Capítulo 15 - Jogos universitários e psicológicos
“Já é In-ter-med! Já é In-ter-med!” Bruno comemora no bar, após a última prova antes do famoso evento de jogos e festas.
“Já é In-ter-med! Já é In-ter-med!!” Lívia também comemora, enquanto aguarda os amigos de outros semestres chegarem.
“Já é In-ter-med! Já é In-ter-med!” Helena também chega, após uma cansativa rodada de seminários.
“In-ter-med em casa! In-ter-med em casa!” Os universitários gritam porque o evento dessa vez aconteceria na cidade. Alguns universitários de outras cidades começariam a chegar de noite, outros já tinham chegado e estavam se alojando, e alguns ainda já até começaram as comemorações.
“Bom, eu tenho que ir para a lanchonete, mas à noite eu passo no seu apartamento e a gente prepara as coisas para a torcida amanhã.” Isabel dá um selinho em Helena.
“Espera! Quando seu turno acabar, você vem direto para meu apê ou vai passar na moradia primeiro? Porque eu tenho que ir na rodoviária buscar uma ex colega de cursinho.”
“Buscá-la por quê?”
“Eu lhe falei, Bel, ela passou em medicina em outra cidade aqui do interior, ela vem para o Intermed e vai dormir em casa esses dias.”
“Você não tinha me falado, mas tudo bem, eu passo direto na sua casa e de lá vamos para rodoviária.” Isabel, um pouco contrariada, despede-se.
Lívia já se adiantou e colocou a bandana da faculdade. Tal evento sempre a animou. Mas não encontrar Alessandra a intrigou. Já fazia um tempo desde a trans* delas. Não conversavam a respeito, na verdade, mal conversavam. Lívia esperava que com o Intermed pudessem retomar a conversa, mas não conseguia encontrá-la.
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“Vai ver os jogos amanhã?” Helena pergunta para a colega de apartamento, enquanto aguarda Isabel.
“Não, vou ficar em casa mesmo...”
“Não vai sair? Nem ver a abertura? Festas? Nada? Você não comprou os ingressos?”
“Cheguei a comprar no começo do ano mas não vou.”
“Certeza?”
“Certeza.”
“Você então não venderia por um preço bacana os das festas? Porque a Isabel não comprou e eu havia comprado com antecedência, aí o preço subiu e ela não tinha dinheiro para comprar e-”
“Você deveria ter me avisado, um colega da minha sala comprou e já me pagou, ele ficou de passar aqui mais tarde para pegar...” Alessandra avisa.
“Que pena...” Helena suspira. Por um momento pensou que o problema estivesse resolvido. Mas estava acabando de começar...
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Prenúncios de conflitos nunca vêm sozinhos. Dessa vez, veio acoplado à TPM em dobro, talvez uma das poucas desvantagens de um romance entre duas garotas.
“Vamos? Não vai vestir uma roupa? Minha amiga disse que chega daqui a pouco.” Helena avisa, quando Isabel sai do banho com a toalha em volta do corpo.
“Daqui a pouco é uma expressão muito vaga...” Isabel prende o pescoço Helena entre seus braços. “Dá tempo de fazer algumas coisas antes.”
“Bom, ela disse que ligaria quando chegasse...” Helena cede e acaba beijando Isabel.
“Ótimo, pega o strap-on que dá tempo de uma rapidinha.”
“Certeza? Porque você demora para goz*r às vezes, Isabel.”
“Helena...” Isabel tira a toalha. “Vai lá pegar logo, estou sem paciência.” Ela ordena, e Helena não resistia a aquele corpo.
“Deita aí. Segura bem porque às vezes dói para sentar.” Isabel manda, e se posiciona por cima de Helena, que segurava o dildo na cintura, enquanto Isabel cuidadosamente agacha até que todo o acessório de borracha estivesse dentro dela.
“Hoje você está mandona, hein.” Helena comenta, enquanto Isabel faz movimentos para cima e para baixo, gem*ndo alto.
“E você não gosta?” Isabel diminui o ritmo e encara a outra. Uma mão no peito da garota deitada, para que Isabel pudesse se apoiar, e a outra mão segura o queixo de Helena.
“Gosto, pode mandar mais.” Helena sorri maliciosamente. Por sorte, a tensão pré menstrual era acompanhada de um tesão incontrolável antes das tempestades de fúria.
