Capítulo 1 - Rotina
Uma nova semana se inicia na bela Salvador, e com ela mais um dia “escuro” na vida de Beatriz, seus dias andavam assim após o término de seu casamento, a mais de quatro meses. As coisas em sua vida se resumiam a trabalhar muito e passar o tempo ocioso em casa, não tinha ânimo para nada além disso; tinha dado adeus a sua vida social.
As 7h como todos os dias, seu celular desperta avisando-a que mais um dia de trabalho a espera. Tinha uma audiência importante nesta manhã, e não podia se atrasar. Chegou ao Fórum Ruy Barbosa com cara de poucos amigos, apesar de longa, deu tudo certo no final e seu cliente saiu satisfeito com o resultado. Quando saiu já passava das 14h, preferiu não parar para almoçar, foi direto para o escritório do qual era sócia com o pai. Estava entrando em sua sala quando recebeu uma mensagem:
“Oi linda, como vão as coisas? Você tá bem??? Estou preocupada, sumiu, não responde minhas mensagens, não atende e nem retorna as ligações. Estou com saudade, manda um sinal de vida. Aparece!! Bjo!”
Ao ler a mensagem sua vontade foi responder imediatamente, mas ao ver a foto da ex esposa com a nova namorada no perfil do WhatsApp decidiu apenas ignorar.
– Vanessa, cancela tudo o que tenho para fazer agora a tarde, estou indo embora.
– Mas, Dra., tem dois clientes a sua espera, o que faço?
– Manda voltar outro dia. Não vou atender ninguém hoje.
– Eles marcaram hora, a senhora deu certeza que poderia atendê-los agora a tarde!
– Não importa, cancele tudo. Estou indo! E não me ligue em hipótese alguma.
– Dra. Beatriz, seu pai... – a mulher já ia longe, não a escutaria mais.
Recebeu um convite dos amigos para ir ao cinema, mas não aceitou alegando cansaço. A mensagem da ex estragou seu dia, na verdade, não foi a mensagem, e sim ver aquela foto dela sorrindo ao lado de outra mulher. Marcella vivia “esfregando” sua felicidade em sua cara ultimamente, logo ela que detestava “chamar a atenção” com postagens de “casais” nas redes sociais. Ao contrário dela, a advogada ainda não tinha superado o fim da relação, mesmo tendo decidido “juntas” que seria melhor termina-la.
Em casa Beatriz teve um ataque de fúria e saiu quebrando todos os porta-retratos que ainda conservava com fotos de Marcella, no quarto tinha um quadro grande com uma foto delas vestidas de noivas, ajoelhou diante dele chorando copiosamente se perguntando como tudo havia chegado aquele ponto.
A semana passou sem mais tentativas de aproximação de Marcella. Embora quisesse muito procurá-la nem que fosse para ouvir sua voz ao telefone, desistiu da ideia, já era dolorido demais vê-la por fotos com outra pessoa, quanto mais ouvi-la falar da atual com entusiasmo como fazia nos momentos que se falaram.
Estava encerrando o expediente na sexta-feira quando seu celular tocou, ao visualizar o nome que aparecia na tela pensou duas vezes antes de recusar a ligação, do outro lado da linha estava sua amiga Marilia, que tinha chegado de uma longa viagem e ainda não a tinha visto após o fim de seu casamento. Andava fugindo da conversa que a amiga já tinha anunciado que teriam quando retornasse a Bahia.
Quando parou na frente de casa se deu conta que tinha feito a pior escolha do dia no momento em que rejeitou as ligações de Marilia, ela estava sentada no passeio a sua espera. Desceu do carro com cara de poucos amigos, sabia que não a intimidaria e nem queria, mas pensou que daquela forma pudesse ganhar mais tempo antes que ela começasse a falar sobre o assunto que a tinha levado até ali.
– Fico muito feliz que tenha resolvido vir para casa, estou a sua espera desde as cinco da tarde! – disse impaciente passando as mãos na calça ao levantar.
– Oi Mari, tudo bem? Que saudade! Como foi a viagem? O que te fez me esperar por tanto tempo assim, nesse desconforto? – falou pisando no passeio para abraçar a amiga.
– Não sei se lhe espanco agora, ou se espero até conversarmos! Também estava com saudade, bem que você poderia ter ido me fazer companhia por uns dias, ia lhe fazer muito bem. Quanto ao que me trouxe aqui, você sabe muito bem.
– Não faço ideia do que seja – fez cara de desentendida.
– Será que podemos entrar, ou prefere conversar aqui mesmo? Já esperei tanto que para mim não fará diferença – disse séria.
Vendo que não tinha saída: – Melhor entrarmos, preciso de um banho, tive um dia longo hoje. Fica a vontade, volto já, pede o jantar pra gente, ando sem tempo para cozinhar ultimamente.
– Você nunca foi muito intima da cozinha, não é! Tem preferência por algum lugar, madame?
– Se for possível liga para aquele italiano da Ondina.
Marília observou a sala e ainda encontrou “vestígios” de Marcella por ali, conhecendo a amiga como conhecia, sabia que ela estava sofrendo com aquilo e não era pouco. Apesar da ex já estar em outra, Beatriz a amava, e podia jurar que se ela pedisse para voltar mesmo depois de tudo o que aconteceu, a amiga reataria o casamento.
