Coincidências por Rafa e
Capítulo 20
Haidê dançava colada a Lívia, aspirando o cheiro do cabelo loiro. Tinham terminado o jantar, sentiam-se bem naquele cenário, parecia que o mundo havia parado. Haidê olhou para o cachorro e percebeu sua orelha erguer em alerta, sentiu um aperto em seu coração.
-- Alguma coisa amor? – Lívia sentiu o corpo da morena ficar tenso.
-- Radar levantou as orelhas... – foi interrompida.
-- Morena, ele faz isso até para barulho de grilo.
-- Alguma coisa está errada. – Afastou-se depois de beijar os lábios da empresária – Entre. – pediu com carinho, olhando os olhos verdes. – Tenho que investigar... – a soltou. - Alguma coisa está errada aqui. – Lívia a segurou pelo braço.
-- Não vou falar mais, por isso escute bem: estamos juntas, somos uma dupla, eu não vou deixa-la sozinha, por nada. – explicou irritada e sem tempo para protestos.
-- Tudo bem, não vale a pena discutir. Mas por favor, mantenha-se atrás de mim. – Haidê seguiu em direção à pedra, enquanto Lívia foi até a mesa e pegou a faca – Para que essa faca?
-- Ela cortou um grande pedaço de carne, é amolada... – deu de ombros. – Pode ser necessário.
-- Lívia, eu não quero que se machuque. – jogou a cabeça. Estava realmente preocupada. Temia que alguma coisa lhe acontecesse, mas, seu maior medo era que Lívia fosse obrigada a reagir.
-- E nem eu quero que você se machuque. – olharam na mesma direção e viram um movimento.
-- Veja, tem gente subindo pela pedra. – sussurrou - Eu sabia que isso era perigoso.
-- Não reclama Haidê, isso é natureza, não posso arrancar.
-- E nem eu estou pedindo para fazer isso... – olhou novamente e pediu silêncio. Haidê apontou para três formas que se aproximavam, mostrando a posição de cada um para Lívia. – São três... Espera! São quatro homens. - Lívia olhou melhor e viu o que estava mais próximo de Haidê, não pensou duas vezes: atirou a faca na perna do homem que caiu gritando na areia da praia. Haidê parou, olhou em direção a Lívia e revelou assustada. - Fiquei com medo de você. – ela a olhou estreitando os olhos e um sorriso de lado.
-- O que? Agora são três... – deu de ombros. – Pensei que ficaria mais equilibrado.
-- E agora eles nos viram. – avisou observando-os.
-- Então vamos expulsá-los. – outro homem se aproximou da morena que preferiu se abaixar entre uma fenda, para surpreendê-lo.
-- Ótimo! Agora ela se acha um tatu. – Haidê a olhou irritada, quando o homem chegou ao topo, foi surpreendido com um soco.
-- Viu? Para isso me abaixei – explicou-se. Quando o homem se ergueu novamente, o outro chegou e segurou a morena por trás. Lívia viu que precisava ajuda-la, mas foi empurrada pelo terceiro que a surpreendeu por trás. Quando Haidê viu que o terceiro se aproximava de Lívia, tentou se desvencilhar dos dois que haviam lhe segurado.
-- Ei você me empurrou! – gritou irritada – E quebrou meu sapato novo. – olhou o salto quebrado. – Sabe quanto gastei neste sapato? – o homem deu um sorriso lascivo.
-- Não provoca Lívia. – Haidê gritou enquanto lutava com os dois homens.
-- Ele quebrou meu salto... – voltou a olhar o sapato. – Comprei esse sapato hoje. – quando o homem se aproximou, ela rapidamente o golpeou com o mesmo sapato. – Agora você me irritou de verdade. – declarou quando o homem se recuperou do golpe e pegou um canivete que estava em seu bolso.
-- Lívia, cuidado! – Haidê gritou quando se livrou do primeiro homem.
-- Vem aqui loirinha baixinha.
-- Só... – deu um salto e chutou a pequena faca da mão do invasor – minha... – voltou a chutá-lo no rosto e aproximou-se da mesa, pegou uma bandeja bateu forte em sua cabeça. Ele ficou atordoado com a pancada no rosto, aproveitando-se ela deu uma joelhada na virilha do homem que caiu com as mãos entre as pernas. Neste momento Haidê a olhou e sentiu a dor de um soco. Lívia pegou a bandeja, voltou a bater forte em sua cabeça, derrubando-o. – namorada me chama assim. – ela olhou a morena que sorriu e levou outro soco. Irritada, Haidê se ergueu e bateu forte para cima do seu agressor.
