Cap. 3 – Duplo – Troca de olhares
Layla
Ainda conversando com meu pai, comecei a segui-la com os olhos, dessa vez mais discretamente, estava lá longe conversando com o pessoal que começou a jogar água nela que tentava desviar, mas o loiro a agarrou e conseguiram prende-la em uma roda e a molharam.
Se eu estava hipnotizada? Nem um pouco, imagina que eu estava prestando atenção nela que balançava os cabelos espirrando água para todos os lados sorrindo e brincando com eles? Tentei disfarçar mais foi impossível, meu pai sorriu ao meu lado dizendo:
– Crianças, a mesma bagunça todas as vezes que chegam de algum chamado.
– Sério? – não conseguia tirar os olhos dela, o que estava acontecendo comigo?
– Amor, vou pegar a minha pasta e sigo com você para casa, tudo bem?
– Sim papai!
Olhei sorrindo para ele, notei que a poucos metros um grupinho de rapazes me olhavam rindo, coloquei meu óculos e arrisquei mais uma olhada para a Capitã deles que agora arrancava a regata molhada ficando apenas com um top preto. Deixei escapar um gemid* por entre meus lábios e balancei a cabeça rindo dizendo sussurrando:
– Você está louca Layla, para com isso.
– Vamos? – meu pai me abraçou e seguimos em meu carro.
Conversamos bastante até chegarmos em casa, mas não pude evitar de fazer ainda que discretas, várias perguntas sobre a sua Capitã, e ele respondia todo animado. Minha curiosidade aumentava cada vez mais.
Nos quinze dias seguintes quase nem saí, estava adorando aquela folga e dormir até tarde é a minha primeira ostentação, claro que a segunda era ir visitar meu pai na corporação. Sempre no final de expediente, para ver aquele sorriso discreto da Capitã dos bombeiros, e quando não a via, voltava com um gostinho amargo embora.
Estava literalmente brincando com fogo, mas adorando cada segundo. Minha presença na base as vezes surtia comentário jocosos ou pequenas cantadas que eu disfarçava bem, podia falar com meu pai sobre isso, mas eu estava invadindo o local de trabalho deles, embora não fossem cantadas desrespeitosas, as vezes eram fora de momento. Isso apenas cansava, não estava lá por eles e minha vontade as vezes era de dizer que o motivo de minhas visitas tinha nome, mas deixava isso de lado.
No decorrer daqueles dias, encontrei com velhos amigos em meus vários passeios pela cidade, e um deles era um médico bastante conhecido no local, que por coincidência tinha o nome parecido com a da minha fênix. Pois é, adorava mitologia grega e uma das minhas paixões era o pássaro de fogo, aquela que ressurgia das cinzas. Cinzas... Fogo... Bombeira dos cabelos vermelhos. Suspirei!
– Hei Layla, nossa conversa não está tão agradável? – sorri me desculpando:
– Desculpa Anny, estava com o pensamento longe agora!
– Na capital? Alguém em especial? – Júlio brincou sorrindo.
– Não, meus pensamento estavam logo a duas quadras daqui mais especificamente na base dos bombeiros!
– Sério? – ela sorriu dizendo orgulhosa: – Minha irmãzinha trabalha lá, quem é a sortuda?
Anny é morena, estatura mediana e muito linda, dona de um sorriso encantador. A conheci quando estudava com Júlio, final de faculdade e nos tornamos muito amigas na época, mas devido a carga horaria quase não dava tempo de sairmos e quando fazíamos era fora da cidade, por isso acabei indo trabalhar longe, a cidade não me prendia. Mas bastou ficar fora cinco anos para essa realidade mudar.
Sorri apenas, deixando no ar minhas impressões, não entramos em detalhes sobre a pessoa da qual não me saia da cabeça e a irmã dela, nem teve motivos para associação, até porque a moça era ruiva e nem de longe achava que ela e Anny tinham parentesco. Apenas não citei nomes para não me embaraçar depois.
Enfim, quando completou um mês de férias, tive que voltar para a capital, precisava assinar alguns papéis e pedir a minha transferência que estava quase acertada para até então, na cidade vizinha onde meus pais moravam.
No momento estava em avaliação, voltei quinze dias depois e para variar meu carro deu problema, Paulinho levou ele para um amigo mecânico e por ser peças importadas não sabia quando ficaria pronto. Era só o que me faltava, felizmente fiz um trato com meu pai e ficaria por hora com o carro dele, não todos os dias claro, mas sempre que a vontade batia e uma certa bombeira eu queria visitar.
