Capítulo 7 - Encontro inesperado
– Posso saber porque está com essa cara feia desde ontem?
– Não é nada.
– Como não? Programamos de ir a casa dos meus pais e do nada você inventou de ir para aquele tal almoço. Eu disse que não queria ir, e mesmo assim você insistiu. Hoje íamos ao clube, e você também não quis ir.
– Se o problema é esse, vá para o seu clube. Me deixa em paz. Não percebeu que não estou com paciência para conversar, que saco! – respondeu ríspida.
– Não precisa ser grossa, foi apenas um comentário. Falando nisso, você não tem nada para me dizer?
– Já falei, ou está surda?! – levantou indo para o quarto, foi detida no primeiro passo que deu – Me solta.
– Não, precisamos conversar!
– Já falei para me soltar, que chatice.
– Não antes de me explicar o que aconteceu entre você e sua ex ontem.
Marcella recuou um passo e pensou. Não tinha como dizer na cara da atual que estava com ela só por diversão, e o que queria mesmo era voltar com a ex. Se Beatriz não tivesse sido tão ausente nos últimos meses do seu casamento, não teria pedido o divórcio, se bem que tinha interrompido o processo há alguns meses, pensando em reatar. Maldita hora que não fez isso antes da volta de Marília, agora além dela atrapalhando seus planos, Lavínia resolveu fazer o mesmo.
– Não aconteceu nada, você estava lá.
– Você entendeu a minha pergunta, não finja o contrário.
– Pare de fantasiar, viu que não aconteceu absolutamente nada.
Lavínia olhou desconfiada, não costumava desconfiar da namorada, mas aquela cena de Beatriz sussurrando alguma coisa no ouvido de Marcella, não saia da sua cabeça. Além do mais, depois dali a namorada passou a agir estranhamente, não que ela fosse um poço de atenção e carinho, mas estava mais agressiva que o normal, desde que saíram da casa dos amigos.
– Não acho que seja fantasia. De qualquer forma, aquele convite de almoço foi porque mesmo?
– Vai implicar até com as minhas refeições agora! Me poupe.
– Marcella volta aqui... Marcella... – a mulher já tinha sumido da sala, a ouviu bater a porta do quarto com tanta força que ficou receosa em continuar aquela conversa.
No quarto a jornalista remoía a forma como tinha sido tratada por Bia, Marília a estava envenenando com certeza, não tinha outro porquê para aquilo. Devia ter reatado o relacionamento antes, mas não tinha problema. Beatriz ia voltar a comer na sua mão de qualquer maneira.
Para Beatriz, a semana passou tranquila, no meio dela almoçou com os pais e a amiga. Retomou algumas atividades que a muito não fazia, como: caminhar pela manhã, academia após o trabalho, almoço fora do escritório e frequentar a casa dos pais com mais frequência.
A sexta chegou, Doug e Mari conseguiram leva-la para um passeio no Rio Vermelho. Tentou de todas as formas não aceitar o convite, mas além de intima-la, eles foram busca-la em casa.
– Se não demorasse tanto para se arrumar, não teríamos saído tão tarde.
– Que tarde o que, mulher. Que exagero sem fundamento, ainda tá cedo.
– Ela tem essa mania. Parece uma velha, – olhou para trás sorrindo para a irmã – que feio.
– Concordo! Falando nisso, como andam as coisas com o Ricardo?
Marilia virou para a amiga dizendo revirando os olhos: – Renato, Beatriz.
– Desculpa, não lembrei.
– Sei que você é péssima com nomes! Não precisa pedir.
– É só não chamar o cara pelo nome errado na frente dele, vai treinando aí Biazinha, daqui a uns cinco minutos encontraremos com ele e Sophia.
Ao ouvir o nome da garota Bia ficou desconcertada, não sabia o porquê, mas só a lembrança da garota a fez ficar nervosa. Quando falou gaguejou toda a frase:
– Que... Que história é essa? – se recompôs: – E cadê a sua esposa?
– Eita, qual o motivo dessa gagueira mesmo?
– Também quero saber, maninha. – olhou divertido para a amiga respondendo: – Dani tá com a amiga, foram ao cinema e de lá vão não sei para onde.
– A amiga a qual ele se referiu, é a tua ex. – bateu no ombro do irmão – Ela já superou isso, pode falar o nome da outra.
– Elas estão bem amigas ultimamente – disse mais para si que para eles ouvirem.
– Também estou achando, – Doug respondeu num tom sério – Mas não vou dizer nada, não quero levar fama de marido mandão sem necessidade. Cada um sabe o que é melhor para si. Já avisei que não a quero dentro da minha casa novamente. Chega de fingimento para mim.
– Como assim irmãozinho? Começou agora termina!
