Capítulo 14 - Línguas e lições
“Você não faz ideia do quanto eu odeio estudar legislatura.” Helena reclama para Isabel, na biblioteca
“Não é tão difícil, são poucas diretrizes, é apenas o básico do Sistema Único de Saúde.” Isabel explica. “Você sabia que eu fiz um semestre de faculdade de Direito?”
“Sério? Você nunca tinha me contado. Quando foi?”
“Logo quando saí do Ensino Médio, mas não me adaptei ao curso, resolvi trabalhar e estudar por conta própria por um tempo, até juntar dinheiro e fazer cursinho.”
“Cada dia eu lhe admiro mais.” Helena sorri, toda boba apaixonada.
“Topa uma admiração mútua no banheiro?” Ela pisca e entorta a cabeça para o lado dos sanitários.
“Está falando sério? No banheiro da biblioteca?!”
“E por que não?”
Helena guardou os livros e, sorrateiramente, caminharam até o banheiro da biblioteca. Elas trancaram a porta e começaram a se beijar. Helena se excitava só em sentir a língua de Isabel dentro de sua boca. O poder que Isabel tinha, Helena jamais havia visto em qualquer outra pessoa. Isabel fica de joelhos, tira a calça de Helena e expande suas pernas. Começa a ch*pá-la enquanto Helena mal consegue ficar de pé, pois suas pernas tremiam de prazer.
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“Vamos lá. Vou fazer uma explicação meio superficial.” Lívia abre uma apresentação de slides em seu tablet e mostra para Bruno, que começou a frequentar o apartamento da amiga. “Gênero é uma coisa, sexualidade é outra. Gênero é como você se identifica e sexualidade é por quem você se atrai.”
“Até aí eu sei.”
“Certo. Tem pessoas que compartimentam, e também há a divisão entre cis e trans, até aí você sabe também, correto?”
“Sim, cis é quem nasceu com o gênero correspondente ao sex* biológico e trans é o que não nasceu com o gênero correspondente ao biológico.”
“Perfeito, você tem prestado atenção no que eu explico!” Lívia ri. “Agora vamos aprender sobre umas escalas de gênero e sexualidade, para tentar entender um pouco mais sobre a fluidez dos conceitos. Bem, existem estudos que dizem que gênero não é algo fixo, e sim fluido, por isso há pessoas que indicam não existem só esses gêneros masculino e feminino, mas sim vários gêneros fluidos na escala, além de ter também as pessoas que se consideram agêneras.”
Bruno parece meio perdido, mas tenta acompanhar.
“Quanto a sexualidade, tem uma grade chamada Escala de Kinsey que coloca heterossexualidade e homossexualidade nos extremos, e todas as variações no meio, bissexualidade, pansexualidade, entre outras, além também de considerar a assexualidade.” Lívia continua a explicação. “É uma escala meio confusa, confesso, você precisa pesquisar mais sobre para entender. Tem também a Escala de Klein que é um aprimoramento de Kinsey através de um questionário básico.”
“Caramba. Eu me senti em uma aula de imunologia do semestre passado, com todo o conteúdo de uma vez.” Bruno brinca. “Mas consegui entender. Andei vendo alguns vídeos que explicavam algo parecido com o que você falou, mas o que você me explanou deu para esclarecer muita coisa. Agora eu tenho uma pergunta: aquele dia que você me beijou, você só queria fazer ciúme para a Alessandra ou você estava cumprindo a regra da escala de sexualidade? ”
“Você adora fazer graça, né?” Lívia ri.
“Foi uma pergunta séria, eu queria saber se dentro da fluidez da sua sexualidade, você consegue trans*r com caras mesmo estando apaixonada por uma menina.”
“Normal, consigo sim. Do mesmo jeito que, quando você se apaixona, consegue ficar com outras, eu também consigo.”
“Faz tempo que não me apaixono, aliás.” Bruno suspira.
“Não aconselho.” Lívia fala a dura verdade disfarçada de brincadeira.
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“Não vão fazer nada esse fim de semana?” Alessandra terminava seu jantar, após uma semana atarefada para os calouros.
“Quer fazer algo?” Helena pergunta para Isabel, que responde com um sorrisinho e olha maliciosamente para o quarto.
“Já entendi.” Alessandra ri. “Eu perguntei porque tem show de uma banda cover do Legião Urbana, a galera toda vai.”