-- Mas você é “cicatriz”. – disse quando o segurou pela camisa, após erguê-lo.
-- Eu sei sua “cadela” e vim aqui para lhe pegar, depois ferir a sua “vadia” da mesma forma que me feriu.
-- Ninguém... – deu-lhe uma cabeçada – fala mal... – deu-lhe outro soco e depois o chutou na barriga, nocauteando-o. – da minha namorada. – as duas se olharam e Lívia se aproximou com um sorriso, segurando uma corda.
-- Achei tão fofinho essa coisa de se irritar quando ele me xingou. – confessou sorrindo e franzindo o nariz. Haidê se derreteu.
-- Vamos Lívia, passa essa corda. – pegou a corda, só então se perguntou onde ela pegou. – Onde arrumou isso?
-- Ele que a trouxe. – apontou o primeiro homem caído com a pancada da bandeja.
-- Vamos limpar essa sujeira, depois quero saber como aprendeu a lutar.
-- Acha que sou de vidro? Eu sei lutar e isso a está irritando, confesse... – ouviram um gemido, a morena deu outro soco no homem.
-- Não gosto quando me atrapalham.
-- Acha que estou lhe atrapalhando?
-- Não é você, e sim ele. – apontou irritada para o homem caído.
-- Melhorou.
-- Depois conversamos. – amarrou os três homens caídos, pegou o celular, ligou para o irmão – Três peixes na rede, preciso de um grande cesto... – Lívia observou a interação de Haidê com Ulisses. - Estou na casa de Lívia... Sim... Não demorem, estou cansada e irritada... Sim. – desligou e olhou para namorada – Agora conte como aprendeu a lutar. – retirou o casaco de couro, só então a loirinha percebeu o coldre com a arma. Radar olhava os homens caídos, como se estivesse vigiando-os, mas, com a discussão das duas, preferiu colocar as patas da frente sobre o fuço.
-- Espera aí, você estava com isso e não usou? Deixou que quebrasse meu salto? Poderia ter rendido todos eles.
-- Não queria assustá-la.
-- E acha o que? Eu quebrei o salto de um sapato novo... – reclamou. – Comprei hoje e perdi.
-- Compro outro sapato, se esse é o problema. – disse vencida.
-- Não sou do tipo que gosta de prejuízos. – voltaram a discutir, quando os homens acordaram ouviram um pouco da discussão.
-- Os rapazes chegaram. – disse olhando para os policiais que se aproximavam pela praia.
-- Ainda bem! Essa loirinha é irritante. – afirmou o invasor com a cicatriz no rosto.
-- Nunca mais vocês atrapalham os planos dela. – Haidê declarou como se fosse uma confissão.
-- Eu não esqueci meu sapato. – olhou para o cachorro – Gato é mais valente que você. – repreendeu o animal e rosnou, depois olhou para Haidê.
-- Ela está brincando. – acalmou Radar e esticou a mão para acaricia-lo.
-- Haidê, um amigo nos avisou que você pescou uns peixes.
-- Peguei sim. – puxou a ponta da corda. – Uns bagres.
-- Isso está mais para baiacu. – confessou com os braços cruzados.
-- E essa loirinha?
-- Lívia. – esticou a mão – Vem aqui amor, esses são meus amigos. – fez as apresentações e ouviu um dos homens reclamar.
-- Cara, esse aqui é Cicatriz. Ei cara, você está bem? – puxou o homem pela corda, fazendo os outros três caírem. – Haidê lhe deixou vivo?
-- Quer me levar logo para longe dessa vaca e dessa loira insuportável?
-- Cara, para onde você vai, perto dessas duas é o paraíso.
-- E para onde eles irão? – Lívia perguntou.
-- Melhor não ter conhecimento.
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-- Meu Deus, que risco vocês correram! – Bá estava assustada com a movimentação em sua casa, não esperava que entrassem assaltantes pela pedra que dava para o mar.
-- Pois é Bá, não levaram nada, mas me deram um prejuizão. – na verdade Lívia estava irritada com a confusão. Os homens atrapalharam sua “festinha particular” e usava o sapato como argumento.
-- Eu compro outro sapato para você. – Haidê revirou os olhos.
-- Nós também, se isso a deixar melhor. – foi à vez de Carlos afirmar.
