Capítulo 46
Capítulo 46 linha tênue - Fernanda
Fiquei no banheiro, trancada o tempo que eu precisei. Por mais que depois de colocar a cabeça na água eu tenha me acalmado um pouco, não foi ainda o suficiente, eu precisei repetir a técnica mais duas ou três vezes. Se dependesse do meu emocional eu subia novamente, mas dessa vez batia nela até quebrar em dois, mas minha consciência diz que chutar gato machucado é pecado. Tá bem claro que a Christiane já está bem destruída e quebrada, acho que eu também ficaria assim se percebesse que perdi uma mulher como a Carol, principalmente depois de uma vida com ela. Infelizmente a vida é isso, quando não damos valor as pessoas e coisas mais importantes, sofremos ao perder.
- Fernanda, tá ai? - o Lucas me chamou.
- Sim, sim. Já vou sair, dois minutinhos - Olhei a lambança que eu acabei fazendo no banheiro, não pude deixar de pensar na bronca que a Carol me daria se visse isso. É engraçado e ao mesmo tempo triste, ver como a presença dela é marcante na casa. Ver a zona e a sujeira que a Christiane promoveu, tira a presença da gineco, mas os pequenos detalhes como a cor leve da decoração ou a ordem dos livros traz a presença dela a uma casa que deve ter sido seu mimo por anos. Me faz pensar o quanto deve ter sido doloroso pra ela voltar aqui, ver a casa desse jeito, essa louca com outra. Caraca, a Caroline come o pão que o diabo sentou em cima.
- Fer, “vamo” logo, as meninas ainda estão lá na cantina, a Carol deve estar puta já.
- Lu, quando que a Carol não está puta?
- Quase nunca, principalmente quando está com você. Chega de melação e partiu.
- Vai deixar a louca ai, sozinha?
- Sim, já fiz até demais hoje. Fiz pela Caroline na verdade. Eu liguei pra mae da Chris, ela falou que vinha pra cá. Falou pra eu deixar a bebada dormindo aí. Eu deixei. Só me faltava eu ter que ficar aqui, cuidando de bêbada, não tenho filha dessa idade. Sem contar que eu sou um dos que menos suporta a Christiane. - fomos conversando e andando, em direção ao carro.
- Acho que na real caiu a ficha dela, de que ela está sozinha, perdeu uma mulher bacana, sei lá, essas coisas. Eu diria que bem feito.
- Cara, sou seu fã. Sério! Eu não iria bater nela, nunca, por principios e tals, mas a coça que você deu foi lindo de se ver. Eu achei que você fosse perder a linha e dar uns peteleco nela.
- Velho, por pouco. Eu sou chata, brava, tals, mas não costumo ser violenta. A garota fez o que fez, cagou na entrada e na saída e agora é vitima? A Carol não quer me ver… liga pra ela - falei debochada imitando a voz dela - assume seus erros. Assume as coisas que fez. Palhaçada.
- Você tá bem?
- Eu?
- É! Você me ajudou a socorrer a ex da mulher que você está afim, quase perdeu a linha, tá vivendo um vendaval ambulante com a Carol, ciúmes. Você também precisa se cuidar cara, não pode ficar estressada, deixar essa merd* toda da minha irmã te afetar.
- Eu sei Lu, eu perdi a linha de bobagem. Queria ajudar a Carol, mas você tem razão eu não posso me estressar com isso tudo não. Vou ligar pra Clara, ver como está lá e falar que estamos voltando.
- Melhor mesmo. Ve o que a Clarinha contou pra ela. - Peguei meu celular e disquei pra Clara, que no segundo toque atendeu. - Clara, como está ai?
- Oi Fer, a criança está melhor? Machucou muito? Estavamos preocupadas aqui.
- A Christiane apagou, deixamos ela na casa dela, dormindo. Já estamos voltando. Como está aí?
- A Carol achou super fofo voces sairem juntos para atender a criança que caiu aqui. Que sorte você ser pediatra não?!
