Despedida
POV Roberta
- Hoje podemos comer ostras? - Mônica indagava deveras empolgada.
- Hoje podemos comer o que quisermos, amor.
- Estou tão feliz que tomaremos vinho branco!
Aquela loira linda era mesmo a melhor e mais engraçada pessoa do mundo! Parecia uma criança em época de festividades. Eu, que tinha acabado de estacionar o carro em uma vaga por milagre, tive que seguí-la às pressas até a mesa que nos havia sido reservada.
- Amor, os pratos não irão fugir de nós. Pode se sentar e respirar com calma! - Eu sorria, vendo-a bufar, relutante. Com muito custo, Mônica condescendeu em conter-se um pouco e sorrir para o garçom que trazia os cardápios.
Ela não precisava de menu nem da carta de vinhos. Já tinha em mente e sabia perfeitamente o que queria, mas mesmo assim tomou o papel em mãos passando os dedos pelas letras ali impressas.
- Eu vou querer ostras e uma garrafa de Terras do Sado para acompanhar, por favor.
- Por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.
- Eu amo camarões, mas vamos unir a sua vontade com a minha.
- Ok, madame. É a senhora quem manda. - Ri, entregando o cardápio ao rapaz - Traga ostras. - Confirmei o pedido.
Enquanto aguardávamos, minha esposa e eu iniciamos mais um de nossos deliciosos diálogos sobre o futuro, regado à projeções estapafúrdias e risadas, como se nosso casamento fosse uma grande comédia, como nos filmes.
O pedido chegou relativamente rápido. Comi as ostras que possuiam forte gosto de mar e um leve toque metálico que o vinho branco gelado trazia, ressaltando a suculenta textura do marisco; à medida que ia sorvendo o líquido frio de cada concha e o fazia descer acompanhado do estimulante sabor da bebida, o sentimento de vazio me foi abandonando e me vi de novo feliz, cheia de planos.
- Roberta? Mônica? - Sorri ao seguir a voz de Jésus Soldini, meu chefe, encontrando-o de pé ao meu lado, acompanhado de Wilson, mais conhecido como Will, e de Gideon Santana, diretores executivos da Prime - Que surpresa vê-las por aqui.
- Que coincidência, não é? - Levantei, cumprimentando-os, sendo seguida por Mônica.
- Coincidência ou não, foi ótimo ter te encontrado aqui. Aliás, perfeito, porque estão as duas juntas. - Gideon parecia entusiasmado - Eu iria esperar a próxima semana para lhe comunicar. Marcaria uma reunião contigo também, Mônica, mas estamos tão felizes com o processo que a Prime ganhou graças à você, Roberta, que não vejo motivos para não contarmos nesse instante.
- Está me deixando nervosa... - Comentei, esfregando uma mão na outra.
- Por favor, não façam suspense, senão essa daí é capaz de entrar em colapso. - Rimos.
- Calma! É coisa boa. - Will pousou a destra em meu ombro esquerdo.
- Boa? É ótima! Hã... Diante das conquistas da empresa, e após conversarmos bastante sobre o caso, gostaríamos de, em nome de toda a família Prime, convidar você, Roberta, para assumir uma das cadeiras da diretoria da construtora, como Diretora Jurídica. Gostaríamos também de convidar você, Mônica, para fazer parte do nosso quadro efetivo de colaboradores. Adoraríamos tê-la como a Relações Públicas oficial da Prime.
A melhor notícia de todos os tempos não foi veiculada em horário nobre, tão pouco ganhou a primeira página dos principais jornais do mundo. Nenhum jornalista de renome internacional esteve no local para apurar os fatos deste momento ímpar. Não houve ibope ou nenhum furo de reportagem.
A felicidade é um dos estados emocionais mais almejados pelos seres humanos, afinal, quem não quer ser feliz? Eu estava feliz. Eu estava muito feliz. Minha esposa também não cabia em si de tanta felicidade. Emocionadas, abraçávamos e sorríamos abertamente para os senhores à nossa frente, tomadas pela maravilhosa sensação que aquela boa notícia trazia. Em meio à uma tormenta que se dava em minha vida pessoal, um sopro de alívio na profissional para abrandar nossos corações.
