Itália - Piemonte - Barolo

Após aconversa com o pai, Bianca dirigiu-se ao seu quarto e entrando bateu a porta num estrondo, descontando nela toda raiva e frustração que vinha lhe roendo há dois meses quando sua vida desmoronou! Tirou a roupa e entrou no chuveiro de cabeça. Chorava sua dor e as lágrimas escorriam pelo seu corpo sendo levadas pela água. Esmurrou a parede com os punhos até esfolá-los! Depois, cansada escorregou pela parede até sentar-se no chão do banheiro mordendo a mão pra sufocar os soluços ou em minutos Antônia, que lhe era como uma segunda mãe por ter-lhe criado deste os treze anos de idade quando sua genitora lhe faltara, certamente irromperia pelo banheiro apavorada por seu pranto.

Estava cansada de dar trabalho a todos! E os últimos meses foi o que mais fez. Não dera ouvidos a ninguém que amava e considerava... Como seu pai, Antônia ou até mesmo sua amiga-irmã Gabriela.

Todos a alertaram quanto a desonestidade do Otávio, mas ela envolvida não acreditou...

Bianca fechou os olhos e lhe veio à mente o primeiro encontro com o rapaz português que estava a trabalho na Itália e tudo que aconteceu depois disto:

Otávio era jornalista e estava escrevendo uma matéria sobre os produtos agrícolas no país e solicitou uma entrevista com o responsável da Fazenda Francesca Montanari, onde o forte é a plantação de trigo.

Lorenzo o meu administrador lhe acompanhou nas visitas, porém no final da matéria insistiu em ter a entrevista comigo.

Nos encontramos, enfim! Ele, estatura mediana, cabelo castanho escuro, olhos com uma tonalidade mel, 40 anos, musculoso e sedutor... Iniciamos um flerte e naquela mesma noite fomos jantar juntos. Aquele foi o primeiro de muitos passeios que faríamos.

Passei a ciceroneá-lo por toda região de Piemonte, desleixei-me um pouco dos meus afazeres... Mas, eu precisava viver um pouco! Era o que ele dizia sorrindo maroto.

A amizade virou namoro, eu viajava com ele e sabendo que jornalista não ganha muito, assumia todas as despesas. Tinha prazer em presenteá-lo. Então roupas, calçados, e até mesmo um relógio BVLGARI, não me foram pesado lhe dar.

Otávio se declarou duas semanas depois de me pedir em namoro, preparou uma noite romântica na praia e nesta noite iniciamos nossa vida sexual. Eu não me relacionava sexualmente com ninguém desde que perdera a virgindade aos 19 anos com um colega da faculdade; era inexperiente e não usava anticoncepcionais e confiei nele e no uso de camisinhas que numa trans*, meses depois, estourou.

Meu pai que não gostara do Otávio desde o inicio mandou fazer uma investigação da vida do moço e descobriu que ele era divorciado e tinha dois filhos. O detetive informou que sua esposa fora agredida durante os dez anos de convívio com ele; ela perdera todos os bens que possuía ao casar com o cafajeste que lhe dilapidou tudo com mulheres, jogos e bebidas. Quando meu pai me mostrou o dossiê eu me revoltei, não quis ler. Acusei-o de tentar manchar a honra do homem que eu amava; Gabriela também tentou me alertar e eu pedi que se realmente me amava como sua irmã não se alinhasse com meu pai nesta campanha suja pra denegrir a imagem do meu noivo.

Maior de idade e já de pleno gozo da fortuna de minha mãe, eu mudei pra casa da fazenda e Otávio passou a morar comigo. Os primeiros meses foi um mar de rosas, depois ele começou a me pressionar pra casar... Só que eu estava começando a repensar algumas atitudes nele.

