A vida é linda, mas não é fácil
POV Roberta
“Porque amores de verão ficam à deriva das ondas na beira da praia..."
Acordei tateando o espaço vazio no colchão ao meu lado. Minha esposa, provavelmente aproveitando de meu sono profundo, com certeza escapuliu da cama na surdina para apreciar a tranquilidade da orla da praia de Copacabana antes do sol raiar. 05:00 era o seu horário preferido para correr e fazer seus exercícios matinais.
Mônica sempre curtiu ter o porte atlético, ser fitness, e eu, sempre curti a pose workaholic sedentária. Com o tempo acabei mudando alguns hábitos alimentares e um pouco do meu estilo de vida para poder satisfazer seus desejos e também para melhorar a qualidade da minha saúde. No entanto, cresci em torno dos arcos da Lapa, em meio à boemia e a botecagem. Estava no meu sangue a velha mania de apreciar a vida noctívaga, regada à um bom chopp e tira-gosto. Bem ao contrário de minha loira, que não abria mão dos raios de sol bronzeando a sua pele.
Tão clichê quanto chinelo havaiana e protetor solar, era a rotina digna de novela das nove da Rede Globo que eu costumava manter. Bastava os dias ficarem mais quentes, os ânimos mais exaltados e as roupas mais curtas, que logo o ciclo começava: bossa nova no IPod, uma xícara de café bem forte e sem açúcar apreciado na sacada do meu apartamento enquanto eu observava a imensidão azul na minha frente. Isso, impreterivelmente, todos os dias antes de ir trabalhar. Hoje, em especial, optei pela agradabilíssima companhia de um livro que ganhei de minha irmã no Natal passado: "Meus vinte e dois amores de verão".
"O amor de verão, superestimado como é, difere do amor real, que é algo bem mais complicado e não pode se resumir a uma paixão de quase quatro semanas. Contudo, não há quem duvide da intensidade e veracidade desses romances de veraneios e de como eles se sustentam."
Pensando nos sentimentos descritos naquelas páginas, com um cenário tão belo ao meu redor e embalada pela melodia de Wave - do tão saudoso Tom Jobin - debrucei-me no pára-peito da varanda da sala, passando a observar as pessoas começando a movimentar a praia.
Acho tão bela e drástica a vida alheia! Sempre há uma beleza agridoce nas histórias das pessoas que caminham pelo calçadão de Copa - e não só daqui, como de todos os outros lugares do mundo. Pessoas de cidades distantes que vêm ao Rio de Janeiro apenas para o carnaval, ou para visitar um balneário qualquer - lá onde Judas perdeu as botas - e resolvem conhecer a zona sul para tirar fotos e postar no Instagram. Pessoas em busca de uma aventura de verão, juram amor eterno no auge do orgasmo, se separam, mas prometem manter a relação à distância. No entanto, o que era para ser para sempre, acaba não durando até as águas de março, quando a estação se finda. Aí, o lindo amor de outrora fica enterrado nas mesmas areias da praia onde os amantes fizeram amor sob o luar e a maresia, justamente como aconteceu com centenas de outros casais.
Sorri pensando no quão engraçada é a vida que brinca com esses corações que ficam à deriva das ondas na beira da praia - como diz o livro. Minha esposa sempre comenta que existe um lado predominante em mim, poético e sensível, que tende a ver os dias de verão como uma renovação da vida e das esperanças. É como se o sol brilhasse dando uma nova chance aos nossos sentimentos esquecidos, e o calor da estação, derretesse nossos corações congelados pelo frio do inverno e pelas decepções passadas. E não digo somente de decepções amorosas. É por isso que eu amo o Rio de Janeiro, onde tudo gira em torno de expectativa, completude, sofrimento e beleza, mesmo que a ressaca acabe derrubando os castelos que construímos na areia, assim como o mundo faz com nossos sentimentos exaltados.
Após longos minutos de divagações em torno da essência da vida e dos amores de verão, os ponteiros que corriam rápido no relógio obrigaram-me a agilizar a troca de roupa para enfim ir trabalhar. Por mais que o ócio preguiçoso e bom que me acometia naquela manhã fosse tentador, eu, Roberta Mariângela Albuquerque, devia cumprir as minhas funções no setor jurídico da Prime, a maior construtora multinacional instalada no Estado.
