Carolina chegou em casa com Ângela depois de um plantão exaustivo e o porteiro entregou algumas correspondências, entre elas havia uma que ele entregou separadamente.

 

-- Boa noite Doutora Carolina.

 

-- Boa noite Manoel. Tudo bem? Já te disse que não precisa dessas formalidades, só me chame de Carolina.

 

-- Tudo bem, vou tentar. – Estendeu um envelope – Uma moça loira esteve aqui e deixou esse envelope pra senhora. Disse que era muito importante.

 

            Carolina sentiu o corpo estremecer, reconheceu a letra no envelope como de Samantha, mesmo com todas as tentativas de se manter longe dela, a ex-modelo ainda insistia em se aproximar, sorriu forçadamente e pegou o envelope. Ângela percebeu o desconforto de sua namorada, mas preferiu não invadir a intimidade dela, esperou que ela se sentisse à vontade para falar.

            Carolina chegou ao apartamento e deixou as correspondências debaixo das chaves sobre um aparador que fica na entrada. Estava em silêncio, aquele envelope estava tirando sua razão, uma parte dela queria jogar fora sem nem abrir, outra dizia que ela poderia pelo menos ler o que a ex-namorada tinha a dizer. Um dilema interno foi criado e Ângela percebeu essa mudança.

            Carolina foi até a cozinha e pegou um copo de água, Ângela foi para o sofá e sentou, deixou sua bolsa sobre a mesa de centro e ficou observando a movimentação da namorada pelo apartamento. Carolina andava a esmo, como se estivesse perdida, mexendo nas coisas sem muito propósito. Ângela levantou e foi até a namorada para chamar sua atenção. A abraçou por trás e trouxe Carolina de volta.

 

-- Amor, o que houve? – Beijou o pescoço – Você parece nervosa.

 

            Carolina sentiu as mãos da namorada lhe envolvendo a cintura e o beijo que recebeu em seu pescoço aguçou seus instintos. Voltou à realidade e percebeu que estava se permitindo abalar novamente por Samantha.

 

-- Fala de novo? – Virou-se de frente para a namorada –

 

-- Você parece nervosa. – Fez um carinho em seu rosto –

 

-- Não, como você me chamou?

 

-- Ah! – Riu – Amor! Meu amor! – Beijou seus lábios –

 

-- Adorei isso.

 

            Carolina beijou sua boca e aquele beijo a trouxe de volta à sua realidade atual, sua felicidade estava ali, em seus braços, a mulher que derrubou todas as suas barreiras e que lhe trouxe paz, começou a retirar sua blusa e ela permitiu, abraçou Ângela e começou a leva-la para o banheiro, as roupas foram fazendo um rastro pelo corredor e já debaixo do chuveiro, as peles se encontravam quentes, em contraste com a água fria que caía sobre seus corpos, as mãos exploravam cada pedacinho de pele nua. Carolina encaixava sua coxa entre as pernas de Ângela provocando a residente que gemia gostoso em seu ouvido.

            Ângela que geralmente era comedida no sex*, começava a ganhar confiança e fez com que Carolina encostasse na parede gelada causando um misto de sensações que a fizeram gem*r alto. Encarou o olhar faminto da namorada que lhe devorava e ela adorou vê-la assim. Ângela avançou em sua boca invadindo com sua língua sedenta enquanto suas mãos passeavam pelo seu corpo, maltratando seus mamilos e seu sex* que já estava completamente úmido.

            Carolina não teve escolha a não ser se entregar de corpo e alma àquela mulher linda e doce que cada dia que passava invadia mais e mais seu íntimo e seu coração. Gem*u mordendo a orelha de Ângela que estremeceu àquele toque, arranhava suas costas e mordia seu pescoço, a residente penetrou dois dedos no sex* pulsante de Carolina que perdeu o pouco de lucidez que ainda lhe restava.

 

-- Ah! Gostosa, me fode. – Sussurrava no ouvido da residente –

 

-- É assim que você quer? – Aumentou as estocadas – Diz pra mim, fala pra sua Ângela.

 

-- Puta que pariu! Você é muito gostosa! Vai, assim.

 

            Carolina rebol*va, e antes de alcançar o orgasmo segurou os cabelos de Ângela e a levou para beijá-la. Gem*u entre seus lábios o ápice do prazer que recebia e foi amparada quando quase perdeu as forças. Ângela a abraçou e beijou sua boca, fazia carinho em seus cabelos e sussurrou no ouvido da namorada: -- Eu te amo!

 

-- Eu te amo muito também! – Respondeu ainda com o rosto enterrado em seu pescoço.