Otávio parara de trabalhar e todo dia eu saia pra os campos de trigo e ele ia para as cidades vizinhas beber e gastar. Quando falei pra arranjar algum trabalho free pra se manter ocupado veio à primeira discussão e fui agredida com uma tapa... Depois veio uma gama de desculpas e a alegação que havia bebido demais. Gabriela brigou com o Otávio e quebrou um jarro em sua cabeça quando viu minha boca quebrada pela bofetada que me deu. Briguei com minha melhor amiga e pedi que ela saisse da minha casa.

Não queria dar ouvidos aos conselhos da Antônia que me criou como uma filha dispensando-me o mesmo carinho e cuidados que dava a Gabi sua filha.

Pouco falava  com meu pai. Otávio me agredia com palavras e depois com elas me enredava na luxuria e na paixão!

Com quatro meses de noivado, sai pra ver os campos de trigo. Eu não me senti bem nos campos e Lorenzo mandou dois seguranças me trazerem pra casa. Ao chegar ouvi vozes alteradas na sala; era meu pai numa visita surpresa...Nesta visita papà mostrou a Otávio um documento que minha mãe deixara e que o nomeava como detentor da fazenda até os meus 30 anos, caso ele não confiasse na pessoa que escolhi para casar! 

Meu pai lhe disse que tiraria a maior parte de minha renda se eu me casasse com ele e que viveríamos de uma pensão irrisória. Informou também que estava me deserdando... Não herdaria nada de sua fortuna. Cheguei neste momento e algo dentro de mim me fez continuar parada do lado de fora da sala escondida a ouvir e ver tudo o que diziam:

- Você não deixaria sua filhinha na miséria! - falou jocosamente Otávio - Olha velho, estou com 40 anos e não tenho estabilidade, Bianca é meu pote de ouro. Ela vai fazer tudo o que eu mandar.

- Malandros como você eu e minha Francesca já conhecíamos desde garotos - meu pai tremendo de raiva - Por isso mesmo que legalmente preparamos tudo pra impedir de nossa filha ser lesada! Queríamos que ela encontrasse o amor num homem honesto que a ame por ela e não pelas posses dela. Este documento aqui é real, você casará com ela mas não levará uma moeda do seu dinheiro. Pegue os documentos, leia...

Otávio tomou os documentos e os leu com voracidade... Acabou a leitura e de onde estava pude vê-lo sacudir a cabeça, irritado e desgostoso. Lançou a papelada sobre a mesa e começou a andar passando as mãos pelo cabelo furioso.

- Olha aqui - ele ofegava de irritação - Preste bem atenção...

Parou na frente de meu pai que em silêncio observava as reações do homem a sua frente. Prendi a respiração e sonhei com a resposta do homem que eu amava. Era agora que ele diria que meu dinheiro não importava e que era a mim que queria!! Ledo engano...

- Não vou sair dessa sem levar nada não, vovô - falou friamente- Eu fiquei com sua filhinha mimada e ruim de cama esse tempo todo; isso foi investimento! Quer que eu saia da vida dela? Vai ter que me indenizar com uma pequena fortuna.

- Pago o necessário pra te ver longe de minha figlia seu vagabundo ordinário - meu pai furioso com o modo sujo que se referiu a mim - Vou chamar meu advogado pra realizarmos o acordo, não te quero ver no mesmo país que minha Bianca, receberá seu dinheiro e partirá da Itália.

- Que seja - disse ele sorrindo - já cansei deste país mesmo!

Vi meu pai pegar o celular pra ligar pra seu advogado; respirei e até isso doía! Eu estava quebrada como mulher... Ergui o queixo; sai, tomei algumas providências e fiz minha entrada triunfal na sala.

- Papá...

- Figlia, pensei que estivesse no campo... - meu pai preocupado que eu tivesse ouvido alguma coisa - Chegou agora?!

- Amor - o dissimulado veio me abraçar - Meu sogro veio almoçar conosco e...

- Poupe-me de mais mentiras, Otávio! - cortei-o - Não precisa mais de encenações; ouvi e vi tudo.

- Amor, está havendo um equivoco aqui - falou tentando salvar as aparências - deixe-me explicar...