Parada no trânsito, sorri ao ver um grupo de crianças animadas e seus respectivos pais, cheios de tralhas e sacolas penduradas nos ombros, atravessando na faixa de pedestres. Morar no Rio de Janeiro tem, como todo lugar, os seus pontos positivos e negativos. Posso dizer que sou abençoada por viver aqui. Quem não gostaria de morar de frente, ou bem pertinho, do cartão postal tema da música de Tom Jobim? Acordar em um domingo de manhã de sol e atravessar a rua para chegar na praia, mergulhar no mar brincalhão, pegar um sol e tomar aquela cervejinha gelada? Ah, esse clichê novelesco que tanto amo!
Mas nem todo mundo gosta da praia em dias quentes, tal como a minha esposa ama. Eu mesma adoro muito mais passear no calçadão à noite, onde tudo me parece mais inspirador. Contudo, independente de qualquer coisa, não tem nada melhor - ao menos a meu ver - que acordar vendo o Cristo, ou ter, como paisagem de fundo da janela do quarto, o Pão de Açúcar.
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— Meretíssimo, não existem fundamentos, não existe uma base sólida nessas acusações. A Prime constrói sonhos, estes sim, fundamentados. Ela não os destrói como estão querendo sugerir. - Eu defendia impetuosamente meus argumentos diante do juiz.
— Frases clichês de propaganda de horário nobre? É isso mesmo, Dra. Albuquerque? Essa é a sua melhor justificativa para a tragédia que vem acontecendo com dezenas de famílias prejudicadas por conta das atitudes negligentes de sua empresa? - Dr. Marra, um velho conhecido meu dos Tribunais, atacava-me deliberadamente.
— Mas isso é absurdo! Onde já se viu...
— Dr. Marra e Dra. Albuquerque, queiram esfriar seus ânimos, ou preferem que eu os advirta legalmente?
— Desculpa, Excelência. - Respondi, bufando baixo disfarçadamente.
— Eu vou lhes dar mais uma chance de conciliação. Vou adiar a audiência para daqui quinze dias.
— Mas, Meret... - Ambos nós, reclamante e reclamado, protestávamos quase em uníssono.
— Não tem "mas". Até daqui a quinze dias.
Na vida, determinadas situações são impostas às pessoas de um modo tão impiedoso que não lhes deixam a menor possibilidade de fazer suas próprias escolhas, ou tomar suas próprias decisões sem influências externas. Uma dessas situações pode ser constatada na fatídica economia do mundo capitalista. Os seres humanos nascem e crescem capitalistas, alguns até mercenários, aprendendo desde a mais tenra idade que o dinheiro é, por excelência, o objeto de ganância maior, haja visto que detém consigo - e erroneamente - quase toda a dignidade de uma pessoa. E isso é um problema sério. Potencializam o dinheiro em detrimento de outros valores de ordem diversa, tais como a lealdade, honestidade, afeto e, sobretudo, o amor, que são incontestáveis e essenciais para a alma humana.
Partindo dessas premissas, é que observo e considero oportuna e pertinente a investigação das atitudes de Marra, que sempre se mostrou um advogado que não sabia lidar muito bem com situações em que tinha que fazer uma escolha entre uma postura ética ou uma decisão de ordem prática que lhe conferiria algum rendimento financeiro.
Estavam acusando a empresa para o qual trabalho de ser a responsável pelo aumento do índice de problemas respiratórios e de ordem psicológica na região, devido às inúmeras construções de conjuntos residenciais que levavam o nome da Prime espalhadas por todo o Estado do Rio de Janeiro. Diziam que o material utilizado era tóxico e nocivo para a saúde física, bem como o barulho dos maquinários, acima do limite permitido por lei, nocivo para a saúde mental dos moradores das imediações.
João Marra havia embarcado nessa guerra contra uma construtora multinacional que trabalhava dentro da total normalidade, haja visto o padrão internacional da empresa. O processo de ação cívil sendo milionário, colocava em cheque a índole de quem nele se empenhava. A carência de valores éticos desse advogado revelou-se no exato momento em que aceitou uma causa mentirosa sabendo não possuir as melhores condições para conduzí-la, buscando na sua defesa, atropelar os direitos alheios, muitas das vezes até mesmo inovando a veracidade dos fatos.
