Lorenza

           Posso passar horas descrevendo a Chave de Bucet* que ela me deu, mas nada além de perfeito define aquela noite. Daquele dia em diante, eu passei a ter certeza de que Patrícia era a mulher da minha vida! Meus dias ganharam sentido... Minha vida agora tinha um norte.

    Fiz questão de mostrar toda fazenda para minha Oncinha: as criações, o gado e os cavalos. A apresentei a todos meus funcionários. A cara que ela fez ao ver Aninha lá no escritório me deu medo, e assim que saímos de lá o interrogatório começou.

— Lorenza, e essa Ana aí? Já tem tempo que ela trabalha aqui? – “Ai meu senhor, fudeu!!!”

— Tem uns oito meses. Por que, coração? – Eu disse me sentando em um banco no jardim de frente a casa.

— Bonita ela, né?! – Disse se sentando no meu colo, passando seus braços em torno do meu pescoço.

— Oncinha, eu ficava com ela, isso é problema para você? – Encarei seus olhos — Ela se tornou uma boa amiga. E depois que ela começou aqui, organizou minhas planilhas de uma forma que facilitou demais a minha vida. Ela é muito competente, isso é inegável.

— Lorenza, puta merd*... – Tentou se levantar, mas não deixei. — Quantas mulheres trabalham pra você? – Fiz cara de paisagem para a dona Onça que bufava mais que um tourinho Jersey — Puta merd*, Lorenza! Você tem problemas, cara. Isso não pode ser normal... Você é safada demais, meu Deus... – Beijei seu pescoço.

— Você acha isso um problema? – Mordi seu queixo — Eu posso me tornar uma celibatária... – Beijei seus lábios, mordendo seu lábio inferior — Você prefere que eu mude??? Que eu passe a ser santinha???

— Aiii... Você é cafajeste... Não faz assim... – Ela disse quando a segurei forte pela cintura me roçando nela. — Para, Lolo. Me fala, não muda de assunto não... Mais quantas mulheres trabalham com você?

— Quatro. Aninha, Mônica e a mãe dela, e a melhor agrônoma que conheço.  – Disse puxando saco de Zefa.

— E essa agrônoma? – Me olhou com uma sobrancelha erguida. — Já comeu ela também? – Arregalei os olhos

— Oxi, claro que não... Zefa e como uma mãe para mim. De onde você tirou isso, coração?

— Como assim? Tia Zefa? Ela é agrônoma? – Disse espantada.

— Como assim, Oncinha, você não sabia? – Comecei a rir. Como uma pessoa pode ser tão desligada assim, senhor?

— Acho que vovó tá certa, eu sou meio lerda mesmo...

— Ô, meu Deus... Mas ainda bem que você é bem espertinha pra outras coisas, né? – A beijei com paixão e ela se apertou contra meu corpo. Quando nos afastamos ela segurou o meu rosto.

— Obrigada por ter sido honesta e ter me falado da Ana. Fiquei com um pouco de ciúmes, pois é mulher, jovem e bonita, né... E ao seu lado...

— Sou sua, Patrícia, só sua!

Os dias passaram com uma rotina muito mais que deliciosa. A inauguração da clínica dela foi quase um evento. Eu nunca imaginei que tivesse tantos “Alfredos” assim em São Gabriel. As madames logo começaram a lotar a agenda da minha pequena. Ver a felicidade em seu rosto não tinha preço.

Quando mostrei a Patrícia o convite de casamento da Luiza, ela arregalou os olhos e deixou a caneca de café tombar molhando toda coberta.

— Minha nossa, Lolo, nós fomos convidadas para o casamento delas??? – Ela se levantou da cama, e começou a andar de um lado para o outro. Achei estranho, mas só fiquei observando... — Meu Deus, Lô, eu já te mostrei as musicas dela, eu amo essa garota... Eu não tenho vestido... Ela é uma linda... Uma fofa... Preciso marcar uma limpeza de pele e uma hidratação urgente... Dizia enquanto se olhava no espelho...

Confesso que nos primeiros instantes fiquei com ciúmes de tanta empolgação. À medida que ela foi tietando, entendi que minha pequena era fã das músicas da garota. Paty me contou que foi depois de uma troca de mensagens com essa Nalu que ela teve coragem de procurar ajuda psicológica. Foi nesse momento que ela conheceu sua médica, e hoje amiga, que a fez enxergar o relacionamento abusivo em que ela vivia.

