Capítulo 10
Dormir pouco estava se tornando um hábito na vida da médica, depois de encontrar a ex namorada no ato da traição, ligaram para ela do hospital no meio da madrugada para realizar uma cirurgia de emergência. Como estava de folga resolveu aproveitar o dia para tentar colocar a vida em ordem, e o primeiro passo a dar era conversar com sua professora.
– Bom dia, gostaria de falar com Melissa, por favor.
– A professora está em aula, e detesta ser interrompida.
– Entendo! Você poderia avisar a ela que Valentina ligou, liguei algumas vezes para o celular dela e foi direto para a caixa postal.
– Informarei a ela assim que possível.
– Obrigada!
– Tenha um bom dia, até mais.
Valentina encerrou a chamada e deitou no sofá, a intenção era esperar um retorno de Mel ainda pela manhã, mas o cansaço lhe traiu e logo pegou no sono ali mesmo.
Ao contrário de Tina, Melissa tinha dormido muito bem, por muito pouco não se atrasou para sair de casa. Como sempre fazia, ligou para o pai assim que chegou ao trabalho. Em seguida arrumou a sala onde daria aula, e logo os alunos foram chegando, sua manhã passou de forma tranquila. E foi com surpresa que recebeu o recado de Tina quando saiu para almoçar, só naquele momento viu que seu celular estava descarregado, tinha marcado de almoçar com uma colega de trabalho e a moça já estava a sua espera, deixou o celular carregando e quando retornasse falaria com a médica.
Valentina ainda estava sonolenta ao atender o celular que tocava insistentemente: – Alô!
– Desculpa, não queria atrapalhar seu sono, – sorriu – mas deixou recado para que eu retornasse.
Passou a mão no rosto e tentou ficar confortável entre os travesseiros: – Eu que peço desculpas, sai no meio da madrugada, e antes disso meu sono resolveu me dar um adeus.
– Atendendo chamadas no meio da noite, – sorriu safada – que interessante. Então é uma mulher da noite! Qualquer dia desses vou querer uma companhia.
– Se for para sair no meio da noite para dormir contigo, sairei sem problemas – respondeu a provocação.
Melissa ficou sem graça, afinal, ainda achava que a médica era sua cunhada, mudou o foco da conversa, antes que chegassem a um caminho sem volta: – O que queria comigo Valentina?
Tina entendeu que tinha pegado pesado na resposta ao ouvir seu nome ser pronunciado com tanta seriedade pela outra. Resolveu seguir a deixa dela, e mudou o assunto.
– Preciso conversar com você, mas precisa ser pessoalmente. De preferência ainda hoje, é um assunto urgente.
– Está me assustando!
– Não precisa ficar assim, que horas você sai daí hoje? Posso ir te buscar?
– Na verdade, já estou saindo, meus alunos das turmas de agora a tarde e da noite avisaram desde a semana passada que não viriam hoje, já que amanhã é feriado. Estou indo descansar.
A médica teve uma ideia meio maluca, e tinha tudo para receber um não da professora, mas resolveu arriscar. E perguntou sorrindo: – Já que você está folgando, que tal me acompanhar até o litoral?
– Até que não seria uma má ideia. Estou precisando mesmo tomar um sol.
– Ótimo, chego em sua casa em uma hora, tchau. – e encerrou a chamada.
– Valentina, Valentina. – olhou para a tela do celular – Droga, que mulher maluca – ligou algumas vezes para Tina e todas as vezes chamou até ir para a caixa postal.
Seguiu seu caminho para casa, e depois que descansasse um pouco iria até a casa da médica. Estava zapeando na TV, quando ouviu uma buzina insistente em sua porta. Abriu o portão e encontrou Valentina sorrindo encostada no carro.
– Vamos – abriu a porta do lado do carona.
– Para onde?
– Você tem amnesia constantemente? Talvez deva adiantar aqueles exames que me falou.
– Para de graça, – deu um tapinha no braço da médica que sorria alegremente – pra onde você quer ir?
– Eu quero ir não! Nós vamos para a praia, esqueceu?
– Você tá doida, achei que estivesse brincando, inclusive te liguei várias vezes para falar que não ia.
– Não sabia que você era uma mulher de duas palavras, – fechou a porta do carro – que decepção. – sorriu. – Ainda bem que estou com tempo para esperar. Fique a vontade para arrumar suas coisas, aguardarei aqui mesmo.
– Qual foi a parte de que não vou, que você não entendeu?
– Não se recusa o convite de uma aluna querida como eu... – olhou por cima das lentes dos óculos escuros e piscou para Mel.
– Quanta modéstia, não quero problemas. Já basta os que tenho.
– Problemas? – se fez de desentendida. – Não quero te apressar, mas quanto mais cedo pegarmos a estrada, você poderá desfrutar do sol do litoral.
– Você é muito teimosa. – balançou a cabeça e pensou consigo que mal há em passar um feriado rápido na praia com a cunhada, voltou os olhos para sua visita e continuou: – Eu vou, mas será por sua conta em risco, me dá alguns minutos e estarei pronta.