- Entendi Clara. Vou manter a historia. A Caroline tá brava?
- Não, ficamos conversando. O Bruno já dormiu até, ficamos tomando um vinho e batendo papo. Estão voltando?
- Sim, já estamos a caminho. O Lucas falou que mais uns 20 minutos e chegamos ai. Segura as pontas mais um pouquinho?
- Claro Fer. Só vem logo. - Me despedi da Clara e desliguei o telefone, voltando a falar com o Lucas - Aparentemente está calmo lá, o Bruno já dormiu e a Carol achou lindo eu sair com você para atender uma criança que se machucou.
- Você vai contar pra ela sobre a Christiane?
- A princípio não, se eu sentir que o clima permite eu conto. Não quero ver a Carol mais estressada. Luc sei que é recente, mas se ela continuar nessa pilha, ansiedade de andar na rua, medo, ela vai precisar de ajuda. Acredito que voltando para Portugal melhore, mas é algo pra ficar de olho.
- Sim, eu senti ela meio tensa mesmo hoje, fragil. Bem melhor que há dois dias, quando ela foi liberada do cativeiro, mas ainda bem tensa. Ela ficar esse tempo com o Bruno vai ajudar um pouco, esse moleque é tudo pra ela.
- Foi muito linda a cena dos dois se abraçando. Eu conheço ela pouco, comparado com você, mas deu pra ver o quanto ela ama seu filho. Sério.
- Ela gosta muito dele mesmo, ela sempre quis ter um filho, o Bruninho meio que entrou nesse espaço. Ela cuida, protege, leva o moleque pra passear. Chega a ter horas que a Jaque fica com ciumes. Eu dou risada, mas acho que faz bem pra ela.
- Falando em Jaque, eu não entendi. Ela não veio por causa da Carol?
- Não, ela é super amiga da Chris. Na real foi a Chris que nos apresentou. Aí entre jantar com a Carol e você e ficar de bico apoiando a louca, ela preferiu apoiar a louca e dar piti porque eu fiquei do lado da minha irmã. Mas eu to pouco me estressando, depois converso com ela. Esses ultimos dias foram muito pesados, o sequestro mexeu com todos.
- Muito mesmo, a gente acaba ficando com medo, assustados. A Carol é muito forte Lucas, ela tá pra baixo, mas tá firme, indo atras das coisas, seguindo em frente.
- Minha irmã já enfrentou tanta coisa pesada, quando eu penso que finalmente ela vai ficar mais de boa, aparece algo que queima ela. Enfim, cada um tem seu carma, destino para carregar. Achei super bonitinho voces duas juntas, o olho dela chegava a brilhar enquanto falava com você.
- O olho que abre ou o inchado?
- Hahaha, que maldade.
- Não aguentei a piada, mas te digo que já está bem melhor. Ela marcou pra semana que vem a fixação da fratura.
- Se precisa fazer, é melhor fazer. Pra evitar mesmo essa sequela toda.
- Lu, preciso te pedir um favor - ele me olhou, concordou e continuou dirigindo - talvez eu não esteja com ela no dia dessa cirurgia. Preciso que você cuide da Carol, por favor.
- Fer, eu vou estar lá de todo jeito. É uma coisa bem simples, rapida, mas é uma cirurgia. Eu vou estar lá e fazer minha parte, mas o lance do mimo que você faz eu não vou poder fazer.
- Eu estou com um problema, não sei se vou conseguir ficar aqui no Brasil por mais tempo. Hoje eu estourei com a louca, quase perdi minha saude mental.
- Eu não posso te obrigar a ficar, nme decidir por você. Conversa com a Caroline, isso só cabe a vocês, eu vou estar com ela de todo jeito.
O silencio pairou no carro, obvio. É uma puta mancada, eu a essa altura da vida eu largar tudo por não conseguir segurar a barra, ao mesmo tempo que ir embora pode ser a minha solução e proteção. De todo modo, não é o fim do mundo, em um mes ela volta pra Portugal mesmo, pelo menos espero que seja isso.