— Albuquerque! Albuquerque! - O Dr. Marra corria atrás de mim, Tribunal à fora, obviamente para tentar me convencer a enredar por suas ardilosas teias de mau-caratismo.
— O que foi, heim? - Virei-me para ele, apenas após transpassar a porta de saída, parando no meio da calçada - Eu não tenho tempo à perder.
— Sabe que podemos resolver tudo isso de forma simples e rápida, não sabe?
— Não, não sei. Se quiser conversar à respeito da corja que está por trás disso tudo, ligue para a minha secretária e marque um horário para que possamos nos reunir. - Respondi-o rispidamente.
— Ah, qual é? A Prime já coleciona processos e mais processos sobre inadequação e nós somos os bandidos? O que me diz sobre os hospitais lotados?
— Sinto muito, mas sou advogada. Não trabalho na Secretaria de Saúde. Não posso responder por esse departamento. Talvez devesse ir conversar com o Governador do Estado. - Sorri, sarcasticamente, dando alguns passos para trás - Agora, preciso mesmo ir embora. Ligue para o meu escritório! - Gritei a última frase, acenando enquanto me afastava de Marra, seguindo para onde meu carro estava estacionado.
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— Atrasada de novo, Roberta? Lhe darei um relógio de pulso de presente de aniversário. - A Dra. Loreto repreendeu-me de forma bem humorada ao me ver andando ansiosa de um lado para o outro na recepção do consultório - Venha! Vou abrir uma exceção e te atender agora.
— Se eu não fosse casada com certeza flertaria contigo. - Brinquei, fechando a porta do consultório atrás de mim.
Era sempre a mesma coisa. Todo mês, impreterivelmente, a mesma coisa. Entrar naquela sala, sentar naquela poltrona remetia-me há dezoito anos, mais especificamente no dia 12 de abril de 1999, quando descobri que era soropositiva.
Estar feliz com a minha condição. Em todos esses anos ouvi de várias pessoas, comentários sobre como eu tinha tido sorte com o meu diagnóstico. Segundo elas, eu tinha muitos motivos para comemorar, uma vez que a descoberta veio antes de qualquer manifestação da AIDS. Minha carga viral era naturalmente tão baixa, que em um mês de tratamento, passou a ser muito próxima de zero.
No entanto, ultimamente, eu não vinha sendo motivada por estes pontos positivos. Desde o início do tratamento com os antirretrovirais, já fiz inúmeros controles, sendo alguns bons e outros nem tanto. O resultado do mês passado tinha sido ruim, e o desse mês provavelmente estava parecido ou pior, dado o semblante da minha infectologista.
— Roberta, pedi que viesse aqui de novo porque...bem, teremos que ficar ainda mais atentas. A contagem está muito baixa. 200 linfócitos CD4 por mm³ de sangue, para ser mais exata. - A médica falava em tom baixo, provavelmente para amenizar o impacto da notícia.
— Sério? - Perguntei, visivelmente chateada.
— Seríssimo.
— Droga!
O vírus do HIV, quando entra na corrente sangüínea, busca principalmente os linfócitos T-CD4, que são células muito importantes para defender o organismo das doenças. Utilizando uma enzima chamada transcriptase reversa, o vírus entra nas células e se multiplica à uma velocidade exorbitante, o que faz com que o CD4 deixe, então, de ser uma célula de defesa para ser uma fábrica de HIV. É nesse ponto que entram os medicamentos antirretrovirais. Eles atuam defendendo as células do ataque do vírus da Aids, impedindo-o de se reproduzir. Quando a quantidade de CD4 está em torno de 200 células por mililitro de sangue - o que é o meu caso, significa que o sistema imunológico está bastante enfraquecido, o que deixa o organismo mais propenso a sofrer com as doenças oportunistas.
— Não vamos nos desesperar, ok? Sabe bem como isso funciona. Vamos adequar o seu tratamento para diminuirmos a carga viral. Seu sistema imunológico ficará novamente fortalecido e voltará a ser eficaz contra as doenças. Pode ser que demore um pouquinho mais dessa vez, mas mesmo assim há grande chance de recuperação.
— É... E lá vamos nós sofrer bastante com os efeitos colaterais do coquetel. Melhor do que morrer, não é? - Comentei, um pouco abatida e devastada emocionalmente.