  Patrícia

— Lô, e esse aqui?... – Dei uma volta com o vestido vermelho que eu já havia colocado há aproximadamente três roupas atrás. - ... a minha bunda não fica gigantesca?

— Coração, cada um é mais lindo que o outro. – Minha namorada dizia levantando os olhos do celular. Estávamos no quarto do hotel atrasadas para o casamento das amigas da Lolo, que já estava pronta há muito tempo. — Sua bunda é maravilhosa. – Ela levanta e me abraça. — Gostosa, durinha... Que eu adoro lamber, ch*par... Ôôôô, delícia! – Ela dizia enquanto se esfregava em mim — Você não sabe o quanto me dá tesão te ver de quatro com essa bunda... – Sorriu safada pra mim.

— Para, Lô... me ajuda! Tô nervosa!

— Paty, você tá linda! – Puta merd*, ela não me ajuda! Examino a minha bunda gigante e decido ficar com o vestido vermelho mesmo. Depois de quase meia hora pegamos um taxi para o local onde seria a cerimônia.  Lô só ria do meu jeito atrapalhado. Tudo começou quando eu descobri pela imprensa que a amiga da Lô, que eu morria de ciúmes, a pica das galáxias, atriz, modelo, linda, maravilhosa e tudo de bom Luiza Nadge estava se relacionando com nada mais nada menos que AnaLu! PUTA MERDA! AnaLu gente! AnaLu dos vídeos engraçados. AnaLu das composições maravilhosas. AnaLu da voz rouca que faz a gente querer escutar para sempre. A menina que eu acompanhava pelas redes sociais e que Maurício me chamava de adolescente por eu ser “Fã”. A menina que falava de assuntos sérios com uma leveza e um bom-humor que faz você ter vontade de ser melhor amiga. Na verdade, ela faz você se sentir melhor amiga dela com os vídeos. Tantas vezes eu sofri sozinha... sem ter com quem conversar, com medo de falar com vovó... o meu único consolo era assistir aos vídeos dela... Como fiquei triste quando ela parou de postar, mesmo assim eu revia os mesmos vídeos milhares de vezes.

Nunca me esqueço uma vez que eu me enchi de coragem e enviei uma mensagem a ela, achando que nunca iria me responder. Naquele dia eu tinha esperado meu ex-marido com um jantar especial porque era nosso aniversário de casamento. Lógico que ele não chegou, aparecendo apenas no outro dia de manhã. Na mensagem eu falei a ela que era fã e que muitas vezes os seus vídeos eram a parte boa do meu dia... PUTA MERDA! Ela me respondeu:

“Paty, eu fico feliz que eu possa ajudar a melhorar o teu dia! Mas mulher, bora mudar isso aí! Sacode a poeira! Vamos fazer mais coisas que melhorem teu dia! Não te prende ao que te faz mal! Precisando, saiba que tem uma amiga aqui! Beijo!”

Então, é lógico que eu estou completamente nervosa para conhecer essa garota, que mesmo com tão pouca idade, me fez tão bem no momento que eu mais precisei.

Lô segurava a minha mão entre as dela e olhava para mim serena. Ela vestia um terno cinza escuro sem gravata. Estava linda, gostosa demais! Já tinha contado a ela sobre como a noiva da Luiza foi importante para mim no pior momento da minha vida. Fiquei com medo de que a minha namorada ficasse com ciúmes. Mas muito pelo contrário, Lorenza me abraçou emocionada e disse que tinha que agradecer pessoalmente à “Nalu” por isso.

Chegamos ao local e vimos que havia um forte esquema de segurança. Um recepcionista nos acompanhou até nossos lugares e eu comecei a reconhecer várias pessoas, não apenas celebridades, essas eu não me importava... Eu reconhecia os familiares da AnaLu, que ela mostrara em algum stories ou vídeo, mesmo isso não sendo muito frequente.

— Olha, Lô, aquele lá é o vô dela e do lado tá a vó, é mãe da Ana Clara que é a mãe loira. Já contei a você que ela tem duas mães, né? – Eu alava pelos cotovelos e Lô ria.

