O frenesi inicial da recuperação inesperada de Carolina havia passado, Izabel ainda estava se recuperando do susto que levou ao ver a amiga sem pulso e sem reagir aos procedimentos que havia feito para salvar sua vida, Carlos chorava emocionado mas mais contido, tinha um sorriso enorme nos lábios e sua mente estava processando ainda os acontecimentos naquele cubículo gelado. Ângela ainda tentava se situar, tinha se declarado para a médica na frente de todos que estavam naquela pequena força-tarefa na tentativa de trazer a cardiologista de volta à vida, não sabia o que os outros iriam pensar, mas naquele momento estava mais preocupada em ver sua amada com os olhos abertos e respirando sem aparelhos novamente.

            Aline que a essa altura já tinha deixado Ângela para ajudar Carolina, estava retirando o tubo de sua garganta para que a chefe de residência pudesse ficar livre para tentar falar alguma coisa, era quem estava mais calma ali naquele momento e tomou para si a responsabilidade de verificar a paciente que acabara de acordar de um profundo coma depois de várias cirurgias delicadas.

            Izabel foi até Carlos e o abraçou, os dois se deixaram levar pela emoção, tiveram o amargo gosto de pensar que tinham perdido Carolina e aquele medo, o pavor estava se esvaindo em um turbilhão de emoções, lágrimas ainda escorriam pelos seus rostos, os corações estavam descompassados por todo o esforço que foi desferido naquela pequena sala, que agora parecia mais leve, o ar parecia ter retornado aos pulmões de todos que ali estavam.

            Carolina que acabara de voltar de uma incrível viagem ao centro do seu próprio íntimo, tentava se situar, o tubo incômodo que estava em sua garganta foi retirado, sentia a boca seca, precisando receber um pouco de água, como se lesse seu pensamento, Aline colocou um algodão encharcado em sua boca para aliviar a sensação de ressecamento deixada pela retirada do tubo, Carolina agradeceu mentalmente mas ainda não fez movimentação para falar nada, tentava se acostumar com a luz intensa que estava atrapalhando sua visão. Tantas lembranças vinham em sua mente, sua vida foi recontada, suas memórias foram trazidas como se fossem sonhos que ela reviveu uma a uma, tantos sentimentos confusos e embaralhados, sentia que havia recebido a visita da morte, mas por algum motivo ela estava de volta.

A visão ainda estava um pouco turva, Aline chamou a atenção de Carolina para que ela pudesse fazer um pequeno exame para ver as condições físicas da paciente, para liberar o acesso de Carlos.

 

-- Doutora Carolina, eu sei que você deve estar confusa, mas eu preciso lhe examinar rapidamente. Pode olhar pra mim, por favor?

 

            Carolina focou no rosto de Aline, mulata, alta, corpo de passista de escola de samba do Rio de Janeiro, os cabelos encaracolados estavam presos em um coque meio solto, ela reconheceu as feições de uma de suas residentes e sentiu seus sentidos voltarem lentamente daquele sono que a aprisionou por tantos dias. Acenou positivamente com a cabeça e permitiu que a médica iniciasse a avaliação.

            Aline pegou uma pequena lanterna e posicionou na direção de seus olhos, aquela luz a incomodou novamente, mas se manteve firme, um depois o outro, suas pupilas reagiram àquele flash de luz, o que fez Aline sorrir discretamente.

 

-- Acompanhe meu dedo por favor.

 

            Aline movia o dedo indicador levantado de um lado para o outro e Carolina a acompanhou como foi solicitado, segurou a mão direita da médica e pediu que ela a apertasse com força, foi atendida do mesmo jeito, assim como na esquerda. Pediu que ela tentasse mover as pernas e viram que as duas se moveram, aparentemente Carolina por um grande milagre estava de volta sem apresentar nenhuma sequela do acidente ou das cirurgias. A residente afastou-se do leito de sua chefe e aproximou-se de Izabel que ainda estava emocionada.

 

-- Ela está ótima pela avaliação neurológia inicial, vou deixar vocês conversarem um pouco e vou pedir para leva-la para fazer alguns exames para confirmar que está tudo bem.

 

-- Obrigada Aline, não sei o que eu faria sem você aqui. – Tocou seu ombro --

 

            Izabel sorriu sinceramente e tocou o braço da residente, caminhou com Carlos até a cama onde Carolina ainda estava deitada e ambos seguraram suas mãos, um de cada lado. Ângela ainda estava sem ação assistindo tudo aquilo, como se tivesse saído do próprio corpo e vivenciando um estado letárgico que impeliu Aline a sair em socorro da amiga.

