Capítulo 2 - Leveza na alma
– Embora não concorde, respeito seu luto. Mas já passou da hora de voltar a viver. Marcella já deu sinais de que não quer reatar. Pra que ficar se magoando dessa forma? – apontou para as fotos que Bia não tinha destruído quando teve o “ataque”.
– Não sei! Sinceramente não sei o que pensar. Tem momentos que quando nos falamos sinto que ela ainda nutre sentimentos por mim, mas tem outros que ela só fala da outra lá, e não sei.
– Amiga, – segurou suas mãos – esquece ela. Se existe uma outra nessa história agora, é você. Não vale a pena nutrir nada por ela, pelo contrário. Já pensou que ela pode estar procurando você nos dias que não está bem com a atual? Você pode tá se tornando o estepe dela sem nem saber.
– Será?
– Não é possível que mesmo depois da separação você não consiga enxergar a verdadeira Marcella – disse impaciente.
– O que quer dizer com isso?
– Que talvez tenha vivido uma mentira por uma década e pior, se acostumou com ela a ponto de não saber mais o que fazer agora que esta sem.
– Você tem alguma coisa para me contar?
– Não! E pra mim essa conversa está encerrada. Vejo que mesmo acontecendo tudo o que aconteceu, você ainda acha que tua ex é uma santa, e não serei eu a mudar sua opinião. Mas uma coisa eu te digo, cuidado com aquela cobra! Você não a conhece como acha.
– Se veio até aqui insulta-la é melhor mesmo encerrarmos essa conversa. Além do mais, quem passou dez anos com ela fui eu, não você. O que significa que eu a conheço, já você, não sabe o que está falando.
– Não precisa dessa grosseria, vim saber como você estava, já que sumiu. Pelo que vejo tá muito bem, cultuando a sua morta viva.
– Marilia!
– Pronto, não está mais aqui quem falou. Não precisa gritar! – levantou e caminhou até a porta: – Passo aqui as 9h. Por mim você nem ia mais depois dessa grosseria gratuita, mas meu irmão faz questão da sua presença.
Pelo tom ofendido da amiga percebeu que tinha ultrapassado um sério limite, tudo o que não queria era brigar, mas ela tinha aquela terrível mania de ofender Marcella gratuitamente.
– Mari, eu não quis...
Foi interrompida: – Guarde suas desculpas, não precisa perder tempo. – olhou para trás – Obrigada pela calorosa recepção.
– Merda! Porque essa mulher é tão geniosa?! – saiu porta a fora: – Marília, volta aqui, para com isso. Volta. – Quando alcançou a amiga ela já estava ligando o carro, esticou a chave: – Dá pra parar! Poxa, desculpa, sei que ultrapassei o limite, – disse fazendo careta – não quis ser grossa.
– Ah vá, palhaçada! Não quis? Você sempre é quando o assunto é aquela lá. – esticou a mão – Me dá a chave, eu vou embora.
Abriu a porta sentando no banco do carona: – Já que insiste, vou com você.
– Você é um pé no saco, que droga. Sai daqui, deixa eu ficar irritada com você. Vim te ver e ainda sou presenteada com sua grosseria gratuita e sem necessidade. Tenho mais é que sair daqui puta contigo.
– Acabou o chilique? Agora sai desse carro, temos uma conversa para terminar. – bateu a porta.
– Essa porr* não é a geladeira da sua casa, não! Cuidado.
Alguns minutos depois já conversavam como se nada tivesse acontecido, por mais que tentasse Mari não conseguia ficar muito tempo irritada com Bia, ela sim era cabeça dura. Onde já se viu terminar uma relação e manter contato com a ex como se ainda fosse atual.
– Olha, pelo o que entendi amanhã o senhor Douglas vai colocar a operação cupido em prática, – Bia a olhou sorrindo, sabia bem como costumava terminar aquelas operações do amigo – dessa vez será para nós duas.
– Ah não, fala sério! Ele já erra sempre com você, agora quer fazer o mesmo comigo, poxa. Me libera dessa, prometo que passarei a semana fazendo o que você quiser. Mas deixa eu ficar em casa amanhã, vai.
– Nem sonhando. Não vou passar por isso sozinha em hipótese alguma. Sem falar que vai ser diversão na certa, se ela escolhe sempre os piores caras para me apresentar imagina a mulher que não irá te apresentar – gargalhou. – Até onde eu saiba você é a única lésbica que ele conhece, essa cena não perderei por nada.
– Tá vendo, não tem como isso dar certo. Pelo amor de Deus, me deixa ficar. Diz que eu tive uma infecção e passei a noite no hospital, me ajuda – suplicou.
– Não, você vai comigo. Isso é para pagar a grosseria que fez mais cedo.
– Coração de gelo! Cortarei relações com vocês assim que sair da casa dele amanhã.
– Quero só ver! Vai que por acaso, – a advogada a olhou de canto de olho – só por acaso, ou melhor, hipoteticamente, ele acerta dessa vez. Não terá porque você cortar relações conosco. No mínimo vai querer viver na casa deles.
– É porque daqui para Lauro é um pulo, me poupe!
– Quando você estiver mais velha vai ficar um porre, nossa! Na verdade, você já está insuportável aos 40, quando chegar nos 60, ninguém vai mais suportar.
– 40 seu...
– Olha a boca – jogou uma almofada nela. – Jurava que já era 40, com essa antipatia toda.
– Lembrando que nesse caso, a senhorita seria uma quarentona encalhada, já que temos a mesma idade.
– Pegou pesado demais agora, não quero mais brincar!
– Pimenta no olho dos outros é refresco, no seu arde!
– Sem graça. – olhou para o relógio – Agora eu vou embora de verdade, tá tarde e estou com sono acumulado ainda.
– Você adora dormir, não precisa mentir pra mim. Quer dizer que mais cedo você estava fazendo ceninha fingindo que ia embora.
– Talvez! Você precisava de um sustinho para voltar a me tratar bem.
– Filha de uma progenitora.
– Eu também te amo, agora é sério. Vou indo, e se prepara que amanhã o dia promete. – passou pelo aparador no corredor esbarrando propositalmente em um porta-retratos, que quebrou ao bater no chão – Opa, foi sem querer.
– Você é muito cara de pau. Vem pra minha casa destruir minhas coisas.
Piscou para Bia: – Aproveita e troca as fotos desses dois aqui. Ou então da próxima vez que vier aqui quebro também. – abraçou a amiga beijando seu rosto carinhosamente – Até amanhã! Se cuida, eu te amo.
– Também te amo, folgada, obrigada pela visita e desculpa a fuga durante a semana.
– Sei que estava sem coragem de me encarar pessoalmente, mas não se preocupa, vamos pontuando as outras coisas com o passar do tempo. – Soltou um beijo no ar e acelerou o carro.
Fim do capítulo
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