Usei do pessimo silencio que reinava no carro para mandar uma mensagem para a Marcela, ela precisava falar comigo sobre algo do hospital. Claro que ainda não deve nem ter nascido o dia em Tras os montes, mas se for algo mesmo importante, pelo que conheço a peça ela vai estar acordada.
- Sei que ainda é madrugada, vi sua mensagem agora. O que aconteceu? - Em poucos segundos a mensagem foi lida, o que me passa para o segundo ponto, se tirou o sono dela é algo sério.
- Fernanda, bom dia. Posso te ligar? - antes mesmo de eu responder ela, liguei.
- Pronto, o que aconteceu?
- A obra da maternidade foi embargada ou algo com um nome parecido. Tentei resolver com todas as vias que tenho e com o advogado do projeto, mas não deu certo.
- Mas qual o problema?
- Falaram que está faltando um equipamento de segurança específico. O problema um é que não temos dinheiro pra isso no caixa da maternidade. O problema dois é que sem sua presença, a gestão do condado não permite a negociação da multa pela falta do equipamento.
- Marcela, isso não tem nexo. Até quatro, cinco dias atras estava tudo certo.
- Eu sei Fernanda. É estranho, mas é real. A obra está parada e só podemos voltar com sua presença aqui.
- Não posso assinar a distância? Algo assim?
- já levantei essa possibilidade e não pode. Tem que ser pessoalmente.
- Puta que pariu. Ok, segura as pontas que vou ver o que consigo fazer aqui, pra quando tem voo. De todo modo é pelo menos um dia de avião.
- Ok. Me avisa quando tiver algum parametro. Como a Caroline está?
- Está meio abalada ainda. Semana que vem vai fazer uma fixação de fratura do rosto.
- E quando ao divorcio Fernanda, tudo indo bem?
- Ela já deu entrada e tudo mais, agora só esperar a louca da ex mulher dela assinar e ela finalmente ficar livre. Marcela tenho que desligar. Vou providenciar essas coisas e te retorno.
O Lucas não falou absolutamente nada, mas o olhar dele falou tudo.
- Que foi Lucas? Eu tenho uma vida lá!
- Não falei nada.
- Nem precisa. Eu to auxiliando na construção de uma maternidade, a mesma onde a Caroline vai assumir a direção e o projeto foi embargado, precisam de mim lá, pessoalmente para assinar alguns documentos.
- Exatamente no mesmo dia que você surta com a louca e me fala que precisa ir embora. Conveniente não?!
- Ah Lucas, me erra! Não vou ficar te justificando algo desnecessario e sem motivo.
- Você quem sabe. - Descemos, finalmente, na porta da cantina, e o Lucas claramente bravo comigo. Assim que entramos, todos os meus problemas sumiram, a Caroline estava linda, segurando o Bruno no colo. O menino estava apagado, calminho. Ela abriu aquele sorriso de molhar as calcinhas assim que me viu e eu devo ter ficado vermelha e com cara de boba, porque a Clara começou a dar risada de mim, puxando a Carol e falando algo no ouvido dela.
- A criança esta bem? - a Clara começou a puxar assunto. O Lucas apenas olhou e nada falou. Eu pra não deixar a situaçao estranha comecei a falar.
- Sim, deixamos no PS, já estabilizou bem. E o Bruno, dormiu?
- Pouco depois que voces sairam ele dormiu. Lindos, vao querer ficar mais? Partiu?
- Eu já vou indo, vim só pegar meu pequeno mamute e ir embora. Amanha tem plantão e eu já estou no meu limite de cansaço hoje. Clarinha, aceita uma carona? Te deixo na sua casa, é caminho.
- Eu aceito Luc, tudo bem Carol?
- Sim, vou tomar mais um vinho aqui e já já vamos também. - A Carol a todo o tempo se manteve gentil, sorridente. Acho que esse tempinho que ela teve com a Clara foi bom pra ela relaxar e espairecer dos problemas. Quando o Lucas veio pegar o Bruno, ficou nitido que a luz dela se apagou por uns instantes, mas da pra perceber que ela entende que não é filho dela. Tipo, o poço de senso critico da Carol impede que ela use do Bruno para repor um necessidade dela de ter filho ou algo do tipo.