           

-- Ângela, vamos até a sala de exames, eles precisam conversar, depois nós voltamos.

 

            Carolina ouviu o nome da residente e com certa dificuldade por conta das dores que começou a sentir e das faixas que estavam em sua cabeça, procurou o olhar de Ângela em meio aquele turbilhão de lembranças, veio em sua mente a frase que ela ouviu enquanto estava em quase morte, praticamente berrada pela residente, no mesmo momento que aquele clarão lhe atingiu e lhe trouxe de volta para o mundo dos vivos.  Ao encontrar aqueles olhos assustados sobre si, sentiu um arrepio percorrer seu corpo inteiro, algo que não sentia há muito tempo. Ângela sentiu o mesmo quando encontrou com os olhos castanhos que tanto esperou para ver abertos novamente, lágrimas ainda escorriam mais demoradamente em seu rosto, não queria deixar Carolina, mas praticamente foi arrastada por Aline que sabia o quanto sua amiga precisava conversar com Carolina, mas aquele não era o momento, não ainda.

 

-- Vem comigo, amiga.

 

            Aline chamou novamente, mas as pernas de Ângela pareciam não obedecer, seu corpo inteiro tremia, sua razão estava totalmente abalada naquele momento, ainda tentava assimilar tudo o que aconteceu, ter a mulher que ama novamente ali em sua frente era tudo o que ela queria, mas agora não sabia o que fazer com aquela situação. Depois de protestar muito internamente com seus próprios impulsos e dúvidas, atendeu ao pedido da amiga e saiu caminhando lentamente sem dizer nenhuma outra palavra, assistindo a dúvida e a dor no olhar triste e desorientado de Carolina, sem saber exatamente o que pensar sobre isso, cortou aquele contato que parecia transcender qualquer ambiente físico naquele momento.

            Enfim, Carolina perdeu aquela atmosfera que ela entrou quando encontrou os olhos de Ângela, não entendeu porque a moça estava deixando o quarto sem antes falar com ela, estava confusa ainda, e sentia o calor das mãos de Izabel e Carlos a segurando, mas estava hipnotizada por aquela mulher, sentindo algo que nunca havia sentido antes, sem ainda conseguir discernir tudo que estava acontecendo, voltou seu olhar para o irmão depois de assistir tristemente Ângela sair do quarto.

 

-- Carol, como você está se sentindo? – Izabel perguntou –

 

Carolina pensou em abrir a boca para falar, ainda estava assimilando todas aquelas sensações, as dores começaram a lhe atingir e novamente sentiu a garganta muito seca.

 

-- Parece que um caminhão passou por cima de mim.  – Disse com a voz muito rouca – Eu preciso de água.

 

-- Eu vou pegar.

 

            Izabel saiu correndo para pegar água para a amiga e Carlos olhava para ela aliviado, ainda tinha os olhos marejados, seu coração estava absurdamente acelerado pela emoção que acabou de vivenciar.

 

-- Carol, por favor, não faz mais isso comigo, eu fiquei desesperado.

 

-- O que houve, Carlos? O que aconteceu comigo? – Piscava lentamente --

 

-- Você não lembra de nada? – Limpou o rosto com uma das mãos –

 

-- Vagamente. Está tudo muito confuso.

 

            Com uma pequena dificuldade, Carolina levantou um dos braços e pressionou os olhos tentando organizar uma fração das informações que chegavam em sua memória sem avisos ou preparação.

 

-- Você sofreu um acidente de carro no dia da homenagem que fizeram a mamãe lá no colégio.

 

            Alguns flashes de memória pareciam ir se encaixando como um grande quebra-cabeças em sua mente, os faróis altos na sua direção, ela não conseguiu mais enxergar nada em sua frente, e lembrou do barulho do choque entre os carros. Lembrou da sensação de estar perdida e chorando.

 

-- Isso tem quanto tempo? – Olhou para ele --

 

-- Quase duas semanas.

 

            Izabel trouxe uma garrafa com água mineral e um copo para Carolina se hidratar, eles ajudaram a médica a se sentar um pouco na cama e ela bebeu como se fosse o melhor dos sabores que já experimentou na vida. Bebeu devagar, pois sabia que poderia se sentir enjoada, pois seu estômago não via nenhum tipo de alimento ou mesmo água por quase duas semanas. Ali caiu a ficha que estava em coma por muito tempo, duas semanas eram um tempo muito grande para um simples acidente, percebeu a gravidade de sua condição.

