Capítulo 22 - Entrando nos eixos
Ana Clara
Eu estava puta por ter sido abandonada como uma qualquer na cozinha, mas ao ver a loira chorando debaixo do chuveiro, parte da raiva deu lugar a uma preocupação que eu nem sabia que tinha por ela. Ultimamente, aquela menina do sotaque engraçado andava me causando tantos sentimentos diferentes.
Raiva, desejo, irritação... Tantos outros.
Sem falar nas sensações em meu corpo, fruto do que aconteceu há pouco. Parecia que queimava a pele, o cheiro dela estava em mim.
Samantha continuava muda, parecia em outro mundo e nem havia tirado o roupão. Os cabelos estavam molhados. Meu coração se comprimiu e uma necessidade gigantesca de tocar, sentir Sam em minha pele, de cuidar da loira me invadiu.
Será que ela se sentia dessa forma? Será que ela me queria tanto quanto a queria?
Fiquei de pé, estendendo a minha mão para ela, que finalmente me olhou nos olhos.
- O que você quer? – a pergunta saiu embargada. – Acho que...
- Vem comigo... – não a deixei concluir.
Sam parecia em uma luta interna e depois de muitos segundos, ela me deu a mão e ficamos cara a cara, olhando fundo em meus olhos e eu pude mergulhar neles, trazendo-me uma paz que eu jamais sentir. Samantha não tinha o direito de me invadir daquela forma, mas uma grande parte de mim estava desejando que aquela invasão continuasse.
- Eu cuido de você está noite, loira irritante... – estávamos paradas de frente a outra no meio do quarto. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas também não me importava.
- Então cuida... – sua resposta fez meu coração acelerar.
Eu estava me sentindo incrivelmente boba.
Samantha abriu os braços, como se me desse permissão para tirar-lhe o roupão molhado e foi o que eu fiz, com uma delicadeza que eu nem sabia possuir, tirei a peça e me perdi em todas as suas curvas, cores.
Senti vontade de tocar em cada pedacinho, com as mãos, com a boca.
- Vai ficar só olhando? – voltei a encara-la. Sorri, vendo o desejo estampado em sua face.
- Eu odeio você. Tem noção do quanto? – Sam sorriu, e com deboche, respondeu.
- Eu te odeio mais ainda... Ruiva idiota!
Por poucos segundos, nos olhamos e o que pareceu é que nada mais importava e eu não queria estar em lugar nenhum, a não ser ali, dividindo aquele momento com a mulher mais irritante que já conheci.
- Me mostra o quanto me odeio, loira irritante...
Não sei dizer em que momento, mas quando percebi, Samantha estava entre a parede e meu corpo, enquanto nos beijávamos de uma forma desesperada, quase que uma luta por espaço. O meu corpo ardia, implorando por ainda mais contato.
O ar pediu passagem, mas minhas mãos continuavam a explorar aquele corpo tão bonito e cheio de pecado.
- Tá me deixando louca! – ela praticamente gem*u cada palavra, me deixando a beira de entrar em combustão.
- Esse é o plano... Quem sabe assim não acabo com sua marra.
Ela soltou uma risada.
Até mesmo aquele ato soou como um convite a perdição.
Sorri, deixando um rastro quente em sua pele, enquanto minha boca explorava o pescoço e chegando ao colo tão bonito, não resistindo por muito tempo aos montes belos e alvos. Sam é uma bela mulher.
Bela demais.
Seus gemidos aumentaram.
As bocas voltaram a se encontrar, enquanto minha mão explorava de forma lenta o clit*ris inchado, implorando por minha boca. Entre tropeços, gemidos e beijos que me tiravam o ar, chegamos a minha cama, sem conseguir desgrudar um centímetro daquela mulher. Samantha se tornava viciante a cada toque.
- AAAAAAH! – o som maravilhoso saiu de seus lábios quando os meus tocaram o sex* molhado. Suas mãos encontraram os meus cabelos, enquanto a loira iniciava um rebol*r que quase me fez perder o raciocínio.
Senti minhas unhas causarem um grande estrago em seu quadril, porém eu não conseguia mais parar. Queria sentir Sam se desfazer em minha boca e foi exatamente o que aconteceu em alguns segundos depois.
Fiquei de joelhos sobre a cama entre suas pernas, a vendo respirar de forma irregular com os lábios entreabertos e olhos fechados. O peito subia e descia rapidamente, me fazendo ter uma certeza absurda.
Eu queria ser dela e somente dela e ter o privilegio de ver aquela mulher todos os dias na minha cama, beijando a minha boca e sendo somente minha. Senti meus olhos se encherem de lagrimas e antes dela abrir os olhos e me visse daquela forma, cobri sua boca com a minha em um beijo que eu não queria que chegasse ao fim nunca.
