Capítulo 4 - ÂNGULOS COMPLEMENTARES
Capítulo 4 - ÂNGULOS COMPLEMENTARES
Tive um pesadelo horrível em que Mariana me via afogar e eu não tinha reação alguma, só sabia mirar seus olhos, mas foi somente quando ela me estendeu a mão é que percebi que não eram os característicos olhos claros que me sorriam e sim duas intensas íris negras, como duas pérolas brilhantes. Cada parte de meu corpo doíam, minhas pálpebras pesavam e demorei um pouco para conseguir abrir os olhos. Forcei-os e com uma leve pressão finalmente os abri. Detive-me por uns dois segundos para respirar profundamente, pois despertei sobressaltada e algo confusa, além disso me achei em um quarto que não era meu, paredes de cor creme e uma mobília hospitalar. “Onde diabos eu estou?”, pensei.
Lancei meu olhar em volta e vi quando a porta se moveu e eu me perturbei. Passei as mãos pela testa e senti a textura de esparadrapos, apertei os olhos quando senti uma leve dorzinha naquele ponto. Pouco depois num movimento muito suave a porta se abriu por completo, então eu a vi passar por ela. Uma mulher linda de olhos tão negros quanto os cabelos, lisos de fios longos, que lhe emolduravam o rosto moreno. Ela aproximou-se lentamente, e me sorriu de forma gentil antes de me dirigir a palavra.
— Olá — ela me saudou cautelosa, mas logo depois desatou a falar. — Que bom que você acordou! Como você se sente? Tá doendo alguma coisa? Felizmente você não quebrou nada, só teve esse cortezinho no supercílio e o médico apenas lhe deu um sedativo pra que você descansasse melhor. Confesso que fiquei muito assustada, foi a primeira vez que atropelei alguém, não... espera... acho que foi a sengunda... com bicicleta conta? Bom, enfim que bom que você está bem, assim espero, quer dizer, você está bem não é?!
Ela gesticulava e falava como uma metralhadora, “atropelando as palavras, a propósito atropelar parece-lhe algo inerente”, ri do meu pensamento e do nervosismo dela enquanto ela me olhava ansiosa. Não pude evitar que meu sorriso interno se revelasse através dos meus lábios e ela corou violentamente.
— Me desculpe é que eu não consegui me conter, não quis rir de você — eu disse sinceramente e tentei mudar o foco. — A propósito me chamo Patrícia e...
— Eu sei — ela me interrompeu.
— Sabe? — perguntei surpresa. Ela assentiu e explicou-se.
— Bom, eu precisei mexer nas suas coisas pra poder preencher a papelada do hospital.
— Claro, não há problema, mas e você se chama...?
— Luna, Maria Luna na verdade, mas pode me chamar apenas de Luna.
Ela sorriu, um sorriso luminoso eu diria e me estendeu a mão para um cumprimento, retribuí o gesto e não pude evitar sorrir de volta, em outros momentos já teria dispensado aquela estranha em dois tempos. Mas parecia que ela tinha algo diferente. Parece que a pieguisse realmente é uma doença na verdade, já estou até tendo esses pensamentos patéticos, será que todo mundo que se descobre apaixonado passa a ver tudo diferente e até poesia em tudo? Arhg! “Sai pra lá” disse a mim mesma. Certo, mas eu não poderia negar que esta completa estranha transbordava uma leveza que nem sequer meu humor cáustico fora capaz de dar o ar da graça. E incrivelmente saí contando minha história e o que me levou até aquele incidente. Conversamos bastante, de forma leve e descontraída, até que o doutor viesse e me desse alta, por volta das oito da noite.
— Você poderia me passar o teu número?
Ela levantou uma das sobrancelhas.
— Pra saber o orçamento do conserto do carro, faço questão de pagar, afinal a culpa foi minha, eu é que atravessei a rua sem olhar — expliquei.
— E eu dispenso. Não tem necessidade.
— Mas é claro que tem, já basta todo o trabalho que dei e você acabou passando o dia nesse hospital comigo. Nada mais justo.
— De jeito nenhum! Agora vamos pegar um taxi, que vou te acompanhar.
— Não precisa, eu já consigo me virar e já dei muito trabalho. E vamos me passe logo seu número.
— Pelo visto vais continuar com essa ideia, então faremos o seguinte, dona Patrícia, dividiremos a conta, ok?
— Hum! Justo, você venceu. Tens um grande poder de persuasão. Espero que não sejas da área do Direito, sabe? Direito é um saco.
Ela sorriu enigmática antes de voltar a falar.
— Pois é, seria um saco mesmo. Então, aqui estão meus números — ela me entregou um cartão.
