CapÃtulo 64
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 64
Yasmin entrou porta a dentro chamando por Daniela, mas ela não respondeu. Foi até o quarto, olhou no banheiro e nada. Foi até a cozinha e encontrou Fátima em pé perto da mesa com uma panela na mão.
-- A Dani? -- perguntou com a respiração ofegante.
-- A Daniela, a Bianca e a babá levaram os bebês para passearem no parque.
Yasmin fechou os punhos com força.
-- Droga! -- disse para si mesma em voz alta.
-- Algum problema? -- perguntou Fátima, preocupada.
Yasmin negou balançando a cabeça, pois não queria se deixar levar por pensamentos paranoicos. Com um suspiro, voltou para a sala pensativa. O jeito era ir para a empresa e deixar a conversa para mais tarde.
A vista que tinham de onde estavam era incrível! A cidade ao longe, e toda aquela vegetação ao redor era bonito demais. De fato, do parque tinha-se uma vista muito especial.
A serenidade que o parque proporcionava tomou conta de Daniela. Ela olhou para Bianca e sorriu.
-- Ainda bem que temos esse pedacinho de paraíso no meio dessa floresta de pedra.
-- Eu gosto muito daqui, seria melhor se tivéssemos umas cervejinhas e uns tira-gosto.
-- Você só pensa em comer, beber e dormir?
-- Penso em mulher, também -- Bianca sentou no banco, com as pernas estendidas e cruzadas à altura dos tornozelos -- Falando em mulher, o que você acha da babá?
-- Ela tem cabelo duro e ainda joga pra trás. Fica parecendo o Sonic.
-- É né -- Bianca meneou a cabeça, pensativa, olhando para a babá.
-- E a ruiva que você ficou no réveillon? Pensei que estivesse apaixonada por ela.
-- A Elis? Você acha que eu venci uma corrida de espermatozoides pra ficar correndo atrás dela? Eu hem! -- Bianca deu um tapa no joelho e se levantou -- Não vou me envolver com mais ninguém esse ano. Anota aí, mas anota de lápis tá? Vai que, né.
-- Você é tão chata, Bianca! -- Daniela colocou as mãos nos bolsos da calça e olhou séria para ela -- Vou te contar uma piada:
Um certo dia, um homem e uma mulher entram no elevador. Ela aperta o número 2 e ele o número 5. Então ela diz:
-- Você não está aqui para doar sangue, não é?
Ele responde:
-- Não. Estou aqui para doar esperma.
Chegando no segundo andar, a mulher diz:
-- Eu recebo 100,00 por doação.
O homem responde:
-- Eu recebo 1.000,00.
Passado mais ou menos um mês, os dois voltam a se encontrar no elevador. A mulher aperta o número 5. O homem achou aquilo estranho e diz:
-- Olha, você não apertou o andar errado?
Ela respondeu negativamente mexendo a cabeça, sem poder falar...
Bianca fez uma careta.
-- Sua piada foi sem graça e nojenta! -- ela chutou as folhas secas que cobriam o solo do parque -- Se eu soubesse que ia ter que trabalhar, estudar e levantar cedo, tinha dado lugar a outro espermatozoide.
-- Se com essa preguiça você foi o primeiro espermatozoide, imagina como eram os outros.
Daniela sentou no banco e fez um gesto com a mão para que Bianca sentasse ao seu lado.
-- Tenho uma coisa para te dizer.
-- Diga-me pequena e fiel discípula -- Bianca obedeceu e sentou-se ao lado dela no banco.
-- Vou para Canoinhas. Está a fim de ir comigo? - disse de supetão.
No mesmo instante Bianca ficou séria. Ela não gostou de ouvir aquilo.
-- Você não pode simplesmente deixar a Yasmin em São Paulo e ir embora para Canoinhas.
-- Eu não disse que ia embora.
-- Não? Então vai fazer o que lá?
-- Quero reabrir o sítio da minha família, quero dar um lar para os cachorros que estavam sendo usados como cobaia, quero indenizar as famílias prejudicadas pelos Vargas -- ela hesitou um segundo ou dois, olhou vigorosamente para a amiga e depois completou: -- Também quero visitar a vovó e a tia Roberta. Elas são muito importantes para mim.
-- Ah, tá. Você vai fazer tudo isso em seis dias e no sétimo você volta pra descansar. Me poupe né, Dani.
-- Sua mentecapta! Eu vou, fico lá uns três dias, depois volto. Não consigo ficar muito tempo longe da Yasmin e dos meus filhos.