– Espero o tempo que for por você – sorriu maliciosa.
– Com licença.
Enquanto arrumava sua mochila pensava no quão irritada sua irmã ficaria ao saber que ela estava viajando com sua namorada. Não deveria ir, mas estava muito tentada a passar um tempo a sós com a médica, só precisava redobrar o cuidado, afinal, na noite anterior elas se beijaram e embora não tenha dito nada, adorou o beijo.
Algumas horas depois Valentina estacionou o carro em uma casa que ficava em frente ao calçadão principal da praia, arrancando um gracejo de Melissa:
– Invasão a domicilio dá cadeia, cuidado.
– Não precisa se preocupar, meus pais são advogados. E nós temos curso superior, ficaremos em celas especiais, – disse sorrindo enquanto tirava algumas sacolas do porta-malas – quer dizer, você tem curso superior, não é?! Não vá me dizer que você é uma fraude, não é possível.
– Tá de brincadeira, só pode! – respondeu impaciente.
– Fica tranquila, não vou contar sua fraude a ninguém, seu segredo morrerá comigo.
– Afff!
Vendo que a brincadeira estava desagradando sua convidada, sorriu se desculpando: – Não queria te irritar, desculpa.
– Você anda muito diferente nesses últimos dias.
– São seus olhos me enxergando de outro ângulo.
Valentina terminou o que estava fazendo e guiou Melissa até seu quarto, onde a deixou mexendo na sacola. Já estava distraída na varanda respondendo algumas mensagens, quando se assustou ao ouvir:
– O convite foi para ir a praia, ou ficar em uma casa de frente para a praia?
– Desse jeito você vai acabar me matando, – levou a mão ao coração – que susto!
– Não foi intencional, – gargalhou – mas se levou um susto, é porque estava aprontando.
– Me senti uma criança agora.
– Sabe, – sentou ao lado da médica com um sorriso nos lábios – você deve mesmo ter sido uma criança levada.
– De onde tirou isso? – perguntou com um certo ar de irritação – Fique sabendo que fui uma criança muito obediente e quieta.
– Tudo bem, não está mais aqui quem brincou. Se soubesse que você ia se irritar assim não tinha falado nada – disse séria e foi levantando.
– Desculpa, – segurou gentilmente o braço da professora – não quis ser rude.
– Passou longe. Precisa rever isso, Dra.
– Vai ficar me gastando o tempo inteiro?!
Piscou para Tina: – Você se gasta sozinha, parece uma velha ranzinza, não achei que fosse assim diariamente.
– Partimos para as ofensas, agora! Nossa, estou bem servida e mal paga por aqui.
Mel gargalhou, levando Tina a fazer o mesmo. Se provocaram por mais um tempo, até a professora perguntar animada:
– Me diz ai, porque não trouxe seus pais, ao invés de mim?
– Se arrependeu de ter aceitado o convite?
– Ah, nem vem. Responde a minha pergunta primeiro.
– Então, os meus pais viajaram para São Paulo, foram ver o caçulinha da família, ele passou mal no final de semana, e minha mãe foi lá esticar as orelhas dele. Ouvi dizer que passou uns dias sem se alimentar direito, por conta das provas. Ou seja, eu não queria estar no lugar dele.
– Então você tem um irmão também! – disse surpresa, fazendo a outra sorrir.
– Vai dizer que achava que eu era filha de chocadeira? – desatou a rir deixando a professora sem graça.
– Não disse isso, é que sei lá, te conheço a um tempo e nem sabia que seus pais moravam na mesma cidade que nós, muito menos que tinha irmão. E você vai casar com a minha irmã em breve, – passou a mão no rosto inquieta – que loucura!
– Relaxa, temos muito tempo para conversar sobre tudo. De antemão, meus pais moram na mesma cidade que nós e são advogados, tenho um irmão caçula que está cursando Direito também, e eu e sua irmã terminamos.
– Oi? – perguntou assustada – Que história é essa de que terminou com a Moni? Quando? Onde? Como?
– Calma, moça. Respira antes de falar.
– Valentina, até ontem vocês estavam noivas. E hoje você me diz com toda essa calma que terminaram.
– Deveria desesperar-me?
– No mínimo deveria estar triste, abatida, sei lá.
– Me senti um frango agora – começou a rir sozinha.
– Valentina! – falou em tom de repreensão.
– É melhor sairmos, depois conversamos sobre isso. Sinto que o calor está te deixando ainda mais confusa.
Melissa bufou e levantou resmungando. Como assim ela e a irmã tinham terminado? Mas Tina saiu de sua casa na noite anterior comprometida, o que tinha acontecido afinal e porque Valentina não terminava logo aquela conversa? Será que era sobre isso que ela queria conversar? Droga, são muitas dúvidas e nenhuma certeza.
Fim do capítulo
Boa tarde, meninas. Desculpa a demora na atualização, tirei um tempo para ler algumas coisas e nem me dei conta que tinha tantos dias sem passar por aqui.
Voltarei em breve com mais notícias de Mel e Tina.
Obrigada pela companhia sempre, bjs.
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: