Cap. 4 – Duplo – Meu pássaro de fogo
Acordei olhando para o relógio na mesinha ao lado, passava do meio dia já. Afundei minha cabeça no travesseiro e não consegui dormir mais, me virei na cama e ouvi conversas e risos vindo da sala, pela risada escandalosa era Anny quem estava lá, não era novidade, já que nossa mãe reunia todos os filhos aos domingos para um almoço em família.
Estava morrendo de fome, levantei da cama de um pulo e fui tomar banho. O banheiro ficava no corredor, passei a mão em uma toalha, abri a porta do meu quarto e saí esbarrando com uma pessoa, olhei confusa para ela que sorrindo foi dizendo:
– Bom dia Capitã, tudo bem? – olha os bons modos Juh, responde a moça, sorri sem jeito tentando me esconder com a toalha, ela estava rindo achando graça do meu constrangimento, respondi sem jeito:
– Bo... Bom dia, me desculpa os trajes! – sorriu desviando nossos olhos me olhando sem cerimônia, parando na altura de meus braços dizendo:
– Bela tatuagem!
O símbolo dos bombeiros ocupava grande parte de meu ombro e braços com seus detalhes marcantes, soltei o ar dizendo ainda toda embaraçada:
– Obrigada e desculpa a pergunta, mas o que faz aqui?
– Na sua casa ou exatamente aqui nesse corredor? – estava se divertindo, tentei relaxar respondendo:
– As duas coisas, se não se importar de responder.
– Anny me convidou para almoçar, e eu precisava vir ao banheiro.
– Claro, me desculpa. – o olhar dela estava me deixando ainda mais embaraçada, disse para sair daquela situação: – Mais uma vez desculpa os trajes, estava indo tomar banho e não sabia que tínhamos visitas.
– Fica tranquila moça, você até que está apresentável. – deu dois passos em direção a sala, mas sorrindo voltou dizendo: – Engraçado encontrar você nesses trajes aqui, porque já vi você com roupa e sem roupa, agora seminua, deve concordar que temos alguma intimidade!
Deu um sorriso lindo que atingiu meu peito, virou e caminhou pelo corredor, acordei do transe a alcançando, segurei de leve seu braço perguntando curiosa:
– Disse que me viu nua, onde?
– Hoje mais cedo quando sua irmã me mostrou alguns álbuns que sua mãe tem guardado na sala! – estava se divertindo e eu lá toda sem jeito, para completar tocou a ponta de meu nariz com o dedo dizendo bem próxima: – Você era um bebê adorável.
– Álbuns, claro! – meu rosto corou no mesmo instante em que ela sorriu, como era linda, e estava na minha frente e dentro da minha casa, não tive culpa de desejá-la dessa vez, me perdi em seus lábios quando perguntou:
– Tudo bem? – acordei dos meus pensamentos e me afastei um pouco concordando com a cabeça dizendo:
– Estou sim, eu. – apontei para o banheiro sorrindo e dizendo: – Banho, eu preciso ir.
Ela sorriu e acabei batendo na parede quando me virei, olhei sem graça para ela que ainda sorria e segui para o banheiro sentindo seu olhar sobre o meu corpo, entrei fechando a porta olhando no espelho, meu rosto estava em chamas, literalmente. Arranquei a roupa e entrei no box deixando a água correr fria pelo meu corpo.
Quando terminei, me enrolei na toalha e abri a porta para ver se o corredor estava livre, corri para o quarto, onde coloquei uma camiseta regata e um short jeans rasgado em alguns pontos, fui em busca de algo para comer. Quando entrei na sala, meus olhos cruzaram com os da moça que sorriu, dei um sorrisinho meio constrangido seguindo direto para a cozinha, encontrando com meu irmão no caminho que fez uma posição de boxe e eu na defesa, sorriu dizendo:
– E aí maninha, que tal uma partida depois do almoço?
– Já se recuperou da última derrota? – assanhei o cabelo dele que disse fechando a cara:
– Naquele dia você me enrolou e acabei me distraindo.
