Carolina e Roberta estavam em Macaé com Carlos, Manuela estava com ele desde que tinha desembarcado, Gabriela iria busca-la a noite, Roberta ficou encantada com a menina, linda, os cabelos pretinhos, olhos castanhos como os do pai, os traços já estavam mudando, mas ainda parecia muito coma família de Carlos. Os três estavam na sala conversando, enquanto a menina brincava no chão sobre um tapete infantil.

            Carolina estava feliz, estava leve, depois de tantos anos carregando um sofrimento que não terminava, que não a deixava em paz, ela parecia ter encontrado um jeito para deixar aquele peso cair e seguir seu caminho sem tantas cobranças e medos.

            Roberta e Carlos estavam felizes, Carolina observava silenciosamente a sintonia entre os dois e sorria sem perceber com a felicidade do irmão e da amiga, pensava consigo que aquele relacionamento nunca deveria ter sido interrompido, mas como tudo tem um motivo, ela preferiu acreditar que eles precisaram passar por aquela separação para se reencontrar mais maduros e construir uma relação realmente forte e feliz.

 

-- Está rindo de que? – Roberta perguntou de repente –

 

            Carolina estava distraída com seus pensamentos e não percebeu que a pergunta era para ela.

 

-- Carol, está tudo bem?

 

-- Oi? – Olhou para a amiga –

 

-- Você, está aí rindo sozinha, está tudo bem? – Roberta sentou no tapete ao lado de Manuela –

 

-- Ah, está sim, eu só estava pensando em algumas coisas. – Se ajeitou no sofá –

 

-- Hum, tem alguém na parada? – Sorriu maliciosa –

 

-- Não, não foi nada disso. – Riu – Na verdade eu estava pensando sobre vocês dois. – Apontou para ela e Carlos –

 

-- O que tem a gente? – Carlos chegou da cozinha –

 

-- Eu estava pensando em como vocês estão felizes, finalmente, e no quanto isso me deixa também muito feliz.

 

-- Verdade, eu não estou cabendo de felicidade. – Roberta brincava com Manuela –

 

-- Agora só falta você maninha, encontrar a sua felicidade. – Carlos pegou a filha no colo – Vamos tomar um banho? Mamãe já deve estar chegando pra te buscar.

 

-- Que pena que ela terá que ir embora. – Mandou um beijo no ar pra afilhada –

 

-- Pois é, o tempo com papai terminou. – Carlos deu de ombros –

 

            Roberta encostou no sofá, ainda sentada no chão e viu os dois saírem pelo corredor, estava feliz em ter conhecido a filha de Carlos e percebeu como ele era carinhoso com Manuela, por um curto momento se sentiu triste por ter tomado aquela decisão quando era tão jovem, mas não se permitiu abater, sabia que nada poderia mudar o passado, mas que ela poderia fazer tudo diferente para o seu futuro.

 

-- E aí, Beta, gostou a Manu? Ela é uma graça né?

 

-- Ela é linda! Tão calminha! Eu brincaria com ela aqui o dia inteiro!

 

-- Sei, deu vontade de ter um? – Riu –

 

-- Deu sim. – Olhou para o chão – Eu sei que eu perdi a chance de viver intensamente a maternidade, eu poderia ter feito uma escolha melhor naquela época, mas agora não adianta reclamar. – Deu de ombros –

 

-- Amiga, você pode adotar. Tem tantas crianças por aí sem um lar, em busca de amor. Pensa nisso mais pra frente. – Piscou –

 

-- Eu sei, eu lembro do dia que você me falou isso no hospital, eu estava tão revoltada que não queria ouvir nada.

 

-- Foi mesmo. – Sorriu – Mas hoje você é uma mulher diferente, e tem pensamentos e sentimentos diferentes. Você vai encontrar o seu caminho pra ser feliz.

 

-- Nós vamos! – Levantou e sentou ao lado de Carolina – Você também vai encontrar o seu caminho pra ser feliz! – Beijou a cabeça da amiga –

 

            Nesse momento a campainha tocou e Roberta levantou para abrir a porta, Gabriela chegava para pegar Manuela e entrou para ver Carolina. Não houve nenhum clima tenso, Gabriela estava começando um novo relacionamento e estava feliz. Conheceu Roberta e conversou com Carolina sobre Manu e como ela ficou preocupada com o acidente da ex-cunhada.