- Tudo bem meninas. Beijos para vocês, eu já vou indo entao. - ele passou por ela, pegou o baby, deu um beijo no rosto dela e falou algo no ouvido dela. Depois ele e a clara me falaram tchau e sairam.
- Mais um vinho meu amor? Depois vamos pra casa e fica a dica que não é pra dormir!
- Nossa, posso ate cancelar o vinho se quiser.
- Não mesmo, eu deixei metade da comida no meu prato, depois nem bebi. Você que conhece bem o lugar pega um vinho bom e uns petisquinhos aí. - ela mais que de prontidão pediu um vinho que ela conhecia e uns paozinhos com queijo para comermos, sempre sorrindo, leve. Eu achei isso fodidamente lindo. Ficamos conversando tranquilamente, em paz. Assim que o vinho chegou, a Carol soltou:
- A louca deu muito trabalho? - engasguei na mesma hora, engasguei pesado. Como assim ela sabe da louca?
- Que louca Carol? - tentei mudar o foco
- Eu sei que a Chris veio aqui bebada, fazendo um show.
- Como você sabe disso?
- Fer, eu venho nesse restaurante há uns 10 anos, com ela, sem ela. Ela já deu show aqui dentro, acha que ninguem iria me contar? Achei engraçado você e o Lucas tentando esconder, mudar de assunto.
- Nossa, eu jurava que você não sabia de nada. A ideia era te contar conforme eu sentisse o clima. Você tá brava comigo? - ela olhou pra mim com um olhar leve, sereno e ao mesmo tempo com os labios querendo rir. Segurou minha mao com delicadeza e continuou a falar.
- Porque eu ficaria brava com você meu amor? Tenho é que te pedir desculpas pela situação e por você ter passado por isso. Eu achei lindo você ter tido esse cuidado comigo, de verdade, me senti cuidada e protegida.
- Ah, você já estava tão cheia de problemas, quando o garçom avisou aqui na mesa, eu o Lucas nos olhamos e sem nem pensar muito fomos la segurar ela. Eu não queria você mais abalada ainda. Você estava tão bem cuidando do Bruno.
- Não tem ideia do favor que você me fez, não sei se eu iria segurar essa barra mais uma vez. Eu só “ia” ficar pior, mais pilhada. Deu trabalho?
- O Lucas colocou ela na água pra acordar, depois eu fiz um café e dei açúcar. Ela tá melhor que eu lá. Jura que não está brava ou bolada comigo?
- Meu amor, porque eu estaria brava com voces? Voces cuidaram de mim, me protegeram. Eu achei foi é lindo, sem contar que foi super engraçado ver a Clara perdidinha, olhando o celular, tentando esconder a situação. Depois eu vou agradecer os dois, porque o Lucas foi lá junto e sei o quanto ele tem problema com a Christiane e a Clara, porque ficou aqui tentando me acalmar. Ela não te machucou né?! Encostou em você? - a Carol chegou a mudar a cor dos olhos só na possibilidade da louca ter me machucado.
- Nem se ela tentasse. Ela queria te ver de qualquer maneira, alcoolizada, toda vomitada. Quando me viu veio pra cima, mas ai o Lucas entrou na frente, segurou ela, deu umas broncas. Ficou tudo tranquilo. Carol, ela sempre foi assim? - automaticamente a gineco sacodiu a cabeça com um não, e eu continuei a falar - é que assim, eu entrei na sua casa, na casa que você morou.
- Minha casa mesmo, e a unica coisa que faço questão de ter de volta com o divorcio.
- Claro, se é sua. Quando eu entrei lá dava para ver você, em coisas simples, a ordem dos livros, o cuidado do lugar dos vinhos, mas tava nojento tudo, o espaço estava bagunçado, o chão colando, não consigo imaginar você nesse contexto. Te conheci em portugal, toda organizada, calma. Desculpa amor, mas não dá pra imaginar você casada com essa mulher.