– Está certo, acredito em você. – entrei na cozinha beijando minha mãe com ele ainda dizendo:
– Treinei a semana toda, hoje você vai perder! – parecia bem confiante e sorri dizendo:
– Estou ansiosa para isso garoto. – sorriu fazendo um movimento com o polegar e o indicador e saiu correndo, olhei para minha mãe que disse:
– Se não ganhar de você hoje, ele vai desistir de jogar!
– Porque isso? – peguei alguns pêssegos que estava na geladeira lavando e começando a comer, ela disse me olhando:
– Ouvi ele conversando com um amigo ontem, estavam treinando a semana toda e está bem confiante quanto a isso, então não me decepcione.
Entendi muito bem aquela olhada e sorri, a campainha tocou na sala e não demorou muito, Diego estava entrando na cozinha dando boa tarde a minha mãe e se dirigindo a mim baixinho apontando para o cômodo de onde veio:
– O que a “deusa” dos bombeiros faz sentada na sua sala toda sorridente com sua irmã?
– Acredite Di, estou me fazendo a mesma pergunta. – naquele momento as duas entraram na cozinha, ele e eu nos olhamos e sorrimos, minha irmã se aproximou beijando meu rosto dizendo:
– É uma reunião particular ou podemos participar?
– Eu preferia que vocês dessem o fora da minha cozinha antes que eu corra com vocês daqui!
Nossa mãe nos olhou ameaçadora, passei a mão nos meus pêssegos e saímos de fininho deixando ela sorrindo lá, não gostava de muita gente no seu “santuário”, por isso seguimos para a sala onde sentei bem longe da moça, não queria meu corpo em brasas novamente, ou queria? Droga! Alguém estava me chamando e olhei para ver quem era e minha irmã estava dizendo sorrindo:
– Entrou em órbita? Estou falando com você! – sorri me desculpando:
– Por alguns instantes! – para provocar Diego falou:
– Pelo mesmo motivo que saiu do ar ontem, quando estava conversando comigo? – olhei para ele que discretamente sorriu indicando a moça ao lado, fechei o semblante corando e ele gargalhou ao meu lado, voltei para minha irmã perguntando:
– O que você disse Anny?
– Sobre o incêndio de ontem, como foi? – me recompus olhando para ela evitando meu amigo, respondi:
– Segundo testemunhas uns garotos invadiram uma casa e não se sabe se de propósito ou não acabou sendo incendiada!
– Esses meninos, não sabem como isso é perigoso? – a moça disse despertando a minha atenção, sorri e minha irmã quem falou:
– Ultimamente temos visto muitas ocorrências assim, pequenos incêndios e descuido por parte das pessoas.
– Nesse caso, eu acho que foi acidente mesmo! – mordi meu pêssego e todos me olharam, fiquei sem jeito dizendo em seguida: – Uma casa vazia, alguns meninos curiosos explorando o local entraram e por acidente acabou acontecendo, entraram em pânico e fugiram.
– Sim, mas de qualquer forma brincar com fogo é perigoso – minha mãe disse próxima a porta, olhei sorrindo já sabendo o que falaria na sequência: – Não fico bem sempre que sei que a Júlia saí em algumas dessas missões, acidente ou não, preferia que isso não acontecesse.
Levantei abraçando-a, sabia que ela se preocupava com toda aquela situação, tinha motivos bem fortes para tal. Era guerreira e tinha muito orgulho de mim, mas a que preço sobrevivia com isso? Não muito longe dali, meu pai havia sofrido um acidente e fatalmente nos deixou, foi um herói por ter salvo algumas crianças em uma escola que pegou fogo na cidade vizinha.
Na época eu já tinha entrado para a corporação, ele estava orgulhoso disso também, mas felizmente se foi, e sabia que se fosse o contrário, minha mão nunca apoiaria a minha decisão. Ainda abraçada com ela disse carinhosa:
– Vai ficar tudo bem mãezinha! Prometo para a senhora!
– Tudo bem minha filha. – sorriu passando a mão em meu rosto, limpei uma lagrima que rolou solitária pelo seu rosto enquanto dizia brava: – Alguém pode colocar a mesa? O almoço está quase pronto e não vejo ninguém ajudando.