 

-- Izabel, o que eu tenho? O que aconteceu comigo? – Estava sonolenta --

 

-- Então, amiga. – Olhou para Carlos – Você deu entrada no hospital geral com um pulmão perfurado, pois quebrou três costelas e com um trauma extenso no crânio.

 

            Carolina observava a amiga narrando a extensão de seus ferimentos e ficou pensando em como conseguiu sobreviver ao acidente.

 

-- Também quebrou o tornozelo e a clavícula, mas o pior que enfrentamos foi uma hemorragia que você teve depois que já estava aqui e teve sua primeira parada cardíaca.  Eu operei e consegui estancar a hemorragia. Raquel fez uma cirurgia que levou quase nove horas utilizando a técnica dela para retirar a pressão que estava em seu cérebro e hoje você teve uma segunda parada cardíaca... – Hesitou em continuar –

 

            Izabel ficou emocionada e algumas lágrimas teimaram em cair, Carolina observou um pouco assustada a reação da amiga, percebeu que algo tinha saído de controle. Carlos também deixou algumas lágrimas caírem novamente, lembrar que sua irmã esteve morta por alguns longos e torturantes minutos lhe fez o estômago revirar.

 

-- Pode falar Bel, eu estou bem agora. – Segurou a mão da amiga –

 

Izabel respirou fundo e criou coragem para continuar e dizer o que estava engasgado em sua garganta.

 

-- Você morreu por alguns minutos, Carol, nós pensamos que tínhamos perdido você. – Apertou a mão da amiga –

 

            Carolina mergulhou naquelas lembranças que continuavam invadindo sua mente sem pedir passagem, lembrou de ouvir as vozes de Izabel dando comandos, Carlos chorando e do encontro com sua mãe. Ali teve certeza que havia morrido.

 

-- Mas Graças a Deus você voltou, e está aqui conosco, eu estava apavorado. – Carlos voltou a falar –

 

-- Eu estou aqui, irmão, eu não vou a lugar algum. – Sorriu cansada --

 

            As imagens desfocadas e confusas ainda norteavam a cabeça bagunçada de Carolina, mas ela estava fazendo um esforço absurdo para manter o foco no que Carlos dizia.

 

-- Minha cabeça está pesada. – Fechou os olhos --

 

-- Você passou por muita coisa Carol, precisa descansar e de um tempo para se recuperar. Vamos fazer os exames e ver se está tudo bem com você para te mandar para um quarto e tirar você daqui da UTI. – Izabel sorriu --

 

Enquanto Carol conversava com o irmão e a amiga, Raquel chegou correndo na UTI com os olhos tristes e inchados de chorar, entregue a uma tristeza que nem ela mesmo conseguia mensurar e quase teve um mini infarto ao ver Carolina acordada, depois do desespero inicial ao ouvir que sua melhor amiga estava morta, continuou seu caminho, pois precisava ver com os próprios olhos, parou na porta do pequeno quarto e colocou a mão no peito, pelos Deuses, o que encontrou foi outra situação muito mais feliz. Em princípio não entendeu muito bem o que estava acontecendo, Carolina não estava morta, estava acordada e conversando, sentiu as pernas bambas. Não se aguentou de tanta felicidade e soltou um enorme palavrão, Raquel sendo Raquel em sua mais pura essência.

 

-- CARALHO! – Todos olharam para a porta -- Se isso foi um teste pra cardíaco novo que você está pesquisando, acho que eu passei com nota cem! Só lembra de me avisar que eu serei sua cobaia antes tá?

 

-- Raquel. – Carolina riu – Ai, doida, eu não posso rir que me dói tudo.

 

-- Desculpa amiga. É que no caminho me disseram que você... – Hesitou também –

 

-- Que eu morri. – Revirou os olhos –

 

-- Sim, que você não tinha resistido.

 

            Raquel se aproximou da amiga lentamente, como se quisesse ter certeza que não estava tendo nenhuma alucinação e a abraçou, a amizade delas era muito forte e a emoção tomou conta de todos novamente. Aline chegou para avisar que a sala de exames estava pronta e tirou todos daquele transe.

 

-- Doutora Izabel, a sala está pronta, estamos só esperando sua autorização para levar a Doutora Carolina para fazer os exames.

 

-- Estamos indo Aline, obrigada.