- Fer, nem sempre conhecemos as pessoas de verdade. Esse assunto não é chato pra você? Tipo, você namora comigo e conversar sobre minha ex mulher.
- Uma vez falamos sobre isso em Urros e eu repito, estou com você, sei que você tem problemas, falhas, mas estou com você Caroline. Acho que você precisa falar sobre isso, conversar, se não vai explodir em algum momento e isso não vai te fazer bem algum. Eu não gosto do assunto, mas gosto de você, e se pra você ficar bem eu tiver que ouvir da louca, vou adorar ouvir sobre ela. Então continua, estava falando de quando conheceu ela. - A Carol sorriu pra mim, mais um vez aquele sorriso sincero e lindo dela, cheio de esperança, carinho.
- Sim, eu tava falando que infelizmente nunca conhecemos as pessoas, o pior delas. Eu conheci a Christiane na faculdade, eu sempre estudava pesado, faculdade pública, aquele peso de ser filha do Braga. Meu pai tinha sido um super aluno de lá, foi chefe da Pneumologia por muitos anos. Então eu tinha que ser muito boa mesmo, mesmo ele nem sabendo se eu estava viva ou não. Eu ficava com uma garota aqui, outra ali, mas nada sério. Quando eu conheci a Chris, ela namorava uma garota mais louca que ela. Quando elas terminaram eu fui pra cima, delicada, respeitosa, sendo eu. E claro, me apaixonei, como toda boa trouxa.
- Se apaixonar não te faz trouxa.
- Não mesmo, mas ser trouxa pela paixão te faz bem burra, e assim eu fui. Com o passar dos anos fechei os olhos para muitas coisas, passeios com amigas que ela ia, cursos em outras cidades, que na verdade eram momentos que ela me traia. E isso foi adoecendo a gente, me adoecendo tambem. Daí eu fui cada vez me enfiando no trabalho, evitando ficar em casa. Ela cada vez mais louca com a minha ausência, mais possessiva, mais mala, chata. E um dia o respeito acabou e eu cheguei no meu limite. O resto da história, você á sabe, portugal, portuguesa mala, que virou portuguesa linda. Acho que empurrei isso esses anos todos esperando que algo melhorasse, que ela acalmasse, sentisse falta. Mas não adiantou.
- Mas ela bebia assim? Desse jeito de dar show
- Na rua não. No começo ela bebia quando queria dormir. Depois a cada briga nossa bebia. Depois começou a ter ciumes da Clara. A Clarinha é minha amiga e trabalha comigo. A Chris dava umas patadas nela, eu tinha que dar uns cortes pesados.
- A Clara falou isso, ela falou que gostou de mim porque eu não sou grossa com ela. Enquanto você estava no sequestro, eu vi como a louca tratou a Clara, sem eu nem conhecer o role, me meti algumas vezes afastando a Clara. Mas quando você chegou ao limite?
- Foi um dia de tive um plantão pesado, daqueles que sai o corpo e a alma fica, sabe? Assim que eu cheguei no hospital eu atendi uma cesariana de emergencia, em uma gestante baleada, fiquei toda suja de sangue, isso antes mesmo de trocar de roupa, chegar. Depois atendi uma criança, uns 14 anos com tentativa de aborto, toda machucada, e uma outra com o bebe morto na barriga. Junto com um monte de gente nascendo, uma correria fodida. Na hora de ir embora eu só tinha aquela camisa pra ir pra casa, suja de sangue. Quando eu cheguei fui deitar, não dava pra comer, não dava pra tomar banho, eu precisava deitar. Ela deu uma surtada louca, que eu estava suja, fedendo. Esse foi o dia que eu cheguei no meu limite, brigamos pesado. Foi o dia que eu sai de casa. Voltei uns 2 dias depois pra conversar com ela, falar que eu iria para Portugal, que eu precisava de um tempo pra me acalmar. Ela falou que se eu fosse nem precisava voltar, que o casamento acabava ali mesmo.