 

            Tomaram seu banho e ao sair do banheiro enroladas em toalhas para se trocar no quarto, deram de cara com a silhueta de Roberta entrando pelo corredor escuro. As três gritaram com o susto, e depois que a advogada acendeu a luz e deu de cara com a cena das duas quase nuas de cabelo molhado entendeu que as roupas espalhadas pela casa eram por causa de uma tórrida relação sexual.

 

-- Roberta? O que você está fazendo aqui? – Segurava a toalha que ameaçava cair –

 

-- Carol, desculpa, é que eu te liguei e você não atendeu, eu resolvi passar para ver se estava tudo bem. – Estava ofegante – Ai eu vi um monte de roupas pelo chão, fiquei com medo de você ter passado mal.

 

            Ângela estava tentando se esconder atrás de sua namorada, estava nua com a toalha enrolada no corpo, enquanto gotas de água escorriam pelo seu cabelo.

 

-- Eu estou bem, amiga. ‘

 

-- Isso eu posso perceber agora! – Olhou para Ângela atrás dela – Desculpa amiga.

 

            Contrariando qualquer situação embaraçosa, as duas começaram a rir da situação, Ângela não teve outra saída a não ser começar a rir também da saia justa entre a namorada e sua amiga. Finalmente saiu de trás de Carolina e cumprimentou Roberta.

 

-- Roberta, essa é Ângela, minha namorada.

 

-- Oi Ângela! – Sorriu – Acho que eu vou embora. Vou deixar vocês sozinhas.

 

-- Não, beta, calma aí, espera só um pouco. – Olhou para si e para Ângela – Só precisamos nos vestir. Espera na sala que eu já vou.

 

-- Tem certeza? Não quero atrapalhar vocês.

 

-- Não atrapalha, eu já venho.

 

            Carolina entrou no quarto seguida por Ângela e as duas começaram a rir da cena constrangedora que acabaram de passar. As roupas da residente estavam na sala, ela não tinha levado para o quarto ainda. Carolina se vestiu e a beijou.

 

-- Minhas roupas estão na sala, Carol. – Enxugava os cabelos –

 

-- Eu pego pra você. – Voltou – Ângela, desculpe por isso, é que Roberta tem a chave do apartamento, ela praticamente morou aqui depois que eu saí do hospital.

 

-- Não precisa se explicar, está tudo bem, eu não estou chateada. – Beijou-a – Agora pega minhas roupas pra eu não ter que sair de toalha de novo? – Piscou –

 

            Carolina a beijou novamente e foi pegar a bolsa de Ângela, encontrou Roberta zapeando os canais da TV e fez um sinal para que ela esperasse mais um pouco. Deixou Ângela se arrumando e voltou pra sala. Sentou ao lado da amiga e sorriu. Um minuto de silêncio apenas se observando, Carolina envergonhada por não ter contado sobre o romance com Ângela e Roberta enxergando a felicidade em Carolina, agora tinha descoberto o motivo da mudança de comportamento da médica.

 

-- Você hein! Nem pra me contar, olha o flagra que eu te dei! – Deu um tapa em seu ombro --

 

-- Desculpa amiga, eu precisava de um tempo pra assimilar tudo isso. – Gesticulava – Eu estava com medo de afastá-la como eu fiz com as outras mulheres com quem me relacionei.

 

-- E aí, essa é a residente, não é? – Olhou para a amiga –

 

-- Sim, é ela. Estamos namorando a algumas semanas e eu estou completamente apaixonada, acho que minha mãe tinha razão, o amor estava do meu lado e eu não tinha percebido.

 

            Roberta a abraçou e as duas ficaram assim um tempo, estavam felizes, a vida estava entrando nos eixos, finalmente elas estavam em paz. Ângela entrou na sala e ficou sem graça, mas Roberta percebeu sua chegada e se afastou de Carolina.

 

-- Bom, se vocês não se importarem, eu tinha passado naquele restaurante japonês que você gosta e trouxe nosso jantar, mas dá pra nós três, o que vocês acham?

 

-- Ai, adoro um japonês! – Ângela bateu palmas –

 

-- Pensei que você adorasse médicas cardiologistas com um parafuso a menos na cabeça. – Carolina a puxou para seu colo –

 

-- Não, essa eu amo! – Olhou nos olhos de Carolina e a beijou –

 

-- Ai Deus, acho que é melhor eu ir embora mesmo, antes que eu morra de diabetes, com tanta melação. – Revirou os olhos –

 

-- Sossega o faixo aí Beta, você não pode falar nada, porque quando está com Carlos é bem pior. – Carolina ralhou – Pega logo esse japonês aí que eu estou morrendo de fome.