-- Ótimo! Quem sabe ganho vários modelos, não é? – estava irritada.
-- Minha filha, deixe estes sapatos para depois.
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-- Acabou! – jogou-se sobre o sofá do quarto. - Estou cansada.
-- Lógico! – falou irritada. - Se tivesse usado essa arma, teria imobilizado todo mundo e evitado uma briga, além de todo o desgaste físico.
-- Lívia, isso é uma clock e não um raio paralisante. – respondeu com ironia.
-- Não precisa falar assim, eu sei o que é isso. – Haidê a puxou pelo braço, fazendo-a sentar em seu colo.
-- Meu bebezinho ficou zangado hoje. – beijou seus lábios – Eu recompenso na minha etapa da comemoração.
-- Você fica se divertindo, mas veja só tudo isso: meus planos fracassaram, tivemos penetras em nossa festinha. – bateu com o indicador no ombro de Haidê. - Isso serviu para você implicar mais com a localização da minha casa. Meu salto quebrou, descobri que meu cachorro é mais covarde que o Scooby-doo, e ainda... – enumerou sem dar pausa.
-- E?
-- Meu vestido novo ainda rasgou quando levantei a perna para golpear aquele girino.
-- Você rasgou o vestido até a coxa? – perguntou enquanto via o estrago. – Lívia, aquele homem viu bem mais do que deveria. – Quase gritou com a constatação – Você não está de calcinha.
-- Não estou. – afirmou. - Sabia que você iria explorar a região com essas mãos enormes e safadas. – explicou-se.
-- E agora a culpa é minha você não usar calcinha? – a retirou do seu colo e se levantou, logo depois andou em círculos pelo quarto. – Esse... – queria lembrar o nome que a namorada havia dado ao invasor.
-- Girino...
-- Esse girino estraga minha festa particular e ainda vê mais do que deve da minha mulher. – A loirinha despertou com a afirmação de posse da morena.
-- Amor, eu chutei aquela cara asquerosa, não deu tempo de ver nada. – Acariciou o rosto da morena e beijou seu pescoço – Vamos terminar essa noite como planejamos, ao menos, o final não tem como ser mudado. – Haidê a segurou pelas coxas grossas, elevando uma delas, e se perdeu em um beijo profundo. Ela devolveu a loirinha ao chão, enquanto explorava seu corpo. Sentiu as coxas firmes, apertou ao lado do rasgão sem cerimônia, e terminou de rasga-lo. Quando ela viu os olhos verdes se abrirem em alerta, tentou acalmá-la. – Não tem conserto mesmo. – explicou-se e voltou à exploração, deitando-a sobre a cama, depois se colocou por cima do corpo menor.
-- Tira essa roupa... – pediu em um sussurro, Haidê sentiu o corpo todo arrepiar. Ela se afastou um pouco, sem deixar de fitar os olhos verdes, retirou o coldre com a arma, colocando-a sobre a cabeceira da cama. Em seguida, de forma sensual, ela tirou a camisa, desabotoando-a lentamente. Lívia sorriu de forma maliciosa, e passou a língua pelos lábios, provocando-a. Haidê respondeu da mesma forma, aumentando o clima de flerte e desejo. A advogada se ergueu mais um pouco e abriu o zíper da calça, quando tentou abaixá-la, sentiu resistência, olhou rapidamente para loirinha e forçou um sorriso, voltou a forçar a calça para baixo, mas ela não descia.
-- Não desce? – perguntou-se, mas Lívia ouviu.
-- Amor me deixa ajudar. – ofereceu-se já se erguendo, mas a morena a impediu.
-- Não. Eu consigo retirar essa calça. – levantou-se da cama, afastando-se e em pé, tentou empurrá-la até os joelhos. – Não consigo.
-- Haidê, essa calça é couro, deve ter grudado.
-- GRUDADO? Co... Como assim Lívia?
-- Você suou querida... – levantou-se e tentou puxar a calça grudada ao corpo da namorada – Ela aderiu.
-- Era só o que faltava agora. – bufou irritada.
-- Senta na poltrona e levanta as pernas que vou tentar puxar. – quando ela sentou, com a expressão de pouquíssimos amigos, a loirinha lhe piscou e retirou as botas com salto. – Não sei como seu salto não quebrou também.
-- Estou acostumada a lutar com saltos. – respondeu com ironia, mas Lívia apenas lhe observou com os olhos semicerrados.