Ah, é preciso tão pouco para alcançar a satisfação plena, tal como já dizia a poetisa Cecília Meirelles: "Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim".
POV Mônica
Comecei a prestar serviços para a Prime há aproximadamente dois anos, quando um escândalo de pagamento de propina em uma das filiais de Nova York passou a afetar as empresas da América Latina. Eu era uma espécie de freelancer, tratando somente dos trabalhos que necessitavam com urgência, uma vez que desmantelaram a equipe de marketing e relações públicas na época, e não mais equilibraram o quadro de funcionários. Eu nunca reclamei por mais do que isso. Meus outros clientes eram "peixes grandes", como chamamos, e sempre me renderam um bom retorno financeiro. Contudo, essa experiência, em termos profissionais, seria de grande valia para a minha carreira.
O problema é que a felicidade que nos acometeu naquele jantar, à princípio despretensioso, não durou por muito tempo. Três dias depois, em um banho que tomávamos juntas, notei uma pequena mancha escura na base do pescoço da minha morena. Indaguei à respeito, investigando se doía, se ela havia batido em algum lugar sem querer e não se lembrava, mas Roberta não fazia idéia do que se tratava. Ficamos em alerta, uma vez que era muito estranho o aparecimento repentino daquilo e sem causa plausível. Em dois dias, começou a coceira, e desenvolveram-se lesões que se espalharam pelo seu corpo, em locais espaçados, alguns muito visíveis.
- Roberta, querida, isso o que está a incomodando tanto é uma dermatite atópica. - A Dra. Margaret, dermatologista, era quem nos dava o diagnóstico. Com muita dificuldade, consegui convencer a minha esposa a irmos na consulta, uma vez que as manchas estavam cada vez mais se alastrando e as pessoas na empresa já começavam a notar - Essa é uma afecção inflamatória crônica, geralmente caracterizada pelas lesões avermelhadas, descamações e coceira, e atinge cerca de 30 a 50% dos pacientes infectados por HIV.
- Mas... O que pode ter causado isso? - Roberta mantinha-se de cenho franzido.
- Baixa imunidade, predisposição genética, situações estressantes, raiva, ansiedade e frustrações. Tudo isso pode levar ao aumento da vermelhidão e da coceira. Por isso as pessoas com a doença precisam reconhecer e controlar as situações de estresse. Já te disse isso antes, não?
- E é grave, doutora? Tem tratamento? Tem cura? Por que só apareceu agora, depois de tantos anos? - Indaguei, preocupada e curiosa.
- Cura não, mas tem tratamento. É uma doença que requer cuidados relativamente simples, entende? A chave para o controle e tratamento da dermatite atópica consiste em reduzir ou evitar a exposição ao fatores desencadeantes. - A médica pegou um bloco de receituário, passando a escrever em letras engarranchadas algo praticamente ininteligível enquanto falava conosco - Roberta, problemas de saúde aparecem quando querem. Se alguém está doente, não necessariamente precisa ter sintomas. Bom, você vai usar diariamente cremes hidratantes para a pele após o banho. Dê preferência aos cremes sem cheiro e mais oleosos. Ah, banho morno ou frio, de curta duração, sem usar esponjas. O sabonete também deve ser neutro e utilizado somente onde necessário. Não esfregue a toalha na pele, ok? Evite tecidos sintéticos e lã. Abuse do filtro solar, ainda mais nesse sol infernal que faz no Rio. - Ela riu, mas minha mulher estava tão tensa que mal pôde retribuir - Sem contato com detergentes, cosméticos perfumados e coloridos, produtos de limpeza, gasolina, excessiva lavagem das mãos. Maquiagem só hipoalérgica. Mantenha as unhas curtas para não acumular sujeira e acabar infeccionando as lesões ao coçar. Ah, não coce. Não use sabão em pó e amaciantes potentes para lavar a roupa. Evite carpetes, tapetes no chão e cortinas em casa. Use protetores de ácaros nos colchões e travesseiros. Corra para longe dos fast foods e alimentos que podem causar intolerâcia como lactose e glúten. No mais, procure manter a calma e reduzir o estresse. Tente... Um novo hobbie, quem sabe? Priorize e organize o seu tempo, pratique exercícios físicos, ouça música, leia ou até medite. A meditação é uma ótima opção que pode melhorar os sintomas e a qualidade de vida, sabia?