E para a minha surpresa, ela retribui da mesma forma, me tratando com um ser frágil de tanto que seu toque foi sutil.
Eu não queria mais nada naquele momento. Por mim, o mundo podia se ferrar lá fora, que eu estaria feliz em estar nos braços daquela loira irritante. Já não controlava mais absolutamente nada e nem queria, acho que o coração e a razão entraram em acordo.
Nicole
Já se passavam das oito da manhã e o transito estava uma loucura. Meu objetivo era um só e eu queria que Isa pudesse estar comigo, mas a minha namorada havia saído com a mãe para umas compras. Seria aniversario do pai de Isabela.
Olhei para o relógio pela milésima vez em cinco minutos, com uma ansiedade louca. Não sabia exatamente o que iria fazer, mas desde o dia em que vi aquele garoto, meus pensamentos não saiam mais dele.
- Manoel...
Entrei no prédio desgastado e movimentado, procurando alguém para pedir informações. Uma senhora com o uniforme do lugar veio até a mim, sua face não era nada amistosa, mas mesmo assim foi educada.
- Bom dia senhorita. Posso ajudar?
- Bom dia! Na verdade, pode sim. Gostaria de falar com a pessoa responsável do lugar.
- Ela ainda não chegou, mas a senhorita pode aguarda e eu avisarei quando ela estiver aqui.
- Obrigada!
Procurei um lugar para sentar e me acomodei, novamente não conseguindo tirar os olhos do relógio. Tentei me distrair com alguns vídeos idiotas que a Flávia havia me mandado. Ela enchia meus aplicativos de mensagens com vídeos de gatos e cachorros.
- A senhorita pode entrar! – a senhora que eu nem perguntei o nome, me fez segui-la. – Dona Vera, essa moça quer falar com a senhora.
- Entre querida. Bom dia!
- Obrigada! Bom dia, me chamo Nicole Freire. – estendi minha mão que logo foi apertada.
- Vera Camargo. Em que posso ajudar, senhorita Freire. – respirei fundo.
- Eu gostaria de obter informações sobre um garoto que veio para cá. O nome dele é Manoel... – ela franziu o cenho.
- Ah, o garoto pego no aeroporto... – confirmei com um acenar de cabeça. – Qual o seu interesse?
- Eu queria muito adota-lo. – nem acredito que aquilo havia saído da minha boca mesmo. Havia falado sobre com a Isa, que me deu muito apoio, mas ainda não tinha certeza daquilo. – Queria saber se é possível...
Ela me olhou por alguns instantes, me analisando. Acredito que se perguntava o motivo pelo qual eu queria adotar um menino que foi pego furtando uma bolsa.
- Eu queria muito vê-lo... Conversar um pouco com ele... – ela sorriu.
- Não é um habito, mas vou leva-la até ele. Manoel não nos contou quase nada sobre sua vida. Só sabemos que ele estava morando com o padrasto. – ela fez uma pausa. – Tem certeza disso, senhorita Freire? Ele veio para cá por ter furtado...
- Toda a certeza... Eu estava lá quando tudo aconteceu.
- Pois bem. Venha comigo!
Ela levantou e eu a seguir pelo corredor extenso, chegando a um pátio no qual havia muitas crianças e adolescentes. Sentado em um banco de concreto, vi o pequeno que brincava com um tabuleiro de xadrez.
Ele estava sozinho.
- Manoel, essa moça quer falar com você. – em um tom gentil, a diretora daquele lugar chamou a atenção do menino, que quando me viu, abriu um sorriso imenso e me abraçou.
Fui pega totalmente de surpresa, mas retribui o ato, sentindo meus olhos lacrimejarem.
- Vou deixar vocês a sós. – Vera fez o que disse. Sentei com ele, que me olhava de uma forma doce.
- Não acredito que você tá aqui, tia... – queria tanto que Isa estivesse ali.
- Queria ver você... Saber se estava bem. – sorri.
- Eu tô muito melhor agora, tia. A senhora vai me tirar daqui? Não quero voltar a morar com o meu padrasto. Ele não gosta de mim, tia...
- E por que não? E a sua mãe? – rostinho angelical se entristeceu.
- Ela morreu... Eu só tinha ela... – meu coração se partiu em mil pedaços. – Me leva tia... Eu juro que não volto a fazer aquilo. O me padrasto me obrigava, tia. Não me deixava brincar e nem estudar. Ele é muito mal tia...
- Você não tem mais ninguém? – ele balançou a cabeça em sinal negativo, secando algumas lágrimas que me deixaram com o coração na mão. – Escuta, eu não posso te prometer agora, mas vou fazer de tudo pra te tirar desse lugar. Talvez demore um pouco...
