CapÃtulo 3 - Relacionamentos-miojo
Aplicativos de encontros. A verdadeira revolução digital no mundo dos jovens adultos. Foi por meio desses algoritmos mágicos que Helena teve pelo menos duas histórias daquelas paixões loucas avassaladores que duram alguns meses e esvaecem-se como todo bom relacionamento moderno.
“Ai, Helena, o Yan já está me estressando.” Otávio reclama, enquanto prepara seus famosos hambúrgueres artesanais.
“O quê?” A amiga não tira os olhos do celular.
“Com quem você está falando que não consegue prestar atenção no seu amado melhor amigo?!”
“Com uma garota que eu conheci em um aplicativo de encontros.”
“Deixa eu ver!” Otávio rapidamente lava as mãos e dá a volta no balcão para matar a curiosidade.
“Ela se chama Paula, faz psicologia aqui na faculdade.” Helena mostra a foto de perfil para Otávio.
“Ela tem cara de ser hipster bem alternativa, adorei o cabelo Chanel! Ela parece aquela garota de Pulp Fiction, aquela que teve a overdose, sabe?”
“Realmente ela lembra a Mia mesmo.”
“Convida a menina para comer hambúrguer com a gente agora à noite!”
“Mas assim, agora? Meu plano era ver séries e dormir!”
“Ai, dá aqui.” Otávio pega o celular da amiga e digita a mensagem: ‘Então, meu amigo está fazendo hambúrguer aqui, quer vir? Daqui uns 50 minutos fica pronto. Eu mando a localização.’
“Otávio, não creio!” Helena coloca a mão na testa. “E se ela aceita?”
“Melhor ainda se ela aceitar, desde que chegou aqui você anda na seca, menina.”
De repente, uma nova mensagem surge na tela.
Isabel: ‘Oi...está ocupada?’
Otávio novamente pega o celular antes da amiga. “Ui...você e a Isabel andam amiguinhas e eu não estou sabendo?”
“Ela andou me procurando essa semana, mas foi mais para perguntar sobre as matérias, nada demais.”
Helena então digita a resposta: ‘Não...por quê?’
“A Lívia me contou o que aconteceu no elevador. Ai gente, pegar o Bruno é decadência. E deve ter sido engraçado a Lívia pagando de sapatão.” Otávio comenta.
“A Isabel ainda me perguntou umas duas vezes se eu gostei de ter ficado com ela e se a gente ainda está se pegando.” Helena ri. “Acho que ela está encucada com isso.”
“Se ela fixou nisso é porque tem algo aí.”
“Não sei, ela não se aproxima muito. Parece que toda vez que a gente começa uma conversa interessante, ela se esquiva.”
Outra mensagem de Isabel: ‘Já terminei de copiar a matéria do seu caderno. Posso passar aí para devolvê-lo? Depois se quiser a gente vai comer alguma coisa.’
“Faça-se de difícil também, se ela se esquiva, você se esquiva também!” Otávio aconselha.
Helena pondera por alguns instantes e então responde: ‘Eu pego amanhã, obrigada.’
Nenhuma resposta, somente a mensagem de Paula confirmando que chegaria logo.
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Helena rapidamente se arrumou para receber a convidada, uma maquiagem básica e jeans que salientassem as divinas e bem trabalhadas coxas que ela possuía. Aquele friozinho na barriga de primeiro encontro era habitual, nada que surpreendesse.
“Yan não vem?” Helena pergunta ao amigo.
“Não. Era sobre isso que eu estava tentando lhe falar antes, eu não o chamei, não estou aguentando! Ele anda muito possessivo, ciumento, esses dias eu elogiei uma garota e ele já queria saber se eu estava de olho nela, algo assim. Não dá. Pedi a ele um tempo para pensar.”
O interfone toca. Os amigos se entreolham. Uma mensagem no celular de Helena.
‘Cheguei. Estou no portão.’ Paula escreveu.
Helena atende o interfone. “Oi! Sobe aqui, é o 506.”
Quando a jovem abre a porta, quase precisou segurar o queixo para não cair. Bota coturno com um pequeno salto, calça jeans skinny acinzentada, blusa de gola canoa do Foo Fighters e um olhar conquistador.
“Se o seu apartamento fosse o do número ao lado, seria o nome da música de uma das minhas bandas favoritas. Tão perto de ter sido uma chamada do destino!” Paula cumprimenta a anfitriã com os típicos dois beijos nas bochechas.
“Arctic Monkeys? Otávio, você ouviu essa?” Helena não consegue conter o sorriso.
“Não só ouvi como adorei! Prazer, serei o nobre cozinheiro desta noite para o encontro de vossas majestades.” Otávio se curva imitando o famoso gesto de reverência à nobreza.