“Sou oficialmente velha por preferir comer pipoca e ver filme em casa?” Helena brinca.
“Somos.” Isabel responde, gargalhando.
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“Bruno, se você fosse uma garota livre pensadora, sem rótulos, de 18 anos, você se sentiria atraído por esse look?” Lívia pergunta a seu amigo, enquanto tira fotos no espelho tentando encontrar seu melhor ângulo.
“Como homem cis heterossexual, não poderia opinar, mas tenho certeza que Alessandra irá gostar.”
“Quando alguém pede, você pode opinar, Bruno. Dessa vez eu estou pedindo sua opinião, entendeu?”
“Ah. Entendi. Nesse caso, você está muito bela.”
“Bela? Nunca ouvi esse elogio vindo de você. Mas gostei, obrigada.”
Alessandra os encontra no estacionamento do prédio, junto com uma amiga, perto do carro de Bruno.
“Galera, essa aqui é Ariel, uma amiga minha. Ela pode ir com a gente?” Alessandra pergunta.
Bruno a fica encarando, e Lívia dá uma cotovelada nele.
“Ah, pode sim, pode sim! Ariel, certo? Prazer, Bruno. Você é muito bem vinda para vir conosco e também é bem aceita em nosso círculo social que é amplamente aberto a todos os gêneros e sexualidades.” Ele dispara.
“Okay...?” A garota olha para Alessandra meio assustada.
“Desculpa, ele está aprendendo novos conceitos agora. Até pouco tempo atrás ele era um cabeça quadrada apoiador de ditadores.”
“Meu passado me condena.” Bruno dá de ombros tentando não se deixar afetar pelas mancadas que já cometeu.
Eles entram no carro, Lívia no banco da frente, ao Lado de Bruno.
“Mas assim, Ariel, você é uma mulher transgênero, certo?” Bruno pergunta, olhando para o espelho retrovisor.
“Bruno!!” Lívia coloca as mãos na cabeça. “Não se pergunta isso! Você não assume que uma pessoa seja cis ou trans assim, do nada, menino!”
“Mas ela está usando uma blusa escrito ‘This is what trans looks like’, Lívia!” Eles começam a discutir enquanto Bruno dirige.
“Mesmo assim, eu poderia usar uma camiseta dessas sendo cis, roupa é roupa, não quer dizer que a pessoa seja necessariamente o que está escrito na roupa, ela pode ter emprestado de alguém!”
“Então espera, se eu utilizasse uma camiseta com uma estampa apoiando Hitler, você não pensaria absolutamente nada sobre mim?”
“Você apoia Hitler?!”
“Não! Lógico que não, credo. Foi um exemplo de mau gosto. Está vendo? Mas só pelo fato de dizer que usaria uma camiseta assim, você já pensou que apoiava.”
“Bem, sem querer interromper, eu sou sim uma garota trans.” Ariel responde.
“Mas nossa, não parece. De verdade. Eu diria que você era normal se não tivesse visto a blusa.” Bruno responde, para infelicidade de Lívia, que esconde o rosto com a palma da mão.
“Como assim ‘normal’?” Ariel pergunta.
“Digo...” Bruno se constrange. “Não quis dizer normal nesse sentido, digo...”
“Você quer dizer dentro dos padrões cis-heteronormativos?” Ariel complementa, enquanto Alessandra segura o riso.
“Perdão, por favor me perdoa. Eu sou muito ignorante nessa área, a Lívia me ensinou um monte de termos essa semana, estou aprendendo agora. Não quis lhe ofender.” Ele engole a seco e se mantém quieto.
“Seu namorado deve lhe fazer passar muita vergonha ainda, não?” Ariel pergunta para Lívia.
“Namorado? Ele não é meu namorado não. É meu colega de classe. Inclusive estamos indo buscar a namorada dele agora.”
“A Brenda não é minha namorada, mal começamos a ficar.” Bruno quebra o silêncio.
“Está vendo? Tu ficas mais de uma vez e a sociedade já te impõe um rótulo de relacionamento.” Alessandra comenta.
“Não é bem assim, eu só estava tirando onda do Bruno, mas ninguém precisa ceder a nada do que a sociedade supostamente impõe. Pessoas podem ficar várias vezes, apegarem-se, viverem algo bacana tranquilamente, sem rótulos.” Lívia contra argumenta.