- Sério tia? É serio mesmo? – sua face mudou, voltou a ser alegre.
- Muito sério! Se tudo der certo, vou levar você pra morar comigo. Você aceita?
- Claro que sim tia! – ele se jogou em meu colo, me abraçando apertado.
Que sensação era aquela? Jamais experimentei aquele sentimento.
Duas horas depois.
- Foi difícil deixar ele lá, amor... – Isabela fazia carinho em meus cabelos. Estávamos em sua casa. Não pude resistir e tive de ir até ela e contar o que havia acontecido.
- Você tá com uma carinha tão boa... – ela sorriu. – Quando vai me levar para conhecer esse serzinho que te deixou toda boba? – sorri.
- Amanhã... Você aceita? – eu estava muito empolgada.
- Claro que aceito, meu amor... – ela tocou de leve a minha boca com a sua. – Você tá linda com esse ar de mamãe... Eu vou ajudar a cuidar dele. Você aceita?
Impossível não rir.
Que mulher linda é essa? Isso significa que Isabela quer passar muito mais tempo comigo?
- Isa, você quer mesmo essa responsabilidade? – a morena me olhou nos olhos, tocou a minha face e abriu aquele sorriso que faria qualquer pessoa se jogar aos seus pés.
- Você tem alguma duvida? Nicole, eu quero você pra toda vida, entendeu? Quero casar com você, ter filhos... Eu quero você e tudo o que você representa...
Eu me senti uma adolescente naquele momento.
- Entendeu?
- Entendi! Obrigada por existir, Isabela... Eu não quero te perder jamais... Jamais...
- E não vai, porque eu sou toda sua... – Meu Deus.
- Você me deixa boba, Isa... Muito boba. – toquei sua face. – Obrigada...
- Vai me fazer chorar, amor... – sorri.
- Vamos ajudar a sua mãe na cozinha?
- Vamos, quero ver seus dotes culinários... – ela riu.
- Sou quase uma chefe... – pisquei para ela e a puxei para um beijo de saudade. – Eu te amo, Isabela...
- Eu te amo, Nicole...
Samantha
Era a hora de encarar o que aquele dia me reservava. O preço a pagar por ter me deixado levar pelo calor do momento. Meu coração me traiu, me deixando vulnerável. Para mim foi além do desejo carnal, do físico. Porr*, eu estava louca por essa mulher e o medo de ter a vida destruída por esse sentimento estava me horrorizando. Eu sabia a dor de um amor não correspondido. O quão ruim era ser apenas um objeto para alguém que você daria o mundo e eu não queria passar por aquilo novamente.
Tudo o que construí ao redor dos meus sentimentos foi ao chão depois que ela apareceu.
- É agora que você diz que foi um erro e me manda sair daqui? – estava de olhos fechados, mas sabia que ela me observava. – O que tá esperando?
- Eu quero você... – imediatamente abri meus olhos, encarando a ruiva que praticamente, estava em cima de mim. Os fios ruivos jogados para o lado e parte deles tocavam a minha face.
Uma posição estranha.
- Me quer? – franzi o cenho, procurando no fundo de seus olhos algo que pudesse desmentir suas palavras.
Não havia.
Ana Clara levantou, colocando uma camisa larga e ficou de pé no meio do quarto, de costa para mim. Esperei aqueles longos minutos, até que ela decidiu falar novamente, mas ainda sem me encarar.
- O que você sente por mim, Samantha? – a pergunta me pegou de jeito, me deixando um pouco zonza. Tirei meus olhos da ruiva e olhei para as minhas próprias mãos, buscando a resposta certa para aquilo.
Mentir ou dizer a verdade? Afinal, qual doeria menos? Olhei para o relógio no criado mudo e o mesmo marcava meio-dia. Respirei fundo, passando as mãos sobre os meus cabelos fora do lugar.
Acho que eu deveria deixar os muros derrubados no chão por um momento a mais antes de ergue-los novamente. Estava totalmente envolvida, o que ainda tinha a perder?
- O que isso vai mudar entre nós, Ana? – ela finalmente virou e então pude ver que seus olhos estavam inundados. Por quê?
Se possível, minha mente se perdeu ainda mais.
- Tudo, Sam... Eu tô apaixonada por você. Tentei fugir de tudo isso, mas olha nós aqui... – apaixonada? Quê? – Eu tô apaixonada por você...
Falou pausadamente.
- Tá brincando comigo? – levantei, um pouco alterada. Cobri minha nudez com o lençol. – Isso não se faz, Ana Clara. Você não pode brincar desse jeito com os sentimentos dos...
Não pude terminar a frase, pois ela me surpreendeu com um abraço forte, que me tirou o ar.