-- Sei não! Acho a sua ideia muito arriscada. Na minha humilde opinião, a Yasmin vai socar a sua cara.
-- A Yasmin é Diva, não desce nunca do salto. Nós vamos conversar e ela vai entender.
-- Espero que sim -- Bianca viu a babá virando a esquina empurrando o carrinho dos gêmeos -- Ela até que não é feia.
-- Não. Só tem a cara um pouco desorganizada.
-- Ela é gostosona, Dani. Olha que bunda.
-- Olhando bem de longe assim, até que ela tem uma boa distância -- Daniela fez um gesto de enfado -- Vamos deixar a moça em paz, afinal, mulher feia é igual mulher bonita, só que feia!
-- Então tá. Vamos falar sério. Como que é o povo de Canoinhas? São receptivos?
-- São humildes, mas muito simpáticos. Um dia dois moradores estavam na rua e avistaram um aglomerado de gente. Um perguntou para o outro:
-- Ô cumpadi como é que a gente vai ver o que aconteceu?
O outro respondeu:
-- Cumpadi, vem comigo que eu tive uma ideia.
E lá foram os dois gritando:
-- Sômo parente da vítima, sômo parente da vítima.
Chegando lá eles viram que era um jumento atropelado.
Na empresa, Yasmin estacionou o carro na vaga reservada a presidência e inclinou o retrovisor para ajeitar os cabelos. Saiu do automóvel e parou por alguns instantes para admirar o imponente edifício cor cinza que contrastava com o céu enfumaçado da região industrial de São Paulo.
Ao passar pela porta automática de vidro, sentiu o ar gelado do interior. A empresa no verão devia ser um dos melhores lugares no mundo. Deteve-se um instante no imenso saguão de entrada e então seguiu para os elevadores que davam acesso aos escritórios da diretoria. Passaria primeiro no escritório de Matias. Precisava conversar com ele sobre Daniela.
Ainda era cedo e poucos funcionários circulavam pelo local. Parou diante da porta do escritório, bateu e aguardou resposta. Ninguém se manifestou. Girou a maçaneta e viu que a porta estava destrancada.
A princípio, pensou que Matias não estava na sala. Então, viu pés com meias. O cunhado dormia tranquilamente no sofá. Ela contornou a mesa e parou bem próxima a ele.
-- BONITO HEIN! -- berrou em seu ouvido.
-- Aiiiiii... -- Matias pulou do sofá. Colocou uma mão sobre seu peito, sentindo seu coração bater forte -- Jesus Amado. Quem morreu?
-- Seu safado. É pra isso que a empresa te paga?
Ele bocejou e sentou-se. Olhou a hora e fez uma careta.
-- Chegou cedo.
-- Eu sempre chego cedo. A reunião com os alemães vai começar as dez e ainda tenho que acertar alguns termos do contrato.
-- Ah, claro. Esse contrato está deixando todos muito animados.
-- São bilhões e mais bilhões que estão em jogo -- disse Yasmin e, voltando-se para ele, sorridente, acrescentou: -- É o momento de jogar na cara desses diretores machistas que, nós mulheres, somos tão competentes quanto eles.
-- E as vezes até mais, minha deusa -- ele disse, pegando a mão dela e beijando-a -- Estou vendo uma ruguinha de preocupação bem no alto do seu nariz. O que foi? -- perguntou Matias, franzindo a testa, o tom de preocupação presente na voz.
-- A Dani comentou algo com você?
-- Sobre?
-- Percebi que ela está irritada comigo por algum motivo.
-- Jura? A Dani é sempre tão paciente -- ele se inclinou, calçou os sapatos e se levantou -- Em vez de ficar se torturando, porque não conversa com ela?
-- Pretendo conversar com ela hoje à noite. Só queria ir preparada.
-- Credo Yasmin, que exagero. Ela é sua esposa, não precisa se preparar para uma conversa como se fosse para um tribunal.
-- Você tem razão, Matito. Estou exagerando -- concordou Yasmin.
Os canais eram trocados com dedos impacientes. Os programas não conseguiam prender a atenção de Daniela, porque seus olhos se mantinham mais presos ao relógio de parede, do que propriamente concentrados na programação da TV.
Lá fora, a escuridão mergulhada no silêncio da cidade que dormia. Na cozinha, há muito tempo havia parado o barulho de louças e panelas. Até mesmo Danielzinho não mais chorava.
-- Quer uma xícara de café, Daniela? -- perguntou Fátima, colocando a bandeja sobre a mesa de centro.
-- Obrigada -- ela aceitou, sem desviar a atenção da televisão.