Essa foi, aliás, a primeira pergunta que fiz à médica que me diagnosticou.
— Deixe de bobagens, Roberta. Hoje em dia não se morre mais de AIDS. Estou contigo, esqueceu?
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POV Mônica
Na época da faculdade, tinha uma garota que ficava incessantemente atrás de mim. No começo era legal essa sensação de ser muito desejada, mas um tempo depois passei a sentir medo. Ela dava, à todo momento, sinais claros de desvio de conduta, de problemas de ordem psicológica. Ligava para o meu celular à todo instante, chegando ao cúmulo de importunar até as minhas amigas com o seu ciúme doentio. O pior de tudo é que nós não éramos namoradas nem nada do tipo. Eu apenas era simpática, e a ajudava com uma matéria ou outra do curso de relações públicas, mas mesmo assim o projeto de demônio se achava no direito de saber todos os detalhes da minha vida.
Em uma bela tarde de terça-feira - lembro-me bem, pois era aniversário de minha mãe - no ano de 2003, ociosa em meu quarto, entrei em um chat na internet e comecei a conversar com uma moça de nome Roberta, estudante de direito. Papo vai, papo vem, contei a ela da menina que me perseguia e acabamos esquematizando um plano: fingiríamos que éramos namoradas no intuito de fazer a doida desencanar de mim de uma vez por todas. Montamos a farsa pelo Orkut, fingindo estarmos loucamente apaixonadas - repentino, chegando a soar falso em demasia, mas era a melhor saída até então. Trocávamos depoimentos amorosos, tínhamos fotos uma da outra nos nossos álbuns, sem contar nas montagens que paguei para serem feitas. A perseguidora, de doida passou a ser doida ao cubo. No entanto, aos poucos foi se afastando, e finalmente o plano deu certo: fiquei livre das garras da garota.
Roberta e eu continuamos a conversar. Quando não pelo MSN, era por SMS, ligações intermináveis antes de dormir e ainda recadinhos no Orkut. Não havia segundas intenções e tudo não passava de amizade - uma linda amizade. De repente, a necessidade de uma falar com a outra já se fazia constante, e era bom saber como a minha "amiga" estava, o que fazia, como andava a vida... As conversas foram ficando cada vez constantes e aprofundadas, mais intensas, mais interessantes. Era totalmente instigante desvendar e conhecer mais daquela mulher que havia me cativado de maneira ímpar. Então, aos poucos, a mentira que criei com a Roberta foi tomando certo quê de verdade.
No nosso primeiro encontro, após comermos pizza e conversarmos bastante, subi até seu apartamento para o típico "cafezinho". Eu estava tensa, tremia e gaguejava por vezes. Resolvemos assistir Law and Order SVU, já que ambas éramos fãs da Mariska Hargitay. De repente, não mais que de repente, aquela morena linda pediu para que eu me aproximasse mais e perguntou se podia me abraçar. O encaixe dos nossos corpos foi tão perfeito, a mágica do momento foi tão linda que estamos juntas e felizes até hoje, prestes a completar doze anos de casadas.
Nesse mesmo dia do nosso primeiro encontro, no dia do começo da minha vida feliz, foi que minha esposa me contou que era soropositiva e como se contaminou - consequências de uma juventude de atitudes inconsequentes. E sendo eu uma mulher bem sincera, posso afirmar categoricamente que não teve nenhum drama, não foi uma revelação bombástica e assustadora. Recebi a informação de forma natural. Para muitos pode parecer estranho, surreal até. No entanto, foi exatamente assim que aconteceu. Sempre fui uma pessoa instruída, sempre detive informações sobre o assunto e sabia que não existia razão para ter medo. Por coincidência, fazia poucos meses que um grande amigo havia me contado que tinha HIV e por isso eu já conhecia muito sobre o vírus. Definitivamente não existia o porquê de ter qualquer tipo de receio quanto a isso. Eu a amei pela sua essência, fundamentamos nosso relacionamento na confiança e na amizade. Jamais deixaríamos a felicidade ir embora por conta de um problema contornável.