LaylaPoucos minutos depois o grupo de 14 homens e mulheres, dentre eles meu pai que era o Tenente-Coronel e o Major que conheci na última vez que fui a cede, se dirigiram a frente de todos, foram homenageados e presenteados com medalhas e troféus. A cerimônia foi linda, todos estavam emocionados, mas não demoraram tanto depois dos discursos, logo todos estavam de volta ao centro do salão com amigos e familiares.
De longe, fiquei estudando a família da Capitã, sorri por finalmente entender. Como não tinha visto antes? O mesmo sorriso de Anny era o da senhora que havia chegando com Júlia, as duas eram irmãs. Gente, como podem ser tão diferentes? Ainda assim ambas tinham quase o mesmo olhar, nunca iria imaginar se eu não tivesse visto e tirado a dúvida depois que fui de encontro com a minha amiga.
– Então essa é sua irmãzinha?
– Sim. – ela olhava orgulhosa para o outro lado do salão onde Júlia estava conversando com a mãe e alguns amigos: – Sei que de “inha” ela não tem nada. – voltou em minha direção sorrindo: – Mas ela sempre vai ser a minha irmãzinha.
Sorri achando muito fofo a forma como ela se dirigia a irmã, conversamos um pouco sobre a festa e logo me perguntou curiosa:
– Veio a cidade dessa vez só para assistir a homenagem de seu pai?
– Também, mas dessa vez sem data de retorno!
– Conseguiu se ajeitar na capital?
– Sim, voltei há dois dias e já tenho duas propostas para analisar!
– Olha que maravilha, assim que é bom Layla.
– Sim é, mas pretendo pensar com calma! Estou querendo descansar um pouco, mas vou pensar nas propostas com carinho. – sorri e ela grudou em meu braço olhando para o grupo que recebeu as medalhas que começaram a gargalhar próximo a nós, estavam brincando com Júlia que se encontrava ao centro deles, sorri dizendo:
– Parece que ela não tem saída?
– Eles a encurralaram dessa vez, coitada, posso ver seu constrangimento de longe.
– Meu pai comentou mesmo que ela é bem tímida! – olhei para a moça que recebia um buque enorme de flores agradecendo com um sorriso lindo, deixei escapar: – Linda demais!
– Ela é sim, precisa conhecê-la. – disse ainda sorrindo: – Ela é de uma timidez enorme, sempre foi assim na verdade e seu rosto muitas vezes a denúncia!
– Porque tanta timidez? – sorri sem conseguir desviar os olhos dela que agora recebia um abraço de meu pai.
– A Juh sempre foi assim, sempre na dela! Quase sempre no seu mundinho. – lá na frente ela desviou os olhos de meu pai e me olhou, seu olhar estava claramente curioso e nos prendemos ali até alguém chamar sua atenção no grupo onde estava e Anny segurar meu braço perguntando: – Quer almoçar comigo amanhã? Minha mãe sempre reúne “as crianças” aos domingos, posso te apresentar a Juh.
– Claro, se não for incomodo!
– Não será, passo para te pegar as nove, é caminho!
– Agradeço, estou sem carro mesmo.
– Legal, agora preciso ir em busca de meu marido antes que ele suma no meio desse povo. Conversamos depois, tudo bem?
– Obrigada Anny, claro! Ficarei até mais tarde com meus pais.
– Ok! – ela me deu um beijo no rosto e seguiu em busca do marido, fiquei por ali ainda pensando no convite dela, mas logo me juntei a minha família parabenizando meu pai e ficamos conversando por um bom tempo.
Depois de algum tempo, dessa vez mais afastada conversando com um grupos de pessoas, me servi quando o garçom passou pegando uma taça de champanhe. Notei que as irmãs estavam conversando ali perto e as vezes o olhar intenso da ruiva sobre mim me deixava ansiosa, as duas foram para a pista dançar e desejei por alguns minutos estar nos braços dela. Que sorria rodando a irmã no meio de todos, as duas pareciam bem ligadas.