- Com tantas recomendações, seria melhor morrer logo, não acha, Dra. Margaret? - Amargurada, minha esposa respondeu rispidamente à dermatologista.
- Roberta! Isso é jeito de falar? - Repreendi-a.
- Eu entendo a sua revolta. Entendo porque passo por isso em casa. As causas não são as mesmas, mas a minha filhinha de sete anos começou a desenvolver a dermatite faz três meses. Precisei até consultar um psicólogo para o controle emocional dela e o meu também. - A médica sorriu, solidária - Vou prescrever uma pomada corticosteróide para o uso tópico, um corticosteróide oral, esse antibiótico tópico para tratar das infecções e um anti-histamínico para reduzir a coceira. Estou anotando aqui também o nome de um colega meu, muito competente, que é especialista em fototerapia. Super indico esse tratamento.
- Tenho que usar só isso? - Roberta olhava para o receituário, impaciente.
- Amor, não adianta ficar assim. Tem que usar e pronto. Fazer o quê? - Suspirei - Doutora, pode deixar que a parte da alimentação e dos exercícios físicos eu cuido. Essa mocinha aqui vai correr comigo pela orla todos os dias de manhã.
- Me matem! Por favor, me matem. - Minha esposa resmungava ao levantar-se da cadeira - Dra. Margaret, obrigada pela atenção. Vamos, meu bem? Preciso me enclausurar logo na minha bolha.
POV Roberta
- Sim, sim. Se procurar direito, vai encontrar esses relatórios em cima da minha mesa. - Eu estava trabalhando em casa, em contato com o escritório através do telefone e do acesso remoto. Com o agravo nas manchas e lesões, resolvi que não poderia arriscar a ficar transitando e piorar ainda mais a situação - Não, querida. Me escute, Bela. Está me escutando? (...) Pois preste atenção. Ultrapassada a fase das providências preliminares...(...) Isso... (...) mesmo que nenhuma delas tenha sido necessária, o processo chega a uma nova fase, onde o juiz vai proferir uma decisão, que pode ser interlocutória ou sentencial. Entendeu agora? (...) É assim mesmo. Vou te mandar as instruções no passo à passo daqui a pouco. (...) Por email. (...) Certo. Qualquer dúvida é só me ligar. Um abraço. - Encerrei a ligação e revirei os olhos - Como pode alguém ser tão incompetente? - Bufei alto - Amor, isso não acaba mais não, heim? - Enquanto eu falava ao telefone, Mônica testava algumas bases, corretivos e blushs que poderiam me ajudar a esconder as manchas avermelhadas em evidência na minha pele. Um casal de amigos tinha ido me visitar, e acabaram entrando na onda de testes múltiplos junto comigo - Carlos, batom vermelho?
- Qual é o seu problema com batons vermelhos? - Ele perguntava, passando mais uma camada.
- Não combinam com você. - Respondi fechando os olhos com as pinceladas que minha mulher dava em meu rosto.
- Ela tem razão, amor. - Luciana falava, ao passo em que pegava um lenço demaquilante para o namorado.
- Você anda muito sem paciência, minha vida. Bella é uma graça de pessoa, muito prestativa e está sempre tentando te agradar. - Minha esposa defendia a minha secretária. Ela realmente era uma boa pessoa. O problema estava comigo e com os meus nervos sempre à flor da pele - Tente ser um pouco mais flexível com a moça. Tudo bem?
- Posso tentar, mas não garanto absolutamente nada. - Respondi, já um pouco arrependida da minha rispidez e impaciência com Bella.