Sempre houve uma grande discussão sobre a transmissão do vírus HIV em relações homossexuais femininas. Acontece que existe sim a possibilidade de contágio, tanto através do sex* oral como do compartilhamento de acessórios. Com isso, mesmo a maioria dos exames de Roberta dando "carga viral indetectável" - o que significa que não há vírus circulando no sangue, portanto, não há risco de contaminação - tivemos que nos adequar à essa realidade: sempre usamos camisinha nos "brinquedinhos" que gostamos, temos um estoque de dedais, abusamos de nossa criatividade na hora das preliminares e do sex* propriamente dito, funcionando muito bem todas as artimanhas utilizadas.
Pessoas que me ouvem falando sobre meu relacionamento, acham que é algo mentiroso, que somos um casal de fachada, que nosso amor e a felicidade plena do qual goz*mos, não passa de pose na internet. Obviamente não somos perfeitas, nosso casamento também não, e nem tenho pretensão de que seja. Brigamos, discordamos, nos estranhamos, mas acima de tudo, nos amamos.
Os dias seguintes ao último exame que Roberta fez foram extremamente cansativos, física e psicologicamente. Era como se os medicamentos que ela tomava - os chamados 3x1 - consumissem quase toda a sua energia. Os primeiros sintomas de tontura passaram rápido. Na segunda semana ela já estava readaptada. No entanto, os pesadelos e sudorese noturna persistiram quase todos os dias. Mas o que mais me preocupava mesmo era a diarréia pela manhã por conta da reação medicamentosa. "Fiquem tranqüilas. O organismo vai se acostumar em pouquíssimo tempo", diziam os médicos.
— Oi, sogrinha! Que saudade! - Exclamei ao atender a chamada da mãe da minha mulher.
— Mônica, querida, como vai? Vocês me abandonaram à mercê de um louco que vive para as suas orquídeas. Por que não vieram me ver? - Era praxe a D. Ester reclamar de seu esposo, e eu apenas ria de seus conflitos imaginários.
— Não fale assim do sogrinho, coitado!
— Está com dó? Leve para você! Pois ontem fui obrigada a dormir com mais uma dessas plantas ornando o meu quarto.
— Mas isso não é bom? Traz alegria ao cômodo.
— Vou levar algumas, tipo... muitas e colocar aí. Vamos ver se terá a mesma opinião depois. - Ri - Mas eu não estou ligando para falar de Henrique. Quero saber da Roberta. Como ela está?
— Ah, sogrinha, está bem, na medida do possível. Seu quadro geral é normal, como sempre. Ela só ficou um pouco abalada com a notícia do declínio da contagem do seu CR4. - Suspirei, chateada.
— É o que me preocupa. Minha filha sempre foi tão segura, e já aconteceu outras vezes. Em todas ela lutou e conseguiu reverter a situação. O que tem de diferente agora?
— Acho que... - Pausei a minha fala quando a emoção me tomou - Roberta estava comentando muito sobre termos um filho. Isso a amedrontou. Ela tem medo de... Ela tem medo de morrer e não poder realizar seus sonhos, ou realizá-los pela metade, eu não sei ao certo.
— Que bobagem! Deus! Me corta o coração saber que ela sofre dessa maneira e eu não posso fazer nada.
— Mas não se preocupe. Hoje é um dia feliz e tenho certeza de que seu ânimo está melhorando.
— Dia feliz?
— Sim. Ela ganhou aquele processo complicado da Prime, lembra?
— Oh, claro! É mesmo! Roberta me contou com uma alegria ímpar. Isso era muito importante para a minha filha.
— Era sim. Estamos saindo para jantar e comemorar. Quer dar uma palavrinha com ela?
— Não, Mônica. Melhor não. Sua mulher por si só já demora horas para se arrumar. Não quero atrasar vocês ainda mais.
— Roberta é uma eterna noiva. Eu comecei a me vestir depois dela e estou praticamente pronta. - Rimos.
— Pois então... Vão se divertir. Falo com ela depois.
— Está bem. Mande um beijo para o sogrinho.
— Pode deixar. Mando sim. Um abraço, querida. Se cuide e cuide da minha filha por mim.
— Cuidarei sim. Até logo.
— Até.
Encerrei a ligação aos suspiros e sorrisos. Minha sogra, Ester, sempre fora um anjo em cuidados com Roberta e comigo. Tudo na nossa vida resumia-se a fases e momentos. Essa era uma fase ruim, mas o momento... Ah, esse sim era esplendoroso.
Fim do capítulo
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