 

-- Carol, quando Carlos me contou, eu fiquei tão preocupada! – Manuela trazia um brinquedo – Eu não sei o que aconteceria com ele se você não resistisse.

 

-- Eu também não sei o que eu faria. – Carlos enfatizou –

 

            Estavam todos sentados na varanda da casa, corria um vento fresco que amenizava o calor do início de março.

 

-- Foi um susto mesmo, mas graças a Deus, não aconteceu nada pior. – Levantou as mãos para o céu –

 

-- Quem estava perguntando por você foi Claudinha. – Pegou Manuela no colo –

 

-- Ela me ligou mês passado. – Sorriu – Nós conversamos e eu disse que viria pra cá esse mês.

 

-- Encontrei com ela no mercado essa semana, vou avisar que você está bem.

 

-- Ah, nós poderíamos marcar um churrasquinho no fim de semana aqui, -- Carlos levantou o convite – vem com o seu namorado e Manu, vou chamar Matheus e Claudinha.

 

-- Ah, legal, eu venho sim, vou falar com Rodrigo.

 

-- Eu acho tão legal essa relação de vocês, não ter nenhuma mágoa, nenhum desconforto depois da separação. – Carolina comentou despretensiosamente –

 

-- Não tem motivo pra ter raiva dele, não deu certo, mas temos uma filha linda que precisa de nós. – Deu de ombros – Eu nunca faria nada para afastar esses dois, Carlos é um ótimo pai. – Riu – E depois, não ganharia nada carregando rancor no coração.

 

-- Você ganhou uma fã. – Carol disse brincando –

 

-- Duas. – Roberta completou –

 

-- Então está marcado, todo mundo aqui domingo pro almoço. – Carlos sorriu orgulhoso–

 

            A semana passou lentamente, e o domingo chegou com um dia lindo, ensolarado, aos poucos os amigos de Carlos iam chegando para o churrasco, Claudia chegou sozinha, usava um short jeans curtinho, camiseta remador azul, os cabelos mais longos presos em um rabo de cavalo e chinelo nos pés. Estava bem à vontade, e Carolina não deixou de admirar sua beleza, o perfume era diferente, mas combinava com a personalidade da surfista.

            As duas se encontraram na varanda de trás, onde ficava a área com a churrasqueira, Carolina já estava andando com ajuda de uma muleta, vestia um short azul, com um top curtinho preto, deixando todo seu abdome à mostra, o que fez Claudia arrepiar inteira. Caminhava sorrindo na direção da cardiologista e quando a encontrou, segurou sua cintura e a abraçou demoradamente.

            O encontro com aquela pele quente acionou os sentidos das duas mulheres, as lembranças daquele carnaval que passaram juntas ainda estavam ali, foi uma sensação boa, Carolina sentiu o carinho de Claudia naquele abraço e se deixou embalar por ela.

 

-- Oi Carol. Como você está?

 

-- Eu estou bem, e você? Continua linda!

 

-- Está tudo ótimo! Obrigada. Nossa, eu fiquei tão preocupada quando me avisaram do seu acidente.

 

-- Eu imagino, foi um susto pra todo mundo, até pra mim. – Riu –

 

            As duas se afastaram e se olharam, sorriam alegremente com a presença da outra ali, queriam mais daquele encontro, queriam mais da outra, queriam mais da vida. Carolina estava disposta a se abrir para um relacionamento, mas ainda tinha aquela dúvida sobre Ângela, tinha um enorme ponto de interrogação sobre o afastamento da residente, resolveu deixar tudo acontecer naturalmente, não iria forçar nada, com nenhuma das duas.

 

-- Você está ótima! – Claudia a olhou dos pés à cabeça – Continua linda!

 

-- Obrigada, mas isso é plágio. – Sorriu – Adorei o novo corte de cabelo.