Soube do final do casamento das duas mulheres pelo irmão, se não tivesse viajado a trabalho teria voltado no momento em que recebeu a notícia. Tentou falar com a amiga várias vezes por telefone, mas não conseguiu. Decidiu esperar Beatriz passar pelo momento “dane-se o mundo, estou sofrendo” para poder conversarem. Quinze dias depois recebeu um e-mail da amiga dizendo que estava bem, tinha andado meio ocupada, mas estava ansiosa por seu retorno.
Continuaram a se falar durante o tempo que Marilia esteve fora, mas em nenhum momento Beatriz falou da separação. Deixou que as coisas seguissem da forma que ela queria, afinal, queria conversar pessoalmente. Desembarcou no início da semana e passou a ligar para Beatriz todos os dias, ela sempre inventava uma desculpa para não encontra-la, cansada disso resolveu aborda-la no seu refúgio. Chegou um pouco antes das 17h, mas para o seu azar a única distração da amiga nos últimos meses era o trabalho. Então ficou mais de duas horas de plantão sentada no passeio, ligou algumas vezes e como imaginou, ela não lhe atendeu.
Beatriz entrou em seu quarto imaginando que não teria mais como fugir da conversa com Mari, embora não houvesse dito a ela que estava separada, sabia muito bem que seu amigo, que também era irmão de Marília, deveria ter dito alguma coisa, ou então na semana em que Marcella saiu de casa a amiga não teria ligado tantas vezes, mandado e-mails e mensagens perguntando como ela estava e tudo mais.
Preferiu evitar falar com a amiga na época, estava sofrendo e sabia que se visse seu estado era bem capaz dela largar tudo para vir consola-la. E não queria que isso acontecesse, sabia o quanto a amiga batalhou para ir representar a universidade naquele congresso, e o quanto ela queria terminar o artigo sobre a Cultura Africana. Embora quisesse muito tê-la por perto naquele momento delicado, não podia ser egoísta aquele ponto.
Demorou cerca de quarenta minutos para retornar à sala, e quando o fez encontrou Marilia no celular.
– Não se preocupe, estaremos aí as 10h. Claro que ela vai, pode ter certeza. Ela pode até ser maluca, – encarou Beatriz que fazia um coque no cabelo – mas sei bem como lidar com a loucura dela. – sorriu. – Até mais, maninho. Amanhã colocamos o papo em dia. Se cuida, também te amo. Beijo, pode deixar! – encerrou a ligação e olhou para Bia: – Doug te mandou um beijo. Podemos jantar, ou a madame tem mais alguma coisa para fazer ainda?
– Não seria melhor conversar antes? – perguntou receosa, sabia que a conversa seria longa e só queria evita-la, quem sabe dessa forma não conseguiria adiá-la por mais um dia.
Conversaram coisas referentes a viagem de Mari durante o jantar, depois de arrumarem a cozinha voltaram para a sala.
– Amanhã temos um compromisso.
– Como assim? Até onde eu saiba amanhã não tenho nada para fazer, a não ser assistir Grey’s Anatomy!
– Corrigindo, não tinha. Agora temos! Almoço de comemoração na casa do Doug. Você pode assistir seu seriado de temporadas infinitas em qualquer outro dia.
– Poxa, me deixa ficar em casa, estou uma péssima companhia ultimamente, não insiste, por favor!
– Não é porque aquela lambisgoia pediu o divórcio, que você tem que parar o mundo para esperar ela voltar.
– Eu sei, mas eu a amo muito ainda, você não sabe a falta que ela me faz – disse magoada.
Mari sentou ao lado dela e a abraçou:
– Minha amiga, ela não te merece, nunca mereceu. Além do mais, relacionamentos acabam, esse é o ciclo da vida.
– Não vejo dessa forma. Pra você é fácil falar, nunca casou...
Aquelas palavras magoaram Mari, mesmo ela não tendo demonstrado, e se o fizesse Beatriz não perceberia, afinal, estava mergulhada em seu “mundo de sofrimento” onde só a sua dor importava.
Sempre foi assim, desde a adolescência Bia sempre pareceu ser mais forte emocionalmente que Marilia. Mas Mari sabia bem que a amiga estava longe de ser aquela fortaleza que aparentava, nunca foi de sofrer por mulher nenhuma, naquela época dizia que estava para nascer a mulher a qual se prenderia por toda vida e a faria chorar algum dia. Até que conheceu Marcella e tudo mudou... ao seu ver, para pior.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
laisl
Em: 25/02/2019
Você e de Salvador? Vamos marcar de sair pra beber?sou sua fa
Resposta do autor:
Oie Lais, tudo bem?!
Então, não moro na capital, e sim na região metropolitana. Quem sabe um dia não nos "esbarramos" por SSA e bebemos alguma coisa, né!
Muito obrigada por acompanhar meu trabalho, fico lisonjeada em saber que é minha fã, saiba que as leitoras têm um papel importante nesse meu caminho de escrita, são o melhor combustível, rs.
Até mais querida, bjs.
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