-- Agora erga essa bunda gostosa que amo... – Haidê a obedeceu, só então Lívia puxou a calça, desceu até as coxas musculosas. Ela forçou mais um pouco e nada. – Não desce amor.
-- Isso eu sei. – respondeu irritada.
-- Espera... – levantou-se e ligou o ar condicionado. – Quando esfriar, ela vai sair mais fácil. O suor aderiu ao couro e grudou. Assim que baixar a temperatura, ela vai desgrudar.
-- Tem certeza que você é bióloga? – perguntou com sarcasmo - Acho que está mais para química. – voltou a bufar.
-- Eu vou pegar um ventilador. – saiu do quarto, após amarrar o vestido, e antes de qualquer protesto de Haidê.
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-- Bá, você sabe onde tem um ventilador?
-- Aí minha Nossa Senhora! O que vocês irão aprontar mais hoje? – perguntou ao perceber os olhos verdes cintilando.
-- Nada, só quero desgrudar a calça de Haidê.
-- O que? Colaram a calça dela?
-- Não. A calça dela é de couro, grudou com o suor.
-- Ah!! Tem um ventilador velho lá no armário da garagem. – Lívia correu para pegar. – Por que não experimenta talco? – perguntou quando a loirinha retornou na frente das outras duas senhoras e do jardineiro que trabalhavam na casa.
-- Pode fazer muita sujeira, Bá. – todos seguravam o sorriso, Lívia não percebeu, ela queria se livrar da calça que estava atrapalhando suas fantasias com a advogada.
-- Talco seca, vai sair mais fácil. – Lívia ficou pensativa.
-- Lívia, acho que hidratante escorrega, vai sair mais fácil. – a esposa do jardineiro sugeriu.
-- Boa! Isso faz mais sentido. – piscou e correu para o quarto, sem tempo para escutar as gargalhadas.
-- Essas duas inventam de tudo. – Bá revirou os olhos com a afirmação.
-- Ainda bem dona Dirce. – o jardineiro disse, lembrando a confusão causada pelos capangas de Jacques. - Depois do que aconteceu hoje, elas merecem aprontar um pouco de diversão.
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-- Voltei!
-- O que você vai fazer com esse ventilador?
-- Usá-lo para ajudar. – ligou e deixou próximo à morena. – Agora vou tentar puxar aos pouquinhos, com o suor secando.
-- Pega uma toalha. – pediu em pé, tentando se equilibrar, mas foi inútil, quando a loira retornou com a toalha, ela tentou se abaixar para secar as pernas e caiu, o que provocou risadas na namorada. – Acha engraçado?
-- Desculpa amor, mas essa cena ficará na minha cabeça pelo resto dos meus dias. – brincou.
-- E se eu ficar aqui dentro pelo resto da noite? Nada de sex*, de banho e...
-- Parou! Parou! Não quero saber de mais desastres por hoje. Vamos derramar o hidratante por dentro da calça, assim ela escorrega.
-- Nem pensar Lívia, isso vai fazer a maior sujeira. – Lívia apontou para uma cadeira próxima à porta da varanda.
-- Senta ali e segura naquela mão francesa para eu puxar.
-- E se aquele vaso cair na minha cabeça?
-- Ele não vai cair Haidê. – respondeu com sarcasmo. – Você é forte, mas não desta forma. A morena atendeu a namorada, mesmo contra sua vontade. – Deixa o ventilador esfriar um pouco mais o corpo.
-- Deixei o ar condicionado em quinze graus. – concluiu irritada. - Picolé de couro não é meu forte. - a loirinha deu de ombros.
-- Agora segura firma que vou tentar puxar. – ela tentou e foi conseguindo, até um pouco acima dos joelhos, fez força e caiu no chão.
-- Machucou? – perguntou preocupada.
-- Não. Vamos, estou quase conseguindo. – voltou a tentar – Quando eu puxar aqui, você segura firme ai para não vir junto. – a morena assentiu e quando viu Lívia puxar a calça que saiu após muita dificuldade, sentiu o pequeno vaso cair sobre sua cabeça. – Ai meu Deus! Amor?! Amor?! – bateu de leve no rosto da morena.
-- Estou bem... – respondeu jogando a cabeça e alisando-a com a mão. Olharam-se. – Eu falei. – Lívia se jogou no chão sorrindo.
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-- Amor, eu preparei uma banheira com uma água bem gostosa e cheirosa para você.