 

            Claudia passou a mão na cabeça e bagunçou os fios mais longos enquanto sorria para Carolina, as duas continuaram naquela conversa por um tempo ainda, Carlos cuidava do churrasco sempre com Roberta ao seu lado, Manuela brincava em uma pequena piscina de plástico debaixo de uma sombra de uma árvore que tinha no quintal sob a supervisão atenta de Gabriela. A vida parecia boa naquele momento, era uma grande confraternização entre amigos. Durante todo o dia, Claudia jogou seu charme para Carolina, carinhos, pequenos segredos ao pé do ouvido, as mãos que vez ou outra seguravam sua cintura, tudo isso ia despertando uma leoa em Carolina, seu corpo deu sinais de excitação, sentia-se atraída por Claudia, resolveu viver um momento de cada vez.

            Já caía a tarde em Macaé, o sol já estava mais longe, muitos dos amigos de Carlos já tinham saído do churrasco, Gabriela se despedia para ir embora com Rodrigo e Manuela, e só restava Claudia ainda conversando com Carolina.

 

-- Tchau gente, foi um dia ótimo! – Pegou Manuela no colo –

 

-- Tchau bebê! Papai já está morrendo de saudades. – Carlos brincava com a filha –

 

-- Claudinha, quer uma carona?

 

-- Não Gabi, obrigada, eu vim de moto.

 

-- Então tá bom, beijo gente!

 

-- Tchau.

 

-- Manuela está linda! Como cresceu! – Carolina comentou –

 

-- Está sim, cada dia mais parecida com seu irmão. – Claudia riu –

 

            Carlos e Roberta entraram em casa e deixaram as amigas no quintal, as duas estavam sentadas na varanda da frente, em uma poltrona de vime acolchoada com almofadas azuis, Carolina parecia estar cansada, alguns remédios que ela ainda precisava tomar davam muito sono. Claudia percebeu isso e se colocou a ir embora também.

 

-- Eu acho que eu vou também, você precisa descansar.

 

-- Espera mais um pouco, está tão bom ter você aqui. – Aconchegou-se no ombro da surfista –

 

            Claudia sorriu, passou o braço sobre o ombro de Carolina e a abraçou, trazendo seu corpo mais pra perto de si, a brisa da tarde batia em seus rostos, aliviando o calor que fazia, a surfista esticou as pernas e as colocou sobre uma mesinha do mesmo material da poltrona que compunha o conjunto que ornamentava a varanda da casa de Carlos. Ajeitou-se de forma que quase recebeu o corpo de Carolina deitado sobre o seu e beijou a cabeça da cardiologista.

            Carolina estava gostando daquele abraço, aquele carinho foi muito bem-vindo, ela gostava muito de Claudia, o sex* foi maravilhoso, ela é inteligente, linda e atraente, queria se apaixonar, mas isso não é um botão que você aperta e simplesmente acontece. Claudia sentiu uma ponta de esperança em ter Carolina em seus braços novamente, sabia que ela estava se recuperando ainda do acidente, iria devagar para não machucar a cardiologista, mas gostou daquela proximidade.

 

-- Você ainda sente muitas dores? – Fazia carinho nos cabelos dela –

 

-- Em alguns pontos sim. Ainda preciso de analgésicos fortes, são eles que me deixam assim sonolenta.

           

-- Faz um mapa onde eu posso te tocar sem te machucar. – Riu –

 

-- Usa o gps do celular. – Olhou para cima rindo –

 

-- Tá tão ruim assim? – Beijou sua cabeça –

 

-- Eu estava brincando. – Riu – As costelas, são um ponto frágil, demoram mais a cicatrizar, o tornozelo e a cabeça.

 

-- Só isso? – Ironizou --

 

            Carolina riu da ironia de Claudia e levantou, a olhou nos olhos e sorriu levemente, seu olhar começou uma pequena exploração dos traços fortes daquela mulher de pele morena, bronzeada do Sol, os lábios convidativos, o olhar seguro que lhe desejava com toda sua expressão. Decidiu deixar todas as suas dúvidas de lado e aproveitar a vida, lembrou-se de Raquel: “— Carol, deixa de ser Caxias!”

            Pegou uma das mãos de Claudia e levou até seu rosto, espalmando sobre sua pele branca, a outra fechou os olhos por um milésimo de segundo absorvendo aquela sensação. Deslizou as pontas dos dedos da surfista em seu rosto e começou a sussurrar. -- Aqui você pode tocar, acariciar, beijar.