Daniela pegou a xícaras e dirigiu-se para a sacada. Fátima acompanhou-a com os olhos.
-- Cansada de esperar? -- A pergunta da empregada era carinhosa e simpática.
Suspirando fundo, Daniela concordou.
-- Sim, já estou cansada de esperar.
-- Por que não telefona perguntando o motivo da demora? Dona Yasmin sempre foi tão responsável!
-- Não há necessidade. Eu sei o motivo da demora. Yasmin está comemorando a sua primeira grande vitória. Ela merece, pois, batalhou muito para isso -- e dando outro rápido olhar para os ponteiros do relógio, disse, mais para si mesma do que para Fátima: -- Yasmin faz parte desse mundo, eu não.
-- Os gêmeos sentem a falta dela.
Daniela olhou tristemente para a sua xícara vazia, encolhendo os ombros ela murmurou:
-- Yasmin sente-se tranquila porque sabe que as crianças estão bem comigo.
Fátima pegou a cafeteira de vidro que estava na bandeja e ofereceu:
-- Aceita mais um pouco?
Daniela sorriu e levantou a xícara.
-- Vi que deixou uma mala de viagem pronta na sala. Vai visitar sua família em Canoinhas? -- Fátima encheu a xícara de Daniela e colocou a cafeteira na bandeja.
-- Sim, minha vó e minha tia Roberta -- Daniela segurou cuidadosamente a xícara quente -- Tenho vários assuntos a tratar, mas vou resolvê-los com calma não quero me demorar.
Daniela retornou para a sala com a xícara na mão. Tinham acabado de sentar-se quando ouviu o barulho da porta se abrindo.
-- Que surpresa! -- Yasmin sorriu -- Pensei que estivesse dormindo.
Daniela olhou para ela com ar de desaprovação.
-- Era o que deveria estar fazendo, mas preferi esperar.
-- Com licença. Vou dormir -- Fátima recolheu a bandeja e se retirou rapidamente.
O tom enérgico de Daniela fez o sorriso de Yasmin desaparecer. Ela pôs a bolsa de lado e sentou-se no sofá, um silêncio pesado encheu o ambiente, e, quando Yasmin se preparava para falar alguma coisa, Daniela se levantou.
-- Como foi a festa de comemoração? -- um ar irônico acentuou a curva sensual de seus lábios.
-- Não foi bem uma festa -- disse Yasmin, demonstrando empolgação -- Foi mais uma comemoração entre os diretores. Você precisava ver amor. Eles estavam como...
Os olhos de Yasmin voltaram-se para a mala no canto da sala.
-- O que significa essa mala? -- Yasmin olhava Daniela com firmeza, esperando uma resposta, mas ela apenas continuou calada -- Fala Dani!
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
patty-321
Em: 31/01/2019
Eita! Complicou. Não tá fácil essa convivencia. Quem vai ceder? Ou a separação vai ser o caminho. A Yasmin com o desejo de ser aprovada, reconhecida, se transformou numa workaholic. E a Dani ta nem aí pra isso. Quer a roça. Van querida como sempre vc e foda bjs de luz.
Resposta do autor:
Obrigada patty. Tenha um dia maravilhoso.
Beijos.
Mille
Em: 31/01/2019
Ola querida Vandinha
Seria ótimo uma boa conversa de ambas as partes. Falarem o que as incomodam.
Yasmim não gostou muito da surpresa e sua reação não foi nada pacífica.
Dani a última piada foi ótima.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Bom dia Mille.
Uma maravilhosa quarta-feira para você!
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 31/01/2019
Eita que agora a cobra vai fumar.
Sei não, mas acho que teremos uma separação momentânea.
Não vejo elas com um futuro garantido no.
Dani é da roça. Yasmin é urbana
Espero que consigam se entender bem.
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Bom dia, NovaAqui.
Mantenha o foco no objetivo, centralize a força para lutar e utilize a fé para vencer.
Beijão querida. Até.
[Faça o login para poder comentar]
rhina
Em: 31/01/2019
Algo não vai bem na casa de Daniele.....
O frio.entrou ....elas nem.deram.conta....mas. tomou posso do calor que era os sentimentos delas.....
Uma realidade onde o amor vai ser.colocado.a.prova devido a.personalidades diferentes. ....objetivos diferentes? ???
Qual.será o meio termo????
Rhina
Resposta do autor:
Bom dia, Rhina.
Na verdade, booom diaaa! Olhe para o céu e veja que em toda essa imensidão existe um Deus que a cada novo dia nos traz a oportunidade de sorrir e ser feliz!
Beijão, meu anjo. Até.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]