— Maria Luna Medeiros, Advogada! — li em voz alta depois de um assobio — Uau! Já disse que as advogadas compensam a chatice do Direito? — ela gargalhou e eu contimuei — E o melhor já sei quem procurar quando me meter em encrencas — gracejei — Bom, aqui estão os meus.
— Fotógrafa? Interessante. Mas, já que dispensas minha presença eu vou indo, cuide-se e nada de atravessar ruas sem olhar, eu posso não estar por perto pra cuidar de você. Ela falou e eu corei. Nos despedimos com um beijo no rosto e cada uma seguiu seu rumo.
Durante aqueles dias tentei entrar em contato com Mariana, mas ela me ignorou em todos os sentidos. Descobri que ela trocou de números e me deletou de todas as redes sociais. Radical demais eu diria, mas talvez eu mereça. Sem ânimo e sem tesão por qualquer outra mulher, passei os primeiros seis meses em profunda seca. A única coisa me trazia alguma alegria eram as longas e divertidas conversas com a advogada que me atropelou, acabou que construímos uma espécie de amizade, o que vem me fazendo muito bem, mesmo e apesar de não conseguir esquecer Mariana.
— Quando você vai parar de me apresentar pras pessoas como a advogada que te atropelou?? — a voz melodiosa e já tão parte dos meus dias me questionou tirando-me de meus devaneios.
Inevitavelmente sorri ao virar o rosto para ela, que já me abraçava por trás apoiando o queixo em meu ombro. Nos tornamos como aqueles ângulos matemáticos, que mesmo diferentes, quando juntos formam um perfeito ângulo reto. Ela muito melhor que eu é claro. Diga-se de passagem, que conhecer uma garota há oito meses agora, e não ter levado ela para cama era um recorde, ainda mais levando em consideração que praticamente todas as minhas amigas já dormiram comigo, era quase como um pré-requisito pra começar uma amizade. Enfim.
— Fica mais fácil, já que todos perguntam de onde nos conhecemos — eu ri e ela revirou olhos.
— E por falar no dia que nos conhecemos, dia vinte e cinco completou oito meses que você teve a oportunidade maravilhosa de me conhecer, e como era natal eu não pude estar com você, isso me lembra que eu deixei seu presente de natal lá no seu quarto.
Levantei as sobrancelhas rindo e ela batendo palminhas empolgadas para logo em seguida sair me arrastando até o quarto. As pessoas espalhadas por todo o ambiente sequer notaram nossa passagem de tão entretidas a espera dos fogos que saldariam a entrada de um novo ano. Ela entrou na frente e sentou-se em minha cama de costas para a janela e de frente para a parede onde havia uma enorme moldura com uma foto que eu tirara do pôr-do-sol.
— Eu adoro essa foto — ela comentou.
— Eu também — respondi sorrindo e depois completei — parece que a maioria das pessoas só consegue enxergar a natureza através da arte, mas ela sempre estará no mesmo lugar, nós é que precisamos aprender aprecia-la. E a melhor coisa do meu quarto, é que tenho duas telas aqui, uma fotografada e outra viva e que muda de ares conforme o dia e as horas.
— Uau! Tão filosófica! Mas, vamos ao que interessa.
Luna parecia uma criança quando entregou-me o pequeno embrulho, rasguei o papel colorido que envolvia o meu presente e encontrei uma caixinha negra, o que me fez olha-la sugestivamente.
— Não me diga que vais ajoelhar agora? — debochei e ela revirou os olhos antes de me xingar.
— Besta! Abre logo.
E me largou um tapa no braço. Abri e tirei do interior um colar prateado.
— Sério isso??
Luna balançou a cabeça em consentimento e rindo com a boca e com as duas chamas negras que também sorriam zombeteiras. Enquanto eu balançava a cabeça negativamente já querendo saber porque diabos ela me dera um pingente no formato de uma rosa dos ventos.
— Pra você lembrar que deve sempre saber pra onde está indo antes de sair atravessando ruas movimentas sem olhar e bom eu não encontrei nenhum em forma de bússola, então achei esse bem a propósito — explicou e desatou a rir.
— Tão engraçadinha! Agora você vai ver...
Dito isso comecei a fazer-lhe cócegas, ela ria descontroladamente enquanto se debatia e em sua tentativa de fuga acabamos caindo sobre a cama e mesmo assim continuei com meu intento. Em dado momento, sem querer, ela acertou meu rosto com o cotovelo, soltei um grito de dor e logo o riso dera lugar a preocupação. Não demorou para que ela começasse a sessão desculpa e eu só conseguia sorrir, ela me trazia uma leveza ao ponto de estarmos as duas sobre uma cama e mesmo assim parecendo duas crianças. Já sentadas analisei o rosto moreno, de traços delicados e marcantes, o olhar brilhante me fez querer tê-la por muito mais tempo e de uma forma que até então eu não havia pensado.