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Otávio preparou a mesa com todo capricho que tinha em mente. Não tinha vinho, mas tinha uma garrafa de suco de uva integral que quebraria o galho. Não havia velas, mas Otávio baixou o aplicativo que simulava a tal peça de cera.
“Garotas, o jantar está na mesa!” Ele anuncia para as meninas na sala, que o aguardavam enquanto tomavam o restante de um chá gelado de pêssego com vodka. “Eu vou levar meu lanche para o quarto para vocês terem privacidade.”
“Queria ter um amigo cozinheiro assim.” Paula comenta. “Isso está maravilhoso.”
Helena concorda com a cabeça. O celular que Otávio deixara com a simulação de vela começa a tocar. É Yan.
“Ignora a ligação!” Ele grita lá do quarto.
“É algum ex dele?”
“Sim, quer dizer, não sei, eles mal começaram e já estão assim.”
“É normal hoje em dia, os tais relacionamentos miojo.”
“Relacionamentos o quê?”
“Miojo. Aqueles que têm três minutos de preparação, você come, come, e logo se enche.”
“E você acha que todos os relacionamentos modernos estão fadados a esse rótulo?”
“Não, todos não...alguns se salvam. Mas tenho consciência que a vasta maioria hoje em dia é assim.”
O assunto acabou se tornando meio pesado para um primeiro encontro. Helena enche a boca com uma última mordida apressada do hambúrguer para poder colocar os pratos no lava-louças.
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“Adorei os discos de vinil colados na parede.” Paula comenta, observando a parede do quarto de Helena.
“Ganhei do meu avô quando ainda estava no Ensino Médio. Estavam guardados no meu guarda-roupas lá em São Paulo, e quando fui arrumar minha mudança, os encontrei.” Helena se deita na cama, liga a TV e vai mexer no celular. “Escolhe um filme aí para a gente ver.”
Enquanto Paula percorria a lista de séries e filmes, Helena vê que tinha uma mensagem não lida.
‘Eu lhe fiz alguma coisa?’ Era Isabel.
‘Por quê??’ Helena responde.
‘Você pareceu estranha na mensagem. Não quer que eu vá aí por quê?’
‘Porque eu estou ocupada.’
‘A Lívia está aí?’
‘Não. E por que tanta fixação com a Lívia? Está interessada nela por acaso?’
‘Lógico que não. Ela nem faz meu tipo. Eu só perguntei, oras.’
‘E quem faz seu tipo? O Bruno? Pelo amor.’
‘Está com ciúmes do Bruno por acaso? Hahahaha’
‘Não.’
‘Não que eu precisasse me justificar, até porque somos amigas, mas só fiquei com ele aquela vez. Ele é muito superficial. Prefiro mil vezes bater um papo cabeça contigo do que passar outra noite com ele.’
‘Então por que quando conversamos pessoalmente você fica desconfortável depois de um tempo?’
Silêncio novamente. Helena estava tão fixada no celular que nem percebeu que Paula não estava ali. Estranhou por um segundo, mas então ouviu a porta do banheiro se abrir.
“Você estava bem séria olhando para o celular, e eu vi que o banheiro ficava aqui na frente então só pedi licença, mas você nem escutou.” Paula explica.
“Estava resolvendo um assunto com uma colega de classe, nada demais. Decidiu que filme vamos ver?”
Paula tira o par de botas e se senta na cama, ao lado de Helena. “Decidi sim.”
Antes que Helena perguntasse qual, Paula a segurou pelo queixo e selou seus lábios nos de Helena, que intensificou o beijo movimentando sua língua contra a da estudante de psicologia. Entre os beijos, Helena vai se inclinando, de modo que Paula vai, aos poucos, deitando. Com destreza, Helena abre e puxa o zíper da outra, ficando de joelhos em cima do cama, retirando as calças e se posicionando em meio as pernas de Paula. Os sorrisos e olhares trocados substituíam quaisquer palavras que ali não foram trocadas. Helena roça suavemente os lábios no interior da coxa de Paula. Os lábios da paulistana foram deslizando cada vez mais, até tocar o tecido de renda da calcinha vermelha de Paula. Esta então, suprimiu um gemid*. Não gostava de demonstrar todo seu potencial logo de início, então suprimia o quanto podia. E a língua foi invadindo, passando pelos lábios menores, percorrendo toda a vulva, estimulando e provocando ao redor do clit*ris, fazendo Paula se contorcer, contorcer, contorcer...e ceder. Suprimir o som da máxima do prazer já não era mais uma opção.
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Otávio pega seu celular na cozinha e sincroniza com a TV para tocar música, assim não precisa ouvir o que se passa no quarto. Pondera se deveria ligar ou não para Yan. Resolve não ligar.
O interfone então toca.
“Olá?”
“Otávio? É a Isabel. Eu vim devolver o caderno da Helena.”
Otávio arregala os olhos.
