CapÃtulo 16 - Questão de perspectiva
Lívia e Alessandra resolveram assistir ao documentário na televisão da sala, plugando o notebook da caloura lá. Quando o documentário acabou, Lívia parecia mais interessada do que nunca, enquanto Alessandra acabou dormindo.
“Alê? Alê?” Lívia chacoalha a caloura.
“Oi? O quê? Já acabou?! Não acredito que dormi.” Alessandra boceja em meio à frustração.
“Também não acredito que dormiu. Justo agora que eu estava pronta para discutir o assunto!” Lívia cruza os braços.
“Mas mesmo sem ter visto o documentário podemos discutir o assunto, oras.” Alessandra ri, ainda um pouco sonolenta.
“Você está grogue, Alê. É melhor ir dormir, amanhã a gente discute, se você quiser, é claro.”
“Não, não. Eu estou de boa. Tu deixaste de ir para a festa e me acompanhaste em um documentário, o mínimo que eu posso fazer é ficar acordada para conversarmos.”
“Eu fiquei para lhe fazer companhia, Alê. Mas claramente você está com sono, precisa descansar.”
“Só para fazer companhia?” Alessandra sorri. “Raro alguém dizer isso hoje em dia.”
Lívia pega na mão da caloura. “Eu disse que estaria aqui mesmo que fosse só pela amizade, Alê.”
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“Joga que esporte no Intermed?” A garota aleatória chega no ouvido de Helena e pergunta, ao observar sua blusa com o nome da Instituição e da respectiva associação atlética.
“Não jogo, só torço.” Helena responde, com o drink na mão.
“Você tem cara de atleta.” A garota continua falando, e então coloca seus braços ao redor de Helena.
“Eu tenho namorada.” Helena fala, enquanto retira os braços da garota.
“Eu só quero dançar.” A garota insiste.
“Eu tenho namorada.” Helena continua a resistir. A garota a puxa para um beijo e Helena desvia o rosto. Isabel, que vê a cena de um ângulo desfavorável. Não consegue acreditar, e se retira antes mesmo de ter aproveitado a festa.
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Lívia resolveu assistir aos jogos e, após muito insistir, Alessandra topou ver o futsal. Bruno estava jogando, era o camisa dez do time.
O jogo estava acirrado, até que Bruno conseguiu desempatar e marcar o gol da vitória. Ele tirou a camisa e foi comemorar com a torcida. Olhou para Lívia e sorriu. Mas foi um sorriso diferente, foi sublime. Lívia sorriu de volta e acenou. Alessandra percebeu.
“Eu acho que tu deverias dar uma chance ao Bruno.” Alessandra comenta.
“O quê? Bruno?” Lívia gargalha. “Nem morta.”
“Claramente ele sente algo por ti, Liv. E ele parece ser sincero a esse sentimento.”
“Bruno é um rapaz que está amadurecendo ainda. Ele tem muito que aprender antes de entrar em um relacionamento adulto.”
“Talvez ele precise de uma garota como tu para agir como adulto.”
“Tudo isso é desespero para arranjar alguém para se ver livre de mim, Alê?” Lívia brinca.
“Não! Lógico que não. Mas pelo que me contas, Bruno passou por uma evolução e tanto. Ele parece ser um bom rapaz e é honesto contigo. Fora que ele parece razoavelmente normal.” Alessandra ri. “Pelo menos não tem a mente toda estragada que nem a minha.”
“Você então foge das pessoas porque acha que tem a mente ‘estragada’?”
“Não fujas do assunto, Liv. Estamos falando de ti e de Bruno. Tu disseste que ficaria feliz com nossa amizade, e como tua amiga eu digo que talvez Bruno mereça ser analisado sob outra perspectiva.”
“Mas daí eu lembro das burradas que ele falou, do quanto ele já foi mesquinho e isso me broxa.” Lívia desabafa.
“E quem nunca errou? Ele pelo menos pediu desculpas e pagou pelos erros. É visível o arrependimento dele. “
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Helena tentava constantemente ligar para Isabel, e nada. Desistiu de assistir aos jogos e foi até a moradia tentar falar com ela. A colega do mesmo bloco avisou que Isabel não queria receber ninguém. Helena achou tudo muito estranho. Deixou mais de vinte mensagens.
Voltou para casa. Elisa estava descansando, enquanto Alessandra preparava o jantar.