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“Cara, minha amiga vai ficar super brava, coitada.” Helena comenta, acelerando o máximo que pode para chegar na rodoviária. “Eu não ouvi o celular tocar, ela deve estar esperando há pelo menos meia hora, e eu esqueci de dar meu endereço, senão ela poderia ter chamado um táxi ou pego um uber.”
“Ou você poderia ter ligado para ela, dado o endereço e a gente continuaria trans*ndo.” Isabel, de braços cruzados e sexualmente frustrada no momento, bufava.
“Bel, eu já dei essa mancada de fazê-la esperar porque estava trans*ndo, né.”
“E poderia ter continuado a trans*r, oras.”
“Eu nem estava fazendo nada, quem estava fazendo a maior parte do trabalho era você mesma.”
“Ah, então você não estava curtindo? Quer dizer que eu rebol*ndo em cima de você e gem*ndo feito uma prostituta com tesão é a mesma coisa que nada?!”
“Lógico que eu fico excitada, Isabel! Eu me expressei mal, eu d-”
“A gente para na rodoviária e eu peço um táxi de volta para casa. Estou sem meu celular, deixei no seu apartamento, amanhã eu pego.”
“Você não vai voltar com a gente? Eu disse que iria lhe apresentar a ela, Isabel!”
“Apresentar por que, Helena? Apresentar como namorada? A gente não tem nada, não me lembro de termos conversado a respeito.”
“Eu achei que estávamos juntas!”
“Estamos, mas não oficializamos nada!”
“E precisa? Estamos ficando há um tempo e a gente não se desgruda, achei que só isso bastasse!”
“E basta, mas eu não sei como vai ser, por exemplo, você vai nas festas do Intermed, eu não, eu gostaria muito bem de saber em que pé estamos!”
“Eu não sei, diga-me você!” Helena exclama, e antes que Isabel pudesse dizer alguma coisa, a amiga da motorista é avistada na esquina da rodoviária, com mala em mãos. “Na real, a gente conversa sobre isso mais tarde. Certeza que não quer passar a noite em casa comigo?”
Isabel hesita um pouco mas aceita. Helena desce do carro e corre para abraçar sua amiga.
“Bel, essa daqui é a Elisa. Ela que me ajudou a decifrar física e química no cursinho.” Helena faz as devidas apresentações.
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“Lembra do Marcos, que fez cursinho com a gente?” Elisa comenta, agora já mais acomodada no apartamento de Helena.
“Sim, lembro, o que tem ele?”
“Diz que foi fazer intercâmbio lá no México, encontrou uma menina, apaixonou, desistiu da faculdade e ficou morando por lá mesmo.”
“Sério isso? Desistiu para casar?”
“Pois é. Se o amor existir mesmo, é um bruta egoísta ditatorial.” Elisa ri.
“Não acredita no amor, Elisa?” Isabel pergunta, interrompendo o assunto.
“Espera, a Helena nunca lhe contou a teoria doida que ela tem sobre o amor?” Elisa olha para Helena.
“Só me contou a respeito de o amor ser um vício.” Isabel responde.
“Essa daí tem um monte de teorias distorcidas sobre o amor. Já ouvi falar dessa de o amor ser o equivalente a uma droga, mas a minha favorita é que não existe amor altruísta, e que toda forma de amor é somente um disfarce dos sentimentos de egoísmo e egocentrismo.”
“Não é bem assim...” Helena pigarreia.
“Agora vai ter que me contar, dona Helena. Afinal de contas, você não acredita no amor?” Isabel encara a garota.
“Lógico que eu acredito! Eu falei sobre essas teorias quando ainda estava no cursinho, gente.” Helena tenta se esquivar.
“Ela dizia que ninguém ama de verdade. O máximo que pode acontecer é amar a si mesmo. Mas quando a gente expressa algum afeto pelo outro, nada mais é do que o sentimento de prazer que sentimos pelo fato de que o outro nos faz bem.” Elisa acaba explicando pela amiga.
“Então segundo essa teoria, não amamos o outro de verdade, e sim amamos o prazer que o outro nos proporciona?” Isabel questiona, esperando uma resposta de Helena.
“Eu era meio niilista no cursinho... Nem lembro direito dessa teoria.” Helena tenta se justificar.
“Eu lembro que você brigava com a Geovanna sobre isso, ela ficava pê da vida quando você filosofava no bar.” Elisa relembra.