Chegaram a Vila Caramuru com esse papo tenso. Douglas se arrependeu de ter feito o comentário, não queria estragar a noite das meninas, como já tinha feito com a sua. Aceitou o convite da irmã justamente para não ficar em casa remoendo a briga com a esposa, e agora se via no meio daquela situação nada agradável.
– Não quero conversar sobre isso – disse desconcertado.
– Fala, está aumentando a minha curiosidade.
– Mari, – tocou levemente o braço da amiga – Não insiste. Ele não está a vontade, isso é notório.
– Lá vem a defensora dos frascos e comprimidos.
– Deixa Bia, ela não entende.
– Pois é, não entendo mesmo. Vocês casam com malucas e depois ficam assim, lunáticos.
– Não tem porque entrar nessa, desencana maninha!
– Insuportáveis – mostrou a língua.
Para a sorte dela Renato e Sophia chegaram a mesa no mesmo instante do seu “ataque infantil”.
– Boa noite, acho melhor voltarmos outra hora – disse cumprimentando Mari com um beijo no rosto.
– Desculpa, podem ficar a vontade. Estava apenas fazendo uma brincadeira com esses dois ranzinzas. Tudo bem Sô?! – não deixou passar despercebido o olhar curioso que Sophia dirigiu para as mãos da amiga que estavam sobre a mesa.
A turma estava completa, volta e meia Beatriz se sentia inibida, algo naquela garota despertava a sua curiosidade e vontade, mas em contrapartida o sentimento de inibição a deixava travada.
– Poderíamos ir a praia, afinal, é uma coisa que não falta na cidade, além disso, é um programa que agrada a todos ao meu ver. O que acha Bia? – Douglas esperou a resposta que não veio, balançou os dedos próximo aos olhos da amiga e não viu nenhuma reação. Sorriu: – Terra chamando, ei, oi... eii. Beatriz! – só conseguiu a atenção dela ao chamar seu nome alto.
Com o susto ela respondeu um “oi” que levou a mesa aos risos. Não entendeu a reação deles até Sophia segurar sua mão delicadamente e dizer:
– Estamos combinando de ir à praia, e queremos saber a sua opinião sobre isso.
– Ahh, sim! – sorriu – Gostei da ideia, estava conversando com meus pais no início da semana sobre isso mesmo.
– Vão fazer festinha no Forte, é isso? – Mari perguntou animada.
– A ideia é exatamente essa, é só estabelecer a data e pronto.
– Ótimo, façam as malas que vamos viajar!
– Maninha, não vi um convite direcionado a você para este evento.
Renato e Sophia olhavam de um para o outro sorrindo das “loucuras” dos irmãos.
– Vocês sabem muito bem que fazem parte da família.
– Já ia alertá-lo sobre isso, acho que ele esquece. Vou te dá um desconto, sua mente está sendo sugada pouco a pouco, sei muito bem disso.
Por mais que quisesse, Douglas não respondeu a provocação da irmã. Vendo o desconforto por parte dele, Bia resolveu intervir.
– Renato e Sophia, assim que resolver a data aviso a vocês. Não abro mão da presença dos dois.
– Pode deixar, estarei lá, com certeza – deu um beijo suave na mão de Mari.
– Tentarei ir, não se preocupe – a moça piscou para Bia que se sentiu mais uma vez inibida.
Na mesa os assuntos foram os mais variados, em dado momento as amigas foram ao banheiro e Mari puxou Bia de canto perguntando:
– O que você tem, passou a noite parecendo uma ameba. Sô está dando maior mole para ti, e tu com essa cara de nada.
– Quantos elogios em uma só frase! –sorriu nervosa. – Não sei o porquê, mas a moça me inibe.
– Mas é uma anta! – gargalhou. – É normal ficar assim, você passou muito tempo com uma pessoa só, terminou a pouco tempo e ainda está reaprendendo a flertar.
– Será?
– Claro. A não ser que já conheça a moça de outro lugar e não me falou! É isso? – perguntou retocando o batom.
– Claro que não! Eu tento me manter “viva” perto dela, mas não consigo, me distraio e quando percebo já não tenho reação diante dela.
– Minha querida, não se preocupe, logo você saberá driblar tudo isso.
– Assim espero!
De volta a mesa, pouco a pouco Bia conseguia manter o “fluxo” da conversa com Sophia, que a cada momento ficava ainda mais encantada com a advogada, pena que ela parecia não lhe dar bola, mas não tinha problema, sua primeira dúvida já tinha sido esclarecida, ela não usava aliança... se bem que aquilo não dizia nada, com o passar do tempo as coisas iriam se acertando, e conseguiria a atenção da outra, ao menos era o que ela esperava.
Fim do capítulo
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