- Mas isso tem bem cara de chantagem, não é nem que ela queria você, tipo, se ela for vou perder. E sim o dominio, o controle.
- Exatamente. Por isso bati o pé e fui mesmo para Portugal. Essa foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Eu fui pra lá dando um tempo no casamento, quando eu cheguei em Trás os montes eu já sabia que ela estava com outra pessoa.
- Caraca, como alguem consegue mudar assim né?!
- Ela sempre foi assim, eu que fingia não ver, acreditava nas historias dela. Fer, ela era casada comigo e tinha um caso com uma ex namorada dela. Eu amei muito a Christiane, aceitei cada merd* que ela fez. Talvez eu precisasse de alguem comigo, talvez eu quisesse alguem junto. Mas chegou uma hora que deu, que eu me cansei dessa merd* toda.
- Talvez você não perceba, mas isso tudo é fundo em você. Por exemplo, quando chegamos em Urros e você fez aquele parto a noite, a luz de velas. Eu já estava gamada em você, mas naquele momento eu me apaixonei por completo. Eu fui te buscar no hospital, em Bragança, você se assustou com eu ter ido te buscar.
- Desculpa por isso Fer. Eu me assustei mesmo, ninguem nunca fez isso por mim, a christiane mesmo nunca iria de madrugada me buscar naquela situação. Eu me assutei. Assim como você vir de Portugal até aqui me ver, acompanhar meu sequestro. Eu estou aprendendo ainda a lidar com com esse cuidado lindo que você tem comigo. Por exemplo hoje, você me deixar aqui e afastar ela de mim. Na mesma situação eu teria ouvido tanta coisa, tanto grito.
- Você ainda sente algo por ela?
- Fer, nem pena. Tudo que um dia eu senti pela Chris ficou no passado. Eu amei ela, e amei mesmo. Mas quando eu decidi ir para Portugal, já tinha acabado o sentimento e o respeito. Meu carater não permitiria eu estar com você e ainda sentir algo por ela. A unica coisa, que eu te falei mil vezes, é que eu ainda sou formalmente casada com ela. Espero apenas que isso acabe logo, aí posso dizer que sou completamente livre para ser feliz e espero que seja ao seu lado meu amor. Por isso que eu achei bobagem seu ciúmes hoje cedo, eu entendo seu lado, por isso que nem discuti nem nada, mas não precisa ter crise de ciúmes meu amor. Meu coração é seu, tem noção que enquanto eu fiquei sequestrada era seu rosto que eu via? Dos nossos momentos em Portugal que eu arrumei forças para aguentar aquele lugar, aquela tortura toda, literalmente. Eu apenas pensava em ficar vova para poder te ver mais uma vez. Sei que parece cliche bobo, mas a realidade é essa.
A cada palavra dela eu conseguia sentir a dor e a emoção, ao mesmo tempo. Enquanto conversavamos eu estava segurando uma das maos dela, fazendo carinho, eu tive que completar essa conversa e esse momento, com um beijinho, coisa simples, afinal estavamos em publico. Como eu tenho admiração por essa minha namorada.
- Dra, desculpe o incomodo, desejam mais alguma coisa? A cozinha já irá encerrar o serviço. - Nos olhamos, entendendo que as barriguinhas já estavam bem cheias.
- Por enquanto não. Pode até fechar nossa conta. Arthur - ela frequenta tanto o lugar que sabe o nome de todos os garçons - O sr. Giovane está por aí? Quando ele estiver livre queria dar um beijo nele.
- Vou avisar pra ele vir aqui. Licença. - Ficamos conversando e tomando o vinho que estava na mesa, minha mão que primeiro estava educadamente pousada sobre a coxa dela, já estava ganhando forma e vida por baixo da mesa, descendo até a raiz da coxa e voltando. Uma delicia ver a expressão de bronca dela, mas sem tirar minha mão. Uns 3 ou 4 minutos depois, um senhor gordinho, vermelho, com um “bigodon” gigante surgiu proximo a nossa mesa. A Carol automaticamente puxou minha mão da perna dela, levantou e cumprimentou o senhor.