- Se não espalhar bem a maquiagem vai parecer que ela foi espancada e está com hematomas. - Luciana comentava, ajudando a minha esposa a me maquiar.
- Isso não está laranja demais para o meu tom de pele? - Perguntei, olhando-me no espelho - Estou estranha...
- Esse é o unico tom de bronzeado que pode cobrir essas lesões, meu amor.
- Parece até que você saiu de férias, Robert. - Carlos ria, pintando meu nariz com o batom vermelho.
- Idiota! - Ri - Mas você tem razão. Eu disse que estava doente e de repente apareço...assim?
- Deixem de ser bobos. - Mônica revirava os olhos - Minha vida, você já é morena e moramos na praia. Qualquer ida à padaria já nos faz ter marcas de biquíni na pele. Não é preciso muito para se bronzear no litoral. Não vão supor que você estava em um cruzeiro.
- Mas, pense comigo... - Antes que eu pudesse terminar de retrucar, fui atingida por uma dor estranha próxima aos rins - Aaaaaaiiiii! - Gritei com a sensação de fincadas fortes atingindo o meu abdômen.
- Amor! Amor! O que houve? O que está sentindo?
Eu podia ouvir as palavras da minha mulher, à princípio em alto e claro som, mas, repentinamente, elas começaram a diminuir de tom, passando a sua voz a ficar cada vez mais inaudível, como se Mônica estivesse se distanciando de mim. Minha visão enturveceu por completo, e eu não senti absolutamente mais nada depois do "meu amor" que minha loira proferiu.
*************
Já havia se passado uma semana do incidente que me levou a ficar internada no pronto socorro do Copa D'Or. Medicada, tomando soro através da terapia intravenosa, não sentia mais dor alguma - graças à Deus. Minha esposa, bem como meus amigos, mantiveram-se ao meu lado o tempo todo. Era isso, e tão somente, que me mantinha de pé, firme para continuar lutando contra as adversidades que a vida me impunha.
- Uma merd* a nossa médica preferida ter tirado essa semana de férias. - Mônica comentava, nervosa, ao instante em que fazia carinho em meus cabelos.
- Isso é muito ruim? - Indaguei, sem entender direito o motivo de sua "revolta".
- Depende do ponto de vista, mas acho que irá entender rapidamente... - Minha mulher franziu o cenho ao verificar pela milionésima vez a minha temperatura - Você ainda está com febre. - Circundando o local com o olhar, Mônica avistou no corredor, um homem de estatura mediana, corpo esguio e cabelos platinados - Dr. Henrique! Dr. Henrique! Esse médico que está te atendendo não me desce nem fodendo. - Ela cochichou a última frase, antes do doutor aproximar-se - E então? Já tem o resultado dos exames?
- É... Saíram os resultados. - Ele parecia relutante em comentar, o que fez-me franzir o cenho em estranheza - Eu já estava vindo falar com vocês.
- Pois fale, Dr. Henrique. O que eu tenho... dessa vez?
- Bem, a dor contínua que relatou no lado esquerdo, todo o seu histórico e alterações no seu hemograma, me fizeram atentar para uma suspeita.
- Alterações no hemograma? - Minha loira perguntou.
- Sim, anemia. Uma anemia preocupante. Quando existe algum problema no organismo, como...um tumor, por exemplo, por vezes eles sangram em demasia. A sua anemia, Roberta, está tão forte que pode ter sido a causa da sua taquicardia.
- Isso só pode ser um pesadelo. - Murmurei.
- Partindo desse pressuposto, solicitei o exame de sangue oculto nas fezes, que é onde identificamos rastros de sangue que geralmente não aparecem em outros exames, o que denunciaria lesões. O problema...
- Mais problemas?
- Deixa ele falar, Roberta! - Mônica repreendeu-me - Continue, por favor, Dr. Henrique.
- Pois sim. Esse exame detecta um sangramento, porém não localiza de onde vem. Pode ser sim um sarcoma, como pode ser uma simples hemorróidas. Portanto, para saber com mais precisão, é necessário que partemos para algo mais complexo e completo.
