, você pode cair na rua.

Sem prestar muita atenção no que ela estava dizendo, peguei o celular na bolsa e disquei o número da Alex.

­ _ Ela estava certa, Alex você tem razão, ela estava certa, tô passando mal, vem me buscar na casa da Helô, por favor.

Desliguei o celular e não conseguia focar meu pensamento em nada, minha cabeça girava e as palavras da cigana invadiam meu ser como se ela as tivesse proferindo naquele exato momento.

_ Quem estava certa Lu, me fala o que está acontecendo? Estou começando a ficar preocupada.

Por mais que ouvisse a voz da Helô, meu cérebro não conseguia registrar nada. Não sei quanto tempo passei nesse estado letárgico, só voltei a mim quando ouvi a campainha tocar indicando que a Alex havia chegado. 

_ Você pode me explicar o que está acontecendo, estávamos conversando e de repente a Luna surtou, parece que viu um fantasma.

_ Desculpa Heloísa, mas eu só vou saber depois que conversar com ela, por enquanto não consigo te falar nada.

Ela me pegou pelo braço e juntas saímos do apartamento deixando para traz uma mulher completamente perdida.

_ Luna me conta tudo. Ela ordenou assim que percebeu que eu estava um pouco melhor. Desembestei a falar, jogava toda minha angústia para fora como se a tivesse reprimido por longa data. _ Fica calma minha amiga. Nós sabíamos que existia a possibilidade dela voltar, você foi avisada que isso aconteceria. Agora é colocar a cabeça no lugar e ver o que vai fazer.

_ Como assim o que vou fazer?

_ Luna, pelo amor de Deus, a mulher que você ama está de volta, sozinha e você ainda me pergunta o que vai fazer? Coloca essa cabeça no lugar, volta pra realidade e vai à luta, agarre essa mulher na marra, se for preciso, não foi isso que a cartomante falou?

_ Eu não faço a mínima ideia do que eu possa fazer, nós já nos machucamos tanto, já comi o pão que o diabo amassou quando ela decidiu me deixar, não sei se quero correr o risco de sofrer tudo aquilo de novo.

_ Lu você ouviu o que a cigana disse, se reinvente, faça diferente, muito embora seja o mesmo caminho e as mesmas pessoas, você deverá mudar a estratégia para chegar até o coração dela. Até porque é visível que ela ainda sente alguma coisa por você.

_ Oi?

_ Não se faça de desentendida Luna Fagundes, você sabe muito bem que a Heloísa ficou desnorteada ontem quando viu a Carina te beijando. Com certeza aquilo era ciúme. Ou seja, ela ainda sente alguma coisa, o que você precisa é fazer com que ela perceba que ainda vale a pena investir em vocês.

_ Ciúmes... é isso Alex!!!! Comecei a pular pela sala como se tivesse descoberto a notícia do século.

_ Agora quem boiou fui eu, que alegria é essa?

_ É isso loira, a cigana falou que minha essência poderia me ajudar, desde que soubesse usar. Alex antes de conhecer a Helô eu era o que sou hoje, galinha! Saía com várias mulheres sem me prender a ninguém. Foi a Helô quem me colocou cabresto. E é esse ciúmes que ela tem que vai fazê-la me olhar novamente.

­_ Continuo sem entender.

_ Eu explico, durante o tempo que ficamos juntas sempre fui eu quem correu atrás, geralmente era eu quem cedia, tanto que a Helô, até ontem nunca tinha me visto com ninguém. Mesmo passando por algumas separações eu nunca fiquei com ninguém na frente dela, pelo contrário, sempre evitei esse tipo de situação por pensar no bem estar dela. A verdade é que eu sempre fiz de tudo para que ela ficasse bem, até mesmo me separar da minha filha. Por isso ela ficou espantada ao me ver com a Carina. Ela não esperava por aquilo e por mais que a Maria tenha falado sobre minha vida de solteira, tenho certeza absoluta que ela não acreditou, porque apesar de já ter ouvido falar em como eu era antes dela, ela conheceu uma Luna completamente diferente. Então minha gata se ela ainda sente alguma coisa por mim, por menor que seja, vai ser através do ciúme que eu vou descobrir.

_ Essa parte eu entendi, só não consegui entender em como isso vai fazer com que ela volte pra você. Pelo contrário, isso pode deixar ela com raiva e se afastar ainda mais. Não sei se foi bem isso que a cigana quis dizer não.

_ Claro que foi, pra Helô eu sempre fui gentil, companheira, amiga para todas as horas. Sempre corri atrás mesmo estando certa, abri mão das coisas que me eram caras para ficar com ela. No fundo ela sabe que nunca me perdeu e sabe que a hora que ela quiser eu volto. Ela precisa perder essa confiança, precisa sentir que não me tem mais, ela precisa olhar para trás e ver que já me teve nas mãos e jogou fora e acima de tudo ela precisa se arrepender disso.

_ É um jogo arriscado, você sabe que vai ser tudo ou nada, ou a Helô vai perceber a burrada que fez ou vai se afastar ainda mais. Está disposta a correr o risco?

_ O nada eu já tenho, vou tentar mudar esse placar, até mesmo porque a cigana falou que eu precisaria mudar, que as velhas atitudes não me ajudariam mais, então eu não posso correr atrás dela, pois é isso que ela está esperando. Agora deixa eu voltar para casa dela, porque eu dei bandeira demais sobre meus sentimentos. Não consegui segurar minha emoção quando ela falou que estava de volta.

_ Que comecem os jogos bebe. Boa sorte!!!!

Fim do capítulo