“Enfim. Ariel, como você e a Alessandra se conheceram?” Bruno muda o assunto.
“O pai dela era melhor amigo do meu pai, na época da faculdade, antes dos pais dela se mudarem para Porto Alegre. Mas a gente sempre ia lá visitá-los, então criamos esse vínculo de amizade.”
“Seu pai estudou na Universidade daqui, Alessandra?” Bruno pergunta.
“Sim, fez residência aqui também.”
“Então está seguindo a tradição.”
“Pelo menos algum tipo de tradição eu tinha que seguir!” Alessandra faz piada, enquanto Bruno procurava algum lugar para estacionar, pois as ruas estavam lotadas.
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“Acha que deveríamos ter ido?” Isabel deita por cima de Helena, dando pequenos beijos em seu queixo e pescoço.
“Ido aonde?” Helena estava mais focada nos beijos.
“Ao show do cover de Legião.” Isabel explica, enquanto suas mãos retornam para a genitália de Helena, apenas massageando-a vagarosamente.
“A gente pode ir mais tarde, se quiser... esses shows sempre começam com certo atraso.”
“Uhum...” Isabel concorda entre beijos e mordiscadas.
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Alessandra beijava uma garota que acabara de conhecer, enquanto Brenda e Bruno se encontravam abraçados, deixando Ariel e Lívia conversando.
“A Alessandra sempre foi assim?” Lívia pergunta, apontando para a caloura.
“Assim como? Desapegada?”
“Sim, com esses lances de ser de uma noite só, coisas assim.”
“Nem sempre, mas ela passou por alguns conflitos emocionais e existenciais e se utiliza de negação. Daí ela monta esse personagem desapegado.” Ariel explica.
“Que conflitos existenciais?” Lívia se interessa.
“Acho que é um assunto mais pessoal, não sei dizer ao certo...” Ariel prefere cortar o assunto.
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Helena e Isabel chegam já no meio do concerto. Através da multidão, finalmente conseguem encontrar Lívia.
“Vocês vieram!” A veterana abraça Helena. “Agora que vocês estão aqui eu posso parar de me torturar em ficar vendo a Alessandra beijar outras bocas.”
“Já falei, desencana, Lívia. Isso aqui está cheio de garotas e garotos, tem muita gente bonita, por que não aproveita?” Helena sugere, mas Alessandra interrompe, chegando na rodinha.
Alessandra volta para o lado de Ariel, e acaba não ficando com mais ninguém. Lívia, já bastante alterada, afasta-se de Helena e Isabel, chegando ao lado de Ariel.
“Eu quero beijar você.” Ela afirma.
“Oi?” Ariel arqueia uma sobrancelha.
“Eu quero beijar você. Aqui. Agora.” Lívia continua firme.
Ariel ri, ainda não acreditando, mas Lívia se inclina e beija os lábios da amiga de Alessandra, que apenas observa a cena.
Lívia sorri ao final do beijo.
“Vais querer um quarto agora também, Lívia?” Alessandra cruza os braços, e Ariel estranha sua reação.
“Está brava por quê? Não posso beijar sua amiga?”
“Eu não estou brava, tu beijas quem tu quiseres, oras.”
“Você pode beijar a festa inteira na minha frente, agora eu beijei sua amiga e você fica grossa.”
“A gente só se beijou uma vez, Lívia!!” Alessandra se estressa.
“Eu não vou ficar no meio de vocês não.” Ariel se levanta e vai para o bar.
“Eu sei que foi só uma droga de um beijo! Por isso não entendi o motivo de você ficar desse jeito!”
“Está vendo? Por isso que eu não gosto desses lances de ficar mais de uma vez! Imagina se a gente tivesse trans*do! A gente mal se conhece e já estamos assim uma com a outra!”
“Cala a boca.” Lívia fica na ponta do salto, pega Alessandra pelo rosto e a beija.
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Alessandra e Lívia se encontraram finalmente sozinhas no apartamento da veterana.
“Você acha que deveríamos conversar sobre suas regras sob-”
“Shh.” Alessandra tira as roupas de Lívia completamente sedenta.
Enquanto isso, Helena, no outro quarto, preparava sua cinta.
“Meu pai comprou um celular com câmera e o Rafael está aprendendo a mexer.” Isabel comenta. “Ele está tentando me ligar, importa-se de eu atender aqui?”
“Não, fique a vontade, eu escondo o p*nis de borracha.” Helena brinca.