“Isabel não vem?” Alessandra pergunta.
“Acho que não. Do nada ficou brava, não fala comigo, não responde minhas mensagens. Eu falei que não queria ir para a festa ontem sem ela, mas ela insistiu.”
“Pode ter sido uma armadilha para ver se tu irias mesmo.” Alessandra explica.
“Sei lá.” Helena senta-se em frente a bancada da cozinha. Lívia então entra sem avisar.
“Você tem a chave? Por que nunca me disse antes?” Helena pergunta.
“Eu também nem lembrava que tinha. Estava procurando uma caneta que Otávio me deu e encontrei essa chave que ele me emprestou uma vez.”
“Bom, melhor ficar com ela, vai que um dia acontece alguma coisa e a gente precise de sua ajuda.” Helena dá de ombros.
“Pode ser, é bem a sua cara mesmo, ou a cara da Alê, perder a chave no meio de uma festa.” Lívia ri. “A propósito, como foi lá ontem? Isabel curtiu também?”
“A Bel não foi, ela não pôde comprar o ingresso.”
“Como assim não foi? Eu dei meu ingresso para ela!” Lívia explica e Helena arregala os olhos. “Você não a viu lá?”
“Caramba. Preciso ir.” Helena sai em disparada, deixando Alessandra e Lívia confusas.
“Mas então, pensaste a respeito do que falei?” Alessandra pergunta, enquanto continua a cozinhar.
“Sobre Bruno? Não sei...ele está ficando com aquela Brenda, não vou me intrometer.”
“Se eles ainda estão ficando eu não sei, mas ela não apareceu para assisti-lo jogar.”
“Pode ter acontecido alguma coisa, sei lá, não é porque ela não foi ver o jogo que eles não estão mais se pegando.” Lívia racionaliza.
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Através de Fernando, membro da moradia que já conhecia Helena, ela conseguiu entrar no bloco de Isabel. Uma de suas colegas quis bloqueá-la , mas Helena explicou a situação.
“Eu vou ver se ela quer falar com você. Espere aqui.” A colega chama Isabel. Helena aguarda por alguns instantes e Isabel aparece.
“Isabel, vamos conversar, agora entendi o que aconteceu.”
“Entendeu o que aconteceu?!? Quer dizer, agora que você se arrependeu e quer se explicar?! Você mentiu para mim!!”
“Como assim me explicar?! Eu não fiz nada!”
“Nada?!? Eu vi você beijar aquela garota! Você saiu dizendo que não tinha vontade de ficar com ninguém!”
Enquanto elas brigavam, as pessoas do bloco dela assistiam a tudo.
“O quê? Beijar quem? A garota que estava dando em cima de mim? Cara, eu tenho testemunhas que eu não beijei ninguém! Eu desviei o rosto, eu falei que tinha namorada! Caramba, Isabel!”
“Mas eu VI você aos beijos com ela!”
“Viu onde? Quando?”
“Na festa!”
“Cara, todo o pessoal que estava ali perto está de prova que ela tentou me beijar e eu recusei! Onde você estava que você acha que viu um beijo?!?”
Isabel repensa. Lembra que não estava em um bom ângulo e realmente não viu Helena corresponder, saiu logo quando a garota tentou.
“Espera, você disse que tinha namorada?” Isabel questiona.
“Lógico! Eu disse que não consigo pensar em outra garota quando eu sei que tenho você, sua tonta! Eu amo você!”
Isabel retorce os lábios. Engole a seco, respira fundo, enquanto Helena, apreensiva, uma resposta.
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Lívia, após o jantar, voltou para seu apartamento e começou a se arrumar para a segunda festa do Intermed. Alessandra disse que iria se Lívia prometesse ser mais paciente com Bruno.
Já na pista do pub, sozinho o tempo inteiro, Bruno continuava com seu jeito alegre e festeiro.
“Brenda não quis lhe acompanhar?” Lívia questiona, no meio da festa.
“Não. Nós paramos de nos falar.”
“Definitivo?”
“Sim, ela fez um comentário idiota demais até para mim, aí nós brigamos.”
“Que tipo de comentário?”
“Disse que não gostou da Ariel porque, na cabeça dela, era apenas um garoto travestido de garota. Eu disse a ela que isso era transfóbico, do mesmo jeito que você costuma chamar a minha atenção. Ela não gostou e brigamos.” Bruno explica.