 

-- Por que será? – Indicou a presença de Ângela –

 

            Carolina riu e foi na cozinha pegar alguns pratos, Roberta colocou as caixas com a comida sobre a mesa e as três sentaram para jantar, conversavam amenidades, Roberta e Ângela iam se conhecendo, trocando confidências. A conversa estava agradável, as duas se entenderam bem, Carolina estava adorando aquele clima.

            Levantou para lavar os pratos e Roberta a acompanhou na cozinha, Ângela foi ao banheiro e elas continuaram conversando.

 

-- Amiga, eu estou muito feliz por você, ela é um doce! – Jogava fora as caixas de comida –

 

-- É sim, estou completamente apaixonada. – Sorria –

 

-- Dá pra perceber a quilômetros. – Riu – Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido, mas estava esperando você me contar.

 

-- Desculpa Beta, é que eu queria ter certeza que eu não ia cagar tudo com ela. – Lavava os pratos – Mas dessa vez eu sinto que é muito diferente. Descobri o que é amor.

 

-- Graças a Deus, não aguentava mais seu celibato. – Revirou os olhos –

 

-- Nem era muito celibato, né amiga. Mas não me envolvia e nada dava certo. – Deu de ombros –

 

            Carolina pensou um pouco e resolveu falar com Roberta sobre o contato de Samantha.

 

-- Amiga, eu cheguei em casa hoje e tinha um envelope de Samantha, pelo que o porteiro falou ela deixou aqui pessoalmente. – Enxugava as mãos –

 

-- Cara, eu não acredito que aquela sem vergonha ainda está te procurando! – Falou mais alto do que gostaria –

 

-- Quem é sem vergonha? – Ângela chegava na cozinha –

 

            Carolina respirou fundo e resolveu contar à sua namorada sobre seu passado com Samantha, já era hora dela conhecer um pouco de sua vida.

 

-- Ninguém, eu só estava... – Foi interrompida –

 

-- Deixa Beta, eu preciso falar com ela sobre Samantha. – Respirou fundo –

 

            Ângela percebeu que era um assunto delicado, e que poderia se aborrecer com isso, mas resolveu confiar em sua namorada e ouvir o que ela tinha para dizer.

 

-- Quem é Samantha?

 

-- É minha ex-namorada. – Foi até o aparador e pegou o envelope – Ela me fez sofrer muito, no dia do acidente eu discuti com ela e descobri muitas coisas que me magoaram muito. E agora ela está tentando falar comigo desde que eu acordei.

 

            Ângela ouvia atenta ao relato de Carolina, olhava para a namorada e percebia que falar sobre Samantha ainda a abalava, mas esperou a conclusão da narrativa.

 

-- Hoje o Seu Manoel me deu esse envelope, ela deixou aqui.

 

-- Carol, você não vai abrir isso. – Roberta impôs –

 

-- Amiga, uma parte de mim diz para eu jogar fora, mas uma parte maior diz pra eu ler e ver o que ela tem a me dizer. – Colocou o envelope sobre a mesa de centro –

 

-- Porr* Carol, depois de tudo o que ela fez com você, você ainda tem compaixão por ela? – Levantou – Você realmente tem uma alma muito boa. – Balançou a cabeça negativamente –

 

            As duas começaram a conversar como se Ângela não estivesse ali, a residente ficou incomodada com a presença mesmo que não física de Samantha, percebeu que por mais magoada que estivesse, Carolina ainda era afetada por aquela mulher.

 

-- Roberta, eu não quero contato com Samantha, não quero mesmo! Mas também não quero carregar uma mágoa, ou uma culpa dentro de mim pro resto da vida. – Bateu as mãos na lateral do corpo – Eu sinto muito se eu quero ver sempre o lado bom das pessoas.

 

-- Você não pode estar falando sério!

 

-- Então leia você. – Apontou para a mesa --

 

-- Eu não quero ler nada de Samantha! – Cerrou os olhos --

 

-- Gente, por favor. – Ângela tentou amenizar a discussão –

 

            As duas olharam para a residente que se levantou, parecia um pouco incomodada, mas não deixou que os ciúmes que estava sentindo a dominassem, teria que ser sensata naquela hora.

 

-- Olha, eu não conheço toda a história, mas se eu puder dar a minha visão, de quem está de fora.