- Eu não tô brincando, Sam... Porr*, eu quero você! Eu quero ficar com você... Eu quero fazer parte da sua vida, então me diz... Eu errei quando usei você pra fazer ciúmes pra Tati. Me perdoe por isso. Me perdoe. – ela escondeu o rosto em meu pescoço, me fazendo ficar a cada segundo mais a sua mercê. - Me diz que também me quer desse jeito... – ela segurou o meu rosto com as duas mãos, me fazendo ficar presa em seus olhos. – Me diz o que você sente, Samantha, eu preciso saber.
A minha mente embaralhou e eu só disse o que meu coração mandou.
- Eu quero você, Ana... Quero como jamais quis uma mulher em minha vida. Eu tô apaixonada por você, ruiva dos infernos... – o silencio durou alguns segundos. Nos analisávamos, buscando algo que impedisse os sentimentos de serem expostos, mas não teve. – Você entrou na minha cabeça...
- Só na cabeça? – vamos lá Samantha.
- Eu odeio admitir, mas você tem o meu coração... Eu tenho medo, Ana Clara. – estávamos sendo sinceras, então precisava dizer tudo o que pensava.
- De se entregar e ser magoada? – fiz um gesto afirmativo. – Eu também, Sam. Meu ultimo relacionamento foi um desastre... – sua voz era mansa, me deixando presa. – Me anulei e permitir que alguém fizesse o que bem quis... Só por medo de perder... Eu também tenho medo e quando percebi que você estava ganhando espaço, eu quis fugir e fingir que nada estava acontecendo, mas agora... Sam, eu tenho medo de deixar você escapar de mim...
Meu coração iria sair pela boca a qualquer momento e minhas mãos suavam. Fechei meus olhos, encostando a minha testa a dela.
- Pode dá tudo errado, mas pode também dá tudo certo... – respirei fundo. – Mas, eu tô disposta a me arriscar, Ana. Você quer mesmo?
- Quero! Eu tenho certeza absoluta disso... – abri meus olhos. – Sente... – ela colocou a minha mão sobre seu peito. – Sente como ele fica quando tá com você, quando penso em você... – respirei fundo. - Você é minha Samantha e acho bom começar a dispensar todas as suas ficantes... – acabei rindo.
- NOSSA! ATÉ QUE ENFIM! – ouvimos o grito vindo do outro lado da porta. – BEM-VINDA A FAMÍLIA CUNHADINHA!
- Lívia... – dissemos juntas e depois rimos.
- Acho que agora você é minha, ruiva dos infernos... – Ana gargalhou.
- E você minha, loira irritante... – olhos nos olhos.
Nossas bocas se aproximaram, iniciando um beijo tão intimo quanto tudo o que fizemos madrugada a dentro. Aquela história de bocas que se encaixam, bem, eu realmente não acreditava até aquele momento.
Eu não fazia a menor ideia de como seria o nosso futuro, mas sabia que haveria momentos difíceis, porém eu queria aquilo tudo. Precisava me permitir sentir tudo o que aquela mulher de temperamento forte.
A ficha ainda não havia caído, não esperava por essa reviravolta, mas eu só queria que aquele momento durasse para sempre. É muita ilusão querer isso?
Quarta-feira, 15 de março de 2017.
17:23 da tarde.
Emily
- EMILY, CALMA! - Flávia berrou, me fazendo parar e respirar. – Vai buscar a bolsa e as chaves. Becca, fica sentada um pouco... Vamos!
Fiz exatamente o que ela mandou e corri para o quarto. Minha mãe estava a caminho junto com a agora esposa. Estava desesperada, correndo pelo quarto e colocando tudo o que eu lembrava dentro da bolsa do meu filho.
Meu Deus, o meu filho vai nascer!
“Respira, respira! Você tem que passar tranquilidade pra sua mulher.”
Mas, como eu iria fazer isso se estava a beira de um ataque de pânico. E eu achando que estaria preparada para aquele momento. A verdade é que se a Ana e a Flávia não estivessem ali, não saberia o que fazer.
- Cadê as malditas chaves? Cadê?
- Isso aqui? – Ana entrou no quarto, com o molho de chaves na mão. – Eu dirijo...
- Obrigada!
Chegamos a sala e Becca estava pálida e uma poça de água em seus pés. Minha mente ficou zonza, mas eu precisava me manter firme e dar apoio a minha mulher, que reclamava de dor.
- Vamos! – Flávia me ajudou a levanta-la. – Já informei o hospital e já estão esperando.
- Obrigada, meninas...
Ana fechou a porta e nunca descer o elevador foi tão angustiante. Becca chorava de dor e eu me sentia muito inútil. Olhei desesperada para Ana Clara e Flávia, que estavam calmas demais.
Eu vou ter um treco!
Fim do capítulo
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