“O Bruno de um ano atrás teria dado risada junto e feito piada ainda por cima.” Lívia comenta.
“A Lívia de um ano atrás nunca estaria conversando comigo no meio de uma festa!” Bruno brinca e a chama para dançar.
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Lívia acorda completamente nua no apartamento do vizinho. Esfrega os olhos e não vê ninguém ao seu lado, mas logo chega Bruno, trazendo uma bandeja com café com leite e torradas. Ela sorriu, apesar de estranhar essa versão fofa do menino.
“Enquanto você toma seu café da manhã eu já vou me arrumar porque hoje tem mais um jogo, se ganharmos, vamos para a final amanhã.” Bruno explica.
“E o que deu em você para ficar bonzinho desse jeito? Está com medo de eu lhe rogar uma praga e o time perder?” Lívia ri, mas Bruno não acha graça. “Vai me dizer que ficou magoado por isso?!”
“Não, Lívia, não estou magoado. Só que você precisa parar de achar que eu sou aquele otário que você conheceu.”
Ela para de rir e fixa seus olhos no rosto de Bruno. Ele estava falando sério. Foi então que ela lembrou o que Alessandra havia dito e resolveu ser mais paciente.
“Vem aqui.” Lívia pede, e Bruno se aproxima. Primeiro, ela lhe dá um selinho. “Da próxima vez que trans*rmos, por favor, investe mais no oral que é o que eu adoro, okay?” A sinceridade dela constrange Bruno, mas ele acaba rindo e concordando.
“Pelo menos você confirmou que vai ter próxima vez!” O sorrisinho malicioso do garoto voltou a pairar sobre seu rosto.
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Os dois últimos dias de Intermed foram bem corridos. O time da faculdade anfitriã conseguiu chegar à final de várias modalidades, inclusive futsal, time no qual Bruno era o artilheiro. E em meio a tanto vai e vem de pessoas, festas e esportes, Helena conseguiu consertar a situação com Isabel, mas algo lhe intrigava.
“Eu não sei. Acho que falei cedo demais.” Helena confessa, enquanto tomava uma cerveja no sofá de Lívia, fugindo do alojamento que seu apartamento havia se tornado.
“Ela não falou de volta?” Lívia também tomava uma gelada enquanto conversavam.
“Não. Quando eu disse ela hesitou e depois me beijou. Também não tive coragem de perguntar se ela me amava de volta. Mas eu fui muito estúpida de falar cedo assim. Acho que estou pagando por não ter correspondido a Paula.”
“Nada a ver, amiga. Você não tinha culpa de não sentir pela Paula o que você sente pela Isabel.”
“E cá estou novamente em um dilema. E os medos que Paula tinha, agora tenho eu.”
“Que medos? Você diz no sentido de pressionar?”
“Sei lá. Medo de assustar, justamente por ter dito assim no calor de uma briga. Raramente eu digo o que sinto, e quando digo, acaba saindo em hora errada.” Helena revela suas preocupações. “Mas me diz aí, você e o Bruno? Sério mesmo?”
“Amiga, nem me fale. Ele é muito gentil. Mas parece que falta alguma coisa, sabe?”
“Você diz...entre quatro paredes?”
“Sim! Exatamente. A performance dele no geral é boa, mas ele falha em alguns aspectos...”
“Mas você gosta dele?”
“Sinceramente, não sei. Confesso que ultimamente tenho me sentido muito bem quando estou perto dele. Só essa parte mesmo que falta.”
“Bom, nada que você não possa ensinar a ele, não é mesmo?”
“Amiga, estou em um ponto da vida que não quero ter que ficar ensinando guri nessas coisas não, tem que chegar pronto! Digo, cidadania e ética eu posso até ensinar, mas sex*? Com licença, né!” Lívia acaba gargalhando da situação.
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Com o fim do Intermed, aos poucos a rotina foi se normalizando.
“Caramba, já estou praticamente morando aqui.” Isabel comenta, enquanto se arruma para ir a aula.
“A gente trans* para caramba, você faz o melhor strogonoff de frango do mundo, eu sinto que estou vivendo no paraíso!” Helena sorri com a boca cheia de pasta dental, enquanto escova os dentes. “Hey, eu posso lhe perguntar uma coisa?”
“Já sei. Você ficou intrigada sobre aquele dia na nossa briga.”
“Como sabe?”