-- Isso! Não matou com o vaso, agora vamos para o choque térmico. – respondeu com sarcasmo. Ela caminhou até o banheiro com as pernas um pouco abertas.
-- Não seja ingrata, você reclamou que está “melecada”, preparei esse banho para relaxar.
-- Irei relaxar. – permaneceu com ironia. Lívia preferiu fazer uma massagem, queria amenizar o mau humor da morena que se limpou no chuveiro.
-- Lívia...
-- Oi...
-- Tem uma coisa errada aqui... – olhou para suas coxas e pernas.
-- O que? Ai meu Deus! – perguntou e antes mesmo que a namorada respondesse, ela concluiu. – Isso é assadura?
Lívia pediu remédios na farmácia, depois que chegou, passou pelo corpo de Haidê que permanecia emburrada, monossilábica. A loirinha sabia que estava envergonhada, por isso não comentou mais sobre o assunto. Passou o remédio pelas pernas da advogada.
-- Melhor não vestir mais nada por hoje.
-- Dormir nua?
-- Haidê, isso não será a primeira, e com certeza, nem a última vez. – repreendeu. – Deixa esse falso puritanismo, deite-se, tente relaxar e dormir. – a morena resmungou alguma coisa e deitou emburrada. Lívia lhe fez cafuné até adormecer.
No outro dia, bem cedo, antes que a namorada acordasse, Lívia preparou o café da manhã e levou na cama, queria passar uma borracha na noite anterior. Impossível! Todos sabiam sobre o ocorrido, quando Haidê saiu para trabalhar, muitos lhe perguntaram se estava bem. O seu dia foi péssimo, enfiou-se no serviço, pediu que a secretaria não lhe passasse nada e avisasse a todos que não estava.
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Haidê permanecia entretida com alguns processos, revisando-os quando alguém bateu a porta, ela levantou a cabeça e viu sua antiga amiga de faculdade.
-- Ainda por aqui doutora Haidê?
-- Olá excelência!
-- Como está a minha velha paixão platônica? – sorriu.
-- Estou bem. – a avaliou. - E que papo é esse de paixão? – perguntou erguendo a sobrancelha.
-- Desde a faculdade eu sonhava com você... – afirmou de forma zombeteira – Um sonho distante. – completou sorrindo. – Fiquei sabendo que a senhora agora é “quase” casada. – fez aspas.
-- Vamos lá, vou adivinhar a fonte. – Sentou-se melhor em sua cadeira e colocou o dedo indicador no queixo, fingindo pensar. – Melissa Cristina ou Mariana? – Silvana sorriu. - Enquanto namorava todos e todas do curso e mais tantos outros... – falou com voz de enfado. – Tinha mesmo tempo para manter uma paixão platônica?
-- Verdade... Saudades daquela época. Acho que nossa turma foi a recordista de gays e lésbicas. Até mesmo as que se assumiram depois. Cristina se assumiu desde cedo e foi atrás da felicidade, mas você... – deu uma gargalhada - Haidê você surpreendeu a todos. Quando soube que mudou de lado, precisava saber dos detalhes sórdidos.
-- De que lado? - entrou na brincadeira olhando para todos os lados – Não mudei de lado, apenas abri os horizontes. – estava se divertindo com a amiga – Mas qual das duas falou?
-- Nenhuma. Foi Pedro, aquele “maureca” namorado da Mari...
-- Sei, mas eles não namoram mais. – a juíza ergueu as mãos em prece. – Mas como ele lhe disse assim? Ele sabe que somos amigas e que você é linha dura.
-- Saiu espalhando para todos no fórum, e até fora dele se duvidar. Ele disse que lhe viu aos beijos com uma mulher.
-- E o idiota foi falar isso logo para você? – voltou a rir. Haidê se levantou e pegou um pouco de água, ofereceu para a juíza que aceitou.
-- Pois então... - bebeu um pouco. – Quando ele me falou, eu não me segurei, puxei pela memória seus melhores momentos como advogado dentro daquele fórum.
-- Um tipo qualquer. – pensou alto. - Imagino como foi o momento remember.
-- Mas essa história... Diga-me, você realmente está com uma mulher? Na faculdade você passou o rodo geral no time masculino. – Haidê pensou um pouco e respondeu ponderando as palavras.
-- Silvana, naquela época não existia uma loirinha, baixinha e do nariz arrebitado. – bebeu um pouco da água. – Eu não mudei de lado, não me considero homo ou heterossexual, eu sou apaixonada por Lívia, apenas isso. – a juíza fez uma expressão pensativa e questionou.