“Geovanna foi a garota que esteve enrolada durante meses com a Helena?” Isabel procura obter mais informações de Elisa.
“Sim, não atavam nem desatavam, ninguém nunca entendia o relacionamento das duas.” Elisa explica.
“Então dona Helena gostava de enrolar?”
Elisa olha meio assustada para Helena, entendendo a armadilha que acabara de cair.
“Não, era diferente, ela não era madura como é hoje.” Elisa tenta salvar a amiga. “E a Geovanna também foi responsável por essa inconstância que as duas tinham. A Helena era a mais estável das duas, com certeza.”
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Lívia acordou cedo para assistir a abertura e aos primeiros jogos. Vestiu seu abadá e se banhou de glitter – ecológico, aliás. Ao chegar no ginásio, ainda de óculos escuros para esconder as olheiras por ter ido dormir tarde, sentou-se perto de alguns colegas de sala. Divertiu-se, torceu, fez algazarra. Aproveitou que ia comprar água para poder dar uma bisbilhotada no resto da arquibancada, e novamente não viu quem queria.
Já no começo da noite, levou dois modelos de roupa para o apartamento de Helena – desculpa óbvia para ver a caloura que preenchia as histórias de seus sonhos.
No apartamento de Helena também apareceram algumas conhecidas da faculdade de Elisa, que resolveram se reunir para beber ali. Por questões de logística, Lívia pegaria carona com Bruno mais tarde.
Alessandra estava trancada no quarto, enquanto Helena e Isabel faziam sala. Lívia resolveu bater na porta da caloura.
“Alê? Sou eu, Lívia.”
“Estou estudando.”
“Em pleno Intermed?”
“É.”
“Alê, eu sei que não tem provas nem trabalhos para nenhuma sala na semana seguinte ao Intermed.” Lívia argumenta, e, após alguns segundos de silêncio, Alessandra abre.
“O que queres?”
“Posso entrar?”
“Se quiseres.” Alessandra dá de ombros.
Lívia não vê nenhum livro em cima da escrivaninha de Alessandra. Só vê a cama bagunçada. Provavelmente Alessandra ficou deitada ali o dia todo.
“Alê, está tudo bem? Porque assim, desde o dia que nós duas...fizemos aquilo, você meio que desapareceu, não lhe vejo em nenhum outro rolê, nada!”
“Bah, eu sou assim, eu te avisei, Liv.” Alessandra senta na beirada da cama.
“Eu sei, você avisou, mas eu digo no sentido de amizade mesmo, você disse que queria preservar a amizade e nem isso eu vi.” Lívia reclama.
“Perdão. Tenho ficado mais na minha, mesmo. Mas se tu queres continuar na amizade, eu topo. Tu pareces ser uma boa amiga.”
Por mais que doesse no coração de Lívia, ela percebeu que essa poderia ser a única maneira de se manter próxima de Alê.
“Então me conte, como vai a vida? As notas andam boas?” Lívia muda de assunto para deixar Alessandra mais confortável.
“Sim, tudo tranquilo, sem riscos.”
“E não vai na festa de hoje mesmo?”
“Não estou muito a fim, sabes? Eu comecei a ver um documentário e acabei me interessando. Já até pedi comida, vou ficar por aqui mesmo.”
“Documentário sobre o quê?”
“Sobre crianças transgênero, é um documentário dividido em várias partes, parece bem chato no começo, mas está ficando interessante.” Alessandra explica.
“Sério? Eu me interesso muito pelo assunto! E acho bacana você se interessar também, dado que você vivenciou a transição da sua amiga. Posso ver com você?”
“Mas tu não vais para a festa?”
Lívia hesita e coça a cabeça. Por um lado, uma festa em pleno evento de jogos universitários não é de se perder. Por outro, seria uma chance de ficar ao lado de Alessandra, mesmo que nada acontecesse.
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“Você não vai mesmo para a festa, Bel?” Helena entra no quarto com Isabel para poder conversar com mais privacidade. “Já disse que pago seu ingresso na entrada.”
“Não, Helena, pode ir. Não se preocupe. E eu não quero ficar devendo ingresso de festa para você.”
“Não vai ficar devendo nada, sua boba. Não vai ter graça sem você.” Helena faz bico.