— Umas dez vezes, coração...

— Lô, olha lá... O Sabrino! Ai, Lô!!! Preciso tirar uma selfie com o Sabrino! – O pug era a coisa mais fofa do mundo! AnaLu sempre fazia vídeos com ele. O fofo sempre estava com alguma roupinha diferente. Ela também tinha o Valdir e a Dóris, dois outros pugs, mas o Sabrino era especial... Era o mais querido!

— Pode deixar, Oncinha, que eu peço...

— Lô, olha que linda a irmã dela! São gêmeas, mas bem diferentes! Uma é igual a mãe loira e a AnaLu é igual a mãe morena.

— Aham...

— Lô, você tem que ver as tatuagens que ela tem! Será que doí pra fazer tanta tatuagem? Lô, será que eu teria coragem de fazer? Eu queria tatuar uma imagem que eu vi, para demostrar tudo o que você representa pra mim...

— Se você quis...

— Lôooo, olha lá! É o irmão dela!!!! – Eu fiquei falando... falando... falando... quando enfim começou a cerimônia e eu me acabei de tanto chorar. Foi tão lindo!

As noivas estavam lindas. Era tudo muito emocionante, tão diferente do meu casamento que foi apenas no cartório. Luiza belíssima num clássico vestido branco e AnaLu com um vestido branco rasgado e all star verde! Rimos muito disso! E ainda por cima, AnaVitória estava cantando!

Lorenza teve que me segurar e me abraçar porque eu soluçava demais. Como eu podia estar tão feliz por alguém que eu nem conhecia pessoalmente? Uma velhinha ao meu lado me deu alguns lencinhos de papel. Eu sabia que eu estaria com a cara gigante e vermelha! “Puta merd*, devo estar parecendo um balão a gás vermelho!” Quando enfim a cerimônia acabou, meu coração começou a bater novamente mais rápido. Eu iria conhecê-las. Puta merd*!

— Que bom que vocês vieram! AnaLu – Luiza chamou a esposa – Essas são Lorenza e...

— Pa.. Patrícia....

— Oi, Pa... Patrícia – AnaLu disse me deixando mais vermelha. Lorenza, para ajudar, deu uma gargalhada.

— Lu, deixa eu te contar. É que a Paty não sabia que a Nalu aqui era o seu “coração” e ela é meio que fã, sabe... Acompanha essas coisas de internet, youtube, essas músicas aí que a Nalu faz...

— Caraca, desculpe. Vem cá... Bora, um abraço! – A menina me abraçou apertado e eu fiquei sem saber o que fazer — Olha só, vou te contar um segredo... – Ela falou sussurrando. — Eu peido!

— AnaLu!!! Puta que los pariu! – Não consegui não rir. PUTA MERDA, AnaLu é muito engraçada!

— O que foi, amor? Você também… E, Lorenza, ela fica falando que foi o coitado do Sabrino, acredita? Eu pergunto: ôh, Lu,

tu peidou? Nãooo, claro que nãoooo, foi o Sabrino! Tu viu, colocando culpa no coitado do cachorro! – Ela tinha um braço nos meus ombros e Lô ria sem parar. Luiza fazia que estava braba, mas a gente via que era apenas brincadeira.

—  Sabe que eu gostei de você, Nalu! Já vi que é das minhas! – Lo disse. — Sabia que a Paty tem um ratinho, que ela cria como cachorrinho e que é uma fábrica de peido? Eu não sei como uma coisa tão pequenininha pode soltar umas bombas tão fedidas!

— Mas é ele mesmo? – AnaLu perguntou rindo. — Ou tão colocando a culpa no pobre?

— Pior que é ele mesmo! O Alfredo é terrível!

—  Alfredo??

—  Sim!!

—  Melhor nome! – Rimos.

— Olha, não vamos tomar muito o tempo de vocês porque eu sei que tem esse montão de gente que quer dar um abraço nas noivas. – Minha namorada disse. — Luiza, ainda tô esperando vocês para passarem uns dias na fazenda!

— Opa, eu quero! Adoro andar a cavalo! – AnaLu disse.

— E você, Lu?

— Tive que aprender para um papel, mas prefiro ficar na sombra tomando uns “drinks”.