-- Acha que seria diferente se eu tivesse insistido, ou foi à loirinha que efetuou essa mudança?
-- Lívia efetuou a mudança, posso afirmar sem esforço algum... – sorriu com a lembrança – Bati os meus olhos naquele verde mar e caí de amores.
-- À primeira vista?
-- A primeira, segunda, terceira... quinta... – sorriu novamente – Todas às vezes que nos encontrávamos, nossos olhos eram atraídos como ímãs.
-- Desisto! – bateu na mesa.
-- Como se você estivesse livre e não existisse Elisângela. – Silvana fechou os olhos e voltou a abrir com tristeza.
-- Ela me deixou.
-- O que? – estava surpresa – Quinze anos?
-- Poucos meses para treze... – deu de ombros - Ela queria filhos, eu não acho que nasci para ser mãe... – suspirou – Ela encontrou alguém que queria tanto quanto ela ser mãe.
-- Nossa Silvana! Eu não sabia que você estava passando por isso... – tentou se justificar.
-- Não... – olhou para os olhos azuis que a observava - Eu tirei alguns meses de licença, voltei faz pouco tempo. Precisava reorganizar minha vida e minhas prioridades.
-- Algo que possa ajudar?
-- Caso não dê certo com a loirinha, poderia me colocar como prioridade na fila? – Haidê deu uma gargalhada.
-- Prometeria isso, se houvesse chances, mas sou tão dela que nem na minha vida mando mais. – andou pela sala explicando como estava sua vida. Lívia bateu de leve na porta e colocou a cabeça para dentro, interrompendo-as.
-- Atrapalho? – havia combinado de pegá-la, pretendiam comprar um presente para Helena. Quando a empresária viu sua namorada com a ruiva bonita, de intensos olhos verdes, entrou observando-as.
-- Essa gatinha é o amor da minha vida. – declarou enquanto Lívia a envolvia em um abraço. – Amor, esta é Silvana, ela estudou comigo na faculdade.
-- Olá – sorriu – Muito prazer. – estendeu a mão.
-- Silvana está é Lívia, a dona do meu coração.
-- Muito prazer, Lívia. – a loirinha apertou a mão da juíza, mas, os sinais de alerta de perigo falavam mais alto.
-- Vocês se encontraram aqui? – perguntou e se penitenciou por isso.
-- Silvana veio nos visitar. – a juíza percebeu o ciúme, resolveu provocar, queria apenas observar a reação do casal.
-- Querida, estou muito feliz que finalmente tivemos tempo para nos sentar e matar a saudade, mas agora tenho que ir. – beijou o rosto da morena e acenou para loirinha, que a observava com a expressão fechada. Haidê olhou para amiga, viu que ela estava aprontando, apenas cerrou os olhos.
-- Matou bastante as saudades? – Lívia perguntou e antes que respondesse, saiu pisando forte.
-- Volta aqui, baixinha. – a puxou pela mão. – Ei, Silvana gosta de provocar. – a beijou. – Ela é amiga da faculdade, nunca rolou nada, só amizade.
-- Conheci Úrsula, Mariana, Cristina, Samuel e ninguém jogou olhar de peixe morto para você. – Haidê deu uma gargalhada.
-- Eu amo você loirinha. – a beijou e abraçou forte. – Só você.
-- Por que ela não joga charme para Úrsula? Ela está sozinha.
-- Nem falei, mas acho que Úrsula está encantada por Camila.
-- Sério?
-- Sim.
-- Gostei de Camila.
-- Ela é gente boa. – beijaram-se. – Mas agora eu quero minha loirinha para melhorar meu dia.
-- Ainda chateada?
-- Queria matar aqueles idiotas. – confessou.
-- E eu queria... Um par de sapato novo.
-- Um par de sapato novo.
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-- Vamos para casa? – Haidê já estava cansada de andar. A noite anterior havia sido estressante, além da assadura, não havia dormido muito bem. Passou o dia todo trabalhando, estava esgotada.
-- Presente para dona Helena... – pensou. - Pode ser algo para casa, para uso pessoal... Amor, deve ser algo divertido... – a advogada olhou pensativa.
-- Brinquedos sexuais? – a loirinha a olhou com censura – Eu não conheço diversão melhor. – Balançou as sobrancelhas e recebeu outro olhar de censura.