“Oi meu amor!!” Isabel sorri para a câmera, enquanto seu filho sorri de volta e acena. “E o vovô e a vovó? Como estão?”
“Estão bem, mamãe. A gente vai no parque nas férias?” Ele pergunta, ansioso.
“Vamos sim, meu amor. Mamãe está juntando dinheiro.”
Helena se joga na cama, fazendo barulho.
“Quem está aí?” Rafael pergunta.
“Ninguém, meu amor,n-“
“Oi Rafa!” Helena invade a tela.
“Tia!” O garoto sorri. “Você foi visitar a mamãe?”
“Meu amor, mamãe que veio visitar a tia.”
“Ela também vai no parque com a gente?” Ele pergunta.
“Se você estiver convidando eu vou sim!” Helena exclama.
Isabel conversou mais um pouco com o filho, até que ela o mandou dormir, pois já estava passando do horário limite que os pais de Isabel impuseram para o menino dormir.
“Helena, você não precisava aparecer de supetão no vídeo.”
“O garoto me conhece, qual o problema? Ele achou que fosse uma visita.”
“Sim, mas se isso se tornar constante ele vai começar a perguntar mais de você, daí crianças nessa idade adoram contar tudo, ele vai falar pros meus pais que a gente se visita sempre e você não conhece meu pai.”
“Perdão.” Helena se entristece. “Mas poxa, estamos na mesma sala, seus pais entenderiam esse tipo de visita constante, não é necessariamente algo em outro sentido.”
“Desculpa. Não queria lhe chatear, mas é complicado, você não entende a cabeça dos meus pais. E mesmo o Rafa sendo inocente e não tendo a malícia para entender, meu pai com certeza entenderia, então é melhor que fique assim por um tempo.”
“Não me chateou. Problemas familiares são a minha especialidade.” Helena ri, e Isabel retribui com um beijo.
“Agora vamos deixar essas coisas de lado que hoje eu quero sentar na sua cara.” Isabel brinca. Helena, sem perder tempo, parte para cima.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 24/08/2020
Sexo por sexo.
Curiosidade: Isabel ficaria satisfeita de fazer sexo sem o strap-on?
Isabel é bem sexual. Todas as oportunidades que tem ela esta levando Helena para o ato.
Lívia sente de fato algo pela Alessandra, aponto de está focada apenas nela. Mas ir para a cama com ela agora é a escolha apropriada?
Rhina
rhina
Em: 24/08/2020
Oie
Boa tarde.
" conflitos emocionais e existenciais e se utliza da negação."
" Daí ela "monta" este personagem desapegado"
..................// ............
Bruno vc tá tendo uma ótima orientadora.
Preciso de uma assim......minha mente dá um nó.
Rhina
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AlRibeiro
Em: 14/02/2019
Adorei como o sexo é tratado na história, como algo natural, sem toda aquela fantasia em torno. Quando Helena e Isabel tiveram a primeira vez delas foi algo bem tranquilo, com algumas inseguranças que são normais de existirem e que podem se esvair com uma conversa, é claro.
Não consigo sentir o feeling da Alessandra com a Lívia, acho que o Bruno está muito mais propenso a gostar dela.
Esperando os próximos capítulos!!
Abraçaço :D
Resposta do autor:
Poxa, que ótimo que gostou! Sempre fico feliz quando vejo que tem comentário novo seu, hahahahaha
Tentei trazer uma visão menos romantizada mesmo, fugir um pouco do padrão huahauhauhuahauha
Bom, haverá surpresas quanto a vida amorosa de Lívia, como eu disse em outro comentário, é uma personagem que gosto de trabalhar e desenvolver.
Obrigada por continuar lendo <3 Beijão!
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JeeOli
Em: 12/02/2019
Eu nn ficaria com a Alessandra depois de ter visto ela com outra, gosto bastante da Livia e espero q ela nn sofra nesses problemas que Alessandra tem como relacionamento..
Bruno vai acabar gostando da Brenda, e Helena e Isabel so querem saber de aproveitar
Resposta do autor:
Alessandra tem esse jeito peculiar, mas é o tipo de personagem que planejo desenvolver bastante ao longo da história eheehehehhe
Quanto a Helena e Isabel, é bem o esteriótipo de novo relacionamento, quando duas pessoas não conseguem se desgrudar hahahahah
beijos e obrigada s2
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