- Tomaz, Benicio? - chamei e fui atendida; os dois homens truculentos entraram - Joguem esse lixo fora daqui...

- E minhas coisas? - falou o patife deixando cair a mascara de vez olhando de mim pra meu papà - Acha mesmo que depois destes meses de sex* sem sal, sex* com uma menininha quando estou acostumado a mulher vai sair de graça? Ai é que não, quero meu dinheiro velho!

Uma fúria me tomou, abri a carteira e tirei algumas cédulas. Aproximei-me daquele canalha e lhe dei uma forte bofetada e depois lancei as notas em sua cara. Ele tentou revidar, mas meus seguranças o detiveram e saíram lhe arrastando pra fora.

Otávio saiu xingando-me e falando obscenidades sobre nossa vida sexual depreciando-me em alta voz. Desabei no chão onde os cacos do meu coração já estavam e chorei desconsoladamente. Após uns minutos meu pai sentou-se no chão puxando-me pra seus braços... Ali continuei chorando por horas e pedindo-lhe perdão por todos os dissabores que lhe causei com minha cegueira e teimosia. No outro dia voltei a morar no castelo, estava arrasada... Antonia, Gabriela e meu pai foram fundamentais pra que eu não sucumbisse de tanta dor, humilhação e vergonha.

Um mês depois daquele canalha ter sumido do mapa, acordei saltando da cama pra não vomitar ali mesmo! Depois de quase botar as tripas pra fora numa longa sessão de vômito matinal desconfiei que Otávio não saíra de todo de minha vida... Em meu ventre tinha um pedaço dele. Fiquei olhando-me no espelho desesperada: eu estava grávida do crápula!

Todos perceberam que eu estava grávida, não porque contei... Mas pela fome que voltou de uma forma anormal e pelos vômitos constantes. Mais uma vez vi meu velho pai desconsolado; depois de tudo o que acontecera a sua saúde não era mais a mesma; seu coração que era fraco, mostrava certas falhas às vezes... Naquele mês fomos a emergência duas vezes e eu quase o perdera.

- Como irá criar este bambino sozinha, figlia?! - ele me fazia sempre essa pergunta.

Eu ia me erguendo aos poucos, passei com a ajuda da Gabriela a voltar a trabalhar! Como mulher minha estima estava abalada e sem sinais de melhora por toda eternidade. Passei a ser cínica e avessa a toda estória de amor, casamento...Nunca mais me entregaria ou confiaria meu coração a outra pessoa... Viveria pra meu filho, minha família e meu trabalho!

Um belo dia, após dois meses de gravidez, cheguei ao castelo e meu pai me veio com uma estória de casamento arranjado. Em prol de seu histórico recente de saúde resolvi não lhe contrariar e ir levando essa conversa até que o mesmo esquecesse. Mas não foi assim que aconteceu; meu pai marcou com o "pretendente" pra vir do Brasil me conhecer.

Suspirei deixando estas lembranças do passado eguendo o queixo em desafio, me situando no embrolhio que tinha nas mãos no presente...

Para não contrariar meu pai, até tinha aceitado receber o jovem pretendente e ser-lhe agradável durante sua estadia ali; Neste momento aproveitaria pra esclarecer com ele que essa loucura de casamento arranjadonão iria acontecer! Entretanto, depois de descobrir que o rapaz também casaria comigo por meu dinheiro; tomei ojeriza dele antes mesmo de conhecê-lo e se dependesse de mim a sua permanência neste castelo seria a pior possível! O trataria com o desprezo que todo canalha interesseiro merecia!

Ergui-me do chão do banheiro decidida!

- Esse Pietro vai me pagar por tudo que o Otávio me fez - pensou com raiva - Se ele pensa que poderá me seduzir pra casar comigo pelo meu dinheiro, ele está muito enganado e eu o vou fazer ciente desta verdade!! Ninguém mais faz Bianca Montanari de idiota!

https://www.youtube.com/watch?v=rq-4-EOQvXA

Fim do capítulo