Descobri algumas coisas sobre ela, o mais importante era que ela é lésbica e estava solteira, isso eu fiquei sabendo por um grupinho de garotas que ficavam observando os rapazes se banharem sempre que lavavam o caminhão na base. Algumas delas estavam lá pelos rapazes, outras pelas mulheres, dentre elas o “fã clube” da Júlia. E foi por essas garotas que soube essas e outras coisinhas bem interessantes.
Estava hospedada na casa de minha mãe temporariamente, em breve procuraria um lugar para alugar, no momento, estava gostando dos mimos de meus pais, depois de longos anos longe, nada mais justo aproveitar. Adiei por hora essa decisão.
Algumas semanas depois que cheguei na cidade fui a uma confraternização com meus pais, ele e seus “soldados” como costumava a se referir aos seus bombeiros, seriam homenageados pelo prefeito e estava muito orgulhoso disso. Cheguei mais cedo com ele que me apresentou alguns amigos e autoridades da cidade, dentre eles o Diretor da Saúde que estava lá.
Este que me convidou para uma conversar mais tarde, referente a uma possível proposta de trabalho. Estava conversando com ele e sua esposa quando alguém que chegava chamou a minha atenção, a vi entrando toda fardada e mais linda do que nunca. Acompanhada de uma senhora que supus ser sua mãe e um adolescente também de cabelos ruivos, igualmente lindo, irmão caçula não tinha como não dizer que eram, tão parecidos. Ao contrário da mãe, que era uma senhora morena, e lembrava muito uma pessoa que não me ocorreu quem era no momento.
Meus olhos cruzaram com os dela no momento em que Anny chegou com o Júlio e os dois a abraçaram parecendo muito íntimos. Sorri pedindo licença do Dr. Pedro dizendo que iria cumprimentar um conhecido que havia chegado, isso depois que nossa conversa acabou e ele me convidar para ir visitar o hospital.
JuhTudo correu tranquilamente, aqueles famosos discursos de nossos superiores e aquela formalidade toda. Nossa corporação foi chamada a frente onde nos postamos e fomos agraciados com medalhas de honra ao mérito e um troféu pelo serviço prestado pela nossa cidade, que aliás não era tão grande assim, mas nos últimos anos, várias ocorrências aconteceram, tornando assim nossa equipe mais visível pelo trabalho prestado na comunidade.
Depois de todos aplaudirem e minha mãe apertar minha bochecha na frente de meus amigos consegui relaxar um pouco, Diego se aproximou muito bem acompanhado por uma morena, parecia nas nuvens e deu para perceber. Me abraçou fazendo as apresentações:
– Júlia, essa é a Vanessa. – sorri esticando a mão para ela dizendo:
– Muito Prazer Vanessa. – mas ao me cumprimentar, puxou meu braço dando dois beijos no rosto, me deixando sem graça e arrancando risos de meu amigo, que concluiu:
– Desculpa a minha amiga Van, ela não consegue agir normalmente diante de mulheres bonitas.
– Me senti lisonjeada agora. – olhou em meus olhos divertida ainda dizendo: – Muito prazer Júlia, e parabéns pela noite, admiro muito o trabalho de vocês.
– Acredite, o prazer é todo meu. – fiz um gesto vago pelo salão dizendo sorrindo: – Obrigada, apesar de não curtir muito essas formalidades, toda a equipe merece esse prêmio.
– Diego me falou da sua timidez, mas não da sua humildade! – olhou para ele sorrindo e arqueei a sobrancelha dizendo:
– Não acredite em tudo que esse cara fala sobre mim!
Sorrimos, o garçom estava passando com champanhe e nos servimos conversando por mais alguns minutos, logo eles se despediram e fiquei conversando com o pessoal ao meu lado. Distraída olhei sorrindo para o outro lado do salão e vi algo que despertou minha curiosidade, minha irmã conversava com Layla a alguns metros de onde estávamos, e pelo grau da conversa delas, parecia que eram bem íntimas.
Minha atenção foi chamada para o grupo onde estávamos e desviei os olhos das duas, voltando a conversar. Passava um pouco da meia noite quando minha mãe veio falar que estava indo embora com Jonas, levei eles até o carro dizendo que mais tarde estaria em casa. Nos despedimos e fiquei vendo o carro dela se afastar em seguida voltei para o interior do salão onde encontrei a minha irmã conversando com uma amiga, me aproximei e ela sorriu dizendo:
– Parabéns mais uma vez maninha, quase nem consegui me aproximar de você essa noite.