- Sr Gigio essa é minha namorada, Fernanda. - O senhor foi muito educado, até fez uma cara rapida de estranheza, mas logo voltou ao normal, me abraçou e logo em seguida voltou a conversar com a Caroline. - Gigio, eu não sei se sua esposa te falou, mas eu estou indo morar em Portugal. Vim aqui me despedir do sr, te agradecer por todas essas refeições maravilhosas desses anos, todo o carinho que teve comigo e a paciencia nas situações complicadas, se o senhor me entende.
- Dra, você pode ficar em paz. O que fez pela minha esposa não tem preço, sabe disso. Sempre será bem vinda nessa cantina.
- Só fiz meu trabalho Sr. Gigio. Muito obrigada por tudo, mesmo. Sua cantina sempre vai ser a melhor pra mim. Aproveitando, a Fernanda aqui conhece bem de azeite, ela estava contando pra mim que acha que o azeite Ganatte iria encaixar bem com o que o sr serve aqui. - Eu estava viajando já, olhando os dois conversando, mas quando ela falou Ganatte eu acabei rapidamente retornando e comecei a conversar com o italiano.
- É verdade sr. Gigio. O senhor conhece o azeite ganatte? Já provou dele?
- Eu conheço, até coloquei ele um tempo aqui, mas é bem caro dra. Você é doutora também?
- Até sou sr. Gigio, mas só no consultório, igual a Carol.
- Ah, tudo bem. Eu coloquei o Ganatte aqui um tempo, ele é muito bom, bem puro. Os clientes gostavam bastante, mas é bem caro.
- Sr. Gigio, eu trabalho na fábrica da Ganatte. Vou te mandar uma caixa de presente, se o senhor gostar, a gente pode negociar e te faço um preço baratinho. Topa?
- Não entendi, você não é médica?
- Sr. Gigio, nem tenta entender, eu me perco as vezes também. Pensa nessa proposta, azeite de qualidade, mais barato. Acho válido pro senhor.
- Eu aceito essa caixa de presente, mas sem compromisso.
- Sr Gigio, vou deixar meu cartão com o senhor, assim que quiser conversar, entra em contato que faço um preço bem bacana, fica como sendo um presente da Carol pro senhor. Tudo bem? - abri minha bolsa rapidinho e peguei um cartão meu relacionado as fazendas, eu não mando em nada quase, mas não posso ignorar o fato de ser dona dessa coisa toda. Assim que ele olhou o cartão, onde estava escrito “Fernanda Ganatte” ele entendeu o que estava com duvidas.
- O azeite é seu?
- Não exatamente sr. Gigio, digamos que tenho uma boa parte nele. Então posse te garantir mesmo um bom preço, sua comida é maravilhosa, mas esse azeite daqui estraga uma obra de arte.
- Eu agradeço menina. Mesmo.
- Que nada, podes ficar em paz. Carol, vou pedindo o carro, aí já vamos ok?!
- Tudo bem Fer, já saio. - Eu me despedi do italiano, e fui andando em direção a saída, mas ainda sim pude ouvir a conversa dele, o sr. Giovanni soltou: finalmente doutora, aquela outra moça so te dava trabalho. Essa aqui parace bem mais calma, e parece que gosta bastante de você - eu automaticamente sorri, fico muito feliz em saber que faço bem pra ela, que sou uma boa pessoa.
Pedi o carro e aguardei fora da cantina, logo em seguida a Carol já apareceu e me abraçou. Ela é levemente mais alta que eu, levemente não, uns 10 ou 15 cm a mais, isso permitiu que ela me envolvesse em seus braços, eu ficando de costas pra ela.