-- Sabe que ela é sua avó, não é? - Haidê se rendeu.
-- Só quero ir para casa. – pensou um pouco. - Que tal um jantar? – era sua última tentativa. Lívia lhe olhou por alguns instantes e sorriu.
-- Ótima ideia! Poderíamos ir a um bom restaurante e planejarmos um excelente jantar. Obrigada amor! – aproximou-se e lhe beijou o rosto. Haidê ficou envergonhada, estavam no meio do shopping e essa era uma situação nova, em todos os aspectos. Era o tipo de pessoa que não gostava de manifestações de carinho, sempre foi reservada. – Venha, acho que sei onde encontraremos este restaurante. – puxou a mão da morena.
-- Lívia, você pretende ir atrás disso hoje?
-- Claro. – sorriu – Poderemos jantar, enquanto definimos cardápio e circunstâncias. – afirmou sorridente e foi impossível negar alguma coisa, sabia que estava rendida a todas as ideias dela.
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-- Ótimo seus idiotas! – esbravejou. – Eu não pago vocês para pensarem e sim agir. – levantou-se irritado da poltrona em que estava recebendo massagem de uma mulher.
-- Era uma boa oportunidade de prendê-las, eles iriam pegá-las distraídas, se o senhor me entende. – completou com malícia e se arrependeu.
-- Nunca pegarão Haidê O´Brien Aqueu distraída, ela é muito mais esperta do que todos vocês juntos. – gritou e se aproximou do homem, levantando-o pela camisa. – Agora não temos quatro dos nossos homens.
-- O... O se... Senhor pode falar com aquele seu amigo e...
-- Ele não pode nos ajudar agora... – o jogou longe – Não podemos ameaçar sua posição neste momento, ele nos fornece informações de dentro da Interpol.
-- Os caras foram presos pela polícia e...
-- Serão todos entregues a Interpol, seu imbecil! Todos nós somos alvos de investigação e procurados.
-- Mas ele é seu amigo chefe...
-- Não fale mais uma palavra, seu energúmeno!
-- O que é isso chefe? É de comer? – o outro perguntou após se aproximar com uma bandeja.
-- Desapareça daqui! – jogou um copo no homem encolhido no centro da sala – E só apareça quando pegar Haidê.
-- E a loira?
-- Faça o que quiser. – gritou novamente. – Odeio aquela loira irritante e metida à boazinha.
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-- Amor, por favor, eu não aguento mais comer.
-- Ainda não provamos o prato principal.
-- Lívia, experimentamos umas três entradas e isso aqui... – apontou para o salmão ao molho de maracujá – não é prato principal?
-- Entrada... – apontou irritada para o cardápio – Ainda estamos longe do principal. – a morena mostrou desânimo – Mas concordo com você, estou muito satisfeita... – Haidê lhe sorriu – Por hoje. - avisou com um olhar zombeteiro – Podemos passar direto para a sobremesa.
-- Sobremesa?
-- Tem petit gateau... – declarou com um olhar de criança.
-- Podemos pedir e voltar para casa? – afirmou.
-- Fechado.
-- Sinceramente meu anjo, eu não sei como consegue tanto espaço para comida neste estômago. – declarou enquanto chamava o garçom.
-- Meu metabolismo é rápido. – respondeu sorrindo.
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-- Vamos para sua casa? – perguntou desconfiada.
-- Sim.
-- Nossos planos não eram outros?
-- Não quero ninguém me olhando com sorrisinhos.
-- Haidê...
-- Não adianta Lívia, estou cansada, não quero quebrar o queixo de ninguém hoje.
-- Não é para tanto.
-- Claro! – balançou a cabeça em negação. - Não foi você. – respondeu irritada.
-- Não precisa ser grosseira. Quanto a quebrar queixos, acredito que uma boa conversa e...
-- Ainda lhe chamaram de loirinha irritante e mimada. Lembra o motivo? As reclamações por causa do salto. – interrompeu lembrando os comentários que lhe fizeram na noite anterior.
-- Eu não sou isso...
-- Pois é. – sorriu vitoriosa. – Imagina se falam da minha calça.
-- Não adianta sorrir assim.
-- Não comece Lívia. – avisou em tom de alerta.
-- E se começar? – desafiou.
-- Estou avisando, não provoque.
-- E se eu prosseguir? – esperou Haidê estacionar na garagem e sentou em seu colo. – Gosta disso? – beijou o pescoço da morena.
-- Como consegue?
-- Consigo o que?