 

-- Eu posso esperar Carol voltar? – Carlos pediu ansioso –

 

-- Carlos, Carol ainda está muito fraca, depois dos exames, se estiver tudo bem, vamos transferi-la para um quarto para ela se alimentar e depois descansar um pouco, eu sei que você está feliz e ansioso, mas é melhor que você vá pra casa descansar e volte amanhã com mais calma.

 

-- Izabel tem razão irmão, eu já estou sentindo o peso dos remédios e do meu estado, eu vou dormir muito e acredito que amanhã estarei melhor, no quarto não tem horário de visita, você pode vir mais cedo. – Segurou novamente sua mão --

 

-- Tudo bem, eu vou fazer isso então. Só de você estar falando comigo de novo eu já estou muito feliz.  – Abaixou e beijou o rosto da irmã –

 

-- Eu vou acompanhar os exames, tudo bem, Bel? – Limpava o rosto com as mãos --

 

-- Claro Raquel, ia mesmo te falar isso, vamos, Carol?

 

-- Vamos, Carlos, eu te vejo amanhã. Eu te amo.

 

-- Eu também te amo, Carol. – Beijou a irmã novamente –

 

Carlos deixou o hospital e estava com os sentimentos a flor da pele, ficou tão atordoado com tudo o que aconteceu que esqueceu completamente de ligar para Roberta, sentiu o celular vibrar no bolso da bermuda e atendeu antes de entrar no carro.

 

-- Alo.

 

-- Carlos, e aí, como foi a visita a Carol? Ela está bem?

 

-- Roberta, eu estou saindo do hospital agora, ela está bem, onde você está?

 

-- Eu estou saindo do trabalho agora, por que você ainda está aí? Aconteceu alguma coisa?

 

-- Não, está tudo bem. Faz o seguinte então, vai direto lá pro apartamento de Carol, vou te esperar lá.

 

-- Tudo bem.

 

            Carlos achou por bem contar a Roberta o que aconteceu com Carolina pessoalmente e a esperou em casa para dar a notícia. Preparou um jantar em comemoração e quando Roberta chegou e tocou a campainha viu um Carlos muito mais leve e feliz abrindo a porta para ela. Ela sorriu na mesma intensidade para o jovem que a olhava com certa devoção.

 

-- Oi Carlos. O que houve? Você está diferente.

 

            O rapaz a abraçou e beijou sua boca com demasiado desejo, o que a fez retribuir com a mesma intensidade, desde a conversa no dia anterior, tudo parecia ter entrado no seu eixo normal e Roberta estava leve e feliz. Carlos se afastou daquele beijo e a olhou com um sorriso iluminado no rosto, segurou suas mãos e contou sobre a irmã.

 

-- Roberta, Carol acordou. – Sorria aberto –

 

            Aquela notícia a pegou como uma surpresa maravilhosa, sua amiga estava de volta, seus olhos se encheram de lágrimas e seu coração se encheu de alegria, enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto, Roberta olhou para cima como se estivesse agradecendo pelo milagre que ela tanto esperava.

 

-- Obrigada meu Deus! – Fechou os olhos –

 

            Carlos a abraçou e a embalou naquele choro doído de medo e agora de esperança. Tudo o que elas viveram juntas e a amizade que ela nutria por Carolina era o seu maior tesouro, tudo que ela esperava se concretizou, estava novamente com seu grande amor e agora sua amiga estava de volta.

 

-- E como ela está? – Olhou para Carlos –

 

            Carlos trouxe a namorada até o sofá e contou tudo o que aconteceu naquela tarde no hospital, Roberta sentiu o medo na voz de Carlos quando ele contou que Carolina havia morrido e quando todos haviam se rendido ao inevitável, como ela milagrosamente reviveu.  Roberta escutava tudo sem saber o que pensar, Carolina morreu, mas agora estava de volta e sem nenhuma sequela aparentemente, um milagre, a felicidade não cabia em si.

            Jantaram trocando juras de amor e combinando de irem juntos ver Carolina no hospital no dia seguinte.

 

**********************

 

Enquanto isso no hospital, Carolina passava por inúmeros exames de imagem e de sangue para saber se ela estava bem, se não havia mais nenhum problema com que se preocupar, Raquel e Izabel conduziam os procedimentos enquanto Aline e Ângela conversavam na sala de repouso.