Então eu arrisquei. Levei a mão até sua nuca e entrelacei meus dedos nos fios negros em uma carícia tão sugestiva quanto o calor que envolvera meu corpo. Ela fechou os olhos e pra mim foi um claro convinte, sem mais demora tomei sua boca com meus lábios. Ao deixar sua boca em busca de ar, ela olhou-me muito embaraçada.
— Parece que estamos num momento bastante constragedor aqui.
Ela sorriu corada.
— É um momento maravilhosamente confortável — disse e completei — pra mim!
Sorri e voltei a beijá-la com ainda mais urgencia, ela fechou os olhos outra vez e as mãos responderam de imediato, quando Luna abriu os olhos novamente, as duas chamas negras eram pura luxúria, nem de longe lembravam o olhar vexado de minutos atrás. Entregamo-nos ao prazer como se já esperassemos por aquilo há muitos dias. E nesse momento não pensei em mais nada, apenas nas carícias, nos toques, nos corpos que se tocavam e se complementavam. Desatei as sandálias prateadas que ela calçava e tão logo me livrei das minhas voltei a segurar em sua nuca e fui beijando, desci pelo pescoço mordiscando, passando a língua e já enfiando uma de minhas mãos por baixo do vestido cor de creme que ela usava.
A medida em que a beijava eu a levava em direção ao centro da cama, segurei seus braços acima da cabeça e continuei a beijar e a invadir sua boca com minha língua. Não demorei a afastar-me de sua boca, descendo e beijando por cima do tecido mesmo, cheguei a margem de sua lingerie e afastei-a um pouco, beijei e mordisquei a virilha, involuntariamente gemi quando a toquei com meus lábios e sua pele arrepiou, voltei a subir beijando, ch*pando e desta vez subi o vestido junto, descobrindo o abdômen e lhe arrancando gemidos baixos e roucos, enquanto percorria com a língua todo seu ventre.
Ajudei-a a retirar o vestido e cheguei aos seios libertando-os, ela olhou-me e passou a língua nos lábios em sinal excitação, eu apenas sorri de volta e já entendendo seu recado caí de boca, não sem antes retirar totalmente minhas própias roupas, mamei, mordi, beijei, brinquei. Senti seu corpo corresponder aos meus carinhos, e lentamente encostei meus lábios em sua intimidade, eu a desejava e conforme ía beijando, sugando, mordiscando sentia suas mãos emaranhando meus cabelos e sua boca soltando gemidos. Logo ela puxou-me de volta à sua boca e colocou uma de suas mãos por sobre a minha e guiou-a por seu corpo até seu ponto de prazer, e quando a toquei ela arqueou o corpo e soltou um gemido agudo, ela estava completamente encharcada e eu idem, iniciei uma massagem em seu ponto mais sensível ela por sua vez passou a gem*r ainda mais alto.
Ela gemia e com uma de suas mãos apertava os lençois e a outra cravava em minhas costas, quando ela estava prestes a goz*r, puxou minha mão, e disse arfando:
— Espera! quero que goze juntinho comigo.
Eu já estava completamente melada e não precisava de muita coisa para goz*r, e num movimento rápido ela encaixou em mim, unindo nossos sex*s, os movimentos eram intensos e comecei a gem*r e acompanhar seu ritimo até explodirmos em um delicioso orgasmo. Depois de relaxarmos, simplesmente não conseguimos tocar no assunto e voltamos pra festa já na hora dos fogos. Depois de muitas felicitações de ano novo chegou a vez de felicitá-la, nos olhamos desconcertadas e eu cocei a cabeça de forma displincente.
— Feliz ano novo! — Desejei dando de ombros e abraçando-a pela cintura, ela passou os braços pelo meu pescoço e respondeu-me ao pé do ouvido com igual cumprimento.
Quando nos largamos eu a olhei sorrindo e a aproximação dos nossos rostos ia acontecendo lentamente, eu a queria beijar novamente, mas antes que pudessemos concretizar tal fato ou dizer qualquer outra coisa ouvi o barulho da porta da frente, então ela quebrou nosso contato visual e esticou o pescoço para ver quem entrava. Pra mim não fora difícil reconhecer nosso visitante retardatário.
— Paty! Meu amorzinho! — ouvir aquela voz tão conhecida me fez estremecer, mas não do modo que eu esperava.
— Mariana... — foi tudo que consegui dizer.Fim do capítulo
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