Assim que entramos no carro, a primeira coisa foi a agitação dela para ligar o ar condicionado: - Vou ligar isso aqui, tá um calor absurdo. Gosto de calor, mas nesse momento eu queria o frio de Urros. - Eu não aguentei e dei risada, ela não está mais exatamente adaptada ao calor do Brasil, eu menos ainda. Se eu disser que o caminho da cantina ao hotel, vulgo casa no momento, foi calmo, eu estarei mentindo. O caminho foi delirante. A Carol sempre fica com a mão na minha perna enquanto eu dirijo, mas dessa vez ela usou esse caminho todo para me provocar. A mão que fica na coxa as vezes descia e explorava a raiz da coxa, outros momentos subia até meus seios. A cada farol que o carro parava ela beijava meu pescoço, mas não um beijinho de leve, era aqueles de deixar qualquer pessoa louca. Ela estava mais que claramente querendo sex*, do bom e do gostoso.
Aos poucos a Carol foi se soltando mais ainda e não conseguiu ficar mais parada no banco dela, se aproximou de mim mais ainda, beijando meu pescoço, enquanto com uma mão se segurava no banco e com outra tentava abrir a minha calça. Eu precisava prestar atenção no trânsito, afinal estou dirigindo e quero chegar rápido no hotel, mais rápido que nunca.
- Amor, estou dirigindo, pega leve - mas não fui forte o suficiente para tirar a mão dela da minha roupa.
- Não pedi pra parar de dirigir, só continuar o que está fazendo, aqui eu faço sozinha. - ela abaixou o tronco e começou a beijar minha barriga, sério, mesmo eu concentrada em dirigir. A mão entrou por dentro da minha calça, fria pela ar condicionado. Quando senti esse contraste e ela procurando meu clitoris, não sei como consegui raciocinar, encontrei uma vaga na rua, não sei se zona azul, se poderia ou não estacionar, mas encostei o carro. Puxei ela pra mim, sem tirar a mão de nenhum lugar. Afastei seu cabelo, expondo o pescoço e a orelha, comecei a beijar forte, com mordidas. A cada momento eu falava, no pé do ouvido dela o quanto é gostosa e safada. Pode mais que eu saiba o quanto ela estava excitada e louca por uma tocada gostosa, ela se manteve concentrada, quase que imune aos meus beijos, frases e gemidos, me fazendo goz*r ali mesmo, no banco do motorista do carro dela. Assim que terminou o serviço, me deixando mole e relaxada, tirou as mãos do sex* e lambeu cada um dos dedos, olhando nos meus olhos, fundo e depois me beijou. Pude sentir o meu gosto, mas a cada ch*pada meu sex* contraia mais uma vez e mostrava o quanto eu estava excitada e louca para domar essa fera que eu encontrei.
Apenas dirigi, sem olhar para os lados, rápido e imprudente até o hotel. Dirigi de modo tão intenso que eu não sei nem como cheguei. Entreguei o carro ao manobrista, de um jeito agitado, que ele deve ter percebido. A Caroline ria da minha cara, ria do modo como eu estava, ela tentava andar devagar, calmamente, arrumando os cabelos de um jeito fodidamente provocativo. Eu não estava aguentando mais, eu só quero chegar no meu quarto e ter uma noite de sex* maravilhoso com ela, de todas as formas possíveis. Ela se manteve calma, andando de um jejito que parecia uma dança, mesmo eu segurando em suas mãos e quase que puxando ela. Eu ansiosa e agitada como sou, não aguentei. Educadamente e sorrindo falei no ouvido dela:
- Se não andar rápido, vai ficar sozinha, e não vou deixar você nem encostar em mim essa noite. A escolha é sua. - como num passe de mágica, seus olhos castanhos ficaram negros que não dava para ver a pupila. De algum modo o motor dessa mulher ligou que quando percebi eu estava no elevador com ela beijando meu pescoço mais uma vez e falando palavra por palavra, o que pretende fazer comigo essa noite. Eu gelei? Jamais, mas posso dizer que pisquei, mas o se pisquei.
Fim do capítulo
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