– Desculpa Anny, não esperava por tudo isso. – indiquei o salão e a medalha em meu peito, sorriu me abraçando e foi dizendo:
– Pois eu sim, merece isso e muito mais meu bem, como você está?
– Estou feliz. – sorri cumprimentando a moça que estava ao lado dela, mas logo pediu licença dizendo que ia procurar alguém, me distraí um pouco e perguntei:
– Desde quando conhece a filha do Tenente-Coronel?
– Layla? – pegou uma taça quando o garçom passou, agradeceu e disse sorrindo: – Nos conhecemos há alguns anos, ela estudou com o Júlio.
– Sério?
– Sim, quando terminou a faculdade de medicina, uns cinco anos atrás, saiu para fazer treinamento para ser Socorrista. Voltou para a cidade alguns meses atrás, quando nos encontramos ela disse que estava de férias e veio apenas para ver os pais, mas acabou ficando. Hoje ela me disse que estava para aceitar uma proposta do hospital da cidade. E isso talvez faça com que fique por aqui.
– Legal! – mal disfarcei a olhada que dei para a moça que estava ali próxima conversando e rindo com o pai, senti meu ombro ser empurrado e olhei para ver minha irmã que sorrindo foi dizendo:
– Porque tanto interesse na Layla, hein?
– Por nada, apenas curiosidades. – peguei a taça de sua mão tomando o último gole, olhei para ela sorrindo sem jeito, para disfarçar perguntei:
– Cadê seu marido? – ainda desconfiada desviou o olhar dizendo:
– Ele teve que ir para o hospital, recebeu um chamado urgente alguns minutos atrás.
– Nesse caso, quer dançar comigo?
– Nem sabia que você dançava?
– Precisa ficar de olho nos seus irmãos moça, nós estamos crescendo e você está perdendo a nossa infância.
– Fala sério Juh...
Sorri e a puxei para a pista improvisada no centro do salão começamos a dançar, minutos depois saí perguntando meio discretamente sobre a moça, que animada minha irmã começou a me contar o que sabia sobre ela. Dançamos umas três músicas, mas o dever nos chamou, estava tendo uma ocorrência no outro lado da cidade, o Tenente-Coronel pediu voluntários e me coloquei entre os seis que se postaram e seguimos para a nossa base.
Treinados, nos arrumamos em quebra de recorde e seguimos para o local da ocorrência, uma casa em chamas, segundo as testemunhas ninguém morava lá. Depois de termos apagado o fogo, graças a Deus sem vítimas, descobrimos por um policial que receberam uma ligação anônima, na qual a testemunha falava que alguns garotos tinham saído do local correndo, pouco minutos antes de ter acontecido o incêndio.
Terminamos nossos serviços ali, agradeci aos policiais envolvidos e seguimos para a nossa base, passava das quatro da manhã quando entrei em casa precisando urgentemente de um banho, fui até a cozinha para pegar água minha mãe apareceu me abraçando forte perguntando:
– Você está bem? Foi tudo tranquilo lá? – passava a mão em meu rosto e braços preocupada, sorri dizendo:
– Foi tudo tranquilo mãezinha, já pedi para a senhora não ficar acordada me esperando nessas madrugadas.
– Acha que uma mãe consegue dormir sossegada com sua filha em perigo?
– Eu não estava em perigo mamãe! – sorri, mas ela disse séria:
– Sempre está em perigo quando sai nessas missões, não me peça para ficar tranquila mocinha.
– Certo dona Helena, sou a última que fala e a primeira quem apanha nessa casa.
– Isso mesmo, agora vai tomar um banho e dormir um pouco.
– Eu te amo mamãe!
– Também te amo meu amor.
Sorri dando um abraço e um beijo nela, segui para o quarto, tomei um banho e caí na cama apenas com uma camiseta regata e de calcinha, adormeci no momento em que minha cabeça pousou no travesseiro.
Fim do capítulo
Bjs a todas, nos encontramos na próxima...
Bia
Comentar este capítulo:
lis
Em: 07/03/2019
Boa noite Bia, tudo bem? Bom que voltou com essa estória gosto demais dela.
Resposta do autor:
Boa tarde Lis, estou bem e vc como vai?
Quem bom que gostou, estou adorando poder estar de volta também, confesso que estava sentindo falta da Juh e Layla, e de todas vocês me lendo.. Tenho um carinho imenso por todas minhas leitoras. S2
Boa leitura moça, e nos encontramos nos comentários...
Bjs, se cuida
Bia
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