- E o que seria isso? - Senti a mão da minha esposa trêmula sobre a minha, agravando-se quando ela fez essa pergunta.
- Uma colonoscopia, que é o que nos ajudará na conclusão do seu diagnóstico. Com ela conseguiremos flagrar inflamações na parede intestinal, além de verrugas, que podem ser pré-cancerosas, e tumores propriamente ditos.
- Mas não tem nada que possamos fazer que seja menos agressivo, menos invasivo? - Mônica tentava disfarçar, porém seus olhos marejados revelavam a dor que sentia por mim.
- Infelizmente não. - O Dr. Henrique rabiscou algo no receituário, entregando à mim em seguida - Vou te liberar, Roberta, desde que você tome as devidas providências para se resguardar de um agravo em seu quadro clínico. Quero ver você abusando de uma dieta rica em fibras, fazendo exercícios físicos regulares. Passe longe dos cardápios gordurosos, carne vermelha, cigarro e tudo o que possa conter componentes tóxicos.
- Obrigada, doutor. - Respondi, sem ânimo algum.
- A sua médica deve retornar em alguns dias. Enquanto isso, caso necessitem, me procurem. Atendo em uma outra clínica particular na Barra da Tijuca às terças e sábados. Talvez seja mais cômodo para vocês.
- Eu agradeço, mas esperamos não precisar dos seus préstimos. - Minha esposa forçou um sorriso, sendo prontamente retribuída pelo médico.
- Eu também espero. Até mais.
- Tchau. - Acenei, ajeitando-me na maca - Eu não ví problema nenhum nele, amor. Você ficou tão cismada...
- Isso é porque não reparou na forma como ele nos olhava, como se tivesse medo, nojo, com desdém. Você não tem nenhuma doença contagiosa, e mesmo que tivesse, ele é um médico. Médicos servem para tratar das doenças, ou estou enganada?
- Você está é nervosa. - Tomei a sua destra entre as minhas mãos, beijando seu dorso - Vem, me ajude a levantar para irmos embora logo desse lugar. Preciso da nossa cama, do seu cheirinho nos lençóis. - Suspirei, acariciando a nuca da minha esposa. De repente, o toque do meu celular deu-se tão alto e estridente que assustou não só à mim, como aos outros que estavam por perto também - Quem é? - Indaguei à Mônica enquanto caminhávamos pelo corredor em direção à saída.
- Jésus. Já perdi as contas de quantas vezes ele ligou nesses últimos dias.
- Deixa eu falar com ele. Deve ser importante. - Peguei o celular, suspirando fundo antes de atender a ligação - Alô! Jésus? Como vai, querido?
- Bem, bem...e você? Está se sentindo melhor?
- Sim, um pouco. Tenho altos e baixos como tudo na vida. - Pausei a minha fala por alguns segundos - Mônica me disse que você precisava muito falar comigo. O que foi? Algum problema?
- Roberta, é... Bom, acha que tem condições de vir aqui para que possamos conversar pessoalmente? Creio que esse assunto não seja tratável por telefone.
Ao instante em que Jésus me fez aquele questionamento, encostei na porta do carro, aguardando minha mulher destravá-la. Com isso, pude ver a minha imagem decadente, sofrida, refletida no vidro escuro - o que de nada impediu a visualização daquele horror no qual eu havia me transformado.
- Jésus, bem, eu não sei se posso sair e ter contato com o mundo externo ainda. Na verdade, estou internada no hospital. - Senti o homem suspirar profundamente do outro lado da linha, o que me fez ficar sobressaltada.
- Roberta, sabe que nutro um carinho, uma afeição muito grande por você. Trabalhamos há tantos anos juntos e...bom, queria que soubesse que isso não é por mim. Estou...sendo pressionado a...a resolver essa situação o quanto antes.
- Jésus, está me assustando. O que houve?
- A diretoria soube de..."coisas" ao seu respeito e...
- Fala logo! - Esbravejei, impaciente.
- Eles...eles fizeram uma reunião e acharam melhor te demitir. Você está fora, Roberta. Está despedida!
Fim do capítulo
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