As horas foram passando e vi de longe um policial chegar e se dirigi ao meu pai, esse que por sua vez reuniu alguns voluntários entre eles a Júlia que comandou a turma e foram embora. Mais tarde fiquei sabendo pelo meu pai que alguns garotos colocaram fogo em uma casa no meio da madrugada, mas felizmente não houveram vítimas.
Não demorou muito Anny se juntou a nós e alegremente começamos a conversando, fiz algumas perguntas sobre sua irmã e discretamente me disse sorrindo que a mesma também estava perguntando sobre mim, sorri boba com aquela informação. Mas acabei cansando e não tinha mais porque ficar ali, já que o motivo de minhas divagações não estava mais lá.
Fui para casa e mesmo assim ela não me saía da cabeça, fiquei imaginando-a em seu ambiente de trabalho, pensando como ela agiria e se portava diante do fogo, seria tão impiedosa quanto ele? Ou apenas ardia para castigar?
– Você está impossível Layla! – sussurrei para mim mesma enquanto tomava banho e deitava na cama, adormeci com aquele sorriso em meu pensamento.
Na manhã seguinte como prometido Anny passou para me pegar e seguimos para a casa de sua mãe, dona Helena. Uma mulher forte e como as filhas, guerreira, adorei conhecê-la, pouco tempo depois que chegamos elas começaram a mostrar alguns álbuns de fotos que estavam ali na sala.
Vi minha fênix em cada uma daquelas fotos, adorei saber que ela foi um bebê tão cativante, e segundo a mãe muito carinhosa desde sempre. Fiquei imaginado uma miniatura de cabelos vermelhos correndo pela casa e acabei esboçando um sorriso involuntário, despertando a curiosidade de Anny que perguntou sorrindo:
– E esse sorriso bobo hein, tem nome? – olhei para ela e concordei dizendo:
– Sim, olha que coisa mais fofa? Dá vontade de apertar. – ela olhou a foto e caiu na risada dizendo:
– Júlia irá me matar se souber que você estava vendo fotos dela nua!
– Quantos anos? – perguntei encantada com a criança, tanto quanto com a mulher agora formada.
– Três, e nessa foto ela estava tomando banho de mangueira lá na base, costumavam dizer que ela era mascote deles. – Dona Helena comentou saudosa se sentando ao nosso lado mostrando mais fotos da pequena que sorria e brincava com a água, com um capacete enorme na cabeça, me derreti enquanto a mãe ia dizendo sorrindo: – Acho que desde sempre ela sabia o que queria ser.
– Bombeira? – comentei emocionada por ver tanto amor em suas palavras e ela disse sorrindo:
– O que o pai dela fosse, ele era o seu herói.
Lagrimas banharam o sorriso daquela senhora, que por alguns minutos não disse mais nada, Anny a abraçou e fiquei folheando o álbum até que ela se levantou dizendo:
– Vou terminar o almoço. – se dirigiu a filha dizendo: – Anny, se Júlia não acordar em vinte minutos acorde ela para comer por favor, passava das quatro quando essa menina chegou, mas ela precisa se alimentar e depois se quiser volta a dormir.
– Certo mamãe!
Voltou a atenção para mim e seguimos conversando por alguns minutos até ela ir atender uma ligação e eu ficar ali me deliciando com aquelas fotos.
Fim do capítulo
Bjs meninas... Nos encontramos na próxima semana!!
Bia
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Pandora
Em: 12/03/2019
Vontade de guarda a Júlia em um potinho, ela parece ser tão meiga *-*
Estou adorando as capítulos, ansiosa pelos próximos, Parabéns está incrível ;)
Resposta do autor:
Olá Pandora, tudo bem?
A Júh é uma graça mesmo *-*, muito fofa.... Obrigada pelo carinho moça, espero que goste dos próximos que virão...
Bjs, se cuida
Bia
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Renata Cassia
Em: 09/03/2019
Não demora minha linda. Estou adorando a história, já ansiosa aqui para ler os próximos capítulos rsrsr.
Resposta do autor:
Olá Renata, boa noite... Tudo bem?
Hoje atrasei um pouco, mas saiu o caps moça... Espero que curta... Amanhã tentarei postar um pouco antes... :P
Bjs, se cuida
Bia
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