-- Fazer isso? – sentiu as carícias pelo seu corpo e pequenas mordidas em seu pescoço e queixo.
-- Conheço cada centímetro deste corpo... – estavam envolvidas entre beijos e carícias, quando o telefone da morena tocou. – Não atende. – pediu com um sussurro.
-- Pode ser vovó ou algum problema em casa... – alegou contendo a respiração. Lívia se ajeitou no banco, dando espaço para Haidê falar ao telefone. – Sim... Oi Ulisses... – Lívia a olhou com indignação. – Não poderia aguardar chegar? Sim, não é uma boa hora... Não é da sua conta... – respondeu irritada – Ontem foi uma noite terrível, quase não dormi, preciso descansar... Amanhã? – Lívia desceu do carro e bateu a porta. – Sem chances Ulisses. Não posso falar agora, estou ocupada... Não. Estou falando sério, não posso ir aí amanhã. – foi enfática – Agora preciso ir. – desligou sem esperar o irmão se despedir e subiu o mais rápido que pode até seu apartamento. Logo ao entrar, viu a expressão séria da sua avó, sabia que ela iria repreendê-la. – Agora não vó, não é uma boa hora.
-- Agora sim. – foi firme. – O que realmente pretende?
-- Como assim, dona Helena?
-- Quanto tempo da sua vida pretende desperdiçar com esta vingança tola?
-- Vingança tola? A senhora sabe o que perdemos. Como pode falar isso?
-- Foi o destino, minha filha. – apontou para o quarto - Agora o que está fazendo é pura tolice. – antes que a morena retrucasse, a senhora mais velha completou – Essa menina veio para trazer paz para seu coração, luz para sua vida, um recomeço cheio de esperanças e amor. Essa sua fé cega em seu irmão...
-- Vó, ele é meu irmão, quem sempre me apoiou em todos os momentos... – passou a mão pelo cabelo. – Ontem a casa de Lívia foi invadida, queriam nos matar. Quem limpou a sujeira? Foi Ulisses. – suspirou cansada – Não é fé cega.
-- Fé cega sim. – interrompeu – Você faz o que ele quer, sempre foi assim.
Quem a levou para essa trama de polícia, ladrão e vingança foi ele. Seus pais não admitiriam nunca isso.
-- Sou adulta para fazer minhas escolhas.
-- Então continue assim e perderá a pessoa que ama. Não bastou ontem?
-- Vó... – falou em um fio de voz.
-- Sem vó... Não adianta, vai perdê-la e depois não adiantará nada de vingança, viverá sozinha e se arrependerá. – saiu sem tempo para contestações. Haidê foi para quarto, ao entrar, viu Lívia sentada próxima à janela, observando o mar.
-- Oi... – sussurrou.
-- Vai mesmo viajar amanhã? – perguntou sem olhá-la.
Fim do capítulo
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LeticiaFed
Em: 04/03/2019
Muito bom, tudo errado no momento romântico... Livia sem calcinha só reclamando do sapato e Haidê colada na calça de couro. Enquanto isso o cosplay do Scooby Doo só observando...hahaha
E dona Helena tem parcialmente razão, essa vingança é difícil pra todos, mas por outro lado Jacques não vai deixar as duas em paz. Então acho que não tem alternativa mesmo.
Boa semana, bj!
Resposta do autor:
A pergunta é: Jacques ama Haidê ou é orgulho ferido? Oh dúvida cruel. Quanto a Lívia, Haidê é uma grande santa, porque ela incomoda muita gente...kkkkkkk. Bjs
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Baiana
Em: 04/03/2019
Essas duas não ficam dois minutos só de love, sempre acontece algo para estressar uma das duas.
Tô ansiosa para ver o Jaques se dando mal de vez,ao enfrentar a dupla dinâmica.
Resposta do autor:
São esses bandidos, uma grande corrente do contra. Isso vai acabar, logo ela estarão bem. Beijos
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Mille
Em: 04/03/2019
Ola Rafa
Relembro essa cena na calça de couro kkkkkk ri novamente. E a loirinha zangada por ter quebrado o salto.
Haide terá que decidir abandonar a Lívia para seguir o irmão ou deixa-lo sozinho na vingança. Ou encontrar uma forma de incluir a Lívia e Ulisses no mesmo ambiente.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Sinceramente, depois de tudo, ainda aguentar Lívia reclamar do salto alto, essa Haidê é uma santa. Beijos
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