“Eu já lhe conheço, ou pelo menos conheço bem mais do que você imagina. E sim, eu também amo você, Helena, mas eu acho que você desperdiçou uma frase bonita em um contexto caótico.” Isabel explica.
“Não entendi.”
“Você aproveitou para dizer o primeiro ‘eu amo você’ no meio de uma briga. Lógico que é só uma frase, mas aquilo pareceu mais como uma tentativa de desfocar do assunto.”
“Minha intenção não foi essa. Mas você também acabou de desperdiçar o seu primeiro ‘I love you’ ao dar essa bronca em mim!” Helena mostra a língua de modo jocoso para provocar Isabel, que revira os olhos e joga o travesseiro na namorada, o que acaba virando uma guerra de travesseiros e quase as faz chegarem atrasadas para a aula.
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Apesar da falta de paciência, Lívia tentou dar mais uma chance a Bruno. Despiu-se com extrema velocidade e logo pediu ao garoto para mergulhar a boca dentro dela.
“Um pouco mais para a direita. Não. Espera. Esquerda. Para a esquerda agora.” Lívia instruía Bruno, que tentava acertar sua língua dentro da genitália da menina. “Não, Bruno! Pelo amor de Deus, aí não, é mas para a direita!”
“Assim você me deixa confuso!” Bruno para o serviço para reclamar.
“Bruno, cala a boca e mexe essa língua!” Lívia ordena. “Mais para cima, Bruno, mais para cima!” Ela revira os olhos, mas não é de prazer. “Um pouquinho mais rápido. Isso. Bruno, você perdeu a localização de novo! Espera. Isso. Bem aí!!!”
“Eu acertei?”
“Bruno!! Por que você tirou a boca? Pelo amor, estava quase certo! Agora vai ter que começar do zero!”
“Eu desisto. Nunca vi garota tão difícil!” Bruno se deita ao lado de Lívia, enquanto ela olha para o teto, completamente frustrada.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 24/08/2020
Aaaaah
Como assim elas se amam!!!!!!!
Lívia e Bruno na cama......socorro.
Rhina
Resposta do autor:
(só um detalhe, se eu demorar pra responder, é porque fui dar uma relida no capitulo pra lembrar o que aconteceu!)
Helena e isabel sempre foram meio impulsivas, a declaração não poderia ser diferente ;)
beijão!
AlRibeiro
Em: 16/02/2019
Ler sobre essa rotina de faculdade me dá saudades da minha. É um misto de "amo férias, mas quem me dera aula".
A Isabel tem um lugar muito especial no meu core, ela consegue captar as mínimas coisas no ar, apesar da visão dela ser péssima hahaha.
Mano, agora tô imaginando o Bruno, a Lívia e a Alessandra como um trio...Será que viajei demais?
Como de praxe, estou ansiosa pelos próximos capitulos!
Um abraçaço :D
Resposta do autor:
Faculdade com certeza é um misto de amor e ódio hahahahaha
Isabel é uma personagem de grande maturidade emocional, mas não é muito boa de interpretação visual mesmo hahahhahhah
Quanto a Bruno, Liv e Alê, eu diria que é mais como um triângulo...
O novo capítulo já está postado! Beijão e obrigada! <3
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Contal
Em: 16/02/2019
Oooi, Autora. Boa noite! Tudo bom?!?!
Que maravilha, eu sou uma pessoa muito ansiosa kk...
RIR horrores com a Lívia ensinando o Bruno KKK
Que fofa a parte das declarações, na minha opinião, não se deve escolher a melhor hora pra falar "Eu te amo", as coisas simplesmente acontecem como tem que acontecer. Muito fofo as duas ... Seguirei aguardando o proxipr cap.
Resposta do autor:
Oi, Kemely! Tudo ótimo e contigo? Boa noite!
Ah, que bom que gostou! Realmente, as melhores formas de expressar sentimento acontecem espontaneamente!
Capítulo já postado! Beijão e obrigada por continuar lendo!
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JeeOli
Em: 16/02/2019
Sinceramente não consigo imaginar Bruno e Livia num relacionamento, adoro a amizade dos dois e foi por pouco que Helena nao se ferrou
Resposta do autor:
A amizade deles realmente evoluiu bastante ao longo da história, principalmente com a evolução do pensamento de Bruno.
No caso de Helena, se Isabel não tivesse repensado e analisado novamente a situação, as coisas teriam ficado bem complicadas! hahahahaha
beijão!
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