 

-- E agora Angel? O que você vai fazer? – Estava deitada em uma das camas –

 

Ângela estava sentada em outra cama de frente para a amiga com a cabeça apoiada nas mãos em uma desesperada tentativa de se acalmar, mas que estava sendo em vão. Olhou para a amiga e ainda com os olhos vermelhos do choro que insistia em brotar balançou a cabeça em negação.

 

-- Eu não sei, juro que eu não sei.

 

            Ângela levantou o tronco e se jogou sobre a cama também, olhou para o teto e tentava organizar alguma ideia dentro de sua cabeça.

 

-- Eu não sei como ela está, se ela sente algo por mim, eu estou tão perdida, ela é minha chefe, ela é uma mulher! – Disse constatando uma verdade absoluta – Por que isso aconteceu comigo?

 

            O desespero voltou a encontrar o coração da residente, Aline se compadeceu da amiga e saiu da cama onde estava deitada e foi até a médica, sentou ao seu lado e afagou seu braço. Tentava buscar palavras para tentar acalmar a amiga.

 

-- Angel, escuta, você está confusa, essas últimas semanas foram muito intensas, por que você não vai pra casa? Descansa um pouco, tenta se acalmar e depois você pensa nisso tudo.

 

            Ângela abriu os olhos e encarou a amiga, ela tentava aceitar aquela sugestão, mas tudo o que ela mais queria era estar com Carolina, saber sobre ela, se estava realmente tudo bem, se ela estava realmente fora de perigo.

 

-- Amiga, se o que você está sentindo é realmente amor, como você disse, tudo vai se resolver, você só precisa se acalmar e começar a pensar direito, se você a ama mesmo, conquista a doutora Carolina, vai atrás do seu amor.

 

-- Você não acha isso estranho?

 

-- Eu não, eu sei o quanto você é competente, não vou me incomodar de você namorar nossa chefe. Pode ser que você encontre alguma resistência com os outros residentes, mas eu não ligo.

 

-- Não, não é só isso, eu me interessar por uma mulher.  – Olhou assustada –

 

-- Ah Ângela, isso não é nenhum bicho de sete cabeças, amor não tem gênero, se você ama uma mulher ou um homem, o que importa é o respeito que você terá por essa pessoa e se você é feliz assim. O resto é resto. – Deu de ombros --

 

Ângela olhou para a amiga e sorriu, estava assustada e recebeu um grande incentivo para começar a entender o que estava sentindo, começar a aceitar que aquele amor era mesmo verdadeiro e poderia ser vivido se conseguisse conquistar sua chefe.

 

-- Você tem razão, acho que eu vou para casa, amanhã eu tento conversar com ela.

 

-- Vai dizer como você se sente?

 

-- Acho que é o melhor a se fazer, não posso ficar jogando sujo, escondendo meus sentimentos, mesmo que seja pra ela dizer que não quer nada comigo, assim eu tento esquecer disso tudo de uma vez.

 

-- A verdade é sempre o melhor caminho. Vamos? Meu plantão também já acabou.

 

            As duas amigas deixaram o hospital com inúmeras interrogações, sem saber o que esperar dos próximos acontecimentos, sem saber o que esperar da residência, do futuro e do amor. Antes de deixar o hospital, Ângela passou pela UTI que abrigou Carolina pelas últimas duas semanas e a encontrou vazia, imaginou que ela ainda estava fazendo os exames e depois de um longo suspiro de alívio e também de confusão, deixou o hospital.

            Alheia a todo esse turbilhão que sua residente vivia, Carolina dormia pesado por conta dos remédios que estava tomando para controlar as dores físicas, depois de constatar nos exames que a cardiologista estava fora de perigo, Raquel e Izabel a instalaram em um quarto e a deixaram para descansar.

            As duas sabiam que para a recuperação total da amiga, ainda levariam alguns meses, mas não demoraria muito para que ela voltasse ao lugar que ela mais amava, os corredores daquele hospital. O que Izabel considerou um milagre, foi o fato de Carolina ter acordado de um coma severo, depois de um acidente grave, ter passado por três cirurgias complicadas e ter acordado sem nenhuma sequela aparente, Raquel também ficou impressionada com os exames da amiga, estava tudo limpo, livre de nenhum coágulo, nenhum inchaço, nada que pudesse atrapalhar a vida de Carolina.

            As duas conversavam no consultório de Izabel depois que a deixaram no quarto para descansar e ambas sentiram essa recuperação como algo divino, e cada uma agradeceu mentalmente a recuperação da amiga.

Fim do capítulo