“Você vai se divertir, vai ter bebida, vai ter nossos colegas, música boa, relaxa, você consegue se divertir sim.”
“E você vai fazer o quê?”
“Voltar para a moradia, talvez ver algum filme e dormir.”
“Dorme aqui em casa. Eu deixo uma cópia da chave contigo. Mas que droga, eu não vou conseguir me divertir sabendo que você não está se divertindo, Bel. Acho melhor eu não ir.”
“E perder o ingresso?! Nem pensar. Vai sim. Mas antes de ir, você me prometeu uma conversa sobre outra coisa...”
“Ah é...em que pé estamos, né.”
“Sim. Não estou cobrando nada, mas se você for ficar com outras pessoas, eu só gostaria de estar ciente da possibilidade.” Isabel desabafa.
“Você quer ficar com outras pessoas?” Helena devolve com uma pergunta.
“Eu não quero. Você quer?”
“Lógico que não! Eu não tenho a mínima vontade. Acho que eu sou o estereótipo de boba apaixonada, droga.” Helena revira os olhos, fazendo Isabel rir.
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A festa mal tinha começado, e Helena já desejava ir embora. Sentia-se culpada por não estar junto a Isabel, mas por outro lado, elas não estavam coladas com Super Bonder para ficarem juntas o tempo inteiro. Mesmo sendo a motorista do grupo, resolveu beber. E bebeu. E bebeu. Bebeu tanto que não percebeu que uma estudante de Medicina de uma das universidades rivais se aproximava cada vez mais dela.
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Isabel decidiu dormir no apartamento de Helena. Foi até o armário da dispensa para pegar um pacote de biscoitos que Helena sempre deixava para as duas comerem quando maratonavam seriados e, quando apareceu na cozinha, foi abordada por Lívia.
“Você não vai para a festa?” A veterana pergunta.
“Não vou não. Acabei não comprando ingresso.” Isabel explica.
“E a Helena foi assim de boa sem você?”
“Foi, ué. Não vejo problema.”
“Okay então. Mas você não quer ir? Porque eu não vou mais, decidi ficar aqui com a Alê.”
“Estou meio apertada financeiramente para comprar o ingresso, Lívia, mas obrigada.”
“Não, não! Eu não estou vendendo. Estou dando para você. Não daria tempo de vender mesmo, então para não ficar perdido, pode ficar para você.”
“Sério?” Isabel estranha o ato de bondade de Lívia, mas aceita de qualquer forma.
“Sério.” Lívia retira do bolso e o entrega para Isabel, que vai para a moradia se arrumar e ainda consegue uma carona de última hora. Ela não avisou Helena, preferiu fazer surpresa, mas quem se surpreendeu foi a própria Isabel, que ficou parada entre a área vip e a pista do pub, observando uma cena, no mínimo, intrigante.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 24/08/2020
Para uma Isabel que não demonstra sentimento querer saber em que pé elas estavam, é confuso.
Ambas declaram não querer outros parceiros. Ok.
Lívia é um luxo.
Rhina
Resposta do autor:
Creio que essa fase das duas demonstrou bem aquela insegurança de "não quero avançar muito mas também nao quero que voce desista desse compromisso que nem firmamos" hahauhauhauha agora resta saber até onde vai esse compromisso...
Beijão!!!
rhina
Em: 24/08/2020
As teorias de maor da Helena. Tem uma que concordo e acho que é assim mesmo.
Atritos.
Isabel manda e Helena obedece que diz que gosta.....mas será.? E tem que ser assim. Isabel parece querer alguém que lhe de atenção e prazer
Aquela discussão no carro.
Cara, fiquei meia perdida neste capítulo enolha que ainda estou no início do mesmo.
Rhina
Resposta do autor:
Oi querida! Com qual das teorias vc concorda? Compartilhe! E com qual discorda? Por quais motivos? Aguardo ansiosamente sua resposta! Beijão!
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JeeOli
Em: 15/02/2019
Ai o que será q a Isabel viu? Demora pra postar nao por favor...
Alessandra ta estranha e Livia toda apaixonada kkkkk
Resposta do autor:
Heheheheheheeh o que será...
assim que eu finalizar o capítulo eu posto sim, até amanhã!
Alessandra também é um tipo de personagem bem complexa que gosto de trabalhar
Ah, eu tb fico bem feliz quando vejo comentários seus e obrigada por ter continuado a leitura! Beijão!
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