— Ah, então a gente deixa AnaLu e a Lô e ficamos as duas no bem bom! – Falei empolgada! Ainda bem que a Luiza era como eu.

— Então, tá combinado!

Lorenza

Eu estava completamente viciada com a sensação de ver Patrícia sorrindo. A empolgação da minha pequena era gigantesca, ela parecia um pinto no lixo de tão feliz.

O casamento foi realmente um grande evento que contou com a presença de vários rostos conhecidos da televisão brasileira e até alguns artistas internacionais. Eu também tive meu momento de tietagem quando vi minha cantora country preferida ali sentada na mesa próxima a mim.

Minha Oncinha estava tão empolgada que nem reparou que a atriz que estava na nossa mesa tinha colocado a mão na minha coxa. Sempre a admirei por sua beleza, mas realmente nunca imaginei que ela curtisse mulheres. Ela e o marido, também ator e apresentador de TV, já estavam casados há anos e sempre apareceram na mídia como o modelo de casal perfeito. Bem que eu sempre o achei meio afrescalhado... Dei uma de João sem braço e me esquivei das investidas dela, que apesar de discretas eram bem invasivas.

Quando liberou a pista de dança, peguei minha Oncinha pela mão e dançamos bastante. Retirei o paletó e dobrei as mangas da camisa para amenizar um pouco o calor.

Minha Oncinha disse que queria uma bebida e fui ao bar pedir um drink. Enquanto esperava a barwoman prepará-lo, me encostei no balcão olhando Paty conversando com a irmã da Nalu.

— Para eu ter certeza agora é só vendo se você tem uma tatuagem de lobo no abdômen... Pois essa do seu antebraço é bem incomum também. – Olhei sem entender direito o que a mulher morena muito bonita falava para mim.

— Desculpe, não entendi.

— Sorry, dear! Acho que faz muito tempo pra você se lembrar de mim, Teddy Bear! – Comecei a rir ao me lembrar daquela linda mulher ali a minha frente.

— Uau... Gringa?!

— Yes, sweety...

— Nossa, que mundo pequeno... – A abracei com carinho. —Que prazer revê-la. – Só então notei uma ruiva maravilhosa ao seu lado que sorria para mim.

— O prazer é meu, dear, quando te vi fiquei em dúvida por conta do cabelo curto, mas quando vi essa tattoo tive certeza... Mas que indelicadeza a minha – Pegou a mão da ruiva ao seu lado. — Esta é minha esposa... Reddy baby... essa é Lorenza...

Uau, foi à única coisa que pensei... Estava ali a minha frente duas mulheres maravilhosas que transbordavam carinho mútuo em cada toque. Conversamos mais um pouco e notei que as duas se amavam muito e o quanto estavam felizes. Olhei para Patrícia que agora estava conversando animadamente coma as mães de Nalu. “Nossa, como é linda essa minha xiliquentazinha!”

Patrícia

A festa foi até de madrugada. Tirei fotos com Sabrino, com seu Cadu, com as noivas, com as mães da AnaLu... com todo mundo! Eu estava muito feliz! O mais legal era que eu me sentia como se estivesse em casa, como se aquela fosse a minha família.

Dançamos e bebemos bastante! Antes de dormir mandei uma mensagem para vovó dizendo que estávamos no hotel e bem.

No outro dia de manhã acordei sozinha na cama. Ao meu lado uma rosa e um bilhete dizendo que a minha namorada me esperava na piscina para o café da manhã e, como eu estava dormindo tão linda, que ela não quis me acordar. Coloquei um biquíni, uma saída de praia, óculos escuros e uma rasteirinha e fui andando descansada até o café da manhã que era servido à beira da piscina.

Procurei a minha namorada, mas não a encontrei. Resolvi me servir e achar uma mesa para a gente. Lorenza deve ter ido ao banheiro ou outro lugar. Se ela me disse para esperar aqui é porque logo ela virá. Estava entretida pegando alguns bolos e pães quando eu ouço uma gargalhada conhecida. Sigo o som e vejo, do outro lado da piscina, de óculos escuros, sunga, parte de cima de um biquíni e BOTAS, e o pior, passando hidratante nas costas de uma SIRIGAITA a senhorita LORENZA ROMAGNA!

Fim do capítulo