 

            Passeava com os dedos da outra sobre sua boca entreaberta, Claudia quase esqueceu de respirar tamanha tensão que estava vivenciando. Foi descendo com a mão aberta pelo pescoço desnudo, levando de uma extremidade à outra e continuou falando baixo. – Aqui você também pode explorar à vontade. Eu adoro!

 

            Claudia soltou um suspiro audível para o deleite de Carolina que estava adorando aquela pequena sessão de tortura que estava impondo à surfista, usava de sua mais pura sedução, naturalmente ia alcançando seu objetivo em deixar Claudia completamente entregue. Continuou o caminho pela sua pele descendo pelo colo aparente pelo pequeno top que ela usava, passou com os dedos da outra entre os seios fartos, Claudia pôde sentir as gotas de suor que ali estavam e sentiu o corpo arrepiar inteiro, ajeitou-se na poltrona, sentia o pulsar de seu sex* reagindo a cada toque no corpo da cardiologista.

 

-- Aqui você tem livre acesso para os dois lados. – Disse mais próxima de Claudia –

 

            A surfista mordia o lábio inferior na vã tentativa de controlar seus impulsos, estava enlouquecendo com aquele jogo de Carolina, queria explorar aquelas áreas com suas mãos e boca sem aquelas peças de roupas que pareciam estar ali apenas para atrapalhar aquele momento. Carolina desceu mais suas mãos e as espalmou na altura das costelas, ali disse mais séria. – Aqui é melhor evitar, por favor, ainda está doendo. – Sorriu –

 

            Claudia consentiu com a cabeça e continuou assistindo e sentindo aquela tortura, Carolina passou pelo seu abdome e espalmou a mão aberta da surfista dando livre acesso e nem precisou dizer nada naquele momento, Claudia conseguia antecipar o que estava por vir, esperou ansiosamente pela sequencia daquela exploração, mas para sua frustração, Carolina passou direto para sua coxa fazendo com que a surfista soltasse um gemido em repreensão, que não passou despercebido por Carolina que sorriu. Aproximou-se da orelha de Claudia e sussurrou sensualmente:  -- O restante do mapa eu te mostro a sós. – Deu uma lambida no lóbulo da orelha de Claudia –

 

            Claudia não aguentou aquela provocação e virou o rosto rapidamente tomando os lábios de Carolina nos seus, o beijo foi urgente, desejado, as línguas se encontraram explodindo em uma equação perfeita. Claudia segurou a nuca de Carolina e a trouxe para mais perto, queria mais daquela mulher tão enigmática que estava ali em sua frente. Carolina abraçou seu pescoço e com a outra mão segurou seu rosto. As duas se perderam naquele beijo, deixando todo o medo e insegurança para trás, Carolina queria apenas ser feliz, foi por isso que ela voltou, foi por isso que ela ganhou aquela segunda chance, para mudar sua vida e a forma de pensar. Aquele era o primeiro passo, precisaria de muitos, mas já estava começando a deixar a vida acontecer, sem tentar controlar tudo.

            O beijo cessou e ainda de olhos fechados, as duas encostaram suas testas, Claudia deu vários beijinhos no rosto de Carolina, como ela havia dado passe livre, ela tratou de aproveitar, adorava estar ali com ela, sabia que era um terreno difícil, misterioso, mas queria descobrir o que estava escondido por trás daquela muralha que a médica ergueu para se proteger.

            As duas abriram os olhos ao mesmo tempo e sorriram, estavam felizes, ambas sabiam que não era nenhum namoro, apenas duas mulheres querendo viver intensamente.

 

-- E agora, quando eu poderei ver a outra parte desse mapa delicioso? – Disse entre beijos –

 

-- Quando você quiser, minha salva vidas. – Sorriu –

 

-- Janta comigo amanhã?

 

-- Claro, você pode me pegar aqui? Ainda não posso fazer caminhadas muito longas.

 

-- Às oito?

 

-- Perfeito!

 

            E assim, tudo ia se encaixando, aos poucos, sem pressa ou cobranças, apenas a tentativa de se encontrar, de descobrir que amar e ser amada não é apenas dor e sofrimento, pode também ser livre e leve.

Fim do capítulo