 

-- Por favor. – Roberta cruzou os braços –

 

-- Eu acho que Carol é quem tem que decidir se quer abrir esse envelope ou não, sem nossa influência, se isso a fará se sentir bem, então abra e leia, mas tem que fazer isso sozinha, o que está aí dentro não nos diz respeito, -- Olhou para a cardiologista -- é entre você e a Samantha. Se você depois disso quiser conversar conosco, se abrir, contar o que está escrito, estaremos aqui para te apoiar. – Falava sem parar – Eu estarei aqui por você, e não importa o que ela tenha feito de ruim que tenha te magoado tanto. – Caminhou até Carolina – Ela está no seu passado, ela não pode mais te machucar.

 

            Ângela fez um carinho no rosto de Carolina que se sentiu acolhida com aquelas palavras, olhava inebriada para aquela mulher tão madura diante de si, seus olhos encheram de lágrimas, pela primeira vez sentiu que tinha um porto seguro, alguém em quem pudesse confiar.

 

-- Eu estou aqui por você e pra você, lembre-se que você não está mais sozinha, meu amor. Seja lá o que for, eu não vou permitir que nada te machuque novamente.

 

            Carolina deixou aquelas lágrimas escorrerem e abraçou Ângela que a embalou em seu peito, Roberta percebeu o quão forte era a ligação que as duas estavam construindo, mesmo sem saber de toda a história, a morena estava incentivando a médica a fazer sua escolha, mesmo que a incomodasse. Isso era divino, a capacidade de aceitar a outra do jeito que ela era, acima de suas vontades. Roberta aproximou-se das duas e tocou o ombro de Carolina.

 

-- Desculpa amiga. É que tudo que envolve Samantha me deixa irritada.

 

            Carolina se afastou de Ângela e olhou para a amiga. Limpou o rosto com as mãos e a abraçou.

 

-- Não precisa se desculpar, eu sei que você só quer o meu bem e Samantha não nos lembra coisas boas. – A olhou nos olhos –

 

-- Pois é. Bom, acho que é melhor eu ir embora, já tivemos muitas emoções por hoje. – Beijou a amiga –

 

-- Está tarde, por que não fica aqui hoje?

 

-- Não, eu vou pra casa, não quero te atrapalhar. – Abraçou Carolina – Fica bem, e qualquer coisa me liga.

 

-- Pode deixar. – Beijou a amiga –

 

-- Tchau Ângela. – Abraçou a morena – Cuida dela.

 

-- Pode deixar. Vai com Deus!

 

            Roberta saiu do apartamento de Carolina e a médica sentou no sofá, olhava para a janela, perdida em seus pensamentos mais íntimos, pensava sobre o que Ângela tinha falado, ela tinha que escolher, se queria saber o que Samantha tinha a dizer, mas não sabia como isso iria afetá-la.

            A residente caminhou até o sofá e a abraçou, trazendo Carolina para seu colo. A cardiologista deitou e se aninhou aos carinhos de sua namorada. Ficaram em silêncio por alguns minutos. Até que Carolina começou a falar.

 

-- Eu conheci Samantha no ensino médio. Nós estudávamos juntas, minha mãe trabalhava em um colégio de freiras e todas nós nos conhecemos lá, eu, Roberta, Samantha e Lucia.

 

-- Amor, não precisa falar nada se não quiser.

 

-- Eu quero. Eu preciso que você saiba de tudo. Porque ainda dá tempo de desistir de mim, se você achar que é demais pra você carregar.

 

-- Ei, não fala assim. Você não é nenhum peso. É a mulher que eu amo. – Abaixou e deu um beijo em sua boca –

 

            Carolina contou sobre tudo o que viveu para Ângela, não omitiu nenhum fato, os problemas com o pai, o irmão do meio, a paixão de adolescente por Samantha, a forma como ela não conseguia se entregar, as traições, os vícios de Samantha, a forma como ela tentou ajudar e não conseguiu, e por fim, o reencontro naquele fatídico dia em que se acidentou. Ângela ouvia atenta, amparou Carolina nos momentos em que ela desabou ao falar do irmão e da mãe, deu forças, e passou a admirá-la ainda mais, ao saber de sua origem humilde e da força de vontade que ela teve para alcançar seus sonhos.

Seu amor parecia ter se multiplicado, a cada dia, quanto mais descobria sobre Carolina ela queria ir mais fundo. Queria protege-la de todo mal que pudesse atingi-la, queria tirar todo o sofrimento que ela carregava, mas isso não era possível. Então se prometeu a tornar sua vida a mais feliz possível.

Depois de muitas horas de conversa, onde Carolina expôs toda sua alma e acabou ouvindo um pouco da história de Ângela também, as duas adormeceram no quarto, abraçadas, como se nenhuma dor pudesse as alcançar quando estavam juntas.

Fim do capítulo