“Espera aí que eu já desço.” Ele desliga e sai o mais rápido possível em direção ao elevador.
“Obrigado por ter trazido, pode deixar que eu entrego para ela.” Ele abre o portão e pega o caderno da mão de Isabel.
“Ela não está aí?”
“Ela está, mas está ocupada...”
“Entendi. Desculpa pelo incômodo.” Isabel se vira para ir embora.
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“Não vai dormir aqui?” Helena pergunta. “Já está tarde para você voltar.”
“Não costumo dormir na casa da garota no primeiro encontro. Vai que você acha que eu já quero casar, assusta-se e para de falar comigo.” Paula ri enquanto procura a calça jogada no quarto.
“O que tem a ver uma coisa com a outra?”
“Dormir na casa da pessoa já demonstra um certo nível de intimidade. Prefiro permanecer com o mistério.” Paula finalmente acha a calça, que, de algum modo, foi parar embaixo da escrivaninha da anfitriã.
“Quer fazer alguma coisa amanhã? Digo, hoje, né, já passou da meia noite faz tempo.” Helena pergunta, abrindo o guarda roupas para pegar seu short de pijama.
“Eu tenho um churrasco na casa do meu pai. Mas sexta que vem a gente pode ir no cinema, se você quiser.”
“Beleza.”
“Meu uber já está há um minuto daqui.” Paula avisa, e Helena a pega pela cintura e lhe beija, com direito a mordidinha no lábio inferior no final.
“Tchau cozinheiro!” Paula se despede de Otávio, que está na sala. Ele também lhe dá tchau e em seguida olha para Helena, encostada no batente da porta.
“Deu alguma coisa errada, o dedo dela brochou?” Otávio pergunta, preocupado.
“Não, ela não quis dormir aqui, só isso.”
“Mas vocês vão se ver novamente?”
“Sim, semana que vem vamos ao cinema.”
“Ah, a Isabel mandou entregar isso aqui.” Otávio devolve o caderno a Helena.
“Ela veio aqui?!”
“Sim, mas eu peguei para não incomodar seu rolê.”
“Por acaso ela disse alguma coisa?”
“Sobre?”
“Nada não. Obrigada.” Helena retorna ao quarto e percebe que tem uma folha dobrada, formando uma orelha. Ela abre, e está bem na matéria que Isabel precisou copiar. Na folha seguinte, um poema. Helena conhecia bem, pois era de sua autora favorita, Cecília Meireles.
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.
‘E enquanto tua timidez em disparate te encobrir, prossigo a te desvendar em teu olhar e teu sorrir. Mas não te esquives, por favor, tenhas em mente minha preocupação. E se te importas, digo também, tenho abertos mente e coração.’ Helena envia a mensagem.
‘Então você leu...hahahah. E de quem é esse?’
‘Autoria própria. Como sabia que eu adoro Cecília?’
‘Teve um dia na faculdade que você estava usando uma blusa com outro poema dela. Presumi que curtisse. E adorei seu poema.’
Helena sorri e agradece em outra mensagem. Então recebe uma notificação de mensagem de Paula. ‘Adorei a noite de hoje! Acho que esqueci meu par de brincos em cima da sua cômoda, mas eu pego semana que vem, fica como garantia do próximo rolê hahahaha’
‘Então esqueceu de propósito? Pode esquecer mais vezes se quiser...’ Helena não podia negar que rolou uma química fortíssima entre ela e Paula. Mas sua amizade com Isabel continuava a intrigar. Isabel parecia uma incógnita, Helena não conseguia interpretá-la, e isso a encantava cada dia mais.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 20/08/2020
Isabel e Paula. Margem de uma mesma estrada.
De um lado o certo.....o está.
Do outro......do outro a descobrir
Rhina
Resposta do autor:
Ou melhor ainda... Helena pode descobrir que o certo é completamente relativo e bagunçar completamente a vida dela por causa disso! hahahahah
Rhina, fico muito feliz que esteja prosseguindo com os capítulos, sinal de que não te entediei ainda ahhahaha beijão!!!!
Alci
Em: 20/01/2019
Eu já dei liga na Isabel,então torcer por Paula é bem difícil.
Mas como Jennifer, Paula faça coisas que Isabel não. Coisas do tinder!
Atenciosa Isabel.
Ta ficando complicado o convívio com esses pequenos banho de agua fria. Fazer fogo friccionado os pauzinho é muito difícil até sair uma fumacinha dali vai ter que esfregar muito Isabel e Helena,porque Paula chegou eletrica com botão liga desliga.
Tá fluindo,deixe fluir autora
Resposta do autor:
Muito boa a comparação com a música hahahahaha acertou em cheio! E Paula chegou mesmo para balançar as coisas ;) estou adorando suas observações inteligentes. Obrigada <3
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